segunda-feira, 30 de abril de 2018

Noites de luar. Uma fogueira para sonhar.



Noites de luar.
Uma fogueira para sonhar.

                        A relva molhada recebia o orvalho que caia mansamente no campo de patrulha. A grama absorvia as gotas d’água pequena que explodiam ao cair. Uma pequenina ficou dependurada em uma folha até que cansada caiu ao chão. De olhos abertos os solitários escoteiros olhavam o céu estrelado, enfeitado de cores e brilhos ofuscando a vista de quem encarecidamente olhava sem piscar.

                       O Chefe Leopardo sussurrou tão baixo que uma estrela piscou forte e sorriu pedindo para continuar. Na sua prosa de Contador de Histórias narrava de uma maneira tão linda que todos esqueceram o vento frio e a lua que insistia em brilhar para chamando atenção... Ela querendo ser melhor que as estrelas que bruxuleante cintilavam no céu sonhava. A beleza do momento era saudada com o silencio noturno da mata que nada dizia e se calava.

                       - Meus irmãos escoteiros, foi um anjo que me contou que o Senhor das Estrelas no seu cantinho em uma galáxia distante fabricava estrelas de todos os tamanhos. Dizia que o céu é de verdade, que cada um de nós ao nascer ganha uma estrela e em um canto do firmamento e quando acontece ela se põe a brilhar. A estrela tem seu nome e ficará ali para sempre até o dia que irá fazer dela sua morada final.

                        Preocupado com tantas belezas existentes perguntei: - Chefe onde foi parar à lua que sempre que a gente olha se assusta com tanta beleza e um súbito espanto acontece na primeira vez? – Ele sorrindo respondeu – Pense em um mundo como num malmequer.  Porque você não vê. Mas não fique pensando demais porque pensar é não compreender. A lua e as estrelas são como rubis e rosas, neve e ouro. Um verdadeiro tesouro.

                       - Não pare nos sonhos, ande e faça acontecer. Tente recapturar a sublime beleza que existe em você. Em tudo que existe ao seu redor e só assim será feliz. Se ver com alegria a beleza no céu a lua e as estrelas tudo se transformarão em maravilhas divinas e isto apaga todo o infortúnio. Sua estrela está lá, é sua. A estrela sabe que sua alma é imortal e vai acompanhar você por toda a vida.  

                      Nunca esqueça que uma pessoa feliz torna os outros felizes, uma pessoa que sonha e faz realizar faz o mesmo com as outras. Quem tem coração e fé nunca morrerá em desgraça! O Chefe Contador de Histórias se calou. Em volta da fogueira todos deixaram a mente correr pensando como era grande o poder de Deus.

                     Um Escoteiro meninote ainda, mas cheio de saber disse em voz alta: - Posso não ter tudo, mas tenho o maior tesouro que alguém pode ter neste mundo: o amor e a proteção do Deus Todo Poderoso!

Nota - "Ora (direis) ouvir estrelas! Certo, Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto, Que, para ouvi-las, muitas vezes desperto E abro as janelas, pálido de espanto... E conversamos toda a noite, enquanto a Via-Láctea, como um pálio aberto, Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto, Inda as procuro pelo céu deserto. Direis agora: "Tresloucado amigo! Que conversas com elas? Que sentido Tem o que dizem, quando estão contigo?” E eu vos direi: "Amai para entendê-las! Pois só quem ama pode ter ouvido Capaz de ouvir e de entender estrelas". Olavo Bilac

domingo, 29 de abril de 2018

Lendas Escoteiras. Sorriu e me disse: Sou escoteiro sim senhor!



Lendas Escoteiras.
Sorriu e me disse: Sou escoteiro sim senhor!

Estava perfeito e garboso com seu uniforme. Lenço bem dobrado, meião com listas retas, sapato brilhando. Parei. Hoje em dia é difícil ver alguém assim. Quando passou por mim fiquei em posição de sentido olhei para ele dizendo: - Sempre Alerta Chefe! Sorrindo respondeu: - Somos do mesmo sangue tu e eu! E continuou: - Nós somos de uma estirpe que restam poucos no mundo. Encantei-me com sua voz. Seu estilo era inconfundível, o chapéu de abas largas retas e aprumado na sua cabeça diziam tudo sobre ele.

– Olhe meu amigo muitos não entendem escolhas que fazemos na vida. Muitos me perguntam se eu sou um herói da juventude. Não sou. Sou um herói de mim mesmo. Não duvide nunca. Eu posso ser muito melhor sendo Escoteiro do que pode pensar. Acredito que se você quer ser o que sonhou, porque não correr atrás dos seus sonhos? Quem não vai atrás do que gosta, não gosta de verdade. Orgulho tem limite, mas quer mesmo saber? O meu não tem. Não abro mão do que amo por receio de ir atrás ou errar na escolha que fiz. É uma questão de princípios, e alguns dizem que é uma questão filosófica.

E ele continuou: - Não sou filósofo e adivinho. Comecei sem saber onde pisava. Pivete entrei neste movimento que passei a amar. Foi amor à primeira vista. Amor de menino sardento, marrento, aprendendo a ler e nem escreve sabia. O tempo passou. Fui crescendo. Vivendo cada dia como se fosse um novo dia. Vi coisas extraordinárias. Descobri minha paixão por aventuras, descobertas, das andanças por trilhas desconhecidas, estradas sem começo e fim, florestas encantadas que ficaram encravadas dentro de mim para sempre.

Descobri o valor das fogueiras em dias e noites que me ajudaram para melhor. Elas queimavam-me para me aquecer e queimava meu interior com um amor sem igual. Aprendi a dormir sob as estrelas e sonhar com elas como se vivessem em mim. Voei morro abaixo a procura de vales para acampar. Andei de canoa e jangadas em rios e lagos e profundos. Tive índios amigos, sertanejos que me ensinaram ser o mateiro que hoje sou.

Estava espantado. Eu era assim também, mas deixei-o continuar: - Esculpi em minha memoria um sol que não conhecia um sol diferente ao nascer ou quando se punha no horizonte. No escotismo fiz amigos e aprendemos a viver como irmãos. Não ouve montanhas com quem não conversei. Não ouve pássaros com que aprendi seu cantar. Fui grande amigo de uma Coruja que me disse um dia: - Chefe, o espírito da coruja mora neste acampamento! Dizem que sábio é o ser humano que reconhece até onde pode ir e que tem mais a aprender, do que a ensinar.

Não fui herói, nada disto, mas aprendi com a floresta, com os ventos, com as trilhas ligeiras de pedras no caminho sem normas para seguir. Aprendi com o ribombar do trovão que vem do céu, da cascata e com a chuva incessante da primavera. Aprendi com as estrelas, com o arco íris que nunca me mostrou seu pote de ouro. Rodei céus e terras para descobrir se pisava em terras virgens, conversei com magos, santos e homens da lei querendo aprender e saber se o mundo escoteiro era este que eu fazia.

