terça-feira, 30 de janeiro de 2018

Lendas Escoteiras. A árvore da colina.


Lendas Escoteiras.
A árvore da colina.

                - Eu só o vi uma única vez na vida. Na verdade foi um dia especial, não me perguntem por quê. Notei sua figura surgindo na estrada do Alencar, a pé, com um cajado simples, mas com passadas belas sem se mostrar cansado. Ele não me disse quem era e nem eu perguntei. Quando se aproximou de mim senti um brilho em sua figura e inexplicavelmente ele se transformou. Juro que ao longe estava com uma bata branca e ali na minha frente estava esplendidamente uniformizado como escoteiro. Como ele podia fazer aquilo? Era mágico? Foi um truque era perfeito. Não usava o chapéu. Ele com certeza não queria tirar aquela áurea brilhante de sua pose Badeniana. Quem seria? Ele sorria para mim, um sorriso gostoso, dentes alvos olhos negros, cabelos castanhos compridos.

                  Parei ali para descansar um pouco da minha jornada e fazer um café. Precisava. A Árvore da Colina já era minha velha conhecida. Pequena, mas com uma folhagem com uma sombra invejável. Não havia nascente, não havia rios e nem tampouco regatos por perto. Somente a árvore para nos dar o descanso devido. Pensava em chegar ao acampamento da patrulha ao entardecer. Combinei com eles quando terminasse meu trabalho. O destino não era longe. Após a curva do Falcão se avistava a mata pequena, a cascata e o bambuzal. Tirei a mochila, pendurei meu chapéu em um galho e duas achas facilitarem o Tropeiro que iria fazer. Na mochila tinha café e pó. Meu canecão militar serviria para esquentar a água.

                  Levantei quando ele chegou e disse bem vindo! Ele sorria. Não era bonito, mas tinha alguma coisa especial que encantava. Em vez de sapatos usava uma sandália. Calado se assentou a sombra junto ao tronco. Fechou os olhos e parecia rezar. Passei o café e ofereci a ele. Olhou meu cantil, estava cheio pela metade. Passei para suas mãos e ele bebeu devagar, parecia sorver o líquido com carinho de quem tem sede. Tomou o café me olhando nos olhos. Minha caneca de esmalte parecia brilhar em suas mãos. Fechou os olhos e dormiu por alguns minutos. Acordou sorrindo e levantou. Colocou a mão em minha cabeça e disse – “Que a paz esteja convosco”. Partiu sorrindo acenando com a mão. Ao virar na trilha notei que estava com seu cajado e a bata branca.

                   Sozinho na sombra da Árvore da Colina pensei. Quem seria? De onde veio e para onde iria? O sol ia se por na Montanha do Cavalo. Hora de partir. Ainda havia mais duas horas de jornada. Conhecia o caminho. Limpei o fogo, joguei uma pitada de água do meu cantil nas brasas, mochila nas costas e parti. Não olhei para trás. A Árvore da Colina tinha o dom de não deixar ninguém partir. A noite chegou mansa e calma. Meu caminho estranhamente era claro, uma estrela no céu jorrava raios brilhantes na trilha. Nunca tinha visto nada igual. Do alto da Colina avistei a curva do Falcão. Estava perto. Meus pensamentos giravam entre chegar e lembrar-se daquela figura tão simples, com um sorriso inesquecível e com uma áurea brilhante que me encantou para sempre.

                     Nunca soube quem era. Não perguntei. Acho que ele sabia que um dia eu iria lembrar-se dele e saber que ele veio do céu. Porque eu não sei. Eu era apenas um Escoteiro a ir para seu acampamento. Meu café ele tomou sorrindo sinal que não era ruim. Nunca contei esta história para ninguém. Eu sabia que ao partir meu mundo se transformou pra sempre. Sabia que agora a paz morava em mim. A harmonia e o amor reinavam. A paz de um sorriso predominava. Agora eu sabia que naquele dia, naquela Árvore da Colina, Jesus me deixou entrar em seu coração!  

E que a paz esteja sempre convosco!


Nota – Quem era? Nunca soube. Só sei que ele veio do céu. Porque eu não sei. Eu era apenas um Escoteiro a ir para seu acampamento. Meu café ele tomou sorrindo sinal que não era ruim. Nunca contei esta história para ninguém. Quando partiu meu mundo se transformou. Sabia que agora a paz morava em mim. A harmonia e o amor reinavam. A paz de um sorriso predominava. Agora eu sabia que naquele dia, naquela Árvore da Colina, Jesus me deixou entrar em seu coração!   

segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

Lendas Escoteiras. Rudá, o cão sarnento do Vale do Eco.


Lendas Escoteiras.
Rudá, o cão sarnento do Vale do Eco.

                - Hoje não o tenho visto mais. Nem mesmo Uiara que acredito lhe deu os momentos mais belos em sua vida. – Olhei de novo para Montezuma. Não havia como duvidar. Seu porte, seu olhar ainda era de um índio orgulhoso como todos aqueles que nasceram na nação Xavante. Tinha orgulho e mantinha seus hábitos, costumes e tradições. Ficamos calados por instantes. O único som era da cachoeira do macaco, onde sentados observávamos a secura do rio que outrora fora um gigante de águas caudalosas. Ficamos amigos há tempos.

                   Ele me respeitava como Chefe Escoteiro e eu tinha por ele um orgulho em saber que era um autêntico Xavante orgulhoso de sua tribo. – Minutos depois ele me olhou piscou seus olhos negros e disse: - Chefe dos meninos do bem, eu digo e repito se você fala com os animais eles falaram com você e se reconhecerão uns aos outros. Se não falar com eles você não os conhecerá e o que você não conhece você temerá. E terminou dizendo – E aquilo que tememos nós destruímos!

                  - Eu o vi um dia na Beira do Lago Salgado, em uma tarde modorrenta com mais dois chefes escoteiros que me acompanhavam. Não vi Uiara sua companheira. Era um cão feio, sarnento com um dos olhos furados talvez por uma lança ou por um tiro de espingarda. Queria saber sua história, queria saber onde dormia onde morava. Montezuma não se fez de rogado quando o visitei naquele verão cujas chuvas não estavam mais caindo do céu.

