domingo, 25 de fevereiro de 2018

Histórias de fogo de conselho. Um Monitor chamado Poncharelo.



Histórias de fogo de conselho.
Um Monitor chamado Poncharelo.

                   As águas do Lago da Prata nesta noite tinham uma visão diferente. Lua cheia, resplandecente, refletida criava um colorido especial. Não foi a primeira vez. Quantas? Muitas. Era nestes acampamentos que eu e os monitores tínhamos o momento só nosso. – Damásio com uma vareta arrumava as achas que ainda não haviam queimado. Uma fogueira tem seu momento de glória. Quando é acesa e quando as chamas se espalham iluminando o rosto dos presentes. Se no céu as estrelas insistiam em brilhar, as águas do Lago da Prata defendiam seu esplendor.

                   Venâncio não estava presente. Pediu para dormir mais cedo. Trabalhou demais na construção da Ponte do Sítio do Zé do Monte. Cansado eu esperava a hora de recolher. Enquanto os monitores estivessem ali em volta do fogo eu estaria com eles. Lamonte olhava a fogueira parecendo hipnotizado. Poncharelo com seus olhos húmidos olhou para mim. Estavam vermelhos. Parecia que iria chorar. Quase não sorria isto era fato, mas chorar não. – Posso ajudar? Perguntei. – Com os lábios fingiu sorrir. Não disse nada. Também nada disse. Se precisasse me diria.  

                  Venâncio me olhou e disse que ia dormir. Ficamos eu Lamonte e Poncharelo. – Chefe! Preciso de ajuda! – Olhei para Poncharelo. – Ele chorando me disse que não aguentava mais... – Fiquei calado. Esperava que ele dissesse o motivo. – Meu pai Chefe! Recebemos a carta! – Carta? Que carta Monitor? – Do exército. Entregaram com uma medalha dizendo que ele foi um Herói! – Lembrei que seu pai era Sargento do Exercito e foi para a Itália lutar na guerra. Sentei perto dele. Coloquei a mão em seu ombro. – O que posso fazer Poncharelo?

                  Ele entrou no ano anterior. Sua mãe me apresentou. – Quem sabe aqui poderá esquecer... Não me disse mais nada. Poncharelo não sorria. Era diferente dos demais. – Chefe, eu nunca contei. Meu pai é meu herói. Brincava, acampava e fizemos pescarias que nunca vou esquecer. Sargento da 1ª Brigada foi um dos primeiros a partir. Ele escrevia sempre Chefe, Mamãe lia suas cartas, baixinho devagar... “Eu voltarei em breve” ele dizia. Que está guerra está prestes a acabar!

                   Pensei no que estávamos passando. Todos nos assustamos quando o Brasil entrou na guerra mais sangrenta da historia. O Governo Brasileiro mesmo sabendo da falta de estrutura do Exército, com equipamentos ultrapassados, treinamento deficiente e roupas inadequadas para os 20º Graus negativos do inverno Europeu enviou um contingente para a guerra. Seu pai Júlio Miranda foi um dos primeiros. Era mais um dos vinte e cinco mil pracinhas brasileiros a enfrentar as forças nazistas sem nenhum preparo, mas com coragem suficiente para lutar.

                   Olhei de novo para Poncharelo. O que eu podia dizer para ajudar? Ele continuou: - Eu e mamãe choramos muito quando ele partiu. Sabe Chefe, ele partiu em uma noite estranha, cuja lembrança nunca mais me sai. Chamou-me e disse – Filho, seu pai vai lutar lá na Alemanha. Vou me cuidar. Ainda vamos fazer grandes coisas, eu e você. Eu voltarei. Ele nunca nos esqueceu. - Nos primeiros meses ele escrevia sempre. Mamãe, minha querida mamãe lia suas cartas, olhando para mim. Ela sorria e me dizia: - Seu pai logo vai voltar. A guerra está prestes a acabar.

                  - Passou um ano e ele não voltou. No natal escrevi para Papai Noel uma carta. Uma carta simples, só pedia ao meu bom amigo que trouxesse de volta o meu papai que foi lutar na guerra. Nem resposta. No ano seguinte escrevi de novo. – Papai Noel, meu santo e bom paizinho, eu tenho meu coração como uma brasa, nesta hora triste em rezar ao Senhor eu venho. Papai Noel, se todos têm o seu papai em sua casa, só eu Papai Noel é que não tenho?       

                 - Os meses foram passando. Mamãe só vivia pelos cantos chorando. As cartas não vieram mais. O silêncio era completo. Lembro-me que um dia mamãe passou a se vestir de preto e nunca mais sorriu para ninguém. E para piorar tudo Chefe semana passada bateram em nossa porta e dois oficiais do Exército Brasileiro entregaram a minha mãe uma medalha. Disseram a ela que ele tinha sido um herói! Mamãe, mamãe, eu não quero um herói, eu quero meu papai! Ela calada, taciturna não chorou mais. Seu rosto lindo que nunca esqueci agora parecia uma mascara de cera.

                 - Seu mundo Chefe desmoronou e me levou também. Entrei para os escoteiros pensando que poderia esquecer, mas o que serve a medalha de herói Chefe? Se os tais heróis não voltam para casa, será que vale a pena ser herói? Sem palavras. Eu chorava com ele naquele fogo que aos poucos se apagava. Lamonte chorou também. A brisa vinha de leve a nos dar um pouco de calma, de frescor. As pequenas fagulhas ainda existiam naquela fogueira que eram agora somente cinzas. Havia ainda algumas fagulhas que se arriscavam ainda a subir aos céus. Lânguidas e serenas para logo serem levadas com o vento.

                 - Eu não era Papai Noel. Não sabia fazer milagres. Não podia trazer seu pai de volta. Abracei com força Poncharelo. Lamonte foi dormir. Eu e ele ficamos em volta do fogo até o amanhecer.  Naquele dia vi como era difícil ser um Chefe escoteiro. Não houve palavras que eu pudesse dizer. Não houve maneira de explicar. Tudo que disse foi: - Poncharelo, só Deus sabe o porquê!