Precisava seguir em frente, mas aquele Chefe Escoteiro me encantou. Não arredei pé, queria ouvir mais. - Sei que muitas vezes procuramos a verdadeira felicidade sem saber que possuímos a sua fonte presa no coração. Em nenhum momento duvidei do meu amor Escoteiro. Meu uniforme é minha estrela, me mostrando que ser belo não precisa somente no nome. Precisamos ter amor e respeito. Encontrei adversidades por onde passei. Nos seres humanos foi mais real. Sei que problemas grandes ou pequenos nos apresentam durante a nossa existência. Posso estar contente, posso ser inteligente e embora estejamos em algum momento tristonho, é difícil ver que tudo depende de nos mesmos.

- Problemas todos têm. Lutas, desafios e milhões de dificuldades. È como se o escotismo nos pôs a prova para ver qual fibra somos feitos. Atravessamos tudo isto como o vento atravessa entre árvores enormes e altos picos encontrados no caminho. Cada pessoa sabe como enfrentar, como pular a maré alta do mar. O escotismo nos diz que aceitar é uma estratégia até ter as armas de volta para partir e nos reestruturarmos seguindo em frente para vencer.

– Meu Chefe não sei se me fiz entender. Não existem segredos para o verdadeiro Escoteiro. Não abro mão do meu amor escoteiro esteja onde estiver. Eu não abro mão do meu orgulho em ser Escoteiro. Sou com muito orgulho e honra! Não abro mão do meu uniforme. Não abro mão da minha Lei. A promessa que um dia fiz eu prometi a Deus que me ajudasse a cumprir. Não abro mão das minhas crenças, não abro mão dos meus sonhos e não abro mão do que acredito. Fiz do escotismo uma maneira de viver.  Se pudesse eu diria a todos que sempre amei e sempre vou amar este movimento que mora e residirá em meu coração por toda vida. Acredito que temos uma lei, um artigo que diz que somos irmãos e amigos de todos não pode haver fronteira que nos impeça de o sexto artigo da lei.

- Saiba que canto aleluia a canção de B-P. Ele vive sempre na mente, junto de mim e no meu coração. Não falo só por palavras, meu exemplo é ponto de honra para agir como Escoteiro. Sou amante da natureza, sou amante das noites de luar, sou amante das chuvas no deserto do frio ou calor. Nossa filosofia Chefe é há mais linda que existe. Sou Escoteiro de coração e nele tenho certeza que encontrei o meu caminho que viverá para sempre comigo.

Ele me olhou dizendo que era hora de partir. Apertou minha mão esquerda ficou em posição de sentido e disse um sempre alerta gostoso de ouvir. Virou a esquina e eu estupefato esqueci aonde ia e o que iria fazer. Pensei comigo que a suprema felicidade da vida é a convicção de ser amado por aquilo que você é não tem nada igual. Comecei a cantar baixinho:

Nota - Um passo para a felicidade é tornardes-vos saudáveis e fortes enquanto sois rapazes, para poderdes ser úteis e gozar a vida quando fores homens. Contentai-vos com o que tendes e tirai dele o maior proveito que puderes. Guiai o outro rumo à felicidade, e sereis felizes vós mesmos; e, ao fazerdes isto, estareis a fazer o que Deus pretende de vós. Baden-Powell.

sábado, 28 de abril de 2018

Lendas Escoteiras. O último toque de silêncio!



Lendas Escoteiras.
O último toque de silêncio!

           Tony Blanco chorava copiosamente em um bar de uma travessa da Avenida São João. – Vado, sei que se lembra do Pintassilgo. Você sabia da nossa amizade. Você foi um dos poucos que nunca duvidou de nós. – Eu me lembrava, eram amigos inseparáveis. – Fui testemunha como eram mais que irmãos, amigos inseparáveis. Eu era da Patrulha Lobo e eles da Touro. Juntos em tudo. Na escola, na Patrulha e nas jornadas da vida. Tony Blanco me olhou com os olhos marejados... Lembra-se daquela jornada na Ilha do Cajuru? Foi demais não? – Eu lembrava. Nunca esqueci. Vado eu não sou mais Escoteiro. Eu hoje não sou nada. Um molambo largado na vida. Não tenho família, amigos, nada e nem ninguém que se preocupe por mim.

             A vida é uma surpresa atrás da outra. Havia anos que não ia ao centro e eis ao descer do ônibus na São João parei na esquina para tomar um suco gelado num bar próximo. Muito calor. Foi então que o vi. Nada mais nada menos que Tony Blanco. Maltrapilho, sujo, cara lisa, o mesmo corpo forte que foi apelidado de Maciste. Hoje uma sombra do passado. A última vez que o vi foi em 1976, em um Seminário Escoteiro em Juiz de Fora. Nunca mais nos encontramos. – Ele me reconheceu. Muitos abraços e seus olhos rasos d’água. Pois é Vado faz tempo não? Ele não sorria. Onde anda o Pintassilgo? – Perguntei.

            Morreu Vado. Morreu. Uma morte horrorosa. Ficamos juntos até 1990. Morávamos juntos em um barraco da Vila Madalena. Ele nunca me deixou. Por causa dele não casei com a Das Dores. Gostava dela, mas ele não me deixava. – Arrume uma namorada Pintassilgo! Ele ria e dizia: – Não quero. Se arrumar vou casar. Se casar você deixa de ser meu amigo. Você sabe Vado muitos não entendiam nossa amizade. Acho que não entendem que para ser amigos de verdade não precisamos de subterfúgios. Basta gostar. Gostar de maneira simples, sem desejos, sem aspirações que não seja estar junto de quem gosta. Das Dores riu de mim quando disse isso a ela. Interpretou mal. Vim para São Paulo. Pintassilgo veio também. Comecei a trabalhar em uma Construtora como Mestre de Obras. Ele também. Saímos cedo e voltávamos tarde para nosso barraco.

             - Tony, você ainda toca o Clarim? Perguntei. Ele me olhou e parece que voltou aos tempos escoteiros. Pois é Vado éramos os melhores no clarim. Lembra quando fomos servir em Juiz de Fora? O Sargento ficou na dúvida entre mim, você e ele ser corneteiro mor da unidade. Olhos profundos olhava para todos os lados. – O joguei fora. Tinha de jogar – Porque meu amigo? – Pintassilgo um dia desapareceu. Tentei encontrá-lo por toda a cidade. Perdi o emprego por isso. Dois meses sem ele. Que falta Vado eu sentia dele. Não conseguia emprego fixo. Fui para as ruas. Virei Morador de rua. Aqui e ali uns trocados. A vida ali é dura, mas aprendi muito. Hoje sei me virar.

               - Largou mesmo o escotismo? – Larguei. Cheguei a ajudar em um próximo a minha casa. Difícil. Tudo diferente do que fazíamos. Gostava dos jovens, mas implicaram com Pintassilgo. Ele sempre junto. Falaram coisas que não gostei. Não entendiam o valor de uma amizade. – fui a várias delegacias a sua procura. Perda de tempo zombavam de mim pelo que eu era. Fui a hospitais, Rodei em prontos socorros, fui ao IML e nada. Não dormia direito. Ainda tinha meu clarim guardado na caixa. Havia anos que não tocava. Todas as tardes ficava esperando que ele apontasse na Rua da Saudade e nada.