                  – Pensei em ver lágrimas em seus olhos, mas um bravo não chora. Prefere a morte a mostrar que um índio possa ser igual as suas mulheres. – Chefe dos Meninos do bem, Rudá era um cão do Pagé Kopenak e não era amigo dele. Nunca o alimentou e quando Uiara apareceu e ele a seguiu Kopenak não se importou. Os viu desaparecendo na curva do Touro das Águas Mornas. Nunca mais voltou...

                     Foi no inverno das cinco luas que ele apareceu. O pelo amarelo cresceu, havia outro porte, outra maneira de andar e olhar. Suas orelhas ficaram pontiagudas e seu rosnado era feroz e assustava. O Pagé Kopenak quando o viu tentou se aproximar. Desistiu, pois viu que os olhos de Rudá agora estavam vermelhos como brasas do sol poente. Uiara de longe só observava. Rudá ficou em pé no centro da taba do Cacique e latiu. Um latido forte que parecia um ganido de um cão raivoso e que assustou toda a tribo.

                    O dia virou noite, não havia estrelas no céu. O ribombar dos trovões pipocavam, mas não havia raios nem chuva. Uiara deitou a sua frente em pose submissa e não latiu. De longe a tribo assustada olhava aquele cão que quando sarnento ninguém deu nada por ele. Agora parecia um animal enorme, mais que uma onça pintada daquelas que só encontramos nas margens do Rio Piquiri longe de Cuiabá bem perto do maior lago do Pantanal Brasileiro.

                    - Chefe dos meninos do bem, ninguém sabia o que dizer ou fazer. Aquele cão sarnento agora tinha o espírito do Deus dos animais, parecia vivo vindo dos altos Solimões onde habitavam os Mavutsinim, o primeiro índio criador dos povos do mundo, da serpente, do fogo e da água. Um clarão fez aparecer junto a Rudá à bela filha de Marangatu, Kerana, como se seu espirito fosse revivo quando morreu nas águas turvas do Rio Corumbá. Ela levantou as mãos e pediu silêncio. A tribo ajoelhou assustada com aquela volta de alguém que já tinha partido para a “Aldeia Divina” e sob as benções do Pagé.

                        Todos tinham visto que seu caminho foi o mesmo de muitos que também se juntaram aos grandes espíritos que hoje moram nos céus.  Kerana de mãos levantadas começou a cantar uma canção que Montezuma conhecia. - Nesta mata distante sob a luz do luar, ouço uma canção linda que não pode parar, pescadores de sonhos são defensores da vida, eles dançam em roda para comemorar. Os pés descalços há muito tempo vivem aqui. São os Índios valentes, Tupi Guarani.

                 - Ela orou ao Deus Anhangá emocionando toda a tribo que chorava copiosamente. - Ó Grande Espírito, cuja voz ouço nos ventos, cujo sopro anima o mundo, ouça-me. Sou pequeno e fraco, preciso de sua força e sabedoria. Permita que eu caminhe na Beleza, e faça que meus olhos contemplem para sempre o vermelho e a púrpura do sol poente. Faça com que minhas mãos respeitem todas as coisas que o Senhor criou. Faça meus ouvidos aguçados para que eu ouça a sua voz. Faça-me sábio para que eu possa entender tudo aquilo que o Senhor ensinou ao seu povo. Permita que eu apreenda os ensinamentos que o Senhor escondeu em cada folha, em cada pedra. Busco força, não para ser maior do que meu amigo, mas para lutar contra meu maior inimigo – eu mesmo. Permita que eu esteja sempre pronto para ir até o Senhor de mãos limpas e olhar firme. Assim, quando a minha vida estiver no ocaso, como o sol poente, que meu Espírito possa ir à sua presença, sem nenhuma vergonha.

                     Um enorme clarão e Kerana desapareceu. Rudá e Uiara partiram devagar sem olhar para trás. Foi um dia que marcou a tribo e que aprendemos a respeitar os animais, pois no fundo eles são melhores que nós. – Fiquei ali olhando para Montezuma. Pensei em perguntar onde poderia encontrar Rudá e Uiara. Ele me olhou com aqueles olhos negros profundos sem nada dizer. Passei quase um ano sem voltar à tribo dos Xavantes e quando estive lá pela última vez não encontrei mais Montezuma. – Só me disseram que ele partiu rumo a Grande Aldeia do Universo. Confesso que me deu enorme tristeza, pois Montezuma era um dos poucos amigos índios que ainda preservava. No passado tive outros que também se foram com os grandes espíritos em busca dos seus ancestrais na eternidade.

                        Naquela noite ao retornar me lembrei do poema de Tecumseh – Viva sua vida de forma que o medo da morte nunca possa entrar em seu coração. Nunca incomode ninguém por causa de suas escolhas. Respeite os outros em seus pontos de vista, e exija que eles respeitem os seus. Ame sua vida, aperfeiçoe e embeleze todas as coisas em sua vida. Quando morrer que cantem uma canção fúnebre para atravessar a grande passagem. Comprimente um estranho quando encontrar. Demonstre respeito a todas as pessoas, mas não se rebaixe a ninguém. Quando se levantar pela manhã agradeça pela luz, pela sua vida pela sua força. E Quando chegar sua hora de morrer, não seja como aqueles cujos corações estão preenchidos de medo da morte. Cante sua canção de morte, e morra como um herói indo para casa.


Nota - Ela orou ao Deus Anhangá emocionando toda a tribo que chorava copiosamente. – “Ó Grande Espírito, cuja voz ouço nos ventos, cujo sopro anima o mundo, ouça-me. Sou pequeno e fraco, preciso de sua força e sabedoria. Permita que eu caminhe na Beleza, e faça que meus olhos contemplem para sempre o vermelho e a púrpura do sol poente... Histórias... Belas histórias das lendas indígenas do Brasil.

domingo, 28 de janeiro de 2018

Contos ao redor da fogueira. Olhos Negros.


Contos ao redor da fogueira.
Olhos Negros.

                    Lagrimas caiam aos borbotões. Donatello sentia um nó na garganta. Como ajudar? Chefe minha vida acabou. Disse Olhos Negros – Donatello não sabia o que dizer. Qual o papel do Chefe? Aconselhar? Mostrar o caminho? Difícil demais para formar conceitos contextuais aos jovens para a vida. Ele sabia que palavras bonitas se tornam descartáveis perto de atitudes estúpidas. – Quem foi em um curso que lhe disse que na dificuldade se conhecem os verdadeiros escoteiros?

