sábado, 30 de dezembro de 2017

Contos de Fogo de Conselho. Luciana.


Contos de Fogo de Conselho.
Luciana.

                             - Chefe meus pais não param de dizer que está na hora de mudar, pois já não sou mais uma criança e o mundo agora é outro. O que devo fazer? – Olhei para ela com as sobrancelhas levantadas. O que ela queria dizer? Sou um bom ouvinte. Não gosto de interromper, principalmente os jovens Badenianos. Sou como aquele que diz que o homem comum fala o sábio escuta e o tolo discute. – Ela sorriu como sempre fazendo a gente sorrir também. – Continuei calado.

                            - Tossi. Olhei para ela. – Chefe não entendeu? Dizem que nos os jovens de hoje temos de nos adaptar a pedagogia moderna. - Então era isso? Eu já conhecia tais sintomas de mudança. Afinal tem gente que gosta tanto de carnaval que vive o ano inteiro de máscara. – Vi que ela queria uma resposta. O que dizer? Afinal a educação é o que sobra depois que a gente esquece o que aprendeu na escola da vida. – Chefe e então? Precisamos ou não mudar?

                             - Olhei para ela espantado: - Luciana, você é ótima, acabou de me colocar numa saia justa. – Eu sabia que nenhuma pergunta é indiscreta. Algumas respostas é que costumam ser e eu não sabia o que responder. - Não podia deixá-la decepcionada. Quem quer arruma um jeito. Quem não quer arruma uma desculpa e este não sou eu. O tempo deixa perguntas mostra respostas, esclarece duvidas...

                             - O tempo infelizmente ou felizmente trás verdades. Pensei em Confúcio quando disse que os extremamentes sábios e os extremamente estúpidos é que não mudam. Mas mudar o que? - Perguntei a ela. – Chefe o senhor é conhecido como um progressista do seu tempo. Quem o conheceu sabe que seu histórico é de um dinossauro que vive no passado, afinal o senhor é ou não um tradicionalista? Dizem que seu legado não foi posto em duvida, mas então, devo mudar?

                           - Ela me pegou batendo o sino da meia noite na Igrejinha de São Domingos. Pensei até que iriam aparecer os frades franciscanos tocando o sininho para chamar os fieis para a missa. Milhares de estrelinhas ciscaram nos meus olhos. Deus me livre de Kenedy que disse uma frase que nunca esqueci. – Se você agir sempre com dignidade, talvez não consiga mudar o mundo, mas será um canalha a menos. Kenedy para mim era um sábio, coisa que eu não sou.

                            - Sabia que era um tema que sempre me tocou e eu era daqueles que dizia que não devemos mudar de cavalo no meio do rio. Afinal sou um tradicionalista de mão cheia que no passado foi chamado de conservador, burguês e reacionário. - Mas eu precisava dar a ela uma resposta, qual? Nunca tive vergonha de corrigir meus erros e mudar de opinião, porque nunca me envergonhei de raciocinar e aprender.

                             - O Velho Churchill dizia sem nenhuma dúvida que não há mal nenhum em mudar de opinião, contanto que seja para melhor. E era para melhor o que os novos sábios faziam? Está dando certo? De novo me lembrei de Kennedy no alto da sua sabedoria dizendo se formos mudar as coisas de modo como devem ser mudadas, teremos de fazer coisas que não gostaríamos de fazer.

                          - A humanidade não era mais a mesma como no passado. Tudo vai se evoluindo, mas o escotismo precisava mudar pelas mãos de quem não viveu o passado? – Amélia as mudanças são benéficas desde que estejam dando certo. Voce pode mudar sem modo de agir sem sombra de duvida. Como eu também posso mudar meu modo de ver as coisas. Não podemos ficar vivendo da imaginação ignorar que o mundo agora mudou e temos que achar o nosso caminho.

                        – Eu adoraria dizer a você que estas mudanças são para melhor e que tudo vai dar certo. Não existem obstáculos intransponíveis, pois tudo que uma pessoa possa planejar é capaz também de realizar. – Não sei se ela me entendeu e se me fiz entender. Ela sorridente me deu Sempre Alerta e voltou para sua patrulha. Eu fiquei a meditar. Não sabia se acreditava em minhas próprias palavras. Sempre fui um discípulo das ideias do Baden-Powell. Seu seguidor fiel. Adaptei-me a realidade dos novos tempos, mas francamente tinha enormes dúvidas do seu sucesso.


                         - Eu sabia que o que vale na vida não é o ponto de partida e sim a caminhada. Parodiando Millôr Fernandes, meu destino não passa pelo poder, pela religião, por qualquer dessas mudanças idiotas. Meu script é original, fui eu quem fiz baseado no escotismo que acredito e por isto não morro no fim!

Nota -  - Parodiando Mell Glitter, eu digo a você que não tenho nada a esconder. Se você me condena este meu jeito de ser, esta minha mania de transgredir e ir além entrego-me! Sou réu confesso quando se trata de assumir que ultrapassei limites e me divirto com isso... Na verdade, o que não sabem de mim, é pior do que o maior delito que me acusam! Luciana me entendeu melhor!

sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

As lendas que não foram contadas. Uma passagem para um mundo melhor. Moralto.


As lendas que não foram contadas.
Uma passagem para um mundo melhor.
Moralto.

                    - Eu só o vi uma única vez na vida. Na verdade aquele foi um dia especial, não me perguntem por quê. Notei sua figura surgindo na estrada do Alencar, a pé, com um cajado simples, mas com passadas firmes sem se mostrar cansado. Ele não me disse quem era e nem eu perguntei. Quando se aproximou senti um brilho em sua figura e inexplicavelmente ele se transformou. Juro que ao longe estava com uma bata branca e na minha frente portava um uniforme Escoteiro. Como ele podia fazer aquilo? Era mágico? Se fosse o truque era perfeito. Não usava o chapéu e eu sei que naquela áurea brilhante o chapéu tiraria toda sua pose badeniana. Quem seria? Ele sorria para mim, um sorriso encantador, dentes alvos olhos negros, cabelos castanhos compridos.

                 Havia parado ali para descansar um pouco da minha jornada e fazer um café. Precisava. A Árvore da Colina era minha velha conhecida. Pequena, mas com uma folhagem que dava uma sombra invejável. Havia um regato, mas distante. O Rio Barrento ficava do outro lado da montanha. Somente a árvore para nos dar o descanso devido. Queria chegar ao acampamento da patrulha ao entardecer. Uma obrigação a pedido do meu pai me obrigou a ir depois. O acampamento não era longe. Após a curva do Falcão se avistava a mata, a cascata e o bambuzal. Tirei a mochila, pendurei meu chapéu em um galho e duas achas facilitariam o Tropeiro que iria fazer. Na mochila tinha café e pó. Meu canecão militar serviria para esquentar a água.