                 Um dia descendo com a carrocinha na descida da Avenida Angélica eu avistei o Nonô, você deve lembrar-se dele. Era Monitor da Pica Pau. Eu não sabia que era ele. Seus cabelos caíram e só pelo seu nariz fino e comprido que me lembrei. – Ele me reconheceu. Era agora investigador da polícia civil. Convidou-me para tomar uma cerveja e até pagou para mim um almoço. Fazia dois dias que não comia.

                 - Foi ele quem me contou sobre pintassilgo. - Morreu estupidamente Tony Blanco. – - Morreu torturado por traficantes na Favela da Caixa D’água. – Chorei. – Por quê? Porque meu Deus? – Ele disse: - O confundiram com o Maneco Tiro Certo. Eram quadrilhas rivais. Como investigador da 17º Delegacia fui ver uma denuncia anônima. Cortaram sua cabeça, seus braços e pernas. Depois atearam fogo. – Ficamos em silêncio por longo tempo. Não sabia o que dizer. – E aonde foi enterrado? No Cemitério de Vila Alpina. – Ele ainda me contou um pouco de sua vida. Deixou-me um cartão. – Se precisar telefone disse, ainda somos irmãos escoteiros. Lembrei-me do Chefe Tonho – Um Escoteiro é sempre irmão. Nunca deixa um dos seus na mão.

                     - À tarde do dia seguinte fui até o cemitério de Vila Alpina. Tomei um banho no Albergue e coloquei meu uniforme Escoteiro. Estava guardado. Nunca me desfiz dele. Todos os mendigos de lá assustaram. Peguei um ônibus até Vila Alpina. A mocinha que me atendeu não tirava os olhos de mim. Disse-me onde ele estava enterrado. Joviel Peixoto. Eu sabia seu nome. Não havia sepultura. Um buraco. Mais nada. Pedi uma pá emprestada. Fiz uma tampa de terra. Tirei de outros túmulos mudas de grama e algumas flores. Achei duas taboas. Fiz uma cruz. À mocinha me olhava de longe. Estava escurecendo. Tirei da minha bolsa meu clarim. Meus olhos se encheram de lágrimas. A boca seca. Não conseguia tocar. Era demais! Estava engasgado e comecei a chorar copiosamente!

                    - Vado, eu juro, eu juro que o vi em pé na sepultura! Sorria, não disse nada, estava de uniforme Escoteiro. Brilhava na escuridão. Fez-me a saudação Escoteira. Desta vez toquei meu clarim com garra. E como toquei. O mais triste toque de silêncio que toquei em minha vida. – Sabe Vado, eu vi, eu vi mesmo muitos que ali morreram ficarem de pé em suas sepulturas calados. Eu vi relâmpagos no céu. Eu vi uma estrela brilhante em cima de nós.
             
                    - Eu ouvia em silêncio e também chorava. Lembrei-me de poema que me tocou muito: - “Os clarins tocam pelos heróis, que morrem pela ignorância humana. O Silêncio é das vozes que se calam diante das injustiças e barbárie que são cometidas contra quem não pode por si, se defenderem”.  Eu conhecia o toque. O toquei milhares de vezes. É um toque triste. Fiquei ali com Tony por muito tempo. Chorava e eu também. O bar vazio. Dei a ele meu telefone. Escureceu. Não podia mais comprar o que meus filhos pediram. Despedi-me dele oferecendo ajuda. – Obrigado Vado, obrigado. Já tenho o suficiente para viver minha vida de morador de rua. É minha sina. Aqui eu vivo e aqui morrerei. Saiu me dando um aperto de mão e um Sempre Alerta. - Falar mais o que?


Nota - Uma história emocionante. Uma amizade que durou por uma vida. Dois Escoteiros que nunca se separaram. Muitos duvidam que possa haver uma amizade como eles tiveram. De amor, de lealdade, de um por todos. Escoteiros até a alma. História que quando escrevi no final foi com lágrimas nos olhos. Fique a vontade para saber por quê!

sexta-feira, 27 de abril de 2018

Lendas Escoteiras. Jesus de Nazaré.



Lendas Escoteiras.
Jesus de Nazaré.

                        Um asilo de periferia. Paredes descascadas, sem jardins, sem flores; Utensílios simples sem sofisticação. Quartos com três beliches um pequeno refeitório e uma TV preto e branco. Na rua o lixo acumulava. Um Chefe me contou sobre Jesus de Nazaré um Velho negro que às vezes dizia ter sido escoteiro. Chefe, ele é um exímio contador de histórias. Entrei meio deslocado naquele ambiente desleixado. Achei que os idosos ali não teriam muito tempo de vida.

                         A recepcionista com cara de poucos amigos relutou em me deixar entrar. Vendo-me de uniforme Escoteiro abriu um precedente e me levou até um quarto onde mais dois idosos dormiam ou estavam dopados com alguma substância que eu desconhecia. Jesus de Nazaré estava acordado. Estava limpo e bem asseado e me recebeu com um sorriso.

                          O cumprimentei. Sentei no beiral de sua cama. Ele me olhou sorridente. Um olhar comovente mostrando ser alguém com alma e coração escoteiro. Só de olhar vi que Jesus de Nazaré era um homem feliz. Cabelos crespos brancos olhos negros que me fitaram bondosamente. – Olá eu disse! – Me surpreendeu dizendo em voz cantante: - Sempre Alerta Chefe! Um alerta que jamais alguém me disse como ele. Tocou-me demais. Sabe Chefe, há tempos não via um escoteiro. Tenho grande admiração por vocês.

                          Falando compassadamente, uma voz maravilhosamente bela, começou a toar como se tivesse contando uma história para milhares de escoteiros perdidos na escuridão da noite em uma floresta qualquer na beira de uma fogueira: - Ouvi falar de vocês... Amam a natureza. Gostam de uma noite de luar. Admiram as estrelas e os ventos que sopram nos baixios dos vales perdidos entre montanhas e picos mais altos. – Olhei para ele surpreendido pela maneira com que conduzia seu monólogo. O modo como contava poderia ser um de nós.

                         – Piscou os olhos sorriu e continuou: - Eu sempre quis ser um. Na minha alma eu não lembro se fui, pois muitos são e não sabem que são. Meu Senhor da Fazenda onde morava nunca deixou. Seu filho era. Era meu amigo. Contou-me as maravilhas de uma vida escoteira, que dizia nunca esquecer.

                           Percebi suas qualidades de Contador de Histórias. Em poucas palavras prendia minha atenção. Eu sabia que para ser um haveria de ter sensibilidade e empolgação, saber esticar sonhos em forma de ponte para juntar o mundo da fantasia e do imaginário. Ele deu outro sorriso. Parecia ler minha mente. Contaram-me que tinha mais de 110 anos. Se tivesse sido escoteiro seria um dos mais velhos que o Brasil conheceu.

                            Não era conhecido. Um negro perdido em um asilo de beira de estrada. Nunca foi famoso. Alguns tiveram a sorte de ouvir seu vozear. Imaginei quantas histórias contou nos píncaros mais altos ou na bruma escura de uma floresta e quantos devem ter se extasiado. Penso que os Contadores de Histórias são uma raça em extinção. Seu sorriso era viçoso, cheio de amor e paz. Mesmo ali em um albergue imundo, ele se sentia feliz. Se teve amores não demonstrou.  