Nota: Esta história fictícia se passa em 1945 em uma pequena cidade do interior, quando o Brasil entrou na guerra contra a Alemanha. A história é baseada no poema de Orlando Cavalcante: - “Oração de natal de um órfão de guerra”. Espero que gostem.

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

Crônicas escoteiras. A lua de Mel do Chefe Rosinha.



Crônicas escoteiras.
A lua de Mel do Chefe Rosinha.

                 Tem Chefe que a gente não esquece. Não esquece mesmo. Chefe Rosinha era o maior cara de pau que conheci. Sabia conquistar, seu sorriso encantador um animador de fogo sem igual. Vi uma Pioneiría dele e fiquei embasbacado. Uma ponte pênsil de um tronco só e manuseada por quem ia atravessar o riacho. As guias e as escoteiras quando ele piscava para uma faltava só um sopro para ela desmanchar. Mas gente, era chegar ao fim da reunião todos indo para casa ele encostava em um Chefe, ou um sênior e dizia: Chefe Nonato, tem dez paus para me emprestar? – Nonato coitado era um amor de Chefe e não sabia dizer não.

               Quando o Chefe Rosinha ia saindo Chefe Nonato gaguejando como se estivesse pedindo desculpas disse: - E os mais de duzentos que você me deve Chefe Rosinha? – Com aquela cara de “besta” que Deus lhe deu ele sorria e dizia: – Você sabe, meu casamento é em novembro faltam três meses. Como lhe pagar com as despesas que tenho? Mas juro pelo defunto do Baden-Powell que vou lhe pagar! Ele devia a cidade inteira. Pegava mal para o Grupo Escoteiro. Donato o Chefe do Grupo resolveu fazer um Conselho de Chefes para discutir o assunto. Ninguém concordou em mandar o Chefe Rosinha embora.

                Chefe Rosinha conheceu Anita na parada de Sete de Setembro. Paixão a primeira vista. Estudante desfilava na fanfarra do Colégio Aparecida. Linda de uniforme branco da escola e ele sabia usar sua farda, tava bonito como ele só. Apaixonaram-se. Anita era como ele, nunca gastava sem necessidade. Cada tostão guardava. Mordia a língua para não comprar supérfluos. Todos benzeram o casal unha e carne e iam se dar muito bem. Um dia um chefe novato chegou para ele e disse: - Chefe Rosinha! O senhor poderia me emprestar quarenta reais? Pagarei na próxima reunião! – Ele sério respondeu – Prá que quarenta? Trinta é muito, vinte não! Penso em lhe dar dez, mas acho que cinco é o suficiente. Tome aqui um real e na semana não se esqueça de me pagar!

                     Anita e Chefe Rosinha se casaram em uma quinta. Dia de desconto na igreja e no civil. Fez de tudo para ser presenteado pelo tabelião Zenóbio e o Padre Rubinho. Desculpe Chefe, eu te conheço bem. Ou paga ou não casa. Rosinha ficou fulo, chamou Turquinho um sênior filho do Seu Zenóbio e pediu a ele que tomasse duzentos reais emprestado do Seu pai. Ele não deveria contar para quem era. No dia do casório no civil Chefe Rosinha depois de tudo assinado bateu no ombro do seu Zenóbio – Obrigado amigo pelo empréstimo dos duzentos que o Turquinho me emprestou. Ele sabe que nunca vou pagar e o Senhor sabe que nunca vai receber!

                    O grupo ofereceu os comes e bebes. Não é que o casal saiu mais cedo da festa? Levaram uma bolsa cheia de guloseimas que os Escoteiros compraram para os convidados! Disseram-me que o pródigo é arrogante e o avaro é mesquinho. É preferível a mesquinhez a arrogância. Seria verdade? Uma semana depois de casados, morando de graça num cubículo no fundo do quintal souberam do acampamento. Conseguiram folga e insistiram com o Chefe Nonato para eles participarem. Sereia na fazenda do Inácio Sapoti. Quando o ônibus chegou à fazenda os dois saltaram e procuraram o Inácio – Seu Inácio! Disse Chefe Rosinha, eu e a Anita casamos na semana passada e não seria de bom alvitre ficar lá no acampamento dos Escoteiros.

           Inácio os convidou para ficar em sua fazenda. Comida farta, um quarto enorme só prá eles, e toda a manhã frutas frescas. Lua de mel encantada! Voltaram sorrindo no final do acampamento. Inácio caiu na besteira em convida-los a voltar e claro eles voltaram nas ferias. Vinte dias comendo e dormindo de graça! Em um Conselho de Chefes Chefe Rosinha pediu a palavra – Sabem meus amigos, a Anita quer ajudar os lobinhos. Professora não tem como fazer o uniforme. Quem sabe vocês se cotizam dar um uniforme de presente de casamento para ela? Ninguém disse nada. O Chefe Roberto sorriu azedo. Eita cara pão duro!

         Não sei como o Grupo aguentou o Chefe Rosinha por tanto tempo. Nunca pagou ninguém. Fez seis cursos todos pagos pelo grupo. No sábado à noite terminada a reunião, foram para uma choupada. Chefe Rosinha e Anita cara de pau foi atrás. Contou piadas, riu a beça e até cantou musicas escoteiras. No final Bruno Cara Feia foi escolhido para recolher a parte de cada um. Novato não sabia como era o Chefe Rosinha. Quando foi cobrar ele disse – Olhe Bruno, pareço egoísta, mas esqueci da carteira. Voce paga e semana que vem eu lhe pago. E começou a rir. Chefe Bruno não gostou. Foi preciso da intervenção dos demais para não saírem no tapa.

         Chefe Rosinha saiu do grupo. Todos só foram saber o que aconteceu muitos meses depois. O danado ganhou um milhão e meio na Loto fácil. Sumiu de um dia para o outro. Sabia que iriam morar na frente de sua casa para receberem o que ele devia. Mais da metade da cidade. Dizem que ele foi morar em São Francisco do Sul. Até hoje o Grupo e a meninada sentem falta dele. Afinal era um boa praça, um pandego e claro um tremendo de um pão duro. Um dia apareceu na TV, levado pelo delegado por não pagar dividas. O pior é que estava de uniforme Escoteiro. Pode?