                  Levantei e disse bem vindo! Ele sorria. Não era bonito, mas tinha alguma uma aparência especial que encantava. Em vez de sapatos usava sandálias. Calado se assentou a sombra junto ao tronco. Fechou os olhos e parecia rezar. Passei o café e ofereci a ele. Olhou meu cantil e me pediu água. Passei para suas mãos e ele bebeu devagar, parecia sorver o líquido com carinho de quem tem sede. Tomou o café me olhando nos olhos. Minha caneca de esmalte parecia brilhar em suas mãos. Fechou os olhos e dormiu por alguns minutos. Acordou sorrindo e levantou. Colocou a mão em minha cabeça e disse – “Que a paz esteja convosco”. Partiu sorrindo acenando e notei que agora estava de novo com a bata branca e seu cajado.

                   Sozinho aproveitando a sombra da Árvore da Colina meditava. Quem seria? De onde veio e para onde iria? O sol já ia se por na Montanha do Cavalo. Era hora de partir. Tinha mais duas horas de jornada pela frente. Conhecia o caminho. Limpei o fogo, joguei uma pitada de água do meu cantil nas brasas, mochila nas costas e parti. Não olhei para trás. A Árvore da Colina tinha o dom de não deixar ninguém partir. A noite chegou mansa e calma. Meu caminho estranhamente era claro, uma estrela no céu jorrava raios brilhantes na estrada. Nunca tinha visto nada igual. Do alto da Colina avistei a curva do Falcão. Estava perto. Meus pensamentos giravam entre chegar e lembrar-se daquela figura tão simples, com um sorriso inesquecível e com uma áurea brilhante que me encantou para sempre.

                     Nunca soube quem era. Não perguntei. Acho que ele sabia que eu iria lembrar-me dele e pensar que ele veio do céu. Se nada me disse tinha seus motivos. Qual eu não sei. Eu era apenas um Escoteiro a ir para seu acampamento. Meu café ele tomou sorrindo sinal que não era ruim. Nunca contei esta história para ninguém. Muitos anos depois vi que aquele dia foi o mais importante em minha vida. Sabia que agora a paz morava em mim. A harmonia e o amor reinavam. A paz de um sorriso predominava. Agora eu sabia que naquele dia, naquela Árvore da Colina, Jesus me deixou entrar em seu coração!  


Nota - "É necessário abrir os olhos e perceber que as coisas boas estão dentro de nós, onde os sentimentos não precisam de motivos, nem os desejos de razão. O importante é aproveitar o momento e aprender sua duração, pois a vida está nos olhos de quem sabe ver". Apenas um conto, uma ficção do impossível e do imaginário que costumo contar. Divirtam-se.

quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

Lendas da Jângal. As aventuras de Pimpinela Escarlate e seu pote de ouro.


Lendas da Jângal.
As aventuras de Pimpinela Escarlate e seu pote de ouro.

                         Passavam das nove da noite. Os lobinhos brincalhões nem pensavam em dormir. Acantonados no Sitio do Balu, eles brincavam de esconde, esconde, um dizia ser Mowgly e outro Bagheera e muitos o Balu. Ninguém queria ser Shery Khan. Olhei para Maninha minha esposa e pisquei os olhos. – Falei baixinho para ela escutar: - Vou contar uma história e logo os primeiros bocejos irão aparecer. Havia dois dias que estávamos acantonados. Seriam quatro dias. Eu e ela estávamos cansados, mas felizes. Afinal eram apenas dois anos de casados.

                      Não esqueço aquele domingo que de surpresa o Pastor Noel Santos adentrou a minha sala. Já o conhecia, gente boa, educado e prestativo. Foi logo entrando no assunto, pois ele não gostava de rodeios: - Polaco preciso de você e sua esposa. É uma emergência. Os dois chefes da Alcateia do grupo da igreja resolveram sair. Não me disseram os motivos, mas quer saber? Acho que faltou diálogo deles com o Diretor Técnico. O pior é que não são os primeiros. Você me ajuda por alguns meses e prometo correr atrás de outros se não der conta!

                     Olhei para Maninha e ela balançou a cabeça concordando. Fui Escoteiro no passado, mas nunca lobinho. Chegamos à sede naquele sábado cheio de motivação. Quando vimos três meninos e duas meninas desanimamos logo. Mas foi apenas o começo, em quatro meses a Alcateia estava com dezoito lobinhos sendo nove meninas. O vento mudou de rumo. Nós seguimos o vento e nunca nos arrependemos por ter aceitado aquela responsabilidade. Naquela noite, devagar, fazendo gestos, comecei a contar a História de Shery Khan. Sabia que a maioria novata não conhecia:

                    - Há muito tempo, em um país chamado Índia havia na floresta um enorme um tigre, muito mau, muito feroz que todas as noites percorria a selva em busca de alimentos. Chegou a uma clareira onde estavam acampados um lenhador e sua família. Pensou que eles seriam o banquete que ele sonhava. Viu um bebê de menos de dois dormindo. De um salto pegou a mulher do lenhador. O Lenhador com sua espingarda correu para atirar nele e Shery Khan fugiu. Naquele corre, corre o menino fugiu para dentro da floresta. Assustado encontrou na colina uma enorme Loba que se chamava Raksha juntamente com seus quatro filhotes. Viu que o tigre cruel queria comê-lo e então o levou para sua caverna onde morava.

                           Polaco o Balu viu que um menino balançava a mão. - Balu! Ele disse. Quando terminar o Senhor conta a história do menino e seu pote de ouro? Polaco viu que era Josué, mas todos o chamavam de Pimpinela Escarlate. – Não conheço está, ele disse. – Balu, é aquela que o menino soube que havia no final do arco íris um pote de ouro, todo mundo ria e sabia que era mentira, mas o menino não. Ele foi lá e encontrou o pote de ouro. A mente de Polaco o Balu voltou cinco meses atrás.

                        Ele não esqueceu quando a mãe de Pimpinela o matriculou na Alcateia. Era um menino comum, igual a tantos lobinhos que ele conhecia. Mas tinha uma mente fértil e muitas vezes ele parava e parecia estar dispenso, viajando pelo pensamento em algum lugar. Ele gostava de Pimpinela, gostava de todos na Alcateia, mas Pimpinela e Nancy tinha um lugar especial no seu coração. – Posso contar outro dia? Falou Polaco o Balu. Hoje não dá mais tempo. Prometo na próxima reunião.

