quarta-feira, 6 de setembro de 2017

Helena.


Helena.

                      Lembro bem dela. Magrinha, sorriso delicioso, rouca para falar. Ultimamente taciturna, problemas que não queria contar. Fui até ao campo de patrulha só ela a cozinhar. - E as demais? - Foram pescar outras colher flores eu fiquei chefe. Sentei no banco tosco feito por elas. – Ela me olhou e sorriu. – Chefe, este vai ser meu último acampamento. Olhei curioso. – Como sabe? Eu sonhei Chefe. – Sonhou? Sonhei com Deus dizendo que preciso mudar.

                      Olhei enigmático. Falou com Deus? O senhor nunca falou? Foi simples. Eu disse a ele que estava próxima de perder as esperanças. Ele sorriu e me disse que meus planos são maiores que os meus sonhos. O que ele queria dizer Chefe? Falei quase sussurrando: - Talvez Deus não mude tua situação, mas ele está usando o agora para mudar você. Ela me olhou sem entender. – Continuei: - Lute por algum que nunca teve, faça algum que nunca fez. Nunca saberemos o quão forte somos até que ser forte seja a ultima escolha. Ela não disse nada.

                    - Chefe Mamãe me disse que se alguém jogar pedra no meu caminho devo juntá-las e formar degraus para minha vitória. As Escoteiras retornavam. Saudaram-me e eu voltei para o campo da chefia. Neusa a Chefe estava lá. Paciência tem limite, mas o limite dela passou a fase da razão. Era paciente demais. Nem me perguntou o que houve o que Helena disse. Apenas sorriu e me olhou calada.

                 – Não quer saber? Perguntei. – Que seja livre para falar, que seja doce o que pensar e que seja breve o que tiver de ser.  Deus obrigado por iluminar o meu caminho. Minha vida tem sido marcada por realizações diárias, que às vezes não dou o devido valor, mas eu sei que a graça de Deus se faz presente em todos os momentos da minha vida. Eu sabia que uma noite de sono resolve muito. O poeta dizia que a madrugada é a hora que você pensa em todas as coisas que não pensou o dia inteiro.

                     Devia ter dito a Helena que quando as coisas não fizerem mais sentido e nada mais prender nosso destino, não devemos ter medo de trocar o roteiro. No palco da vida você só descobre novos caminhos quando muda de direção. Alguns meses depois Helena se foi. Sua mãe não contou e nunca nos disse o porquê. Afinal a vida é assim, cada um tem suas escolhas. Uns vão por uma trilha que julgam perfeita outros não. Não importa. Cada um tem direito a escolher o seu caminho.


                     Fiquei sabendo que ela se casou com Jesus em um convento. Irá viver para sempre enclausurada em um lugar só para elas. Seu espaço será ínfimo, irá falar muito pouco. Sei que dificilmente irá sair dali. Agora vive orando para o Senhor dos céus.  Bonito mesmo é estar de bem com a vida e se ela escolheu assim, assim será. Afinal o destino une e separa. Mas nenhuma força é grande o suficiente para fazer esquecer pessoas que por algum motivo um dia nos fizeram felizes. Vida longa Helena. Sua patrulha ainda fala em você e te saúda. Seja feliz no caminho que escolheu!

Nota de rodapé: - Uma pequena história. Seria uma ficção? Pode ser. Difícil imaginar alguém próximo a nós deixar a vida em sociedade para se enclausurar em um convento. Escolhas nem sempre são iguais. Afinal cada um escolhe o seu destino.

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