Nota – Dizem que não existem chefes escoteiros pão duro. Será? Bem a lenda diz que ele gasta do próprio bolso, paga as despesas dos seus escoteiros, costuma comprar uniforme para o mais humilde e leva lanche para todo mundo nas excursões. Lenda? Bem conheço muitos que fazem assim, mas não tem aquele pão duro? Quem sabe você pode comentar se conhece algum. Abraços fraternos.


Lendas da Jângal. O livro da selva (Caçadas de Kaa)


Lendas da Jângal.
O livro da selva (Caçadas de Kaa)

- Próximo às colinas de Seeonee, onde vivia o Povo Livre dos lobos liderado por Akelá, existia uma cidade abandonada e em ruínas conhecida como as Tocas Frias. Era lá que viviam os Bandar-log, o povo macaco. Os Bandar-log eram muito bagunceiros, não faziam nada de útil, falavam sempre sobre coisas que não sabiam e deixavam tudo por terminar. Por isso invejavam os lobos que sabiam se organizar, tinham um líder e discutiam os assuntos importantes para a Alcateia escutando uns aos outros.

- Baloo sempre dizia para os lobinhos não se misturarem com os macacos, pois nada de bom aprenderiam em sua companhia. Mowgly pensava que era um exagero de Baloo, pois os macacos eram engraçados e não poderiam ser tão maus. Então sem que ele soubesse, foi brincar com os Bandar-log e aprendeu alguns dos seus maus costumes, como jogar lixo sobre os animais para irritá-los. Mas a amizade dos macacos era interesseira e eles tinham plano de sequestrar Mowgly para que ele lhes ensinasse a trançar cipós e a construir abrigos contra a chuva.

- Um dia, Mowgly estava dormindo sobre um galho de árvore, quando vários macacos lançaram-se sobre ele. - Por que estão me levando? - protestou Mowgly assustado, enquanto era atirado a toda velocidade de uma árvore para outra. - Vamos levá-lo ao nosso esconderijo e de lá você não vai sair mais. Foi nesse momento que Mowgly viu Chill e, falando como os abutres, disse-lhe: “Somos do mesmo sangue, você e eu!” e pediu-lhe que contasse para Baloo e Bagheera o que estava acontecendo.

- Lá do alto, entre a densa mata, Chill avistou os amigos de Mowgly, desceu rapidamente e disse:- Saudações! Trago uma mensagem do filhote de homem.
- Então fale, pois deve ser importante, respondeu Baloo preocupado.
- Mowgly foi raptado pelos macacos do povo sem lei e levado para as Tocas Frias. Vão socorrê-lo imediatamente, pois nunca se sabe o que os macacos planejam. Os pelos das costas de Bagheera se eriçaram diante da notícia, e um calafrio percorreu o enorme corpo de Baloo. Mas como eles iriam conseguir fazer isso sozinhos?

- Vamos chamar Kaa, disse Baloo, ela será de grande ajuda, pois os macacos temem as serpentes porque elas podem chegar ao ponto mais alto das árvores e os hipnotizam com o olhar deixando-os paralisados e os comem. Bagheera e Baloo encontraram Kaa, que se preparava para caçar, pois estava faminta e acabara de trocar sua pele como fazem as serpentes. Boa caçada, Kaa! - saudou Baloo - Viemos pedir sua ajuda para resgatar Mowgly; ele foi levado pelos Bandar-log e tememos por sua vida: - É claro que vou ajudar, mas vamos planejar muito bem o que vamos fazer, pois somos apenas três contra centenas de macacos.

- Depois começaram a longa corrida até as Tocas Frias. Bagheera ia à frente, graças a seu excelente preparo físico, Kaa a seguia de perto, mas Baloo, enorme e pesado, se cansava e precisava parar para respirar.

- Depressa, velho Baloo - resmungou Bagheera, se formos devagar pode ser que cheguemos tarde demais. - Vão à frente vocês, eu vou o mais rápido que conseguir. Quando Bagheera e Kaa chegaram, perceberam que os tolos macacos tinham feito Mowgly prisioneiro em um terraço. Bagheera seguiu por cima do velho palácio e lançou-se furiosamente contra os macacos, iniciando a primeira parte do resgate.

- Quando os macacos perceberam que estavam sendo atacados, jogaram Mowgly pelo teto, para dentro de uma sala sem portas que estava cheia de serpentes venenosas. As serpentes não lhe fizeram nenhum mal porque Mowgly rapidamente lhes disse as Palavras Mestras que aprendera com Baloo e que servem para pedir proteção: “Somos do mesmo sangue, você e eu”. Lá fora, a batalha era feroz e, quando Bagheera já estava a ponto de se render, asfixiada debaixo de uma nuvem de macacos que se lançara sobre ela mordendo-a e lhe dando pontapés, surgiu Baloo para ajudá-la em sua luta.

- O mais incrível foi quando Kaa apareceu pelo muro dançando sobre a terra e hipnotizando os macacos com seus movimentos. Os macacos ficaram em absoluto silêncio, tremendo de medo, só se movendo o suficiente para abrir passagem para a serpente. Mowgly começou a gritar para que o tirassem de onde estava e Kaa derrubou as paredes da sala com fortes cabeçadas.

- Finalmente resgatado, Mowgly disse a seus amigos: - Estou muito agradecido. Peço perdão por ter envolvido vocês numa aventura tão perigosa e prometo que nunca mais vou ignorar um conselho dado por aqueles que me amam e se preocupam comigo. Os amigos de Mowgly aceitaram os agradecimentos e as desculpas, mas deram-lhe um castigo para que ele pagasse a sua dívida. Mowgly então montou nas costas de Bagheera e acabou dormindo enquanto ela o levava de volta para a gruta dos lobos, onde sua família o esperava.

Nota - Mantenha a paz dentre os senhores da selva, o tigre, a pantera, o urso; E não perturbe Hathi, o Silencioso, e não perturbe o javali em seu ninho. - Quando alcateia encontra alcateia na selva, nenhum dos bandos saí do caminho, Melhor Possível e boa caça!

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

Em volta da fogueira. O valor de um sorriso.



Em volta da fogueira.
O valor de um sorriso.

