quinta-feira, 3 de maio de 2018

Lendas Escoteiras. Uma ponte longe demais...



Lendas Escoteiras.
Uma ponte longe demais...

                 Era uma vez... Uma ponte, simples de madeira com dois vãos, pequena, mas que acalentava os caminheiros que por ali passavam. Dizem que era longe demais, que não ligava a lugar nenhum. Pode até ser. Não era uma ponte qualquer, pois para mim ela tinha vida, ela tinha alma. Cansado de uma longa jornada eu sentei naquela ponte muitas vezes. Gostava de ficar ali, olhando um rio que passava sobre meus pés.

                   Meus olhos acostumaram com aquelas ondas que brincavam de zig zag nas corredeiras que iam para o mar. Nem via o tempo passar, hipnotizado não queria voltar ao meu percurso. A ponte agora me dava vida, queria que eu e ela fossemos um só. Os incrédulos diziam que ela não ia dar a lugar nenhum. Eu sorria quando diziam isto. Uma doce mentira de caminheiros que não viram o brilho daquela ponte. Ela me levava aos Campos da Felicidade.

                  Quando surgia a primavera eu corria para chamar meus amigos Escoteiros e eles sorriam como eu quando dizia que íamos acampar no Campo da Felicidade. Todos sabiam que íamos atravessar a ponte, que todos diziam ser longe demais... E diziam que ela não levava a lugar nenhum... Era longe sim, a ponte era longe demais e isto nos fazia voltar sempre... Ver a ponte de madeira rústica, olhar o rio com suas águas borbulhantes a correrem para o mar... Na várzea das Borboletas azuis, em uma pequena trilha cheia de flores silvestres, avistávamos a ponte. A ponte que diziam ser longe demais... A ponte que não levava a lugar nenhum... Mas nos levava ao Campo da Felicidade.

                    Um dia, um dia, ah! Dia que nunca mais esquecerei, um dia que ficou marcado em meu coração para sempre, a ponte não estava lá... A ponte que nos levava ao Campo da Felicidade tinha partido... A ponte longe demais agora não mais existia. A ponte que não levava a lugar nenhum agora era uma réstia de uma lembrança de um passado que se foi... Ficamos ali, cabisbaixos, deixando o sol nos queimar, nossas mochilas às costas pesando e nossa preocupação era uma só.

                    A ponte longe demais partiu sem dizer adeus... Não era um empecilho para atravessar o rio, o rio que serpenteava suas águas e corria para o mar. A ponte que diziam não ligar a lugar nenhum agora era uma sombra, um arremedo de sonhos, uma alegoria de um carnaval que passou.

                  Nunca mais voltamos ao Campo da Felicidade. Ele e ela, a ponte longe demais se completavam. Um não tinha serventia sem o outro. Algumas vezes volto meu pensamento nos tempos se foram. Lembro-me daquela ponte, uma ponte longe demais... Uma ponte que não ligava a lugar nenhum, mas sem ela nunca mais poderíamos voltar ao campo da Felicidade. Não choro lágrimas doídas, não verto águas que os olhos deixam cair... Meu coração bate forte quando em minha mente eu vejo a ponte, a ponte longe demais...

                A ponte que diziam não levar a lugar nenhum. Vejo-me sentado, olhando o rio que serpentava naqueles campos que seguia seu rumo para o mar. Sei que não terei mais aquela visão que me marcou profundamente. Mas enquanto ela existiu me trouxe a beleza da vida, o sonho da natureza, me ligou de um ponto ao outro mesmo dizendo que ela era longe demais... Que não ligava a lugar nenhum!

Nota - Não havia ponte entre os mundos que os separavam. Haviam viajado para longe demais um do outro e não havia retorno. “Não havia agora, nunca haveria”. O horizonte está nos olhos e não na realidade. Esta é a história de uma ponte, que não levava a lugar algum e que era longe demais.

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