                     - Vendo que a maioria dormia sentados na grama, Polaco o Balu resolveu terminar história de Mowgly: - E foi então que Raksha se uniu ao seu esposo para expulsar o tigre dali, pois ela havia se proposto a cuidar do menino, que um dia cresceria e teria condições de matar o Shere Khan. – Polaco o Balu viu que o sono estava no rosto de todos os lobos. Ele e Maninha conduziu a lobada para dormir. Noite enluarada já haviam preparado as barracas onde passariam aquela noite.

                      Polaco o Balu e Maninha nem perceberam quando amanheceu. O sol já ia alto. Muitos lobos já tinham acordado e faziam uma gostosa algazarra na grama perto do campinho de futebol. Maninha se aprontou e formou os lobos. Na cozinha Dona Eufrásia já estava de pé e fazia o café da manhã. Uma mãe de Escoteiro que eles tiravam o chapéu. Sempre pronta a ajudar sem esperar recompensas.

                       Foi no café, já dia claro que deram falta de Pimpinela Escarlate. Ninguém sabia dele. Paolo o lobo da matilha cinzenta foi quem contou que ele ia achar o pote do ouro. Polaco o Balu olhou para o céu e viu um belo arco íris. Em algum lugar perto dali deveria ter chovido. O susto foi grande. Dona Eufrásia ficou tomando conta enquanto os dois chefes partiram atrás de Pimpinela Escarlate. Estavam preocupados. Sabiam que não havia cisternas sem tampa, nenhum rio e só um pequeno riacho. A montanha sumia de vista. Será que ele foi para lá?

                    Andaram e andaram e nada. Ambos roucos de tanto gritar por Pimpinela Escarlate. A mente de Maninha corria a mil. Como contar para a mãe dele que ele sumiu? Nunca deveriam ter dormido tanto e esqueceram de que estavam em barracas e o som do riacho e dos pássaros os fez dormir a sono solto. Polaco o Balu e Maninha já estavam desistindo. Não queriam fazer do sumiço de Pimpinela um espetáculo para que todos dissessem que o escotismo não cuidava de seus meninos. Maninha chorava baixinho. Polaco o Balu tirou seu celular e já discava para o Corpo de Bombeiros. Precisava de ajuda e agora era hora de assumir as responsabilidades.

                   Foi Maninha que olhando para a montanha julgou ter visto Pimpinela descendo pela trilha. Correram até lá e o avistaram. Graças a Deus! Bendito seja todos os santos! Pimpinela estava ali são e salvo. Polaco o Balu prometeu a si mesmo nunca mais deixar nenhum sozinho. Pimpinela não era de confiança. Quando chegaram perto levaram o maior susto. Impossível, inacreditável. Ninguém iria acreditar. Mas era verdade, na mão de Pimpinela Escarlate estava lá, um pequeno pote e dentro cheio de ouro!


Nota - As histórias de lobinhos sempre me divertem. Mesmo na sua simplicidade elas enchem meu coração das lembranças do meu tempo de lobo... Como viver sem elas as vésperas do dia do Lobinho desta turminha adorável com seus sorrisos maravilhosos? Apenas um conto. De um lobo, nada mais...

quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

Chefe! Reme sua própria canoa...


Chefe!
Reme sua própria canoa...

                  Plutarco era um Chefe Escoteiro exibido que gostava de mostrar os seus conhecimentos com arrogância e valentia. Ele achava que fazendo assim seus escoteiros o respeitariam mais. Esquecia-se de perguntar se era amado e respeitado. Seus escoteiros não tinham por ele muita simpatia. Tomarov um pioneiro era Assistente da tropa e como bom aluno era bem falante queria sempre imitar o Chefe Plutarco. Estilos iguais mostravam que o futuro da Tropa não era nada promissor.

                 Bem não vamos menosprezar, pois eles tinham algumas vantagens que sobrepujavam as desvantagens. O Acampamento de verão se aproximava. Seriam oitos dias e eles queriam escolher um bom local, boa aguada, lenha à vontade e muitas touceiras de bambus para pioneiria. Um pai havia lhe confidenciado que do outro lado do Rio Camberra havia um lugar assim. Combinaram e em um sábado pela manhã puseram-se a caminho.

                Embrenhando em uma floresta nativa chegaram a um arraial pequeno, onde se avistava o Rio Camberra. Era um rio bem largo de águas traiçoeiras. Difícil sua travessia. Havia um barqueiro que atravessa as pessoas de um lado para outro cobrando uma passagem bem razoável. Em uma de suas viagens Plutarco e Tomarov embarcaram. Como bons falantes e entendidos iam mostrando aos demais passageiros suas inteligências e conhecimentos que passavam longe da dominação de um barco como aquele.

               Em dado momento Plutarco displicentemente pergunta ao barqueiro: - Senhor Barqueiro o senhor entende de escotismo?
- Não senhor respondeu o barqueiro.
- Tomarov e Plutarco compadecidos e rindo disseram: - É pena porque perdeu uma das mais lindas filosofias que pode existir. Tomarov o Pioneiro que sempre foi metido a entendido em todo tipo de assunto querendo esnobar mais ainda o pobre barqueiro sapeca outra pergunta:

- Senhor Barqueiro, o senhor conhece nossa Lei?
- Também não – Respondeu o remador.
- Que pena – Condói-se o pioneiro.
E arremata: Você perdeu metade do esplendor do belo do escotismo.

             A viagem seguia com os dois desfazendo do pobre barqueiro e seus conhecimentos do escotismo. Após cansarem das perguntas se entreolharam rindo e dando belas gargalhas entre si. Alguns embarcados calados viam a pose dos dois chefes escoteiros falantes e não disseram nada que pudesse interpretar a sua falta de conhecimento deste tal movimento Escoteiro. Nem sabiam o que era e nunca tinham ouvido falar.

             Em dado momento para surpresa de todos, uma grande onda chega e vira o barco. - O barqueiro preocupado, grita aos dois que estavam afundando:
- Você Chefe Escoteiro e Pioneiro sabem nadar?
- Não! – Responderam eles rapidamente.
- Então é uma pena – Concluiu o barqueiro.
- Vocês perderam toda a sua vida!


Moral da história: - Quem acha que sabe tudo não sabe nada. Risos.