                  Deixei o conto de lado. Pensei em escrever sobre um tema que nós chefes estamos precisando. Ele não custa nada e rende muito. Enriquece quem o recebe, sem empobrecer quem o dá. Dura somente um instante, mas seus efeitos perduram para sempre. Ninguém é tão rico que dele não precise. Ninguém é tão pobre que não o possa dar a todos. Leva a felicidade a todos e a toda parte. É o símbolo da amizade, da boa vontade. É alento para os desanimados, repouso para os cansados, raio de sol para os tristes, consolo para os desesperados. Não se compra nem se empresta. Nenhuma moeda do mundo pode pagar seu valor. Você já sabe do que se trata?

- Trata-se de um sorriso. E não há ninguém que precise tanto de um sorriso como aqueles que não sabem mais sorrir. Aqueles que perderam a esperança. Os que vagueiam sem rumo. Os que não acreditam mais que a felicidade é algo possível. É tão fácil sorrir! Tudo fica mais agradável se em nossos lábios há um sorriso. Tudo fica mais fácil se houver nos lábios dos que convivem conosco um sorriso sincero. Alguns de nós pensamos que só devemos sorrir para as pessoas com as quais simpatizamos.

- São tantas as que cruzam nosso caminho diariamente. Algumas com o cenho carregado por levar no íntimo as amarguras da caminhada áspera. Poderemos colaborar com um sorriso aberto, no mínimo para que essa pessoa se detenha e perceba que alguém lhe sorri, já que o sorriso é um alento. Sorrir ao atender os pequeninos lobos ou escoteiros ou aquele pobre que nos procuram nos semáforos à procura de moedas. É tão triste ter que mendigar e mais triste ainda é receber palavras e gestos agressivos como resposta.

- Se for verdade que essa situação nos incomoda, não é menos verdade que não gostaríamos de estar no lugar deles. Eles são tão pequeninos!

- Se tiverem a malícia dos adultos é porque os adultos os induzem a isso. Mas no íntimo são inocentes treinados para parecer espertos, em meio às situações mais adversas. O sorriso é uma arma poderosa, da qual nos podemos servir em todas as situações. Se, ao levantarmos pela manhã, cumprimentarmos os familiares com um largo sorriso, nosso dia certamente será melhor, mais alegre.

- Se, quando chegamos ao Grupo Escoteiro, saudarmos com um sorriso os que seguem conosco, ao invés de fecharmos o rosto e olharmos para cima ou para baixo, na tentativa de desviar os olhares, com certeza o nosso dia será mais feliz. Porque todos nos verão com simpatia e nos endereçarão energias salutares. O sorriso é sempre bom para quem sorri e melhor ainda para quem o recebe. O sorriso tem o poder de fazer mais amena a nossa caminhada. Dessa forma, se não temos o hábito de levar a vida sorrindo, comecemos a cultivá-lo, e veremos que sem que mude a situação à nossa volta, nós, intimamente, nos sentiremos mais felizes.

- O cenho carregado, ou seja, a cara amarrada, como se costuma dizer, traz ao corpo um desgaste maior que o promovido pelo sorriso. Isto quer dizer que, quando sorrimos, utilizamos menos músculos e fazemos menos esforços. Assim sendo, até por uma questão de economia, é mais vantajoso sorrir. “Comece fazendo o que é necessário, depois o que é possível, e de repente você estará fazendo o impossível”. São Francisco de Assis.

Nota – ''Há momentos que apenas um sorriso é melhor do que um amontoado de palavras insignificantes. Sorria sempre. “Seus lábios não precisam traduzir o que acontece no seu coração”. Afinal o escoteiro é alegre e sorri nas dificuldades!  

terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

Thiago. O último nascer do sol.



Thiago.
O último nascer do sol.

                    Perdi um sol e ganhei experiência. O que vale mais dormir ou ver um sol despontando na invernada, o cantar da passarada, será mais uma maravilha da natureza? Tempos... Muitos. – Meu Chefe sorrindo me disse: Thiago Escoteiro, na virada desta noite, quando chegar à madrugada vai haver o mais lindo amanhecer com um nascer de sol para nunca mais esquecer. Olhei para ele de banda.  Sabia do meu ofício em fazer sacrifício para ver um sol e uma lua brilhando no firmamento, onde se pode pegar no pensamento.

                    Tinha de tomar posição, fazer arrumação, mochila agua no cantil e partir sem mais pensar. Meu Chefe sabia que eu amava a natureza, amava o sol a lua, o anoitecer e o amanhecer. Amava a passarada e a floresta quando começava a chover. Sei que o nascimento do sol é um dos espetáculos mais fabulosos da terra. É magnifico a aurora se abrindo em todo seu esplendor de cores, para dar a luz a um novo dia que vai surgir. Corri feito o vento a cata de companheiro, um bom escoteiro para me fazer companhia. Todos compromissados. Era eu sozinho e mais ninguém.

                    Montei no meu cavalo de aço quando a meia noite se foi. Parti feito um condenado ao pico difícil de ser alcançado. Enquanto pedalava nas campinas, sabia que logo ia chegar às colinas. Pensando na minha viagem me lembrei de um poema que li e não escrevi. – “Quem quiser plantar saudade, trate de escaldar a semente. Plante no solo bem duro, onde o sol seja mais quente. Pois se plantar no molhado, ela cresce e mata a gente”!

                  No fundo do bornal tinha biscoito, doce de paçoca e um belo pedaço de bolo. Me deu vontade de comer... Agora não. Precisava de chegar. No pé da montanha escondi meu cavalo de aço e parti. Três horas de escalada, e eis que suando as bicas, resfolegando demais procurei o ar da montanha, eu chegava no lugar. Sentei admirando a paisagem, linda demais com as estrelas, uma lua enluarada, e sozinho com meu Deus, fiquei aguardando o alvorecer.

                Encostado num troco fofo, com sono e meio balofo, tentei nem cochilar. Meu Chefe afirmou que só daqui a dez anos, poderei de novo ver este sol nascer. É lindo a madrugada, ventinhos gelados ao sul, orvalho intempestivo, brisa gostosa a soprar. Meia dúzia de vagalumes piscavam mostrando ser donos do lugar. Fiquei de pé num estalo, o sono me veio a badalo. Eu não podia dormir. Me lembrei de um provérbio árabe que dizia: - A hora mais escura do dia vem antes do sol nascer!

