domingo, 10 de dezembro de 2017

Lendas Escoteiras. As fabulosas aventuras de Tonico Caçarola.


Lendas Escoteiras.
As fabulosas aventuras de Tonico Caçarola.

                  Dizem que histórias são histórias nada mais que histórias. Mas tem umas que a gente acredita, pois se foi um Escoteiro quem contou merece credito. Melhor ainda se a gente estava lá presente e não tem como duvidar. Muitos amigos quando conto a história de Tonico Caçarola dão sorrisos e devem pensar: - Este cara sabe contar uma patacoada. Mas eu juro pelo dente enorme do Pasqualino Monitor da Leão que ainda está vivo que e que um raio caia sobre a cabeça de meu melhor leitor se não for verdade. Só posso dizer que os patrulheiros da Patrulha Corvo riam atoa com Tonico Caçarola.

                  Afinal acampar é bom demais e comer bem melhor ainda. E eles comiam manjares dos deuses. Tonico Caçarola para mim foi um dos maiores cozinheiros Escoteiros de todos os tempos. No campo a turma ficava olhando de longe, pois ele não admitia que ninguém chegasse proximo ao fogão para ver o que ele estava fazendo. E quando ele tocava o sino (o danado tinha um) ninguém queria ficar para trás era uma corrida só. E olhe, se você batia o garfo no prato estava condenado. Ia para o fim da fila e só recebia metade da sua parte.

                 Moreno alto para os seus catorze anos, ele penteava o cabelo no estilo de Elvis Presley. Sem uniforme a gola da camisa era jogada para cima. Andava como se fosse passarinho, dando pulinhos. O moço era jeitoso mesmo. Metido a bonito, falava compassado, tinha uma voz grossa e sabia como utilizá-la para impressionar. Quem o via pela primeira vez na cozinha de um acampamento ficava embasbacado. Usava um chapéu branco enorme de cozinheiro, e mesmo grande nunca caia de sua cabeça. Uma jaqueta branca tão alva que nunca ninguém a viu suja.

                Colocava um lenço de seda amarrado ao pescoço dando um ar diferente. Infelizmente não podia usar a calça azul dos cozinheiros, pois era obrigado a usar a calça do uniforme e sabia que isto não era roupa para cozinheiros. Quem não o conhecia diziam que era um “mascarado” e só quer aparecer. O fogão de campo era de tirar o chapéu. Fazia questão de separar as bocas e no fim do fogão sempre havia uma pequena chaminé. Ninguém nunca viu a fumaça em seus olhos e ele estava sempre sério no preparo de suas guloseimas.

                  Diziam que a moças da cidade andava atrás dele como se fossem abelhas a procura do mel. Mas nem tudo que reluz é ouro dizem por aí. Tonico Caçarola sofria do intestino e ele se maldizia por ter aquela infelicidade. Se alguém chegasse para ele e dissesse: - E a barriga Tonico, como vai? - Era a conta. Ele saia correndo a procurava de um banheiro e se não encontrasse seus puns eram ouvidos longe. E o cheiro? Impossível de ficar próximo.

                 Uma vez quando o Cinema Palácios passava em sessão de gala os 10 Mandamentos alguém gritou alto: - E a Barriga Tonico, como vai? Foi à conta e ele teve um ataque. Ninguém ficou para ver o final do filme. Para desinfetar o cinema foi preciso trabalhar uma semana. Mas Tonico era demais. Fazia um forno de barro no campo que todos invejavam. No aniversário da tropa fez questão de fazer um Leitão a Pururuca e a fila que se formou era enorme. E olhe, acompanhada por três travessas de feijão tropeiro e muitos queriam saber o segredo do torresmo tão bem preparado.

                  A Patrulha Corvo era uma privilegiada. Todos queriam ser da patrulha, mas quem saia? Ninguém. – Foi em um sábado chuvoso que o Chefe Dentinho comentou que a tropa na semana seguinte ia receber seis meninas, que agora poderia ser escoteiras. A tropa ficou em polvorosa. Tonico Caçarola ficou um dia passando seu uniforme. Um brinco. O lenço parecia uma gravata de tão bem passado. E o chapéu? Deus do céu, Abas retas que nem a Policia Montada. A fivela do cinto parecia de ouro de tão brilhante que doía os olhos ao olhar.

                – Sábado, dia da apresentação. O Chefe vendo que Tonico Caçarola estava muito bem uniformizado, o convidou para receber as meninas em nome de todos os Escoteiros. Um sorriso de ponta a ponta. Bandeira, hino Nacional, as meninas curiosas com tudo. Hora de dar as boas vindas. Tonico Caçarola se dirigiu a todas que estavam formadas em linha. Fazendo uma pose de John Wayne, celebre ator de faroeste de Hollywood, levantou a mão esquerda, mostrou como se entrelaçava e esquerdamente cumprimentou uma a uma.

               Até hoje ninguém sabe quem foi, mas alguém gritou! – “E a barriga Tonico, como vai”? – Todos já sabiam o que ia acontecer e não ficou um na ferradura. Tonico Caçarola corria desembestado procurando uma privada e dando puns para todo o lado. As meninas ficaram amarelas com o mau cheiro e saíram correndo da sede. O Chefe queria matar quem gritou. Sei que por muitos anos nenhuma menina quis ser Escoteira naquela tropa. Mas o danado de Tonico Caçarola com suas guloseimas faziam todos esquecerem suas prontas investidas no ar respirável.

                     Sei que muitos anos depois eu e a Celia resolvemos jantar no Makano, um restaurante famoso em São Paulo e eis que para nossa surpresa o Maitre era nada mais nada menos que Tonico Caçarola. Bem agora ele pomposamente se intitulava Anthony Bassolet o chef. Quando o vi acenei e ele me reconheceu. Veio sorrindo com a pose é claro de grande chef. Seu estilo de andar e falar nunca foi abandonado. Levantei e apresentei a Célia a ele. A desgraça aconteceu. Meu Deus! Porque fui dizer aquilo? Foi sem querer ou foi maldade pura? Desgraçadamente depois do abraço eu perguntei: – “E a barriga Tonico, como vai” – Incrível! Era como se um fedor dos infernos caísse do céu no restaurante.

                  Os puns de Tonico ribombavam como se fossem trovões nas noites de acampamentos. As Socialites, os novos ricos os políticos famosos que naquele dia jantavam corriam como se fossem leopardos em busca da caça. Eu mesmo peguei na mão da Célia e vendo a desgraça que tinha cometido saí correndo feito uma lebre e olhe nunca mais voltei no Makano. Sei que tudo foi apagado da imprensa. Afinal os donos eram sobejamente conhecidos da sociedade local e internacional. Ninguém nunca disse nada, mas sei e posso jurar que Tonico Caçarola foi para a Espanha. É maitre de um famoso restaurante em Valença. Só peço a Deus que nunca e em tempo algum vá aparecer alguém e perguntar em alto e bom som:

- E a barriga Tonico, como vai?


Nota - Contam por aí que Tonico Caçarola é Chief do Restaurante Botafumeiro em Barcelona. Um dos tops 10 da Espanha. Proibiu a entrada de escoteiros brasileiros que conheciam sua fama. Anda com uma borduna de lado e quando vê alguém e desconfia que poderia ser do seu grupo ou distrito, chama o segurança e ambos o põem para fora. E aí Tonico, onde anda a fraternidade? Ele olha com ódio, pois não pode nem ouvir até hoje: - “E a barriga Tonico, como vai”?

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