Nota - Reme tua própria canoa Escoteiro!

Não deixes cair teus olhos, não te deixes enganar,
Olha de frente os escolhos, olha podes encalhar.
É urgente estar atento, ver para onde corre a maré,
Ver de onde sopra o vento, não vás tu perder o pé.

BP é quem diz, oh! Reme a tua própria canoa.
Se queres mesmo ser feliz, não te deixes ir à toa,
Reme a tua própria canoa, reme a tua própria canoa.

A vida não é deserto não queiras ficar no cais
Lenço rubro é rumo certo decide tu aonde vais
Não queiras ficar no cais.

terça-feira, 26 de dezembro de 2017

Lendas Escoteiras. Bandeiras ao vento!


Lendas Escoteiras.
Bandeiras ao vento!

                           O topo da montanha do Guairá estava longe, a Patrulha Kalapalo seguia a trilha dos seus antepassados. Todos sabiam que a Bandeira de Brás Esteves Leme passou por ali ha muitos e muitos anos. Brás era filho de outro sextanista e deu sua vida para achar as esmeraldas de Fernão Dias Paes Leme. Sertanejou na região limítrofe de Minas Gerais com São Paulo e antes de morrer nos anos de 1700 se estabeleceu em Pindamonhangaba. Tarântula um Sênior novato e estudioso foi quem sugeriu a caminhada. – Seria uma aventura e tanto seguir os passos de Brás Esteves Leme disse. Iriam percorrer parte do trecho já que só tinham três dias. Partiram a noitinha de quarta feira recebendo as bênçãos do Padre Ludovico.

                          Mesmo a noite com ventos calmos e frescos a subida era uma tortura. Eram seniores experimentados e em suas mochilas levavam o essencial. Calmon o escriba de cabeça baixa pensava que maluquice fora esta de aprovar tal atividade. Jonathan o cozinheiro pensou em sugerir uma parada para fazer um chocolate quente. Para ele não tinha segredos um fogão estrela, um tropeiro ou mesmo um trincheira para evitar acidentes na floresta. Quintino o sub pensava que estava na hora de parar. Será que Valete o Monitor tinha esquecido? Isto nunca aconteceu. Sabiam que Valete era experiente, fora guia de Tropa e sempre sabia onde metia sua cumbuca em jornadas ou atividades aventureiras.

                          Mesmo com a brisa fresca os seniores suavam e até Donatela a única guia presente fazia tudo para não demonstrar que a caminhada estava sendo um suplicio. Ela sorria para si mesma ao pensar nas grandes atividades que fizeram com os seniores. Tinha orgulho de pertencer a Patrulha Kalapalo. A trilha tinha ficado mais difícil a cada curva a cada passada. Cem duzentos metros se tornara um enorme sacrifício de percorrer. Algum aconteceu, pois Valete que ia a frente parou sem dizer nada. A patrulha o seguiu. Por alguns minutos só se ouvia os grilos da montanha e os pirilampos que rodeavam os seniores aventureiros.

                          - “uma fogueira há cem metros” Valete disse baixinho no ouvido de Donatela que vinha logo atrás. Ela treinada para os grandes jogos noturnos que faziam na Tropa Sênior, repetiu para Jonathan que fez o mesmo com Quinino e este a Calmon. Tarântula sorria. Quem sabe vamos filar um cafezinho quente? Foi então que um vozeirão repicou naquela trilha da Montanha do Guairá. – Caolho! Os meninos chegaram! – O que faço com eles? – Caolho veio ver quem era os meninos.  – Nossa! Eles são Escoteiros Tiro Certo. Os Seniores continuaram em silêncio. Correr era perder tempo. Só uma trilha e em curva dando facilidade para Tiro Certo acertar qualquer um. – Caolho olhava nos olhos de cada um e sentiu um arrepio na espinha, pois não demonstravam medo.

                            Tirou de sua cintura um facão cuja lâmina brilhou ao luar. Tiro Certo sorria maliciosamente. – Vamos comer disse Calmon. Peguem no Tropeiro duas juntas de javali que matamos hoje. Podem comer a vontade! E deu uma enorme gargalhada. Jonathan respirou aliviado. Tiro Certo chegou próximo a Donatela que não demonstrou ter medo dele. Foram até o acampamento deles para manter respeito sem se subordinar. Tiro certo era baixinho, com um bigodinho preto e Caolho era enorme com uma venda preta no olho esquerdo. Os seniores sentaram-se em volta do fogo. Jonathan o cozinheiro tirou uma lasca da carne que estava assando. Ainda pingava sangue. Comeu e balançou a cabeça. Todos sabiam que poderiam comer sem problema.

                            - Eu também fui Escoteiro disse Caolho. Calmon deu uma enorme gargalhada pela mentira, mas viu que era melhor ficar sério.  Tarântula perguntou onde. – Dois meses em Capiacanga. A carne mal passada do javali tinha um cheiro horrível, mas estava gostosa. Caolho se levantou cortou um pedado do sisal que tinha na sua mochila e começou a fazer nós. Todos olhavam embasbacados. Era um perito em nós. Valete se levantou e nem olhou para Caolho e Tiro Certo. – Está na hora disse. Vamos em frente. Deu a mão esquerda para Caolho que ficou sem saber o que fazer. Todos viram que ele nunca fora Escoteiro. Levantaram-se deram o grito de patrulha e partiram. Tiro Certo e Caolho estavam espantados com tamanha coragem e nada disseram.

                           O cansaço da subida desapareceu. Agora não demonstravam medo. Seguiram a lua que nascia no horizonte. Duas horas depois pararam. Eram três da manhã. – Vamos dormir um pouco. Amanhã partimos ao nascer do sol disse Valete. Dormiram e dividiram o tempo de sentinela. Quintino de olhos no céu começou a contar estrelas. Dormiu antes das duzentas. Calmon rezou uma pequena oração. Todos em silêncio acompanharam sua reza. Tarântula imaginava como devia ser a vida de bandoleiros. Jonathan repetia para si mesmo: Quem ousa conquista e saiu para a luta, irá chegar mais longe. Donatela atualizou em segundos o que passaram no livro da patrulha e dormiu em seguida. Valete dormia o sono dos justos. Sua experiência para enfrentar as adversidades era conhecida.