                Não teve jeito, duas da matina três quatro e dormi. No chão acabrunhado, acordei sobressaltado, minha mochila ao meu lado, e vi que o sol me queimava, me acordando reclamando: - Pô Escoteiro, tu perdeu. Uma oportunidade perdida, pois não vou nascer mais para você. O meu espetáculo se foi. Volte daqui a dez anos escoteiro, desta vez o espetáculo foi só meu!

Nota – Quando fizer algo e ninguém perceber não fique triste. O sol quando nasce faz o maior espetáculo do mundo e nem todos estão acordados para poder ver! Apenas um conto, sem muita pretensão de ser o melhor!



sábado, 17 de fevereiro de 2018

Em volta da fogueira. Na trilha do tempo.



Em volta da fogueira.
Na trilha do tempo.

                    Era um velho amigo que ficou perdido no tempo. Nem sei por que nos cumprimentamos tão efusivamente. Foi um reencontro despretensioso uma rápida conversa menos convencional. – Olá Chefe! – Como vai? - O olhei de soslaio. Eu me lembrava de tudo que fez e das mágoas que deixou. Pensando bem são cicatrizes benignas feitas por pessoas que, usufruindo de uma fraternidade deixaram uma intersecção de uma história que seria melhor apagar.

                   Ele apertou minha mão. - Ainda com ressentimentos? Disse. – Olhei para ele e permaneci calado. – Um pedido de desculpas, um abraço e uma lágrima poderiam ser considerados como um retorno para um perdão? – Chefe desde aquele dia vou sobrevivendo a cada dia, com tombos e tropeços em meio à ventania que me aconteceu. Tento vencer os desafios, mas a dor é maior que aceitar o que fiz e me manter de pé a cada folha que caiu...

                   Não disse nada só o abracei. Choramos juntos as desventuras de um desentendimento que nem deveria ter existido. – Chefe eu não conheço todas as flores, mas vou colher uma por uma e mandar ao senhor todas que eu puder. – É o tempo cura cicatrizes. A velha amizade sincera voltou. O espaço e o tempo estão interligados. Não podemos olhar para o espaço à frente sem olhar para trás no tempo...

                  Eu sabia que não adiantaria falar sobre o ontem, porque então eu era uma pessoa diferente do que sou hoje. Lamentar uma dor passada, no presente, é criar outra dor e sofrer novamente. O abraço fez do tempo um pedaço de bem querer. Lentos os dias que se acumulam. Como vão longe os tempos de outrora... Agora bons amigos que sabiam que a saudade voltou em belos momentos cheio de felicidade! Apenas o perdão redime, e as mágoas ficam perdidas no tempo!

Nota - “Essa lembrança que nos vem às vezes... folha súbita que tomba abrindo na memória a flor silenciosa de mil e uma pétalas concêntricas... Essa lembrança... Mas de onde? de quem? Essa lembrança talvez nem seja nossa, mas de alguém que, pensando em nós, só possa mandar um eco do seu pensamento nessa mensagem pelos céus perdida... Ai! Tão perdida que nem se possa saber mais de quem!” (Mario Quintana).

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

Camélia.



Camélia.

                   Olhei para ela e não acreditei no que via. Era ela disto tinha certeza. Mas estava tão diferente, mais velha, magra com manchas no rosto e seu sorriso de tanta magia nem era sombras do passado. Pensei em abordá-la, cumprimentá-la e quem sabe abraçá-la para dizer que era eu, seu monitor. Quem sabe dar a ela um sorriso e dizer àquela palavra que ela amava e gostava de dizer: - Oi! Sou eu! Escoteira Camélia das campinas, não me reconheceu?

                   – Ela nem me olhou passou direto com andar vacilante, como se estivesse perdida errante caminhando por uma trilha que nunca passou. Porque isto? Porque o destino desconhece o que pensamos ser? Lembrei-me de um dia que me disse: - Mano Monitor, o que for teu desejo, assim será tua vontade. O que for tua vontade, assim serão meus atos. O que forem teus atos, assim será o teu e o meu destino...

                  Quando ela chegou, na Patrulha não houve festa. Foi recebida com alegria. Nunca tiveram uma menina como patrulheira do Tigre. Lembro-me bem que por causa dela fizeram uma reunião especial. Todos a olhavam e ela sabia ser admirada. Não era pedante nem esnobe. Parecia àquela flor que se colhe no campo e ao chegar ela estava mais bonita. Aprendemos a tirar o chapéu em sua homenagem. Aprendemos a cantar “Amigos para Sempre”.

                  Era fato, ela irradiava no seu interior de maneira inteligente e menos farsesca, pois era como chegar ao fim de uma jornada, beber água da fonte e sentir o frescor de uma tarde, mormente enluarada. Nunca vi sua mãe seu pai e quer saber? Nem sabia onde morava. Torcia para chegar os sábados, para revê-la, ouvir sua voz suas palavras...

                  Enquanto patrulheira do Tigre nenhum de nós atrasava. Havia como se fosse uma disputa ser o primeiro a chegar. Ela com seu sorriso maroto nos acampamentos dizia: - Escoteirada, deixa que eu me sirva, deixe em fazer também. Não sou princesa nem rainha e mesmo sabendo que me querem bem, preciso caminhar para aprender a não cair. Não era um peso morto, mesmo com sua beleza e formosura.

                Ficávamos tristonhos por ver suas mãos macias em bolhas de sangue ao usar o facão e deixar marcas caludas e enormes. E ela? Sorrindo dizia para nós: Marcas de um trabalho honesto. Certa vez disse-me que queria ser Lis de Ouro. Sorriu dizendo que ia conseguir. Destino incerto e não sabido. Eu sabia que da vida mesmo sonhando nem sempre se consegue o que quer. Ela teve tudo que almejou, mas seu Liz de Ouro ficou perdido em um sonho que não se realizou. Pensei que aquela conquista nunca a faria feliz.