                 Donatello pensou novamente – Se você acredita que é capaz, ignore a opinião dos outros e siga em frente. Nem sempre é bom saber a opinião alheia. Mas ele era um Chefe, um educador, alguém que os meninos confiavam. – Olhos Negros chorando disse: Quatro meses suspenso dos escoteiros. Meu pai é mau, não sabe o amor que tenho pelos escoteiros e faltar no Acampamento Anual? - Donatello não disse nada. Não havia o que dizer. Pai é pai. Olhos Negros errou. Péssimas notas escolares. Afinal cumpriu a lei? 

               A pior ambição do ser humano é desejar colher os frutos daquilo que nunca plantou. Ele comprou sua trilha com sinal de evitar. Donatello sabia que se ele não mudasse hoje, todos os amanhãs serão iguais a ontem. – Olhou profundamente nos olhos lacrimosos de Olhos Negros. – O que acha que posso fazer? Pensou em recomeçar? Todo amanhecer o sol aparece e nunca desistiu. Você não é derrotado quando perde. Você é derrotado quando desiste.

             – Começar de novo? Disse Olhos Negros. – Sim, algumas vezes coisas ruins acontecem em nossas vidas para nos colocar na direção das melhores coisas que poderíamos viver. – Devo estudar? Mostrar ao meu pai que notas altas é sinal de saber? – Donatello olhou para Olhos Negros. – Meu jovem, a vida é sua e não de seu pai. Um dia você será como ele e um filho a cuidar. Hoje deixe para trás o que não te leva prá frente. Outros acampamentos virão. Lembre-se a vida é feita de escolhas. Quando você dá um passo à frente seu passado fica para trás.

            Donatello sabia que não tinha as respostas na mão. Era sua função ajudar e não substituir os verdadeiros responsáveis por Olhos Negros. As palavras surgiram naquela tarde modorrenta quando a reunião terminou. Ele sabia que a verdade dói, mas não mata. A mentira agrada, mas não cura. – Olhos Negros, não tenha medo de chorar. Quando você chora, três coisas são limpas: - Os olhos, o coração e a alma. Recomece, dê uma nova chance a si mesmo. Mostre que é capaz. Renove as esperanças na vida e o mais importante – Acredite em você de novo!


Nota - Enfio a mão no bornal cheio de contos e histórias e tiro uma das que mais gosto. Aquela de aconselhamento, do escoteiro que tem uma duvida ou problema e não sabe como resolver. Nem todo Chefe está devidamente preparado para responder. Certeza mesmo é não fugir da resposta. Não só o menino, mas nos adultos também temos que aprender a fazer fazendo. Já aconteceu com você? Abraços fraternos.

sábado, 27 de janeiro de 2018

Contos de Fogo de Conselho. Uma carta para o Chefe Morel.


Contos de Fogo de Conselho.
Uma carta para o Chefe Morel.

                        - Morel um Chefe Escoteiro quase no fim de sua vida recebeu uma carta: Quanto tempo não recebia uma. Agora era só e-mail. Ele foi obrigado a fazer um. Olhou o envelope com carinho. Fez questão de usar seu canivete Escoteiro para abrir. O fez calmamente, com carinho saboreado as saudades de uma época que ficou para trás. Tirou a folha escrita, letra bonita bem compassada e começou a ler:          

- Sempre Alerta Chefe Morel.
– Não sei se ainda lembra-se de mim. Eu era aquele que chamavam Esqueleto. Risos. Era sim magro demais. Meus netos hoje dizem que ainda sou o mesmo, que não mudei. Sabe Chefe eu nunca me esqueci do senhor, quando acordo eu me lembro do seu rosto... Do brilho do seu olhar. Até hoje procuro ter o mesmo brilho e isto me ajuda a seguir em frente com prazer e alegria. Saiba que o senhor sempre foi e sempre será especial para mim.

- Todos os dias antes de dormir eu agradeço a Deus e ao escotismo. Obrigado por ter me deixado participar, de fazer tantos amigos e me sentir um privilegiado. O tempo Chefe deixa perguntas, mostra respostas e esclarece dúvidas. Mas acima de tudo o tempo traz verdades. Minha vida tem sido marcada por realizações diárias, que às vezes não dou o devido valor, mas eu sei que graças a Deus e ao Escotismo se fez presente em todos os momentos da minha vida.

- Sabe Chefe eu me sinto realizado, minha honestidade é apreciada, confiança foi conquistada, lealdade retribuída e o respeito merecido. Aprendi com o senhor a fazer as pessoas felizes mesmo quando estou triste. Em vez de reclamar da vida, levanto a cabeça, sacudo a poeira e dou a volta por cima. Afinal dias ruins são necessários para que os bons valham a pena. Saiba Chefe que a gratidão é a memória do coração e eu sou eternamente grato ao senhor e ao escotismo que amei e abracei como filosofia de vida.

- Pois é Chefe, muitas coisas bonitas não podem ser ditas vistas ou tocadas, elas Chefe são sentidas dentro do coração. O que o Senhor fez por mim é uma delas. Agradeço do fundo da minha alma e em tempo algum seja aqui ou na eternidade vou esquecer-me do senhor.

Chefe, meu fraterno abraço, um gostoso aperto de mão e que a paz esteja em seu coração. Sempre Alerta.

– Uma pequena lágrima correu na face do Chefe Morel. Ele olhou para o céu foi até a janela e pensou: - Que o vento leve, que a chuva lave que a alma brilhe que o coração acalme que a harmonia se instale e a felicidade permaneça. Obrigado Deus pelo dia de hoje! Meu amigo Escoteiro eu sei que nem todos os anjos têm asas, às vezes eles têm apenas o dom de te fazer sorrir e você conseguiu apagar minha tristeza!


Nota - Um conto dos meus preferidos. Já recebi cartas assim. Encheram meu coração de saudades e meus olhos de lágrimas. Fique a vontade se quiser me dar à honra de ler.

sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

Contos ao redor da fogueira. João.


Contos ao redor da fogueira.
João.

                    Acampado próximo do Rio das Almas, patrulhas correndo para terminar a montagem do campo, eu estava na beira do rio vendo as águas modorrentas daquele a quem chamavam de Rio Tristonho, sem corredeiras, cascatas e cachoeiras forçando minhas memórias de quantos acampamentos eu fiz. Podia não ser um Rio bonito, mas tinha força para vencer os vales daquela montanha até atingir sua foz do Rio Doce. Uma luz piscou na minha mente e me lembrei do João. Quanto tempo? Não lembro.