                         Apertou-me a mão como se fossemos irmãos de sangue. Jesus de Nazaré era diferente, alegre, gentil e educado. Um antigo Contador de Histórias dizia que ser bom é ter conhecimento antecipado do texto. Dos elementos que o compõe, das emoções escritas e familiarizando com suas personagens. Seria isto mesmo? E aqueles que contavam as histórias tiradas da imaginação? Não sabiam como seria o meio e o fim.

                         – Me olhava com olhar sutil e sincero e confesso que entreguei a ele meu coração. - Chefe... Nunca fui Escoteiro, nunca pude pegar a lua e guardar nos parcos pertences que tenho. As estrelas que vocês contam eu nunca pude contar, não sei ler nem escrever. Tive a felicidade de respirar o ar da floresta, de sentir no rosto a brisa da manhã. Com minhas mãos construí cidades, fui amigo de cobras e animais que muitas vezes se mostraram mais verdadeiros que os homens.

                      - Conheço a Lei do Escoteiro. Deus deu a Moisés primeiras Leis no mundo. Pouco comentadas e muitos não levam a sério. Mas a de vocês é simples e direta. Ela não diz faça ela diz tente para compreender. Ter uma só palavra, ser leal belo demais. São dez artigos da lei, não? Fiquei ouvindo extasiado. - Sabe o que mais gosto de vocês? A promessa. Não diz que é obrigado diz que fazer o melhor possível é melhor que prometer. Estava estupefato com aquele Velho negro Contador de Histórias. Como sabia tanto de nós? Verdade é que palavras bonitas ditas com sinceridade me emocionam. Sempre admirei sorrisos sinceros e me encantavam as atitudes de um homem honesto.

                       – Ele me fitou sorridente... Não se assuste como o ambiente que estou. As palavras ásperas que me dirigem não me magoam mais. As agressões não me ferem e muitas maldades não mais me assustam. Olhei para ele e me senti pequeno diante da sua grande verdade. O Velho Contador de História marcou em minha vida uma existência que desconhecia. Francamente eu não conhecia sorrisos honestos, espontâneos e a aceitação da adversidade com um simples estalar de um olhar. Ele se tornou para mim especial.

                        Nunca imaginei que pudesse me modificar e aceitar um local como aquele para morar, agora via o Asilo como se fosse à redenção de um jardim do Edem que ele fazia questão de apregoar. Quando o olhava parecia estar respirando o ar das montanhas em dia de sol. Quantos pensamentos e lembranças ele deixou em mim. Fiquei calado, já não me sentia o Contador de Histórias que tantos me apregoavam que eu era. Pensava em estar com ele sempre, pois só seu olhar me rejuvenescia. Quando a enfermeira disse que o tempo acabou lhe dei um abraço. O beijei como se fosse o meu pai. Dei-lhe a mão esquerda e me senti realizado.

                         Na porta do Asilo ela me disse: - Tem pouco tempo de vida, vai partir em breve. Seu coração não vai aguentar outras luas que irão nascer. – Chorei. Fui para casa rezando e pedindo a Deus que no fim da minha vida me desse à força daquele Velho Contador de Historias. Nunca o esqueci. Pessoas como Jesus de Nazaré ensinam sem palavras só com sorrisos. Até hoje sinto saudades daquele negro velho contador de historias. Sorridente mostrou que a realidade uns machuca e para outros encanta.

                         Voltei lá outras vezes. Um dia me disseram que ele morreu. Para mim não morreu, partiu em busca do seu verdadeiro caminho. Queria estar lá para dizer Adeus. Mas ainda me divirto quando ia saindo e ele sorrindo me disse: Chefe, entrou por uma perna de pato, saiu por uma perna de pinto, quem quiser que conte cinco!

Nota – Conheci um Negro velho, cabelos crespos brancos que dizia se chamar Jesus de Nazaré. Vivia em um asilo pobre, um albergue daqueles que a gente pensa duas vezes se deve entrar. Contaram-me que era um Maravilhoso Contador de Histórias. Fui ver se era verdade. Conheci sim um santo homem, que transmitiu para mim a humildade de alguém que muito sofreu e aprendeu e que a vida é maravilhosa se não se tem medo dela. São meus convidados. Bem vindos!

quinta-feira, 26 de abril de 2018

Conversa ao pé do fogo. Apenas um Fogo de Conselho... De Tropa...



Conversa ao pé do fogo.
Apenas um Fogo de Conselho... De Tropa...

                                  A Patrulha de Serviço escolheu o local. Poucos sabiam onde seria. Os monitores foram alertados para cada escoteiro levar três ou quatro achas de lenha, mais grossa se possíveis. O esqueleto do fogo já estaria pronto. Havia uma trilha até o local. A Patrulha de Serviço preparou surpresas durante a caminhada de trezentos metros. Uma mensagem iluminada com uma vela, um Cata-vento, montado próximo a um riacho e claro, pistas para ninguém se perder.

                                  O Fogo seria em uma clareira, com arvoredo em volta. Tudo foi planejado para que o fogo não se espalhasse pela mata. Eles sabiam que o Espírito da Coruja morava neste Acampamento! Os Touros foram convidados a fazerem o café e o chá. As patrulhas foram liberadas para trazerem biscoitos, salgados o que ainda tinha sobrado dos dias acampados.

                                   O Monitor da Patrulha de Serviço convidou um escoteiro que terminava sua Segunda Classe para preparar e ascender o fogo. Havia muitos na fila para o batismo indígena. Todos teriam seu nome escrito no Livro da Patrulha. Mayara, Ubiratã, Guaraci e até mesmo aqueles que gostavam de nomes exóticos: - Cabelos longos, Caçador da Noite, Ventos do Norte... Cada Patrulha preparou uma apresentação. Era ponto de honra à participação de todos... De todos!

                                 Os escoteiros sabiam a hora que deviam estar preparados no inicio na arena do fogo. Cada um foi instruído da trilha para chegar lá. Algumas patrulhas foram completas outras não. Liberdade de ir e vir e a vontade para chegar lá. Alguns comentaram que um meteoro uma bola de fogo vindo do céu iria dar as boas vindas. Apenas uma mecha preparada com uma argola no sisal preso em uma árvore. Cada Patrulha tinha seu truque para acender. Quinze minutos antes do horário muitos já tinham chegado e escolhendo seu lugar. As capas reluziam sob a luz do luar. Algumas cheias de recordações outras usadas à moda índia.

                                 O Escoteiro responsável prometeu acender com um palito. Quando estivesse crepitando o Meteoro iria dar seu ar da graça em volta do fogo. Cada tropa cada Patrulha tinha sua mística própria. A Patrulha de serviço sabia o que fazer para dar sua contribuição quando do inicio da fogueira. O Chefe já havia contado para eles o efeito das cerimonias ou conselhos onde os índios discutiam seus problemas, contavam suas façanhas e reverenciavam seus deuses.

                                Todos sabiam que o fogo é um símbolo das energias da vida, era importante para a sobrevivencia desde os primórdios da evolução da humanidade. Aprenderam que dos quatro elementos da natureza, terra, ar, água e fogo sempre foi o fogo que mais fascinou o homem. Temido e amado, salvando ou ameaçando a vida. Desde que apareceu às primeiras chamas que os homens compreenderam o valor do fogo como fonte de energia.