                  Um dia não apareceu. Ficamos surpresos porque não dizer perplexos e eu atônito não sabia o que dizer ou fazer. Parecia que a patrulha tinha perdido seu rumo seu caminho, sua trilha e não sabia mais aonde ir ou chegar. Apoite teu barco monitor, se não vai ficar a deriva no mar traiçoeiro... E eu fiquei. Um mês dois três e ela nunca mais voltou. Aos poucos a patrulha foi voltando ao normal. Mesmo assim as lembranças eram doídas demais.

                  Patrulheiros mercantes a zumbir suas barracas nos montes errantes em acampamentos tristes que o cantar, o som de uma viola não existia mais. E eis que cinco anos depois, já Pioneiro, avante Escoteiro de outras eras a vejo sair de um ambulatório perdido em um bairro tristonho e ela passa por mim sem ao menos dizer olá! Quando me dei conta tomei a decisão de abordá-la, ela sumiu nas curvas da Rua dos Perdidos e não há vi nunca mais...

                  Menina escoteira onde escondeste tua formosura e personalidade? Eu quero morar na sua rua, me diga o número de sua morada, pois você deixou saudades... Mudei de rumo e segui o meu destino. Cada um tem o seu. Camélia era agora uma sombra do passado. Fui para casa tentando arrumar as lembranças para que ficassem somente às boas e as ruins deixei guardadas em um canto da mente.

                  São rosas, taças e lábios vermelhos, brinquedos que o tempo estraga... Estudo, meditação Escoteiros... Cinzas que o tempo espalha... Eu aprendi que quando sentir saudades de alguém que já partiu e nunca mais voltará, não devemos nos revoltar. Apenas recordar os bons momentos que ficaram presos no passado e fazer dele uma lembrança gostosa... Apenas para recordar...



Nota - De que são feitos os dias? De pequenos desejos, vagarosas saudades... Silenciosas lembranças... Olha meu amigo, a rosa estremece ao sopro do vento, uma pássaro entoa um hino, uma nuvem paira. Bebe a água da fonte e esquece o vento, ele vai sim ressecar a rosa e depois... E depois levar a nuvem refrescante e o canto do rouxinol... Esquece... Ela nunca mais vai voltar!

Lendas escoteiras. Escafederam com Don Pedrito no cargo de prefeito. Culpa? Os escoteiros!


Lendas escoteiras.
Escafederam com Don Pedrito no cargo de prefeito. Culpa? Os escoteiros!

                  Linguarudo me contou na Barbearia Tapioca. Era lá que se contavam fofocas. – Como foi? Perguntei! – Com uma fileira de dentes cariados, mal tratados ele deu um sorriso mocho. – A culpa foi dele! Queria ser o maioral dizia ser o tal e não deu vez aos escoteiros. Os vereadores puxa-sacos não deram colher de chá. Não deu outra. Cassaram o mandado do Cabrito, isto é de Dom Pedrito.

                   As faladeiras Dona Malvina e Dona Sinhá Marina metiam o pau no prefeito: A besta deve estar cego, manda ele pru caixa prego! Deu 18 votos a favor da cassação, um contra e uma abstenção. Don Pedrito esperneou, traidores! Bico Doce seu advogado reclamou na Corte Suprema e não teve meu pé me dói. Pé no traseiro do prefeito, bem feito por não ajudar a formar o Grupo de escoteiros.

                   Foi no sábado de Aleluia, velhos na praça do arrebol, crianças jogando pelada, outros soltando papagaios, moleques quebrando vidraças e fazendo arruaças. As fofoqueiras davam conta do riscado com as vizinhas do pedaço. Os homens bebiam pinga no Bar do Zebedeu. Alguns vereadores no Paço Municipal de Jaboticabal, cidade pacata, todo mundo sabia da vida de todo mundo, mas nunca houve um roubo, uma morte a não ser por morte morrida e nunca matada.

                 Eis que adentraram na cidade sete escoteiros a toda velocidade nas suas bicicletas embandeiradas. Frearam bonito na Praça Don Cabrito. A meninada largou o que fazia e ficou em volta admirando. Nossa que gente bacana! Chapelões, cinto de couro com fivela de ouro, meias de futebol, calça curta, um lenço vermelho no pescoço preso por um arganel com desenho de ouro. Era bacana demais. Mochilas amarrada no bagajeiro, e no guidom a Bandeira do Brasil.

                    O que era Monitor o mais velho falou: - Aqui é Jaboticabal? A meninada engasgada disse siiiim! Outros escoteiros já chegaram? A meninada engasgada disse nãaao! Tem um campinho para a gente acampar? Ai foi à conta, o campinho era de Don Pedrito e ele não arredou pé. No meu campo não. Se eles quiserem acampar que seja no barreiro ou no meio do inferno! A meninada gritou, chamaram mamãe e papai que vieram correndo depressa demais.

                    - Porque não prefeito, disseram! – Porque não quero aqui quem manda sou eu! Gentil Salgado foi correndo procurar Joaquim Leitão dono da Padaria Chimarrão. Ele tinha um terreno arborizado, uma nascente e tudo gramado. - Acampem a vontade ele disse! Mas não se esqueçam de mim nas próximas eleições! Dito e feito, a escoteirada foi para lá, barracas em pé, fogão no chão, até dona Maria Tereza ficou de pronto chulé, sentindo o cheiro do café!

                    À tardinha uma revoada de escoteiros. Seis patrulhas pedalando, chegando, armando mais barracas no campo do seu Leitão. Todos se abraçavam, uma alegria tremenda, cantando canções ligeiras, e um tal de Rataplã! A fogueira afastou o frio do vento sul que soprava. A meninada em volta. Olhos arregalados! Gente que coisa bonita! Se eles são aventureiros eu também quero ser! À noite fizeram um Tal Fogo de Conselho. Brincaram de Chiquito Pedrosa o contador de histórias e piadas do lugar. Fizeram mil brincadeiras, na fogueira só zoeira.

                Convidaram todo mundo. Mãos entrelaçadas meus amigos, agora vamos cantar. Eita! Bonito demais, até dona Malvina Bisbilhoteira e Dona Sinhá Lavadeira se puseram a chorar.  O Chefe deles, um menino afeiçoado, falou alto para a meninada ouvir. Amanhã é o último dia que ficaremos aqui. Pela manhã estão todos convidados, haverá jogos, canções e treinamento. Quem quiser ser aventureiro amanhã será um Escoteiro! Basta querer participar!