                 João era Monitor da Tigre. Se era um bom Monitor eu prefiro não comentar. Estava sempre reclamando. Eleito por quatro votos a três não era unanime na patrulha. Alguns patrulheiros me procuraram para trocar de Patrulha. Chefe desculpe, não dá. Prefiro deixar o escotismo! São coisas que nós chefes aprendemos com o temo a tomar uma decisão. Trocar? Mas não teve a maioria? Pelo sim pelo não o deixei o João continuar Monitor.

               Pela manhã do segundo dia, logo após a inspeção geral lá vinha ele subindo a trilha do campo da chefia. Sempre fazia isso quando sua Patrulha não ia bem ou perdia na inspeção. Eu já imaginava que ele ia dizer. Quantas vezes me procurou para reclamar? Perdi a conta. Sempre o motivam, ensinei a ele sobre liderança e nada. Cada dia dava a ele uma nova oportunidade. Tentava mostrar o caminho que um bom líder deve seguir.

                   – Chefe! Não dá mais. A Patrulha reclama, não anda e nada sai. Culpa de Pedrinho não ajuda e se acha o tal. De valente a mariquinhas. Está a chorar e quer a mamãe! O Senhor devia colocar ele na Raposa. Ponte Alto é um Monitor durão. Eu não! - Sem querer ri baixinho. Novatos são sempre assim na primeira noite. João quer desistir de ser Monitor? Ele me olhou de cabeça baixa e disse não. 

                  - João, Pedrinho não é o primeiro. Você mesmo foi assim quando aqui chegou. Lembras? Estava escurecendo e você a chorar pedindo mamãe, querendo biscoito e não sei mais o que. Quem lhe deu atenção amor, amizade assistida por toda uma noite e é até hoje seu amigo e irmão?

– Nereu o meu antigo monitor Chefe.

                – Pois é. Não aprendeu? Lembra-se do que ele disse a você naquele dia?

- João lembrava nunca esqueceu. Eram frases lindas que ele ouviu atentamente. – Nereu com voz calma e contagiosa, me disse: - João em casa minha mãe leu para mim um frase do Chico que aplica a você. Quer ouvir? - “Se você pode ajudar em auxilio de alguém, faça isso agora. Enriqueça o seu vocabulário com boas palavras. Aprendendo a escutar, você saberá compreender”. Nereu foi para ele o sonho que ele queria ser.

               - João sorriu. Ele ainda tinha um enorme caminho a percorrer. Voltou para o campo dos Corujas agora sabendo o que tinha de fazer.

              - Pensei comigo: - Algumas vezes coisas difíceis acontecem em nossas vidas para nos colocar na direção das melhores coisas que poderíamos viver.

Nota - Não basta ser chamado de Monitor. Não basta gritar para formar, apresentar ao Chefe sua Patrulha. Monitor é aquele que sabe ser amigo e irmão dos demais, aquele que sabe liderar e ser liderado, não só na presença do Chefe, mas sim em qualquer hora ou lugar.

terça-feira, 23 de janeiro de 2018

Conversa ao pé do fogo. Meu Chefe, meu comandante, meu herói.


Conversa ao pé do fogo.
Meu Chefe, meu comandante, meu herói.

                              Chefe! Galo não tem dente! Os escoteiros quando ele contava morriam de rir. Eis que ele saca de uma foto com um galo cheio de dentes! Quando ele contava suas histórias ficávamos vidrados na sua palavra no seu jeito de contar. Chefe Joe foi o que faltava na tropa Escoteira. Na cidade o chamavam de Comandante. Era respeitado, foi piloto da F.E.B (Força Expedicionária Brasileira) e pilotava um P.51 – Mustang. Gostava quando diziam: - “Senta a Pua”. Sabia que significava que o piloto tinha coragem e que na hora da disputa aceleravam o avião o mais rápido possível.

                             Tudo mudou depois que ele chegou. A tropa cresceu. Muitos que saíram voltaram. Chefe Nelson chorou quando foi embora. Ninguém conhecia o Chefe Joe. Cinquenta anos. Loiro, alto, sem bigodes, cabelos cortado a militar. A Patrulha de Monitores estava acampada ha dois dias as margens do Riacho Grande. Nunca participei de um acampamento como este. O Chefe Joe sabia como nos fazer felizes. Foi o primeiro. O Chefe Joe deu férias para os seis escoteiros que ainda frequentavam. Dizia que sem bons Monitores e subs não podia haver uma tropa escoteira.

                          Criamos enorme admiração pelo Chefe Joe. Era excursão, jornadas, bivaques e acampamentos. Cada um mais gostoso que o outro. Aprendemos com ele cada técnica mateira que nunca sonhávamos. A arte do uso do cipó foi tão “bacana” que abandonarmos inteiramente o sisal. Pela primeira vez ele nos contou a história de Ventania. Quase dez da noite. Um céu estrelado, um fogo calmo e ele contando. – Meninos, Ventania tinha dentes, podem acreditar. Tudo começou quando eu precisava de ovos e o dono me mostrou como ele ficava no galinheiro. Ficamos encarando um ao outro. Caminhei até o primeiro ninho e ele me deu uma mordida na perna e uma esporada no braço com sua perna direita.

                      - Sua espora era enorme – Olhei para ele e disse - Quer briga? Vais ver com quem está se metendo! Sou um Comandante! Estive na guerra! Um galinho de nada me desafiando? Preparei para lhe dar um soco e ele me devolveu com outra esporada. A galinhada se divertia. Uma algazarra no galinheiro. - Galo maldito!- Eu disse. Ele érea o dono do galinheiro. Queria só duas dúzias de ovos fresco e o que recebi foi esporada e bicada de um galo metido a besta.

                        A Patrulha rolava de rir. Ninguém se esqueceu do galo com dentes. Ele nos ensinou a se fantasiar de soldado, de índio e como ficar no escuro da noite. Treinou os monitores e subs tão bem que pedimos para aqueles acampamentos serem repetidos.  Eu o vi muitas vezes ficar de pé balançar a cabeça e dizer: - Tenho que liderar, tenho que liderar. Meu corpo depende de mim! Em pé! Firme! Então ele ficava ereto e andava em linha reta indo e voltando. – A gente não entendia, mas aos poucos seus exemplos e explanações nos fizeram aprender a liderar com amor.