                           No retorno da Montanha do Guairá, cinco seniores e uma guia cantavam na descida. Quantos anos ainda ficariam juntos não sabiam. Lembraram-se de Donatela quando saiu da Tropa das Escoteiras ensinou a cada um deles: - Não desista, vá em frente. Sempre há uma chance de você tropeçar em algo maravilhoso. Nunca ouvi falar em ninguém que tivesse tropeçado em algo enquanto estava sentado ou dormindo. É como dizem os seniores do mundo? - O futuro é nosso, vamos prosseguir. Vemos longe a brilhar a nossa estrela Dalva. Quando se é jovem não se pode desistir Marchar avante, e sempre avante, por sobre a terra, sobre os ares e pelo ar continuando se os outros param Sorrindo sempre! 

Nota -Não desista, vá em frente. Sempre há uma chance de você tropeçar em algo maravilhoso. Nunca ouvi falar em ninguém que tivesse tropeçado em algo enquanto estava sentado ou dormindo. - Uma patrulha Sênior e uma Guia. Todos procurando novos horizontes novas aventuras. No alto da serra dois bandidos esperavam. Para eles o medo não existia. Uma história de seniores com um pouco de realidade, mas nada além do que ficção. Sempre Alerta!

segunda-feira, 25 de dezembro de 2017

Contos escoteiros - Lorenzo.


“Lorenzo”

                  - Lorenzo, você me pede para ser Escoteiro. Conta uma parte da sua e me diz que não acredita em nenhuma religião. Promete fazer tudo para ser aceito por mim e a patrulha, mas que seja liberado da promessa, pois não irá prometer no que não acredita principalmente Deus e a Pátria. Diz você que é um humanista e agnóstico, que ninguém pode provar que Deus existe e que por isso não perde tempo em discutir religião. Ri e me repete que duas mãos trabalhando fazem mais que milhares unidas rezando.

                  - Eu disse a você que seria bem vindo, mesmo que pensasse assim. Pedi para trazer seus pais e você se recusou. Disse que eles não pensam como você e que com seus dezesseis anos já é dono de sua vida. Não quer ficar mal com eles, pois são cristãos. Diz para mim que não teme morrer, pois não acredita em céu inferno e o Paraíso. Confirma que a morte para você é um nada e por isto não tem medo da morte. Sorri dizendo que é feliz da maneira com que vive e acredita.

                    Você viu que eu fiquei calado ouvindo, pensei comigo como seria sua participação junto aos seus companheiros, se aceitaria a fé que eles têm ou sublevaria para mostrar que a fé não existe. Pensei em dizer se você nas reuniões todos orando como se sentiria sozinho sem rezar. Iria respeitar ou iria sorrir? Pensei na sua promessa assistida por todos você dizendo: Prometo fazer o melhor possível para... Sem Deus? Sem saudar a Pátria? Pensei como seria sua vivencia na natureza, prova viva da criação vendo as formigas, as borboletas coloridas, os beija flor e o cantar dos pássaros se eles também seriam como você.

                  Para você não existe o outro lado o outro lado é aqui. O que diria quando sua patrulha no alto da montanha visse um lindo por do sol e alguns iriam fazer uma circunflexão e dizer obrigado senhor por ter deixado que eu veja sua grande criação? Até pensei em um santo que dizia: - Nenhum homem diz “Deus não existe”, a não ser aquele que têm interesse em que Ele não exista!

                    Você foi embora, tentou se explicar, mas desistiu. Fiquei tristonho. Queria você Escoteiro, queria ter mais um irmão, mas você seria o único, eu e você sabíamos que não ficaria a vontade com alguém que pensa diferente de você.

Sujeito que clama e berra. Contra a vida a que se agarra,
Vive em perene algazarra, colado aos brejais da terra.
Do raciocínio faz garra, com que à verdade faz guerra,
Na desdita em que se aferra à ilusão em que se amarra.

De mente sempre na birra. Ouve a ambição que lhe acirra
A paixão que o liga à burra. Mas a luz divina jorra
E a vida ganha a desforra na morte que o pega e surra.
Alfredo Nora.


Nota - Apenas um conto. Um continho sem eira nem beira. Mas será que tenho direito de escrever sobre o tema? Como analisar tudo isso se acredito piamente em Deus? Penitencio-me, peço perdão a quem se sentir ofendido. Não quero tirar o direito de ninguém. Mas não sei se será fácil uma participação de alguém no Escotismo que não acredita em... Deus! Abraços fraternos. 

domingo, 24 de dezembro de 2017

Contos de natal. Os sete filhos de Moisés.


Contos de natal.
Os sete filhos de Moisés.

                 Foi um natal inesquecível. Nunca esqueci. Tudo aconteceu no dia 24 de dezembro ao pé do monte Canaã, bem próximo ao Mar da Galileia. Portentoso o Rio Jordão corria para terminar no Mar Morto. Eu nasci em Israel cidade abrigada por montanhas centrais e que até hoje faz parte da história do Velho Testamento. Canaã era uma cidade pequena e lindamente florida. Na Rua dos Reis Magos morava Moisés, um homem alto, forte que todos diziam ter mais de 100 anos. Moisés tinha um belo sorriso e admirado por todos os habitantes de Canaã. Zípora sua esposa faleceu e o deixou com sete filhos seis homens e uma mulher.  Idades próximas já que havia dois pares de gêmeos Thiago e João Lucas, Davi e Josué. Só Ismael Ruth e Israel não eram gêmeos.  Conta uma lenda que Deus por meio do seu espírito tomou a forma humana para abençoar e batizar os filhos de Moisés.

                  Aarão Chefe Escoteiro me contou está história. Parei para tomar um refresco já que a tarde estava quente em sua Taberna vazia. Conversa vai conversa vem sentamos em uma varanda com uma linda vista do Mar Morto. Aarão falava baixo, voz rouca e vestia um saiote escocês que até hoje não entendi porque usava ali. Dizem que Escoteiros sabem quem são e não passam despercebidos. Convidou-me para pernoitar ali à noite. Poucos transeuntes sentia falta de bons papos principalmente dos que participavam do movimento escoteiro. Todos os viajantes gostavam dos habitantes de Canaã. Uma cidade tranquila que acolheu muitos deles vindo do norte. Àquela hora da tarde não havia ninguém a vista. Hora da “siesta” rotina de muitos que vieram da Mesopotâmia e que resolveram arranchar na cidade. Aarão era semita, oriundo da Babilônia bem próximo ao Rio Eufrates.