                                Os nativos da Ásia, os selvagens Africanos, os peles-vermelhas da América se reuniam a noite em torno do fogo, que com sua luz e calor espantavam as trevas, o frio e os animais. Era o momento sublime em que todos se encontravam para conservar, cantar, contar histórias ou para planejar caçadas (jogos do dia seguinte) a guerra e a paz.

                                  A hora sagrada. O tempo de estar juntos, à vontade em confraternizar. O Monitor da Patrulha de serviço corre em volta das patrulhas, empunhando seu totem e gritando: - “Que os ventos do norte, frio e violento, que os ventos do oeste suave e agradável, Que os ventos do leste Criador das tempestades, que os ventos do sul quente e formador de nuvens, tragam nesta noite a alegria a paz e a amizade em todos os corações escoteiros”.

                                 O Escoteiro escolhido ajoelhado frente ao fogo acende seu palito... Defende do vento, ele não pode apagar. As primeiras labaredas aparecem... O Monitor da o seu grito final: - Que hoje seja festa, seja noite de alegria neste Fogo de Conselho. Que hoje nunca esqueçamos que somos todos irmãos. - Amigo, eu e você... Você trouxe outro amigo, e agora somos três... Nós começamos o nosso grupo, nosso círculo de amigos... E como um circulo, não tem começo e nem fim! Um por todos? – todos por um!

                                   Todos saltam de uma só vez para o alto e repetem “Todos por um”! – A canção da fogueira, as palmas, as esquetes, as histórias, e chega a hora sagrada do Batismo Escoteiro. Um se chamou Lobo Cinzento, outro Águia das Planícies, não faltou Anahí, Xamã, Kayke e tantos outros. O importante é que todos cantaram, brincaram, foram heróis, participaram, abraçaram e quando o sono chegou, era hora da despedida. 

                                   Em pé entrelaçaram as mãos. Com a saga de amigos para sempre cantaram... Alguns sorrindo outros com lágrimas e repetindo: - Não é mais que um até logo, não é mais que um breve adeus. Canção inesquecível sempre cantada e nunca esquecida. Mais um Fogo na vida de cada um. Voltam para as barracas contando causos, sorrindo e alguns com sua caneca cheia de café.

                                  E naquela noite, na floresta encantada, Escoteiros dormiam. Uma mão acariciava cada um protegendo seu sono. Fora da barraca um céu estrelado, um cometa com cauda colorida agigantando no céu passou anunciando um novo dia... Mais uma noite mais um dia de um acampamento para nunca mais esquecer...

Nota – Era para ser uma história, que nunca foi contada... Foi apenas um Fogo de Conselho de Tropa... Diferente... De tudo que muitos conhecem. São meus convidados. Escolham seus lugares... Protejam-se com suas mantas e se preparem é hora de cantar apresentar e brincar. Neste fogo meu amigo, somente os valentes entre os valentes... Podem participar!

terça-feira, 24 de abril de 2018

Dia do Escoteiro! Adendo: Na foto de BP, está escrito: - “Esta estrutura foi construída para Lord Baden-Powell de Gilwell - O.M., G.C.M.G., G.C.V.O., K.C.B., fundador do movimento Escoteiro que liderou aqui em outubro de 1938 até sua morte em 8 de janeiro de 1941”. Hoje nas mais remotas cidades onde se pratica o escotismo todos sabem que o dia 23 de abril é o dia do Escoteiro. Quando menino escoteiro não sabia. Acredito que o Akelá e o Balu também não. Acho que só em 1951 fiquei sabendo. Era domingo, não fui acampar e nem tinha atividade programada com a Patrulha. Fui para a Estação da Vitória Minas trabalhar com minha caixa de engraxate. Com ela comprei tudo que precisava no escoteiro. Um senhor que usava um cinto parou próximo, me olhou de cima em baixo e perguntou quanto cobrava para engraxar os seus sapatos. Disse o valor ele encostou-se à parede da estação e disse: - Faça o seu melhor. Quando estava terminando ele olhou para minha flor de lis na lapela. Sorriu e disse: - Sempre Alerta! Ele também portava uma. Ia perguntar quando terminasse. Não gostava de conversar quando estava trabalhando. Ele me contou que foi escoteiro até os 21 anos e hoje não dava mais. - Caixeiro Viajante pouco paro em minha cidade. Mas fui escoteiro desde lobinho, sai já como pioneiro. Ele então me perguntou: - Sabe que dia é hoje? Hoje é 23 de abril. Dia de quem? De São Jorge. Achei que estava mostrando a ele que não era um matuto mineiro. Lia muito e estudava muito. Sabe o que significa? Com um sinal de cabeça disse que não. Enquanto dava os últimos retoques com o pano de feltro ele ia me contando deste dia. Este dia meu jovem é celebrado em boa parte dos países que tem escoteiros. Quer conhecer a lenda? Respondi com um aceno e ele começou a contar a história de São Jorge e Porque Baden-Powell escolheu como nosso protetor. - Baden-Powell sempre comparou os escoteiros aos bravos cavaleiros de outros tempos, pois os dois se comprometiam voluntariamente, seguindo um Código de Honra ou uma Lei, praticando o bem numa entrega total, e particularmente o serviço aos mais necessitados, protegendo sempre os fracos e oprimidos. - São Jorge é o único santo cavaleiro. Ele foi também o santo padroeiro dos cavaleiros, sendo também o santo protetor de Inglaterra. No entanto existe uma lenda, que mostra os valores que definem um cavaleiro e um escoteiro, a generosidade e a valentia, que são sempre reconhecidos e louvados. - Corria o ano de 303, quando a 23 de Abril nasceu São Jorge na zona da Capadócia, onde se situa atualmente a Turquia. Ainda novo alistou-se como Cavaleiro, e graças à sua entrega e esforço se fez notar. - Um dia, em Silene, uma antiga cidade da Líbia, soube que diariamente um dos seus habitantes, tirado à sorte, era oferecido a um horrendo dragão que o devorava furiosamente, e só assim era possível acalmar a besta. - Por razão do acaso, nesse mesmo dia da chegada do Santo Cavaleiro, Cleolinda, a lindíssima e formosa filha do Rei, fora a escolhida para ser sacrificada à besta. São Jorge como cavaleiro, nunca poderia permitir que uma atrocidade destas tomasse lugar, e ficou extremamente indignado por ninguém tomar uma posição. Nesse mesmo momento São Jorge prometeu a si mesmo pôr termo à situação, mesmo que isso custasse a sua própria vida. - Rapidamente dirigiu-se a ao pântano onde habitava o dragão. S. Jorge embora intimidado com os urros do dragão, nunca vacilou, e empunhando a sua lança trespassou o dragão com um golpe fulminante! Assim terminava a triste sina da cidade de Silene, assim como a da sua bela princesa, que finalmente fora salva. - O Rei ficou eufórico ao ver a sua amada filha poupada ao horrível sacrifício, e em forma de agradecimento quis oferecer a mão da princesa ao seu nobre salvador. Mas São Jorge prometera perante si e perante Deus, lutar o mal até que este fosse banido da face da terra, recusando assim o tentador convite. - Os Escoteiros em tudo se devem assemelhar a São Jorge: enfrentando as dificuldades e perigos corajosamente, com determinação, empenho e vontade, até vencer, levando a luta até ao fim. - Portanto meu caro escoteiro B.P escolheu São Jorge para ser o nosso Patrono e no Dia de São Jorge, ou seja, 23 de Abril festeja-se também o Dia Mundial do Escoteiro. Pagou-me o dobro que eu cobrava, me deu a mão esquerda, me elogiou pelo trabalho dizendo que ficou ótimo (seus sapatos) e pegou o Trem Rápido para Vitória. Muitos anos depois os escoteiros que estavam comigo em Patrulha me disseram: - Vado, não tem outra história para contar? Eu franzia a testa e lembrava que contei mais de duzentas vezes esta história nos Fogo de Conselho, nas subida das serras, nas trilhas em busca de um bom local para acampar. - São coisas de escoteiros. Eles sempre tem uma história para contar e não ficar repetindo como eu repetia sempre a mesma historia. Do cavaleiro andante São Jorge o padroeiro dos escoteiros! Nota - Aos meus amigos escoteiros. Tentei ontem postar esta crônica. Não consegui. A saúde não vai nada bem. Minhas mãos tremem e não consigo digitar. Hoje com muita dificuldade e fazendo um enorme esforço pensei que não poderia ficar sem saudar a todos da fraternidade mundial o dia do escoteiro. Peço desculpas a todos meus amigos escoteiros que me acompanham com tanto carinho. Logo que estiver melhor, volto às postagens diárias. Abraços fraternos.