                  Gente foi “inté” bom demais. Mais de duzentos moleques correndo, fazendo patrulhas, brincando de esconde, esconde. O povo de olho arregalado olhava arrepiados aquela alegria sem fim. Era um tal de Lobo, lobo, Leão Touro e Jabuti, um gritava aqui e outro ali. Aprenderam a fazer nó de frade, nó de pescador e nó da calamidade! Meu Deus quantos nós! Outros aprendiam semáforas, Morse, Passo Escoteiro e alguns a mapear estradas e procurando estrelas no céu para se orientar. Brincaram de olho cego, da Ilha do Tesouro, briga de galo e o escambal.

                   Foi Mosquito e Joelho Bichado, dois meninos muito calados que gritaram! Eu quero ser Escoteiro! E agora José? Os meninos escoteiros com seus chapelões mateiros se foram, disseram que um dia iam voltar. Uma comissão foi formada. - Don Pedrito! Vamos os escoteiros organizar! – Nem necas, o prefeito nem se mexe escolha outro nesta eu não me embalo. A meninada na porta da prefeitura chorava. Urra, urra que este prefeito de araque suma de Jaboticabal. Ninguém merece ter defeito, e nesta besta do prefeito aqui eu não voto nunca mais.

                Joaquim Leitão da Padaria prometeu ajudar. – Organizo o grupo, vou ser o Chefe do grupo e votem em mim para prefeito do lugar. Dito e feito, o prefeito se escafedeu. Nem mesmo o Zebedeu que gostava de uma lambança o ajudou na mudança. Joaquim Leitão foi eleito, de uniforme Escoteiro foi empossado prefeito, as patrulhas deram o grito em ovação ao novo Chefe Leitão e que fundou a associação. Linguarudo sorria de leve, olhando meus cabelos cor de neve, dizia: - No dia da inauguração, escoteiros do Brasil chegaram de todo lugar.

                Disseram-me que eram mil outros cinco mil, sei lá para mim não importava, mas a festança foi demais. Depois de todos promessados, uniformizados, um churrasco foi realizado, vinte bois, duzentos cabritos, leitões chegavam de todo lugar. Na fazenda Galinhada os galos jogavam praga, pois ficaram sem nenhuma galinha para namorar. Até Dom Casmurro o Bispo de Montreal, que estava se preparando para ser um cardeal veio à festa prestigiar.

                Eu de matuto não sou bobo, olhei Linguarudo de novo, e pensei: - Logo na hora da sesta esse cara quer me fazer de besta! Ele desconfiado me apontou a Rua Pelanca, e disse sem muita tranca: - Foi dali que eles dominaram o lugar. E não é que logo em seguida, de cada casa de cada ermida, surgiam jovens meninos, de uniforme e calça curta, um caqui e seu meião, um lenço e um chapelão, corriam daqui para ali dizendo: Vamos todos! É hora da reunião!

terça-feira, 13 de fevereiro de 2018

Em volta da fogueira... “Adios” Francisco.



Em volta da fogueira...
“Adios” Francisco.

                      As areias viajam nas asas do vento... Ele via sua vida se acabando na ampulheta do tempo... Seu mundo se esmoronava. Seriam poucos meses ou quem sabe algumas semanas para manter a chama da vida acesa. Doutora Sissi com olhos tristes dizia para ele: Não tem volta Antônio. Tentei tudo, mas o câncer não perdoa. - Doença cruel que o fazia morrer devagar e sofrido. A quimioterapia era um suplicio. Cada sessão pedia a Deus que o levasse. Não estava aguentando mais. Chegou a pensar em tirar a vida antes de Morrer do Diretor Ângelo. Foi apenas um momento de raiva que logo esqueceu.

                   Quarenta anos de escotismo, o último dos fundadores, de lobinho a diretor e ver tudo se acabar por causa de um Diretor hipócrita, que decidiu sem consultar ninguém retomar o terreno da sede escoteira. Lembrou-se da festividade, do prefeito e tantas autoridades na entrega do documento na praça solene e que agora não valia mais. Tudo fora mentira? Não valeu colocar tijolo após tijolo para fazer a construção? Quanto sangue derramado? Quanto suor e lágrima para conseguir um tijolo, uma telha, uma porta e tudo agora perdido?

               E seus direitos? Eram mais de cem crianças e adultos que todos os sábados levavam a bandeira aos céus. Pátria! Não reconheces isto? - O advogado Jamil que nunca foi escoteiro disse que não havia mais o que fazer. Trinta dias Chefe, se não saírem teremos policia e delegados a porta. A lei era clara. Deu sua vida, deu seu amor, viveu ali fazendo tudo pela cidade e agora não havia retribuição. Prefeito, vereadores se curvavam ao novo Diretor Nomeado da FATEC uma entidade governamental. Para onde iriam? Como continuar?

                Todas as tardes ele sentava no banco da estação onde se fez tantas alegrias e felicidade e agora abandonada ele de cabeça baixa chorava. Não pela sua morte próxima, isto não era importante, o importante era aonde todos iriam. Procurava uma solução e não encontrava. Mesmo espiritualista maldizia o Diretor que nunca foi Escoteiro e não queria entender os benefícios de uma educação extraescolar. Prefiro morrer antes... Pensou. Não dá para assistir esta derrocada final. Lucy o abraçou. Chorou com ele as dores da perda e baixinho dizia: - Marido, agora pense em você, pense em se curar.

                      Duas semanas se passaram e ele foi levado ao hospital. Escoteiros e chefes acorreram ao local. Eis que extenuado chega o Presidente. Chefe Paulo sorria: - Graças a Deus! O decreto do Professor foi anulado. Uma petição entregue ao Ministério da Educação que ninguém sabe quem enviou foi aprovada. Agora somos proprietários com escritura lavrada! Uma palma estrondosa ecoou na porta do hospital. Na UTI Francisco agonizante sorria. A luta se encerrava. Valeu enviar aquela petição. Agora poderia morrer em paz!