                Aarão não fora Escoteiro. Convidado montou uma Tropa e por pedido dos pais aceitou algumas meninas. Moisés o procurou oferecendo ajuda e foi um baluarte na montagem do grupo em seu início. Inscreveu seus sete filhos e por votação eles decidiram ter sua própria patrulha a qual deram o nome de Garça Branca. Nunca tinha ouvi falar em uma patrulha formada por irmãos e me interessei pela história. Decidiram em Conselho de Patrulha que o Monitor seria eleito conforme a necessidade da atividade dando condições para que cada um pudesse ter a experiência e aprender a ser um líder de patrulha. Eram exemplos para os demais escoteiros. Nunca houve uma altercação, uma discussão, uma palavra áspera, pois levavam ao pé da letra a Lei Escoteira e sem esquecer também a Lei de Moisés. – Sabe amigo – Dizia Aarão, foi numa terça feira, férias escolares, que me pediram para acampar.

                              Moisés aprovou, pois se eles queriam e sabiam o que fazer nada os impediria de acampar. – Aarão – dizia Moisés - Me prometeram que estariam de volta a noitinha do 24 de dezembro, para a missa do galo que frei Kety e Frei Ramsés com mais dois monitores iriam celebrar. Nunca perderam essa missa e Moisés confiava nos seus filhos. Partiram ao alvorecer, ainda com o orvalho caindo nas montanhas do Monte Sinai. O dia prometia. Em fila os habitantes sorriram a vê-los passar cantando o Rataplã. Foi Ruth quem contou como tudo aconteceu depois. Onze da noite do dia 24 de dezembro e não haviam chegado. – Chefe contou Ruth, seguimos pelos Pirineus até a trilha do Monte Carmelo onde montamos o acampamento. Tudo transcorria bem preparávamos as etapas de Primeira Classe e a Correia de Mateiro de João Lucas.

                            Em dado momento sentimos falta de Israel. Isto não era comum. Davi usou seu apito sonoro, sinalizando o S.O.S e nada. Saímos para procurar. João Lucas era mestre em pista. Encontrou uma pegada de Israel. Fomos a todos os lugares possivel. Do alto do Monte Carmelo dava para avistar o Monte Tabor e até o Monte das Oliveiras onde Jesus fez seu sermão da montanha. As pistas eram fáceis de seguir e nada de Israel. À tardinha antes do escurecer voltamos para o acampamento. Thiago chorava baixinho e eu também. Todos não sabiam o que fazer.  João Lucas, Josué e Ismael cabisbaixo também choravam. Davi ajoelhou e começou a rezar. Ajoelhamos com ele. Eles lembravam que ele não queria vir ao acampamento, era o menorzinho dos irmãos. A noite chegou. Não havia fome, não ouve jantar. Não sabíamos o que fazer. Só Deus para nos ajudar.

                     Moisés na praça esperava inquieto a chegada dos filhos. Não queria terminar sua vida assim. Pensou se Deus o abandonara, mas rezou de novo e acreditou que teria ajuda. Nem sempre entendemos principalmente o modo como Deus age. Quando tudo diz que não há solução acontece então os milagres. Moisés amava seus filhos. Ele sabia que sua vida foi repleta de ensinamentos. Ele sabia do modo como Deus o moldou e o fez capaz de criar seus filhos. Ele sorria como se fosse o verdadeiro Moisés das Taboas da Lei. Ele sabia que nunca foi abandonado e mesmo não sendo filho e neto de um rei ele soube criar seus filhos muito bem. Confiava neles, deu a eles os melhores ensinamentos, e uma vida cristã invejável. Onde estariam àquela hora? – Deus! Oh meu Deus! Não posso perdê-los. Fazei de mim seu instrumento, fazei o que quiser, mas traga-os de volta para mim!

                      Os sete jovens ajoelhados em frente à barraca, bem próximo ao Monte Sinai avistaram um imenso vermelhão no céu. Uma estrela enorme que iluminava tudo a sua volta. Descendo a montanha Israel vinha devagar, segurando um cajado e atrás dele viram três velhos pastores montados em camelos. Vestiam túnicas azuis, grandes barbas brancas, e o elevarem no ar até onde estavam. – Um deles falou como um Rei dizendo – Está tudo bem, vão para casa, seu pai os espera na igreja. Thiago, João Lucas, Davi, Josué, Ismael e Ruth abraçaram Israel. Um milagre aconteceu. Ele caiu em uma cascata de pedras e quebrara o joelho. Não podia andar. Os três homens que estavam montados em camelos o socorreram – Disseram para ele: - Vamos Escoteiro, vamos levar você aos seus irmãos. Temos que ir embora, pois Jesus de Nazaré vai nascer! Partiram e lá no céu cantavam: £ “Jesus nasceu. O mundo vai mudar...” £. E foi assim que Melchior, Baltazar e Gaspar partiram para estarem com Jesus.


                     Voltei para casa pensativo. Seria verdadeira a história de Aarão? Perguntei a ele onde morava Moisés e ele sorriu sem me dar resposta. Até hoje me pergunto se poderia haver uma patrulha de irmãos. Não sei. Aarão me disse que sim. Bem quando tudo parece perdido, melhor é procurar refletir o que a gente sente e o que poderá ser. Feliz noite de natal, paz na terra aos homens de boa vontade!

Nota - Esta é a minha ultima história de natal neste mês. Ainda tenho muitas outras para publicar. Um dia quem sabe. Todas elas estarão à disposição breve em um dos meus blocos a partir de janeiro. Nada que a ficção não possa nos mostrar os milagres de Deus e sua participação em nossas vidas. Feliz Natal!

sábado, 23 de dezembro de 2017

Contos de Natal. Um certo curso de Gilwell.


Contos de Natal.
Um certo curso de Gilwell.

               Os alunos iam chegando cumprimentando e sorrindo. Julião um Velho Chefe Escoteiro e Diretor do Curso era muito conhecido em seu Estado. Idade avançada muitos haviam lhe aconselhado que desse folga a si mesmo. Chefe, estas atividades exigem muito esforço para que o curso fosse pródigo em dar o que todos precisam. Afinal ele sabia que o elixir do conhecimento era o que muitos desejavam. Seriam oito dias intensivos. Julião nunca abriu mão dos seus cursos que fossem cópias fieis ao programa editado em Gilwell Park. O presidente da Região e muitos membros formadores eram contra. - Porque só ele tem esse direito? Falar diretamente com ele ninguém tinha coragem. Afinal era um dos mais antigos formadores e só seu nome era motivo de centenas de inscritos o que dava sempre trabalho para escolha. Desta vez mais de 200 e no final foram separados os 32 primeiros inscritos.