                        Quatro meses. O dia D. Na sede ele disse: - Vocês estão preparados. Vamos chamar os que se inscreveram. Compete a vocês agora fazer o que eu fiz. A Patrulha será de responsabilidade de cada Monitor. Em um mês e meio não havia mais vaga. Chefe Joe era único. Ele sabia como dirigir a tropa, como acompanhar e orientar. Uma noite acampados no pé da Serra da Serpente alguém falou! – Chefe o senhor conseguiu os ovos no Galinheiro do Josenilton? – Ele ria, e como ria. Um sorriso contagiante. – Não levei nenhum. Se o Ventania defendia com tanto vigor seu lar não seria eu quem iria obrigá-lo a fazer o que não queria. Quando sai do galinheiro, ele se reuniu com outros galos, chamou as galinhas e deram uma tremenda vaia em mim! Kkkkkk!

                - Isto é mesmo verdade Chefe? – Claro, mas o melhor foi no dia seguinte quando me viu e se se posicionou para briga. Eu não entrei. Não ia de novo brigar por uns ovos. Josenildo me trouxe três dúzias e um pintinho. – Como recordação Comandante. Se tiver um lugar pode criar sem susto. É filho do Ventania. E não é que era verdade? Com dois meses os dentes começaram a nascer.  Vendaval mora comigo até hoje. É meu amigo, meu companheiro e toma conta de minha casa como ninguém! – Pensei em pedir a ele para conhecer o galinho Vendaval, mas duvidar não seria próprio dos seus escoteiros. A tropa ia a pleno vapor.

                  Uma tarde de verão Chefe Joe chegou à sede. Abriu a porta mala do seu carro, fez uma saudação Escoteira. Ninguém entendia, saltou de lá um galinho. Cheio de dentes. Era o Vendaval. Tal pai tal filho. Ninguém podia se aproximar. Como rimos. O livro de Atas da Corte e de todas as patrulhas ficou cheio com os relatos dos escribas. – Meses depois acampados na Bacia da Onça, à noite olhávamos para o céu, vimos um cometa passando e deixando um rastro de pedras preciosas. Estávamos todos em silêncio.

                   Chefe Joe estava calado. Olhei para ele e vi que estava pensando no seu Mustang nas lutas infernais que participou. Ele sorriu e contou: - Era um céu laranja cheio de bombas estourando foguetes zumbindo no ar, a cor purpura explodindo em um céu que iluminava o piloto tentando escapar com seu paraquedas. Seu avião uma bola e fogo a cair em meio da metralha da noite.

                     Acho que foi no último acampamento que ficou conosco. Estávamos na porta de sua barraca, bancos baixos, um café na brasa um biscoito uma bala de hortelã. Com olhos fixos no céu ele contou: – Sabem, quando precisarem compreender melhor uma situação, um problema, é preciso ver as coisas com certo distanciamento. Se tiverem aborrecimento, injustiças, desgostos, sonhem que estão em um Mustang, subam com seu avião às alturas e olhem lá embaixo as pessoas. Tão minúsculas. Pequeninas e nós somos tão grandes! Porque nos preocuparmos com pequenas coisas? Eu fazia isto e olhe, meu equilíbrio emocional voltava e a raiva desaparecia. Eu nunca tinha visto um Mustang. Eu forjava um na minha mente. Mas era um Teco-Teco o único que conhecia. Mas me sentia um verdadeiro piloto. Ria de mim mesmo ao me chamar de Comandante!


Nota: - - Deus sabe o que faz. Trouxe-nos o melhor Chefe do mundo. Todos os escoteiros da Tropa Senta Pua tem muito orgulho do Chefe Joe. Nas noites de verão acampados nos lembramos dele. A Patrulha de Monitores sempre está em ação. Gosto disto. Adoro ser Escoteiro e ter um Chefe como o meu Comandante me faz vibrar e me orgulhar do querido movimento. O Avestruz Guerreiro do "Senta a Pua!" foi para a FAB o que representa o emblema "A Cobra Está Fumando" para o Exército, através das batalhas de Monte Castelo, Montese e outras, sustentadas e vencidas pelos heroicos pracinhas da Força Expedicionária Brasileira.

domingo, 21 de janeiro de 2018

Jonny Bob. O escoteirinho sabido.


Jonny Bob.
 O escoteirinho sabido.

                   Os pais me pareceram snobes quando vieram fazer sua inscrição. Quando disse que eles teriam que fazer um pequeno curso de três horas para o filho ser aceito foi um Deus nos acuda. A mãe levantou e pegou o filho pela mão dizendo que não ia se submeter aquilo tudo. Ela tinha mais o que fazer. Ele gritou com a mãe e o pai. – Não sou idiota disse. Não queria vir aqui foi vocês que insistiram. - Agora aguentem e aceitem as normas! Nossa! Eu pensei. Ele teria quanto anos? Oito? Nove?

                    O pai que estava calado disse: Vamos reunir em família. Foram lá fora e voltaram. – Tudo bem Chefe, que assim seja. No dia marcado eles apareceram. Fizeram o curso e foram apresentados ao grupo escoteiro no cerimonial. O filho recebido pela Aquelá. Todos os lobos apertaram sua mão. Ele parecia alegre. Ou pelo menos parecia.

                    Dois meses depois Martinha a Chefe veio reclamar comigo. – Olhe Chefe, o sabe tudo está acabando com a Alcateia. Quer dirigir mandar decidir. Já reuniu duas vezes os lobos e disse que eles têm direitos. Não são obrigados a obedecerem tudo do Chefe. Que eles devem ler os Estatutos do menor e do adolescente. É difícil dialogar com um jovem como ele. Pela arrogância dos pais sabia que teria dificuldade. Soube que ele era superdotado. Estava liderando a Alcateia com nove anos.

                   Conversei com o Chefe da tropa. Vamos fazer uma experiência? O Chefe ficou assim e assim. Nove anos? Tudo bem, vamos tentar. Vai para a Coruja, o Monitor é mais velho e durão. No programa a tropa ia acampar três semanas depois. O Monitor disse ao Chefe que ele não devia ir. Estava muito verde ainda.

