sábado, 17 de março de 2018

Contos em volta da fogueira. Lágrimas de sangue na Mata do Tenente.



Contos em volta da fogueira.
Lágrimas de sangue na Mata do Tenente.

                    Não deu para ignorar. Todos na cidade ficaram sabendo. Afinal era o Exercito Brasileiro o sonho de todo jovem na cidade quando tivesse dezoito anos. – Monsanto era um incrédulo – Vinte soldados se perderam na Mata do Tenente. Até o Sargento Colosso? Ele não dizia que a Mata não tinha segredos? – Monsanto preferia acreditar que algum aconteceu. Quantas vezes acampou lá? Quantas trilhas fez para chegar a Cachoeira do Sonho?

                    Comentou com Abelardo e ele deu risadas. Monsanto não sorriu. Ele admirava o Sargento Colosso e sabia que muitos dos recrutas eram do Grupo Escoteiro, pioneiros aventureiros que não poderiam nunca se perder. Que de lá na Mata do Tenente. Procurou Betinho um recruta em sua casa a noite para saber o que aconteceu. Ele fora lobinho, escoteiro e sênior. Betinho se calou. Não disse nada. – Porque Betinho esse segredo?

                    Dizem que soldados sabem manter segredo. Monsanto acreditou que fizeram um pacto de silêncio. Ele teria de descobrir. Se ninguém contava onde ele encontraria a resposta? Convidou Abelardo que desculpou. – Meu amigo, sábado vou ajudar meu pai com suas obrigações. Tentou Malvino e ele já tinha compromisso. Lineu nem pensar trabalhava na Farmácia Aurora. Sobrou Luquinha. Ele sorriu. – Eu e você sozinho na Mata do Tenente? Não vai dar Monsanto.

                     Monsanto sabia que seus amigos de Patrulha trabalhavam inclusive aos sábados. Não desistiu. Não contou nada a sua mãe e na Sexta à noite de mochila nos costados um farnel no bornal partiu. Pretendia dormir as margens do Rio Pomba. No sábado chegaria até a Cachoeira dos Sonhos. - A trilha do Sabiá ainda deve existir. E se não existe mais?  A Mata do Tenente já era perigosa e a noite então? Sua bicicleta corria na Estrada dos Pombais margeando a estrada de ferro. Um enorme comboio de cento e tantos vagões carregado de minério de ferro passou por ele gemendo e barulhando no seu caminho para o porto de Vitória.

                   Três horas pedalando e chegou ao entroncamento da estrada e da trilha do Sabiá. Noite escura quase não via alguns metros à frente. Escondeu a bicicleta numa moita de Capim Colonião. Olhou no relógio. Meia noite e meia! Entrou na trilha com um facão para eventualidades. A trilha estava nos contento. Monsanto não tinha medo. Nunca teve. Escoteiro sabia a hora de enfrentar.  Por hora e meia seguiu a trilha. Sabia que logo iria avistar o Rio Pomba. Monsanto parou. Estava paralisado de medo. Na sua frente brotava um facho de luz branca que o cegava.

                   Fechou os olhos que ardia. Pelas Barbas do Profeta! O que seria? Nunca viu nada parecido, nem na mata do Quati e na Floresta Taquaral. Monsanto abriu os olhos e não viu mais nada. Suas lágrimas pareciam ser de sangue. Roçou as costas da mão e o negrume da noite continuava. Nem um palmo a frente enxergava. Danação! Porque esqueci a lanterna? Lembrou-se da caixa de fósforos. Ascendeu um dois três palitos e não viu nada. Estava cego?

                  Monsanto queria chorar. Seus olhos ardiam demais. Logo ele, um valente lobo, um valente escoteiro e Monitor das Aguas Cristalinas uma Patrulha Sênior respeitada por todos pelas suas grandes aventuras e excursões. Sentou-se na trilha. Amarrou seu lenço nos olhos bem apertados. Rezou. Seria esse o castigo por ser tão crédulo de uma história que ninguém queria contar? Sentiu saudades do seu bastão. Nos seniores eles foram abolidos.

                  Monsanto se encolheu no mato espesso e dormiu. Não teve sonhos. Acordou com faísca dos raios de sol penetrando pelas árvores. Sorriu.  – Obrigado Deus! Estava enxergando novamente. Procurou pelos arredores se descobria o que tinha provocado sua cegueira. Nada. Viu próximo da trilha um circulo onde tudo ardia como se tivessem pegado fogo. Foi até lá e viu que não oferecia perigo para a Mata. Andou mais dois quilômetros e avistou o Rio Pomba. Sorriu. Tirou a roupa e deu um mergulho nas águas frescas e gostosas do rio.

                  Um barulho enorme se fez ouvir na mata. Monsanto assustado olhou para o céu e viu uma nave redonda como um charuto partindo rumo ao firmamento. Dia ainda deu para ver a fumaça que ela deixava para trás. Monsanto não sabia o que era. Ele ainda não sabia nada de naves espaciais. Nunca ouviu falar. Dentro do rio tremia. Saiu rápido dali. Vestiu a roupa e voltou correndo na Trilha do Sabiá. Na sua bicicleta partiu célere para sua cidade.

                   Em casa não falou nada. Aos amigos escoteiros que perguntaram ele se calou. Contar o que? Iriam me chamar de mentiroso. Seria motivo de riso e chacota. O melhor era calar. Será que algum dia o Sargento Colosso iria contar que um objeto não identificado cegou a ele e todos seus soldados? O Que diria o Capitão Nonato? Se foi um pacto de silêncio Monsanto aderiu. Nunca contou nada a ninguém...

Nota – A Mata do Tenente existiu. Próxima à cidade de Governador Valadares. A estrada dos Pombais e a Trilha do Sabiá foram nomes dados pelos escoteiros. O Rio Pomba próximo à cachoeira dos sonhos também é real. Hoje quem sabe tudo acabou. Quando saí de lá já havia um novo aeroporto na mata. Agora deve ter virado um bairro enorme. Quanto à história dizem que os valorosos soldados do Exército (Tiro de Guerra) se perderam e foi real. A história de Monsanto não sei. Acredite se quiser!

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Era uma vez... Em uma montanha bem perto do céu...

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