                Julião gostava disto. Sentia-se de bem com o escotismo que praticava. Sempre acreditou que dali sairia bons chefes e com isto o escotismo só tinha a ganhar. – Chefe Julião já chegou? Perguntavam os primeiros a chegar na arena geral do campo escola. Era sempre o primeiro, mas neste chegou em cima da hora. Não comentou com ninguém a dor no peito e a falta de ar quando saia de casa rumo ao curso. Nem mesmo disse a Mamã sua esposa o que sentia, pois sabia que ela iria fazer tudo para ele não ir. – Não posso ficar como um pária, um excluído sem dar minha colaboração ao meu amado escotismo. 81 anos e sabia que não iria parar nunca. Sempre diziam que ele iria viver para sempre.

                 Fez questão de cumprimentar um por um dos alunos, dar um abraço e um sorriso como se ele o aluno fosse mais importante que o Diretor. Reuniu sua equipe composta de quatro chefes e uma Chefe. Ele conhecia um por um, alguns ainda não tinha atuado com ele e iriam aprender muito. Nunca acreditou em equipe finita, pois todos deviam ter as mesmas oportunidades em ter seus conhecimentos aumentados conforme ele mesmo defendia nos seus cursos. – Podemos sim mudar se preciso, mas o que B-P deixou com seu método e o programa Escoteiro este é imutável. Nunca discutiu tais ponto de vista com nenhum outro formador. Quando diziam diferente ele comentava: - Mudam muito e ouvem pouco e o pior não ficam muito tempo para ver o que fizeram!

                 Tinha realizado duas reuniões antecipadamente com a equipe. Dois eram velhos conhecidos e os demais não. Em cima da hora pediu ao Chefe Alvorada para formar a Tropa. Fazia questão da disciplina e disto não abria mão. – Todos terão oportunidade para se manifestar no andar do curso. Isto era uma rotina onde ele ouvia um por um, seja em uma dinâmica ou mesmo nas horas de tempo livre que aproveitava para passear nos campos de patrulha e amigavelmente ouvir e quem sabe aconselhar se preciso. Apresentou-se rapidamente e pediu que a equipe fizesse o mesmo. Todos deveriam dizer sua experiência escoteira, do Formador ao aluno mais novo. Sempre dizia a si mesmo e aos demais que se você não sabe fazer a massa não sabe fazer o pão.

                 Ele tinha poucas palestras para fazer. Fazia questão dos Deveres para com Deus e disto não abria mão mesmo sabendo que esta unidade didática não mais estava sendo usada entre os atuais formadores. Programando o programa, Lei e promessa e sistema de patrulha eram outras que ele se sentia bem ao palestrar junto aos alunos. – Sem isto não temos escotismo, se outros não fazem é um direito deles e espero que tenham bastante experiência para contradizer e demostrar em suas tropas que o que fazem está dando certo. Após a rotina inicial, liberou as patrulhas para escolherem seus campos e deu duas horas para tudo estar pronto. Tudo? Isto mesmo. Cozinha com toldo e fogão suspenso, barracas armadas e mesa com bancos e toldo. Sem esquecer as fossas e a latrina de campo. Afinal era um curso da Insígnia de Madeira e não podia ter “Pata Tenras”.

                Muitos duvidavam que duas horas fossem suficiente. Mas os chefes alunos sorriam e iriam demonstrar para os incrédulos que eles não iam falhar. Julião quando viu todos pegando sua tralha e indo para seus campos começou a sentir uma dor no peito e viu que ela não iria parar. Pegou um analgésico, um copo de água e tomou. Isto sempre bastou para parar. Não resolveu e começou a cair. Foi amparado por muitas mãos que estavam ali na Arena Geral. Uma ambulância foi chamada e muitos acharam que desta vez não tinha volta. Sua família foi avisada e no leito do hospital ele exigiu que o curso não fosse interrompido. Passou o bastão para o mais antigo. Ficou cinco dias entre a vida e a morte. Acordou no nono dia véspera de natal e viu que o quarto estava cheio de amigos.

              - E o curso? Perguntou. – Chefe, mesmo com a preocupação com sua saúde ele foi feito conforme suas instruções e sempre observado as exigências de Gilwell. Uma grande fotografia dos cursantes adornada em uma moldura foi entregue a ele que em posição de sentido davam seu sempre alerta ao seu mentor que não pode ir até o fim. Julião olhou para a foto e seus olhos molhados com as lagrimas que caiam. Sua esposa ao seu lado o abraçou, seus filhos vieram para ficar juntos a ele naquele instante. Julião ficou mais vinte dias no hospital. Durante mais seis anos Julião ainda permaneceu na terra, mas sem fazer o que mais gostava. O escotismo para ele estava na alma no coração e na mente.


Faleceu aos 93 anos dois dias antes do Natal. Quem estava presente nunca esqueceu o que disse: - Mamã! Está na hora de partir. Era assim que ele chamava sua esposa. Ele chorando o beijou. Seus filhos o abraçaram pela última vez. Julião foi sepultado no dia 24 de dezembro daquele ano. Não houve milagres, pois sua hora havia chegado. Até hoje ele é lembrando pelo seu sorriso e pelo seu abraço que fazia questão de dar a cada um dos alunos que tiveram a honra de participar dos seus cursos. Na lembrança suas palavras permanecem até hoje: - Chefes aprendam muito, sorriem muito para seus escoteiros e Escoteiras, e não esqueçam nunca: - Quem não sabe fazer a massa não sabe fazer o pão!

Nota - Julião é até hoje lembrando pelo seu sorriso e pelo seu abraço que fazia questão de dar a cada um dos alunos que tiveram a honra de participar dos seus cursos. Na lembrança suas palavras permanecem até hoje: - Chefes aprendam muito, sorriem muito para seus escoteiros e Escoteiras, e não esqueçam nunca: - Quem não sabe fazer a massa não sabe fazer o pão!

sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

Contos de natal. E aí Pedrão Pioneiro, nada como um dia após o outro!


Contos de natal.
E aí Pedrão Pioneiro, nada como um dia após o outro!

“Em uma montanha bem perto do céu, se encontra uma lagoa azul que só a conhecem aqueles que têm a dita de estar em meu clã”!

           E quem disse que a vida do Pedrão Pioneiro era fácil? Ele sabia que não, mas como bom Escoteiro que sempre foi enfrentava tudo com um sorriso nos lábios. Enquanto sua mãe cozinhava para a Fábrica de Motores ele podia estudar. Agora não mais. Ela ficara doente e a mandaram embora. Reclamou na justiça e eles recorreram. O advogado disse que poderiam protelar por muitos anos. Ficaram a Deus dará. Ele seu irmão Juventino de seis anos e sua mãe que já estava chegando aos setenta.