                    Jonny Bob me procurou. Precisavam ver sua pose ao falar comigo. Exigia seus direitos. Nove anos o danado e pensei que quando crescer ele será um barril de democracia. – Tudo bem, você vai. Mas se chorar lá não vai voltar. Só no final do acampamento. Ele riu – Chefe sou homem e sou macho. Sem decidir minha vida. Chegou com uma mochila e apetrechos que tomavam todo seu corpo. Ele sumiu atrás da tralha que carregava.  

                    Disse a ele que o ônibus nos deixaria quatro quilômetros do local do campo. Ele riu. Chefe precisa me conhecer melhor. Não sou de desistir nunca. Nunca pedi ajuda e nunca irei pedir. Sei o que faço. Dito e feito, dois quilômetros e ele para trás, três e ele sumiu de vista na curva da estrada. O Monitor voltou para ajudar.

                       No primeiro dia ele corria para todo lado. Parecia mesmo ser um jovem esperto com seus nove anos. Tudo aconteceu à noite após o jantar. Não gostou da janta. Procurou-me para levá-lo até um restaurante a beira da estrada. Eu estava com meu automóvel. – Nem pensar Jonny Bob. O que todos vão comer você também vai. Chefe eu não comi nada! Porque não quis. Quem sabe o cozinheiro deixou uma porção para você na panela?

                      Dito e feito, ele começou a gritar, a chorar, deitou no chão pegando a maior manha. Passou a noite toda chorando. Não o levei e nem mandei recado aos seus pais. Boi bravo é assim que aprende pensei. Certo ou errado ele ficou lá os quatro dias. Parou de gritar e chorar. No retorno vi que sua mochila diminuiu. Falei para o Monitor. - Ele jogou fora parte da tralha em um barranco para diminuir o peso.

                    Na chegada seus pais estavam lá esperando. Ele desceu do ônibus e calado foi com a patrulha guardar a tralha da patrulha. Estava uma luva agora. Obediente e disciplinado. Na semana seguinte seu pai me procurou - Chefe, meu filho mudou e para melhor. Parece outro menino. O que houve? Não entrei em detalhes. Disse que o escotismo é trabalho em equipe. Aprender a fazer fazendo. Ele aprendeu. – Seu pai agradeceu. Depois fiquei sabendo que era um alto executivo na Ford. Sua mãe advogada em um dos melhores escritórios de advocacia da capital. Os anos passaram e o escoteirinho lá conosco.

                       Três anos depois fui morar em outro bairro. Um grupo próximo a minha casa balançando para não fechar. Precisava de ajuda. Mudei de grupo. Jonny Bob eu o vi nove anos depois em uma atividade regional. Era outro, precisavam ver. O Que o escotismo pode fazer não? A vida é assim mesmo. Acampamento é para os jovens aprenderem a lutar pela vida. Dar cobertura, passar a mão na cabeça, chamar papai e mamãe para leva-lo não é o certo. “Comigo não Mane”. Risos. Bem casos são casos. Cada um tem seu estilo. Este deu certo graças a Deus!


Nota - Às vezes temos de agir diferente do que nos ensinaram. A ocasião faz o monge. Winston Churchill dava exemplo quando dirigiu uma nação na Segunda Grande Guerra. “Ele dizia: - O sucesso é ir de fracasso em fracasso sem perder entusiasmo.” “Não adianta dizer: “Estamos fazendo o melhor que podemos”. Temos que conseguir o que quer que seja necessário.” “Eu não sou exigente, eu me contento com o que há de melhor.”.

sexta-feira, 19 de janeiro de 2018

Lendas da Jângal. Pikitito, um Grilo feliz da lagoa dos Mares. Uma história para lobinhos.


Lendas da Jângal.
Pikitito, um Grilo feliz da lagoa dos Mares.
Uma história para lobinhos.

                      Joyce sentiu quando o grilo pousou em seu ombro. Lobinha amiga dos animais plantas e insetos ela olhou de lado e sorriu. Já tinha visto muitos grilos. Gostava de ver os saltos que eles davam. Ela sabia que nem todos possuíam asas, mas tinham os melhores órgãos auditivos para perceber os sons produzidos pelas suas próprias asas. – O que vocês vieram fazer aqui? Perguntou o Grilo. Joyce riu. Um grilo falante? - Você fala? Disse ela.

                     – O grilo olhou para ela indignado – Claro, ou você acha que eu estou latindo? – Não precisa ser mal educado seu grilo – Me chame de Pikitito. Este é meu nome que meus pais me deram quando nasci. – Mas me diga o que ele e o outro estão medindo com uma trena? – Vamos fazer aqui um grande acampamento de Escoteiros. Serão mais de mil, ela disse – Nem pensar! Não podem. Neste capinzal está nossa cidade, ou melhor, nossa capital. Grilolândia está aqui a mais de mil anos. Não podem destruir nossa cidade.

                       - Veja continuou o grilo, ou melhor, Pikitito. – Aqui neste pastinho temos nosso alimento. Se vier a noite aqui vai nos encontrar almoçando e jantando. Aqui temos plantas, cereais, fungos, tecidos de lã e restos de outros insetos. – Se acamparem aqui irão destruir nossa cidade – Olhe seu Pikitito não estou duvidando, mas meu tio é um cara chato. Chato mesmo. Quando põe na cabeça um plano difícil desfazer dele. Sabe como ela se chama? Chefe João Cabeçudo.

                      – Pikitito coçou a cabeça: - Diga a ele que se não desistir vamos chamar os grilos de todo o mundo. Serão milhões, pois cada grilo femea não sei se sabe coloca mais de 100 ovos por mês. – Quer conhecer nossa cidade? Quero sim disse Joyce. O grilo disse, põe o dedo nas minhas asas e repita comigo – Pic, pok, kilo, vou para a cidade dos grilos! Mas fale o mais alto que puder. Joyce não se vez de rogada. – Depois de gritar as palavras mágicas ela ficou pequenina do tamanho do grilo, ou melhor, Pikitito.

                          A cidade era linda. Praças, chafariz, prédios enormes, escolas, universidades tinha tudo da cidade dos homens. – Nem tudo disse Pikitito. Aqui temos a paz e vocês não tem. Não precisamos de policia, nem de exércitos. Somos todos irmãos. Não é assim que dizem vocês Escoteiros? – Joyce estava entusiasmada com tudo que via. Foi apresentada ao Mestre Catuaba, que fazia às vezes de prefeito e juiz. Ao Doutor Magnésio que curava todas as dores dos grilos.