Dia do Escoteiro!

Adendo: Na foto de BP, está escrito: - “Esta estrutura foi construída para Lord Baden-Powell de Gilwell - O.M., G.C.M.G., G.C.V.O., K.C.B., fundador do movimento Escoteiro que liderou aqui em outubro de 1938 até sua morte em 8 de janeiro de 1941”.

                      Hoje nas mais remotas cidades onde se pratica o escotismo todos sabem que o dia 23 de abril é o dia do Escoteiro. Quando menino escoteiro não sabia. Acredito que o Akelá e o Balu também não. Acho que só em 1951 fiquei sabendo. Era domingo, não fui acampar e nem tinha atividade programada com a Patrulha. Fui para a Estação da Vitória Minas trabalhar com minha caixa de engraxate. Com ela comprei tudo que precisava no escoteiro.

                   Um senhor que usava um cinto parou próximo, me olhou de cima em baixo e perguntou quanto cobrava para engraxar os seus sapatos. Disse o valor ele encostou-se à parede da estação e disse: - Faça o seu melhor. Quando estava terminando ele olhou para minha flor de lis na lapela. Sorriu e disse: - Sempre Alerta! Ele também portava uma. Ia perguntar quando terminasse. Não gostava de conversar quando estava trabalhando.

                    Ele me contou que foi escoteiro até os 21 anos e hoje não dava mais. - Caixeiro Viajante pouco paro em minha cidade. Mas fui escoteiro desde lobinho, sai já como pioneiro. Ele então me perguntou: - Sabe que dia é hoje? Hoje é 23 de abril. Dia de quem? De São Jorge. Achei que estava mostrando a ele que não era um matuto mineiro. Lia muito e estudava muito.

                   Sabe o que significa? Com um sinal de cabeça disse que não. Enquanto dava os últimos retoques com o pano de feltro ele ia me contando deste dia. Este dia meu jovem é celebrado em boa parte dos países que tem escoteiros. Quer conhecer a lenda? Respondi com um aceno e ele começou a contar a história de São Jorge e Porque Baden-Powell escolheu como nosso protetor.

- Baden-Powell sempre comparou os escoteiros aos bravos cavaleiros de outros tempos, pois os dois se comprometiam voluntariamente, seguindo um Código de Honra ou uma Lei, praticando o bem numa entrega total, e particularmente o serviço aos mais necessitados, protegendo sempre os fracos e oprimidos.

- São Jorge é o único santo cavaleiro. Ele foi também o santo padroeiro dos cavaleiros, sendo também o santo protetor de Inglaterra. No entanto existe uma lenda, que mostra os valores que definem um cavaleiro e um escoteiro, a generosidade e a valentia, que são sempre reconhecidos e louvados.

- Corria o ano de 303, quando a 23 de Abril nasceu São Jorge na zona da Capadócia, onde se situa atualmente a Turquia. Ainda novo alistou-se como Cavaleiro, e graças à sua entrega e esforço se fez notar.

- Um dia, em Silene, uma antiga cidade da Líbia, soube que diariamente um dos seus habitantes, tirado à sorte, era oferecido a um horrendo dragão que o devorava furiosamente, e só assim era possível acalmar a besta.

- Por razão do acaso, nesse mesmo dia da chegada do Santo Cavaleiro, Cleolinda, a lindíssima e formosa filha do Rei, fora a escolhida para ser sacrificada à besta. São Jorge como cavaleiro, nunca poderia permitir que uma atrocidade destas tomasse lugar, e ficou extremamente indignado por ninguém tomar uma posição. Nesse mesmo momento São Jorge prometeu a si mesmo pôr termo à situação, mesmo que isso custasse a sua própria vida.

- Rapidamente dirigiu-se a ao pântano onde habitava o dragão. S. Jorge embora intimidado com os urros do dragão, nunca vacilou, e empunhando a sua lança trespassou o dragão com um golpe fulminante! Assim terminava a triste sina da cidade de Silene, assim como a da sua bela princesa, que finalmente fora salva.

- O Rei ficou eufórico ao ver a sua amada filha poupada ao horrível sacrifício, e em forma de agradecimento quis oferecer a mão da princesa ao seu nobre salvador. Mas São Jorge prometera perante si e perante Deus, lutar o mal até que este fosse banido da face da terra, recusando assim o tentador convite.

- Os Escoteiros em tudo se devem assemelhar a São Jorge: enfrentando as dificuldades e perigos corajosamente, com determinação, empenho e vontade, até vencer, levando a luta até ao fim.

- Portanto meu caro escoteiro B.P escolheu São Jorge para ser o nosso Patrono e no Dia de São Jorge, ou seja, 23 de Abril festeja-se também o Dia Mundial do Escoteiro.

Pagou-me o dobro que eu cobrava, me deu a mão esquerda, me elogiou pelo trabalho dizendo que ficou ótimo (seus sapatos) e pegou o Trem Rápido para Vitória. Muitos anos depois os escoteiros que estavam comigo em Patrulha me disseram: - Vado, não tem outra história para contar? Eu franzia a testa e lembrava que contei mais de duzentas vezes esta história nos Fogo de Conselho, nas subida das serras, nas trilhas em busca de um bom local para acampar.

- São coisas de escoteiros. Eles sempre tem uma história para contar e não ficar repetindo como eu repetia sempre a mesma historia. Do cavaleiro andante São Jorge o padroeiro dos escoteiros!