          Pedrão Pioneiro tinha 21 anos e trabalhava em uma loja de calçados. Salário Mínimo e comissão. Tirava uns mil e trezentos por mês. Pagava sua faculdade novecentos. Não dava para a família comer. Teve que trancar a matrícula. O pior aconteceu. Devido dar muita atenção a sua mãe que mal podia andar faltava muito ao serviço e foi demitido. Chorou e implorou ao seu Nonato para ficar. Nada feito. Seu Nonato foi inflexível. O pior que isto aconteceu uma semana antes do natal. Belo presente de Papai Noel pensou. O Clã partira para o Rio de Janeiro. Foram convidados por pioneiros cariocas a passarem o réveillon com eles. Ele não foi. Ir como? Sem dinheiro? Deixar sua família em dificuldade? 

♫ “A sede de riscos que nunca se acaba, as rochas que há a escalar o rio tranquilo que canta e que chora jamais poderei olvidar”.

           Pedrão Pioneiro soube que havia uma vaga na loja de calçados do shopping Sol Nascente. Levantou cedo e partiu. Seu dinheiro acabara e nem para o ônibus tinha mais. Seguiu a pé. Não era longe, menos de doze quilômetros. Quantas vezes ele fez mais que isto nos Escoteiros? Riu com as lembranças. Mas no fundo chorava sem ninguém ver. Ele sabia que só tinham alimentos para mais dois dias. Depois só Deus para ajudar. Quando atravessou a Avenida Rebouças uma multidão correndo. Ele se assustou e ficou em pé em frente a um bar que já havia descerrado suas portas.

             Vários policiais o agarraram e batendo com seus cassetetes gritavam – “Toma seus Black Bloc filhos da mãe”! Pedrão Pioneiro tinha ouvido pela TV da baderna que faziam. Cruz credo logo ele um Escoteiro, um amante da paz apanhando daquele jeito? Levaram-no preso para o oitavo distrito. Foi jogado em um camburão com mais seis. Um inferno! Não podia se mexer e feriu seus pulsos com a algema que lhe colocaram. Os que estavam com ele logo foram soltos. Na delegacia advogados estavam lá a espera. Ele? Um pobre coitado sem eira e nem beira e nem conversou com o delegado. O levaram para o cadeião de pinheiros. Jogaram-no em uma cela de três por quatro junto com mais vinte presos.

♫ “No alto da serra na gruta escondida, foi lá que eu fiz o meu lar”. “Subindo e descendo com corda ligeira, eu vi o meu clã acampar”.

            “Meu Deus!” rezava Pedrão Pioneiro. Ajuda minha mãe e meu irmão ela está doente e ele só tem seis anos! Pedrão Pioneiro no noticiário das seis apareceu como Chefe dos Black Bloc. – Preso o mais perigoso arruaceiro de São Paulo! Diziam em alto e bom som. Logo ele? Um Escoteiro? Uma pessoa que nunca fez mal a ninguém? Passou mais três dias na cadeia. Todas as noites seus olhos se enchiam de lágrimas a pensar em sua mãe e seu irmão. Dia 24 de dezembro véspera de natal ele foi solto. Esperava-o na Secretaria da Cadeia o Delegado Paulo Santos. Olá Pedrão Pioneiro, o que eles fizeram com você? O delegado Paulo Santos quando ele passou para Escoteiro com onze anos estava nos seniores fazendo a Ponte Pioneira.

           Pedrão Pioneiro tinha se esquecido dele, mas ele não se esqueceu de Pedrão Pioneiro. Foi ele quem o soltou. Deu uma carona até sua casa e Pedrão Pioneiro não aguentou. Chorou de felicidade em saber que amigos no escotismo são amigos para sempre. A surpresa maior foi ver na porta de sua casa dezenas de Escoteiros e chefes do seu grupo e de outros da redondeza. Eles souberam do acontecido e em nenhum momento acreditaram na acusação. Uma campanha do quilo e o problema da comida de Pedrão e sua família estava resolvido por alguns meses.

♫ “O sol no caminho, a seguir direciona, o vento estimula a andar, paredes e vidros e grandes rochedos, repetem o eco a cantar”!

           Era noite de natal. A mãe de Pedrão Pioneiro fez uma linda ceia. Convidou o Delegado Paulo Santos que ficou por alguns instantes. Tinha de partir para ficar com a família dele. Dois pioneiros que não viajaram para o Rio de Janeiro ficaram com ele até a meia noite. Uma parte resolvida pensou Pedrão Pioneiro. Pelo menos comida eles teriam por alguns meses, mas e depois? Pedrão Pioneiro sorria ao ver o irmão Juventino brincando com amigos. Uma hora da manhã e uma perua parou em sua porta. Pedrão a viu, pois estava no portão vendo o belo céu cheio de estrelas. Viu que era a Perua da Loja de calçados que trabalhava. O próprio “Seu” Nonato desceu e chorando pediu desculpas a Pedrão Pioneiro.

          – Olhe eu fiz um cálculo errado na sua rescisão de contrato. Faltaram doze mil reais e fiz questão de trazê-lo pessoalmente. E quero que volte. Você foi nosso melhor funcionário que já tivemos. “Seu” Nonato, muito obrigado, mas não me tenha como vingativo. Eu agradeço, mas sabe? Com este dinheiro vou abrir na minha garagem uma lojinha de pequenas coisas. Minha mãe vai cuidar e tenho certeza que poderei estudar e voltar a tempo para administrar com ela! E a vida voltou a sorrir para Pedrão Pioneiro. Nada como um dia após o outro!

É melhor não contar, mas Pedrão Pioneiro se formou e hoje é dono de uma grande rede de lojas de calçados. Dizem que têm filiais até nas “Horopas e America”

♫ “Põe tuas mágoas bem no fundo do bornal e sorri”!
O que importa é vencer o mal, mantenha sua alegria,

“Não importa você se zangar, pois o mal vai acabar”! ♫

Nota - Só dê ouvidos a quem te ama. Não te preocupes tanto com o que acham de ti. O que te salva não é o que os outros andam achando, mas é o que Deus sabe a teu respeito! Uma história de Pedrão um Pioneiro que sabia o valor do lema “Servir”. Boa leitura e feliz natal! 

Era uma vez... Em uma montanha bem perto do céu...

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