                        A maior surpresa foi quando visitou o Grupo Escoteiro Grilo Feliz. Tudo que nós fazíamos eles faziam também. Só que melhor. Uma disciplina incrível. As patrulhas completas, os uniformes bem postados, fomos até próximo da Lagoa dos Mares onde estava acampando duas tropas de grilos masculina e feminina. Próximo em uma fazenda lobinhos grilos se divertiam felizes.

                            - Me leve de volta, pediu. Meu tio tem de entender. Ok! Repita de novo - Pic, pok, poney vou para a cidade dos homens! Joyce voltou ao tamanho normal. Falou com seu tio que deu risadas – Joyce, lugar de sonhar é na cama. Aqui não. Cidade dos grilos? Só você para contar esta piada. – Tio, se não desistir do Ajuri Escoteiro aqui eles irão chamar todos os grilos do Brasil e comerão tudo que encontrem pela frente. Irão destruir todo o acampamento – João Cabeçudo morria de rir. Sua sobrinha tinha uma mente fértil.

                            – Joyce pegou na mão dele. Tio me faça um favor. Só um e não falo mais nada – Diga comigo junto – Pic, pok, Kilo!  - está bem ele disse. E gritou alto o que ela pedia. Sentiu uma pressão no corpo. Estava diminuindo. Vários grilos o carregaram até uma pedra enorme que havia no meio do lago. Milhares de grilos estava lá. Quando o levaram ele levou o maior susto. Viu embaixo uma grande cidade onde iriam acampar.

                                 Mestre Catuaba e Doutor Magnésio presidiam um júri e ao lado vinte grilos que seriam os jurados. Mestre Catuaba explicou a ele que seria julgado e se culpado e devorado pelos grilos. João Cabeçudo não acreditava no que via. Começou a gritar – A grilaiada morria de rir. Lá ele era grandão era valente aqui um chorão. – Leve-o Joyce, disse Doutor Magnésio. Ele aprendeu a lição.

                                Pic, pok, poney e eles voltaram. João Cabeçudo quando viu que voltaram pulou de alegria. Chamou seu amigo Chefe e disse que deveriam escolher outro lugar – Mas não tem terreno limpo como aqui – João Cabeçudo riu e disse – Não se preocupe. Fiz novos amigos. Eles me prometeram me ajudar para limpar a área escolhida.

                                Todos os sábados Pikitito o Grilo Feliz visita Joyce na reunião da Alcateia. Os lobos aprenderam a gostar dele. Foi uma amizade que durou muitos anos. O chefe João Cabeçudo aprendeu uma lição. Respeitar os direitos dos outros mesmo que estes outros sejam insetos. E assim termina a história.


Nota - Um dia um lobinho me disse: Chefe, conte histórias para gente grande, somos lobinhos, mas não somos tão infantis como o senhor pensa. Ban! Tudo bem escrevi uma história de terror e contei no acantonamento quando realizamos a Flor Vermelha. O lobinho que me chamou a atenção pelas minhas historias pediu, por favor, para parar. Ele estava morrendo de medo! Pois é, toda história é divertida, basta saber contar!

quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

Lendas escoteiras. O Corvo.


Lendas escoteiras.
O Corvo.

Ave ou demônio que negrejas! Profeta, ou o que quer que sejas! Cessa ai, cessa! Clamei, levantando-me, cessa! Regressa ao temporal, regressa à tua noite, deixa-me comigo. Vai-te, não fica no meu casto abrigo. Pluma que lembre essa mentira tua, Tira-me ao peito essas fatais garras que abrindo vão a minha dor já crua. “E o Corvo disse: “Nunca mais.” Edgar Allan Poe”.

                       Acampados, noite alta, chefes em volta de uma fogueira. A Tropa dormindo. Chefe Lávio contando esta historia. Com seu estilo misterioso olhava o fogo apagado com pequenas fagulhas ciscando o ar. Na escuridão da noite só se ouvia sua voz. - Nasci em Rio Vermelho... Abrimos os olhos e os ouvidos... Até o Chefe Nevada prestou atenção. Contaram-me que seu apelido era o “Chefe que não ri”. Abotoei minha manta sobre os ombros. Uma estrela cadente saudou a todos no céu. Uma brisa gostosa vinha das margens do rio Sucuri. – tem tempo... Assim ele começou.

                  Sua voz ecoou na escuridão da floresta. – Foi em Monte Azul, cidade pequenina no interior de Mato Grosso. Vida simples, meninada nas ruas a soltar pipas, brincando com bolinhas de gude, olhando de soslaio em sinal de respeito para dona Marly ou dona Noêmia professoras do Grupo Escolar. Na missa de domingo a melhor roupa. Padre Thomaz na porta cumprimentava um a um. No púlpito uma surpresa. Um calafrio correu na meninada presente – Paroquianos, vamos organizar um grupo de Escoteiros. Inscrições abertas no Clube Remanso no próximo sábado à tarde!

                  Acordei às três da manhã. Papai! Vamos! - Onde? Fazer minha inscrição. Nem tomamos café, uma fila enorme. Chefe Noel risonho cumprimentava a todos. Feita inscrição ficamos em lista de espera. Só alguns meses! Voltei choroso. Um mês se passou e bateu em nossa porta um Escoteiro uniformizado dizendo: - A vaga do Lávio está aberta. Deve comparecer sábado às duas da tarde. Almocei correndo. Carreguei meu pai pelas mãos. Meu primeiro dia. Indicado para a Patrulha Corvo. Que orgulho. Seis patrulheiros. Agora era mais um. Leones o Monitor meu orgulho pessoal.

                Gostei das reuniões, das atividades ao ar livre, das primeiras jornadas e no primeiro acampamento em Águas Cantantes. Fiquei maravilhado. Achei que era um herói. Subir em árvores, atravessar riachos, correr atrás de um macaco prego só para tirar uma foto. Aprendi tudo sobre o corvo, símbolo de nossa patrulha. Seis meses depois me achava um veterano. No acampamento em Morro Sião que tudo aconteceu. Uma linda cascata formando um lago, peixes brigando para serem pescados. Eu gostava de pescar. Aprendi com meu pai.

