quinta-feira, 8 de março de 2018

Papeando em volta do fogo. Um lindo alvorecer na morada da Terra do Sol.



Papeando em volta do fogo.
Um lindo alvorecer na morada da Terra do Sol.

                               Retornava da minha caminhada de quinhentos metros. Cansado, ofegante tomava meu café quando bateram palmas na porta de casa. Domingo é sempre assim. Religiosos nos convidando para ouvir a palavra do Senhor. Porque não? Gosto de vê-los lendo os mandamentos de Deus. Quando acontece descanso em uma cadeira, pois ficar em pé é difícil e ouço com amor, e olhem, nunca digo que sou espiritualista. Eles não gostam. Afinal ouvir é bom e não prejudica ninguém. Mas naquele dia não eram eles.

                               No portão uma figura imponente. Cabelos brancos compridos até o ombro, barba branca bem penteada e uns olhos azuis que chamuscavam ao olhar diretamente para ele. Vestia um paletó branco, comprido que ia até o joelho. Uma camisa azul brilhante com um pequeno lenço verde garrafa amarrado no pescoço. Usava uma calça de gabardine cinza e calçava uma sandália de couro marrom sem meias. Trazia nas mãos uma forquilha. Senhor! Que forquilha! Linda, envernizada com caracteres que não consegui ler. Onde o V fazia uma curva acentuada parecia estar cravejadas de pedras preciosas em delicioso arranjo.
             

                              Quem seria? Nesta cidade grande todo cuidado é pouco. Loucos, assaltantes, pedintes, acorrem em nossa porta. Mas o sorriso do "Velho" era cativante. Aproximei. Senti um aroma de flores silvestres. O "Velho" sorriu e chegando perto disse: – Posso lhe dar um abraço? Fiquei estarrecido! Nunca ninguém bateu em minha porta oferecendo um abraço! Peguei as chaves, abri o portão e ele entrou como se estivesse entrando em um castelo de Reis.

                             Encostou a forquilha encantada na parede e me deu um abraço! Gente! Que abraço. Com meus 77 anos me sentia como se fosse um menino sendo abraçado pelo papai. Fiquei sem jeito. – Aceita um café? – Obrigado Chefe Vado, mas não podemos perder tempo. Vou levar você para ver o alvorecer na Morada do Sol. – Me levar? Assustei-me. Tenho que tomar cuidado pode ser alguém com acesso de loucura – Como se estivesse lendo meus pensamentos sorriu e disse – Sorria, venha comigo. Sei que Dona Célia está fazendo a feira e volta logo. Mas estaremos de volta muito antes. – Pegou-me pela mão e sem fechar o portão saímos voando, em uma aventura sem igual.

                             Nas alturas soltou minha mão. Gente! Eu “volitava” sozinho no ar como se já tivesse feito isto há muito tempo. Em segundos estávamos em uma montanha, onde as árvores eram lindas, as folhas de um verde que nunca tinha visto e lá no alto um pico envolto em nuvens que para dizer a verdade, fez meu coração disparar. Lindo! Uma montanha linda que nunca vi. – Como chama? Perguntei. – Você conhece você já esteve aqui. Serra do Sol Nascente. A morada do sol – Me lembrei. Mas não era assim! Eu disse. Ele me olhou e carinhosamente disse - Porque você só viu o que queria ver!

                            - De novo saímos voando. Em segundos fui transportado para um lugar dos mais lindos da terra. Uma maravilhosa cachoeira. Uma névoa branca como se fosse orvalho enfumaçado formava em sua queda um espetáculo incrível. O barulho da queda era como se estivesse ouvindo uma orquestra de cordas tocando maravilhosamente “The Lord of The Rings”. Pensei isto deve ser um sonho. Pássaros dançavam balé fazendo acrobacias. – Onde estamos? Perguntei! – Na Cachoeira da Chuva, você já esteve aqui! – Como? Não vi nada disto que vejo agora. - Porque você só viu o que queria ver!

                           E lá fomos de novo voando nas nuvens brancas do céu. Descemos na sombra de um lindo castanheiro. Era madrugada. O orvalho caia, uma brisa fresca tocou-me o rosto. Ouvi as primeiras badaladas do amanhecer. A passarada voava de galho em galho esperando o sol nascer. Beija flores, Tico-Tico, Sabiás, canários belgas, pardais graciosos, todos com suas gralhas graciosas cantavam naquela bela manhã. Onde estamos? Perguntei – Não reconhece? O castanheiro do quintal da sua casa quando menino. - Mas não era assim, eu disse. Ele gentilmente respondeu – Porque você só viu o que queria ver.

                       E assim ele me levou a longínquos lugares perdidos neste mundo de Deus e sempre a me dizer – Você já esteve aqui. Quando me levou em nuvens brancas enormes no céu, ouvi milhões de escoteiros cantando canções sublimes. – Que canções maravilhosas são estas? – As mesmas que você sempre cantou. Muitas vezes gritadas, sem nexo e você não procurou ver a beleza da melodia que elas possuíam, pois você só ouviu o que queria ouvir!

                     Voltamos, avistei o portão de minha morada. Não entrou. Disse-me: Vado escoteiro procure ver as coisas como são, procure sentir a beleza das cores, do arco íris, dos lindos sonhos que acontecem com você. Procure ser sincero e diga a sí mesmo que a beleza da vida é ser feliz com o que mora dentro de você! As cores são belas quando temos amor. Os cantos são belos quando sabemos diferir a letra e a música tocada. Os pássaros são sempre os mesmos, cantam quando vemos a beleza que eles têm. Uma arte para poucos.

                     – Ao se despedir me disse: – Posso lhe dar outro abraço? E foi então que quase chorando vi novamente papai a me abraçar. Saiu calmamente pela rua, escorando na sua linda forquilha cravejada de brilhantes e na esquina me deu seu último adeus. Elevado ao céu por uma novem sumiu no azul do espaço sideral.

                     Na varanda emocionado vi quando a Célia chegou. Olhou para mim: – O que foi? Porque esta sorrindo assim? Sabe mulher, acho que nunca vi o que deveria ver e agora procuro ver as coisas como devem ser vista. Nunca tinha observado como você é bela, a mais linda mulher que conheci! Fiquei em pé me aproximei e disse – Posso lhe dar um abraço?

Nota – A verdadeira beleza das coisas e das pessoas esta nos olhos de quem vê. Você pode não encontrar, mas ela existe. Olhe devagar, com calma, respire fundo, suspire deixe seu pensamento vagar por um jardim florido que só você conhece. Procure dentro de si, mais precisamente dentro de seu coração. Quando encontrar, tudo no mundo ficará muito mais belo e atraente do que você já viu!

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Era uma vez... Em uma montanha bem perto do céu...

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