                     E morreu com um sorriso, com glorias de escoteiro vencedor. Olhou para a terra quando subia para o paraíso. Sabia que deixava saudades, mas ele estava feliz. Jogou um beijo no vento e pediu que o levasse até sua querida Lucy. Foi uma luta incessante, mas sempre soube que nunca esteve só. Além dos irmãos escoteiros da terra ele teve mil anjos ao seu lado o ajudando para a vitória. O céu o recebeu com honras e junto aos novos amigos no espaço ele voltou a sorrir!

Nota – São dezenas ou centenas de causos da perda da sede, de assaltos e cada Grupo Escoteiro que perdeu tudo, perdeu seu lar, sua barraca onde moravam os sonhos de badenianos que amavam sua associação tinha partido. Sabiam que tinham de recomeçar novamente. A vida destes jovens que dependem de um lugar ao sol nem sempre é entendida pelos donos do poder. O que aconselhar? A quem recorrer? Quem sabe o sonho de não desistir, a força de vontade, aos braços fortes, as pisadas firmes de que sabe que tudo tem um recomeço. E todos sabem que vão recomeçar novamente!

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

Em volta da fogueira... Vadico... E uma serenata ao luar.



Em volta da fogueira...
Vadico... E uma serenata ao luar.

                              Enfim de volta ao campo! Saudade danada de dormir sob o luar ou sob um céu estrelado. Quantas vezes fiz isto? Perdi a conta. Era bom demais. Sozinho eu Deus e a natureza em flor. Bom demais ficar quieto, mudo, silencioso, ouvindo a floresta, os bichos, pássaros e afins em todo seu esplendor. Meu bastão explorava a trilha, batendo o mato verde, mas com cuidado para não machucar uma plantinha que fosse desabrochar. Eita mata linda! Copada, verde que te quero verde... O poeta canta em voz doce e suave que tudo na natureza depende da forma como se vê...

                           Linda demais para ser esquecida. Devia ser sempre olhada e amada. Cheguei onde queria chegar. Um pequeno oásis em plena floresta, pássaros cantantes, brisa gostosa, sombras fincadas embaixo das asas de uma árvore adormecida. Parei e cantarolei meus versos de amor. Mostrei meu apreço por um lugar tão lindo e dizer que se morrer ali irei com certeza para o céu! Insigne natureza em flor, que se esgueira longe do asfalto, como és bela, delicada e forte...

                          Arvorei uma lona lonada para as chuvas de verão se elas chegassem. Um galho verde alceado para segurar minha caldeirinha, onde iria surgir o feijão, uma sopinha, ou quem sabe um quentado de peixes do remanso no pequeno riacho que corria para o mar. Águas límpidas cristalinas para matar a sede de um ser vivente Escoteiro que ama acampar em plena natureza. Os sons eram lindos, galhos fazendo toada, passarada procurando seu ninho, onde os filhotinhos brotavam a olhar o Escoteiro passante que resolveu ali acampar.

                         Água fervendo, pó brincando nas asas da fervura, açúcar cande adoçando a cantilena de boas doses de um café puro coado em um coador de pano escolhido como o melhor. Tudo era paz e harmonia. Eu voltava no tempo dos meus sonhos reais de um passado que não quero esquecer. À tarde vai chegando de mansinho, escondendo entre as folhas os raios de sol que se recusavam partir.

                 A noite chegou. Esplêndida na mata fechada. Pouco se via o clarão das estrelas, brilhantes piscantes deixando passar vez ou outra um cometa intrometido, na sua viagem sem destino, mas que alegravam as moçoilas que na terra olhavam para o céu pedindo um amor de um príncipe, que fosse apaixonado, educado, cavalheiro e que desse a ela toda sua paixão. Um pardal procurando seu ninho voou ao meu redor. Picotou à moda do Pica Pau um galho onde ia dormir. Esperava a rainha da noite chegar.

                 A coruja de olhos verdes cedo ou tarde iria grasnar me cumprimentando e sorrindo para mim. Com aqueles olhos grandes, quem sabe esverdeados, na cumeeira de um Jatobá centenário arrepiando seu canto apaixonado. Tão longa a distancia tão longe a saudade e tão bela espera, lá estava ela, a rainha da noite dos meus sonhos de verão. Cantei uma canção para ela, e ela agradeceu com duas balançadas de cabeça aprumada como se fosse sorrir. Onze horas a noite já avançava para a madrugada.

               O foguito pequeno quentito batatas cozidas, bananas na fieira, que mais eu iria querer? Hordas de vagalumes chegavam sem pedir mostrando seu brilho soltavam chispas para mostrar quem manda no lugar. Quanta felicidade! Quantas saudades de tantas noites que acampei. Quantas vezes meu anjo protetor sorria me dizendo que ali era Nosso Lar. Ah! Natureza em flor. Se você não é minha nem eu sou seu, porque brilha tanto no teto do céu?

                       Disseram-me certa vez que vivendo de acordo com as leis da natureza, nunca serei pobre, mas não serei nada se viver pensando nas opiniões alheias, pois elas nunca me faram rico. Fechei os olhos e deixei a brisa da noite me levar... Quantos montes, quantos horizontes viajei com a brisa e a natureza que abrilhantava o lugar?

                       Ah! Quanta felicidade! Bem perto uma sonata de Uirapurus tocava como se fosse uma orquestra de violinos mágicos. A música é celeste, e a natureza divina realça tal beleza que encanta a alma e nos eleva acima do que somos, pois eu sabia que a natureza não faz nada em vão. Dormi sonhando apaixonado esperando o amanhecer. Queria ver o sol brilhante entre as folhas das belas arvores do lugar. Não deu, tudo que eu não queria aconteceu. – Marido! Hora de acordar, o café está pronto e fiz bolo de pastel de queijo. Levantei sorrindo, mas com saudades dos meus sonhos e da minha natureza em flor!

Nota – E a poetiza no alto de sua sabedoria me disse: - Quem me compra um jardim com flores? Borboletas de muitas cores? Beija flor e passarinhos ovos verdes e azuis nos ninhos? E ela mesma respondeu: - Plante seu jardim, decore sua alma, ao invés de esperar que alguém lhe traga flores. Quem sabe um dia parto sem ninguém saber para acampar em meu Edem feito de Jângal, Matas, Florestas lindas e frescas do meu País?

Era uma vez... Em uma montanha bem perto do céu...

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