                Acampamento de quatro dias. No terceiro uma jornada de seis quilômetros até a Mina do Fantasma. Recebemos um mapa, um croqui, uma bussola, e uma carta prego. As instruções eram claras. Já tínhamos feito outras e não havia segredos. A Patrulha era experiente. Desviamos do barranco estreito que dava para um enorme despenhadeiro. Um percurso simples. Precisavam da bússola. Era o responsável. Não achei. Procurei no bornal, na mochila nos bolsos nada. Deu vontade de chorar. Leones me olhou espantado. Jair nem falou. Nonato o cozinheiro balançou a cabeça.

              – Quase chorei. Assustados não percebemos o barranco. Quarenta metros de queda. Um espinheiro que feriu muitos escoteiros. Eu gritava de dor e meus companheiros também. Com muito custo saímos numa ravina desconhecida. Para onde ir? Eu tinha perdido a bússola. Senti-me culpado. Todos me olhavam surpresos. Ouvi ao um grasnado de um corvo. “Croc, croc, croc”. Voava por cima de nossas cabeças, seguia em uma direção e voltava.

                  - Porque ele fazia isto? Disse ao monitor que devíamos seguir o corvo. Ninguém ligou. - Monitor, insisti – Ele é nosso guia! Nosso símbolo! Segui o corvo e a patrulha me seguiu. Com dificuldades saímos do espinheiro. Em um riacho paramos para tirar os espinhos. Sabíamos que era o fim do jogo. Esquecemos o estojo de primeiros socorros. Começou a escurecer. O corvo sempre voando em e seguindo em uma direção. Resolvemos seguir o Corvo. Noite brava. Sem lanternas tudo escuro. E a tropa e os chefes? Deviam estar aterrorizados com nosso sumiço. Um frio forte cortante e uma bruma da ravina nos pegou em cheio.

               – Alguém tem fósforos? – Lembrei-me do isqueiro que meu pai me deu. Fizemos uma fogueira. Valeu! Impossível dormir. Vi o corvo em um galho próximo. Sozinho cochilei e acordei com o corvo pousado em meu ombro. Assustei e ele voou para longe. Ao amanhecer partimos seguindo o corvo. Não demorou e avistamos o acampamento. Alegria geral. Não houve gritos do Chefe nem gozação das demais patrulhas. Ele nos parabenizou pela coragem. O corvo durante os dias finais de campo sempre próximo ao nosso campo sempre voando e grasnando. Croc. Croc. Croc.

                Quando partimos nos acompanhou por muitos quilômetros. Da janela do ônibus eu o avistava e ele muitas vezes bicou os vidros querendo dizer alguma coisa. Dormi. Nunca mais achei a bússola. No sábado seguinte no cerimonial fui convidado para dirigir a oração. Fiquei no meio da Ferradura. – Quando iniciei vi o corvo voando em círculos sobre nós. Todos olhando espantados. Ele desceu até onde estava. Pousou no meu ombro. Tinha preso no bico uma pena dourada. Voou para cima do meu chapéu de três bicos. Colocou a pena e saiu voando e grasnando rumo sul. Sumiu no céu azul daquela linda tarde de primavera para nunca mais voltar.
                 
                           A pena dourada coloquei entre a correia e meu chapéu. Fez história. Tornou-se um mito. A saga do Corvo ficou Lavrada no livro de Ata da Patrulha. A história foi contada por anos. - Olhei para o Chefe Lávio. Chefe Nevada também. Ar de incredulidade. Ele se levantou foi até sua barraca voltando em seguida. No topo do seu chapéu vimos a pena dourada. Nunca tinha visto igual. E Assim foi contado, assim será lembrado por todo o sempre!


Nota - E o Corvo aí fica; ei-lo trepado No branco mármore lavrado. Da antiga Palas; ei-lo imutável, ferrenho. Parece ao ver-lhe o duro cenho, um demônio sonhando. A luz caída do lampião sobre a ave aborrecida. No chão espraia a triste sombra; e fora daquelas linhas funerais que flutuam no chão, a minha alma que chora não sai mais, nunca, nunca mais! Uma pequena história de uma Patrulha. Um corvo que nunca os abandonou.

segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

Contos escoteiros - Moisés


Moisés.

                      Pensei em não dizer nada. Afinal ele era um veterano em atividades técnicas, mas um iniciante como líder de uma tropa. Alguns meninos estavam saindo. Não eram tantos, mas isto preocupava. Nunca me procurou para tirar dúvidas apesar de sermos amigos desde quando ele foi lobo, escoteiro e sênior. Enquanto suas patrulhas preparavam um programa de campo para o feriado, ele apareceu na sede. – Chefe! Podemos conversar? – Surpreso disse que sim. – Chefe como fazer para que os jovens permaneçam nas tropas e me olhem como um Chefe e não um Pioneiro?

                      - Moisés se você quer evitar decepções, diminua suas expectativas. Trace a linha do seu destino. – Ele me olhou surpreso. – Sei que gosta de ser Chefe, mas seja você mesmo, todos os outros já existem. – Ele me olhou e não entendeu. – Simples meu caro amigo e irmão escoteiro, com o passar do tempo os anos vão lhe dar maturidade, conhecimento e você vai ver que as pedras no caminho ficarão mais fáceis para caminhar e prosseguir.

                    - Falo isto para seu próprio bem. Confie em quem te dá confiança, ame quem te da amor, cuide de quem cuida de você. – Minha tropa Chefe? – Retribui com um sorriso. – Isto mesmo meu amigo. Plante agora e vais colher os frutos que merecer. Vá aonde pode ir e ande sem pressa. Sem ponto final, sem briga, sem mágoa, sem dor. Só amor por favor! – Ele me olhou sem saber o que responder.

                  - Se um olhar vale mais que mil palavras, o sorriso que me deu valia mil agradecimentos. Ele voltou para a sua tropa, olhou mais uma vez para traz e acenou agradecendo: - Eu disse para ele: - Vá em paz, faça a dieta da alegria, não se esqueça do elogio e do sorriso quando iniciar e um agradecimento ao terminar. Então será você mesmo e vais ter orgulho de ser um Chefe Escoteiro como sempre desejou ser!


Nota - O homem chega à sua maturidade quando encara a vida com a mesma seriedade que uma criança encara uma brincadeira. O tempo amadurece todas as coisas. Nenhum homem nasce sábio. Certas situações a gente tem que passar para crescer. Apenas uma troca de palavras... Nada mais. 

Era uma vez... Em uma montanha bem perto do céu...

Bem vindo ao Blog As mais lindas historias escoteiras. Centenas delas, histórias, contos lendas que você ainda não conhecia....