Nota - Aos meus amigos escoteiros. Tentei ontem postar esta crônica. Não consegui. A saúde não vai nada bem. Minhas mãos tremem e não consigo digitar. Hoje com muita dificuldade e fazendo um enorme esforço pensei que não poderia ficar sem saudar a todos da fraternidade mundial o dia do escoteiro. Peço desculpas a todos meus amigos escoteiros que me acompanham com tanto carinho. Logo que estiver melhor, volto às postagens diárias. Abraços fraternos.



quarta-feira, 18 de abril de 2018

Gabriel um Escoteiro.



Gabriel um Escoteiro.

                        - Chefe passo a relatar um pensamento meu. Eu sei que a distância de nossos grupos escoteiros pode ser distante, mas mesmo assim, o senhor me ensina muitas coisas e fortalece minha chama escoteira. Como um jovem sênior, não posso ensinar algo para um antigo Chefe?

                            Pois é, vi estes dias, quando estava arrumando meu guarda-roupa, minha antiga camiseta de acampamento, ela estava toda gastada, com pequenos rasgos, furos, desbotada e algumas manchas. Adoro essa camisa e fiquei um tanto quanto triste. Afinal como pude ser tão desleixado e deixar isso com minha camisa companheira? - Mas então eu lembrei que aqueles rasgos foram feitos com muitos puxões e lutas saudosas de vários jogos.

                         Aqueles furos foram feitos com muitas quedas, em pedras encontradas nas longas trilhas com meus colegas escoteiros. Aquela cor desbotada foi feita pelo sol em uma tarde na beira de um lago com um momento reflexivo, e aquelas manchas apareceram graças às boas comidas que eu comi em acampamentos.

                        Todos os estragos da camisa e também os motivos deles são muito diferentes, mas o resultado deles são todos os mesmos, todos eles foram feitos em um momento de alegria e diversão com as pessoas que eu gosto, e essa camisa é a prova que eu fui muito feliz com nesses momentos. Agora a tristeza já sumiu, e toda vez que olhar minha camisa, vou lembrar-me desses momentos e ficar muito feliz, e minha chama escoteira irá enriquecer cada vez mais.

                          Bom meu caro chefe, espero que por meio dessa mensagem, possa ter alcançado meu objetivo de que um jovem escoteiro pode mostrar os próprios conhecimentos a um velho chefe de majestosa sabedoria.
 Um grande abraço e um forte aperto de canhota, até o próximo fogo de conselho.

- Tem momentos em que ficamos nostálgicos, pensativos e em outros agradecidos por estarmos em um movimento tão sublime como o escotismo. Enquanto alguns se distraem nas dúvidas, nos caminhos difíceis e nem sempre os escolhidos, aparece um para dizer que o escotismo marcou e deixou no coração um amor incrivelmente Escoteiro. Ao jovem Sênior meu fraterno abraço e que ele siga na trilha escoteira seja participando, ou seja, amando por toda sua vida. 


Nota – Há tempos publiquei este relato feito pelo Escoteiro Gabriel e anotado em meu Imbox do Facebook. Estou fazendo nova postagem, pois muitos não tiveram oportunidade de ler. Não sei mais qual foi o seu destino no escotismo. Espero que esteja escoteirando e fazendo o que um dia estava em seu coração. O seu relato me faz pensar que ainda existe uma esperança no escotismo do Brasil! A você Gabriel meu abraço fraterno. São escoteiros como você que nos fazem pensar que vale a pena continuar a lutar pelo que acreditou BP.

terça-feira, 17 de abril de 2018

Hoje não tem historias...



Hoje não tem historias...


- Não tem. Resolvi fazer um recesso. Dar um tempo. Contei historias demais. Hoje até escrevi uma historia. Um escoteiro que cantava para espantar a tristeza. Um escoteiro que sonhou ter uma barraca e sair por aí para acampar. Ele não tinha Chefe, não tinha Patrulha não tinha numero para provar que era um Escoteiro do Brasil. Ele sozinho fez um fogão tropeiro, montou um toldo e um lenheiro e até cozinhou para sí um belo jantar. E quando a noite chegou, olhou o céu estrelado, pensou em pegar carona em algum cometa viajado e sair por aí soltando poeiras coloridas no ar...

- Mas hoje não vou contar histórias. Para que contar e para quem? Quem se interessa pelo Escoteiro que cantava para espantar sua tristeza? Vale a pena contar que ele queria acender uma fogueira, saltitante, daquelas que soltavam fagulhas coloridas, que brincavam de esconde, esconde com os pirilampos que acendiam suas lanternas querendo brilhar... Era um apaixonado escoteiro que gostava de cantar. Sonhava ser um daqueles heróis que viraram o Brasil para encontrar esmeraldas... E se perdeu em uma montanha sem nada encontrar...

- Não, hoje não vou contar histórias. Hoje nem sei contar histórias. Sei que aquele escoteiro cantador adorava ouvir o som da floresta, ouvia durante o dia, nas noites e nas madrugadas quando a Cotovia e o Uirapuru saiam para fazer duetos para os insetos e os pássaros noturnos que gostavam de ouvir.  Se fosse contar uma história não iria contar de um escoteiro que tinha uma coruja amiga, que professoralmente ensinava a ele os segredos noturnos da Floresta.

- Melhor parar, não posso contar uma história. Nem mesmo do escoteiro que jurou a bandeira e pediu a Deus para lhe abençoar. Disse ao Senhor que o ajudasse a obedecer à lei as dificuldades que aparecessem em sua vida. Ele disse a Deus que a vida passa e que as histórias ficam no tempo e nunca mudam de lugar. Eu queria mesmo contar uma historia, mas me perdi no tempo, me perdi onde não sabia e aonde ia iria chegar...

- É... Eu queria contar uma história... Quem sabe você conta uma para mim?


- Não tem. Resolvi fazer um recesso. Dar um tempo. Contei historias demais. Hoje até escrevi uma historia. Um escoteiro que cantava para espantar a tristeza. Um escoteiro que sonhou ter uma barraca e sair por aí para acampar. Ele não tinha Chefe, não tinha Patrulha não tinha numero para provar que era um Escoteiro do Brasil. Ele sozinho fez um fogão tropeiro, montou um toldo e um lenheiro e até cozinhou para sí um belo jantar. E quando a noite chegou, olhou o céu estrelado, pensou em pegar carona em algum cometa viajado e sair por aí soltando poeiras coloridas no ar...

- Mas hoje não vou contar histórias. Para que contar e para quem? Quem se interessa pelo Escoteiro que cantava para espantar sua tristeza? Vale a pena contar que ele queria acender uma fogueira, saltitante, daquelas que soltavam fagulhas coloridas, que brincavam de esconde, esconde com os pirilampos que acendiam suas lanternas querendo brilhar... Era um apaixonado escoteiro que gostava de cantar. Sonhava ser um daqueles heróis que viraram o Brasil para encontrar esmeraldas... E se perdeu em uma montanha sem nada encontrar...

- Não, hoje não vou contar histórias. Hoje nem sei contar histórias. Sei que aquele escoteiro cantador adorava ouvir o som da floresta, ouvia durante o dia, nas noites e nas madrugadas quando a Cotovia e o Uirapuru saiam para fazer duetos para os insetos e os pássaros noturnos que gostavam de ouvir.  Se fosse contar uma história não iria contar de um escoteiro que tinha uma coruja amiga, que professoralmente ensinava a ele os segredos noturnos da Floresta.

- Melhor parar, não posso contar uma história. Nem mesmo do escoteiro que jurou a bandeira e pediu a Deus para lhe abençoar. Disse ao Senhor que o ajudasse a obedecer à lei as dificuldades que aparecessem em sua vida. Ele disse a Deus que a vida passa e que as histórias ficam no tempo e nunca mudam de lugar. Eu queria mesmo contar uma historia, mas me perdi no tempo, me perdi onde não sabia e aonde ia iria chegar...

- É... Eu queria contar uma história... Quem sabe você conta uma para mim?

segunda-feira, 16 de abril de 2018

Lendas Escoteiras. O palco das ilusões.



Lendas Escoteiras.
O palco das ilusões.

               - Gosto do seu sorriso Loirinha. Olhei para Joel e o abracei. – Não vai compartilhar? – Meu marido sempre com seu espírito cheio de amor. Vez ou outra fico pensando se teria coragem de continuar como sou se não fosse ele. Não disse nada, não havia nada para dizer. Uma mágoa e um orgulho ferido fazia parte da minha vida agora. Culpada? Pode até ser, mas nunca me arrependi do que fiz.

                 Não sou uma mulher fraca incapaz. Conheço o mundo onde vivo e sei onde pisar. Tudo começou quando Mary minha filha viu uma propaganda dos lobinhos na TV. Perguntou-me o que era. Não sabia, tinha ouvido falar. Olhei na internet. Interessei-me e ela também. Conversei com Joel e ele não se opôs. - Precisa que eu vá? Agora não. Se for preciso ligo. Foi o começo. Levava e ficava esperando Mary aos sábados durante as reuniões.

                O ambiente era ótimo. Havia alegria, felicidade que interpretei como fraternal demais. Uma duas, seis reuniões e resolvi participar. Joel não foi contra. – Se achar que é bom para você, eu estou inteiramente de acordo. Fui bem recebida. Parecia uma grande família. Convidaram-me como Assistente de Lobinhos. Entrosei-me, estudei e fiz alguns cursos. Durante um ano nada deu errado. Aos poucos comecei a ver o que nunca tinha visto.

                  Passei a pensar que muitos ali estavam representando personagens que não eram deles. Alguns se endeusavam e se consideravam mais que os outros. Sabiam sorrir dar tapinhas nas costas, cumprimentavam, mas sempre com aquele olhar, aquele estilo superior como se um lenço de Gilwell desse a eles o poder dos deuses. Vi que a visão distorcida da realidade coloca no prepotente a arrogância. Sabia que não era assim em outros Grupos. No meu não.

                  Achava que no Escotismo deveria existir a humildade e em alguns estava vendo o contrário. Quando conheci a Lei Escoteira e fiz minha promessa foi maravilhoso. Transformei-me, entreguei-me de corpo e alma. Os pais, alguns poucos amigos chefes e os lobinhos passaram a ser minha razão de continuar. Coloquei um véu de silêncio onde via e ouvia o que não devia.

                   Fui uma voluntária Escoteira. Sabia o que significava. Doar sem esperar recompensa. Um Chefe Antigo me disse que o Escotismo é quem precisa de nós e não o contrário. Nunca pensei e sair. O Diretor Técnico era formador e pensei que era um chefão de enorme coração. Não era. Havia nele uma réstia de ser supremo. Gostava de ser admirado e obedecido.

                   Claro que havia pessoas maravilhosas, mas uns poucos chefes pareciam ungido com o dom da sabedoria escoteira. Quando acantonávamos ficávamos até mais tarde papeando em volta do fogo. O que ouvia me dava à impressão que faltava muito para sermos uma fraternidade. Eu gostava sim do escotismo, achava que ele tinha mudado minha vida, sua filosofia entranhava em meu ser e mergulhou profundamente em meu coração.

                     Joel sempre me perguntava se tudo ia bem. Eu dizia que sim. Acreditava que o mundo precisa de pessoas humildes e não de arrogantes e prepotentes. O Escotismo não devia ser assim? O que eu poderia fazer para mudar? Conheci chefes que saíram e vi que a magoa que tinham era um orgulho ferido. A doença da alma é quem faz você acreditar que é melhor que os outros.

                      Quando comecei acreditei que pudesse me doar aos lobinhos. Não ia ser a mamãe dos lobos como outras faziam. Eles precisavam de uma amiga de uma Akelá que desse a eles uma visão maior para aprender a se movimentar na Floresta da Jângal. Um Chefe me disse um dia que se quisesse continuar deveria ser como eles. Correr atrás do lenço, dos tacos, das condecorações e recompensas. Não pensava assim. Eu era um inocente sem culpa.

                     Um dia me abri com Joel. Companheiro leal me ouviu sem contradizer. Disse a ele que Mary queria sair. Não tinha mais motivação. Ele me surpreendeu ao dizer que daria toda colaboração e ficaria com a Mary se eu quisesse continuar. – Vale a pena Joel? Ele sorriu e me disse: - Olhe Eva, fale menos, palavras o vento leva. A mágoa, no entanto fica. Eu lia muito sobre escotismo. Nas redes sociais quantas e quantas frases de motivação.

                     Pensei muito, custei a chegar a uma conclusão. Não conseguia fingir uma humildade que não tinha nunca iria fazer parte de um círculo que se achavam os melhores. Nas reuniões do distrito, nas Assembleias não me surpreendia com tanta vaidade e falta de modéstia. Felícia uma Chefe com mais de vinte anos de escotismo me disse um dia: - Eva, a arrogância e a prepotência são incompatíveis com o inicio de uma carreira de sucesso. Se você é uma coisa ou outra, deixe para tirar sua mascara só quando chegar ao tempo. E ria dizendo: - Se chegar...

                   Sabia que o escotismo era uma grande fraternidade. Havia de tudo para amarmos uns aos outros. Uma grande maioria pensava como eu. Irmãos escoteiros. Não era hora para procurar outro Grupo. Resolvi sair. Dar um tempo. Quem sabe meu amor ao escotismo faria voltar um dia.

               Tive lindos e bons momentos que ficaram no passado. Acho que valeu, aprendi muito. Gosto de ver gente sorrindo, acreditando. Como disse um dia aquele Velho Chefe Escoteiro: - Você pode dizer que é Escoteiro. Mas ter um coração Escoteiro não é para qualquer um!

Nota – Esta é uma história fictícia. Não significa que todos são assim. Pode até ser que a historia dessa Chefe de lobinhos tem alguma coisa parecida com a sua. Afinal anda vai demorar muito tempo para acreditarmos que ninguém é melhor que ninguém. Que nosso objetivo é ajudar e mostrar que a humildade e a fraternidade cabe no coração de cada um. Sei que palavras do bem viver são como o vento. Só ouve quem acredita mesmo que tudo pode mudar. 

Era uma vez... Em uma montanha bem perto do céu...

Bem vindo ao Blog As mais lindas historias escoteiras. Centenas delas, histórias, contos lendas que você ainda não conhecia....