sexta-feira, 15 de setembro de 2017

E Leo Marcondes recebeu seu Cruzeiro do Sul.


Lendas da Jângal.
E Leo Marcondes recebeu seu Cruzeiro do Sul.

                 ... Era uma vez... Um menino. Não um simples menino, muito mais que isto. O melhor é contar a historia. Tudo começou... Leo Marcondes estava sorrindo. O sorriso de um vencedor. Toda a Alcatéia sorria com ele. Lilian, a Bagheera, foi lhe dar um forte abraço. Sussurrou no seu ouvido – Leo estou orgulhosa de você! Eu sabia que você ia conseguir. Lembra-se do que lhe disse? Mas, olhe, foi seu esforço. Seu único esforço para agora ostentar o mais alto distintivo dos lobinhos. Rosaldo, o Baloo, também foi lhe dar um abraço. Sorriu. – Parabéns, Leo Marcondes! Seu desafio foi vencido. Ainda terão outros na vida, mas, um, você lutou e conseguiu.

                 Foi um sábado de festa na alcateia. Não era uma conquista comum. Todos sabiam disso. Lembravam-se quando, há três anos, Leo Marcondes adentrou na alcateia. Ninguém acreditava que ia dar certo. Leo era portador da Síndrome de Down. Dona Etelvina, sua mãe, uma pobre faxineira que nada entendia disso, assustou-se quando os médicos lhe disseram quando Leo Marcondes nasceu. Ela olhava e balançava a cabeça. Não entendia nada. As palavras dos médicos só a confundiram. Dona Etelvina ficou grávida do seu antigo patrão que não assumiu a paternidade.

                 Seu patrão mandou-a embora e ela não se intimidou. Conseguiu que uma creche tomasse conta de Leo enquanto trabalhava. Um dia apareceu uma assistente social e achou um absurdo Leo ficar misturado com outras crianças que não tinham nada a ver com ele. Foi preciso muito choro e pedidos chorosos para ele continuar. Dona Etelvina conhecia um vereador que a ajudou. E assim o tempo passou.

                Quando ele fez sete anos nenhuma escola o aceitou. Todos diziam a mesma coisa – Não estamos preparados. Arlete ficou sabendo através de uma amiga em cuja casa dona Etelvina fazia limpeza uma vez por semana. Arlete era a Akelá de uma alcateia de lobinhos e lobinhas. Arlete procurou conhecer o que era a Síndrome de Down. Não era um bicho de sete cabeças. Fora a aparência facial, o portador podia desenvolver quase todas as atividades normais de um menino comum.

                Arlete se informou junto a médicos que conhecia. Disseram a ela que as crianças portadoras encontravam-se em desvantagem em níveis variáveis face às crianças sem a síndrome. Ela não sabia se Leo Marcondes tinha alguma anomalia que poderia afetar seu sistema corporal. Leu muito sobre grupos escoteiros que se dedicavam a pessoas portadoras de deficiências especiais. Sempre achou um trabalho formidável. Ali deveriam existir os autênticos escotistas. Não devia ser um trabalho fácil. E agora Arlete pensava em levar Leo Marcondes para a alcateia.

                Muitos acharam uma ideia absurda. O que vão achar os outros lobinhos? Só ouviu senões e ninguém para dizer: – Ótima ideia! Não foi preciso um fonoaudiólogo e um terapeuta para ver se a articulação e os sons de fala de Leo Marcondes prejudicavam sua maneira de ser. Quando o conheceu ela sentiu um enorme carinho e admiração por ele. Acreditou que seu grupo escoteiro seria o primeiro. Iria fazer tudo para que Leo Marcondes se desenvolvesse como os outros suas tarefas e habilidades.

              Convenceu a dona Etelvina de que seria muito bom para Leo Marcondes. Não só agora, mas para toda a sua formação, visando uma vida adulta como qualquer um dentro de nossa sociedade. Só não esperava as dificuldades encontradas em seu próprio grupo. Mesmo conversando com o Diretor Técnico, com diversos chefes e diretores eles só tinham dúvidas. Exceto seus auxiliares na alcateia, ninguém para lhe dar um “tapinha” nas costas e dizer – Parabéns vá em frente! Conte comigo!

              Ela sabia que as escolas da cidade não estavam preparadas. Sabia que a educação e experiência escolar ajudariam e muito a desenvolver em Leo Marcondes sua própria identidade, para além dos limites do lar. Arlete já tinha tomado sua decisão. Ela iria lutar para que os resultados fossem demonstrados aos professores dele que nada fizeram e principalmente a sua mãe, cujo sacrifício nunca teve limitações. Isso mesmo! Convenceu uma amiga diretora de um colégio que o admitisse. Era como ela, uma batalhadora.
         
               Leo Marcondes assustou no primeiro dia. Foram várias reuniões para ele entrosar. Um dia pediu seu uniforme. Os lobinhos se quotizaram e deram um uniforme novo para ele. O Baloo o ensinou separadamente para a promessa. Todo o grupo escoteiro estava presente. Mais de 120 membros. Ali, reunidos em uma grande ferradura para assistir a promessa de Leo Marcondes. Leo Marcondes foi convidado para dirigir o Cerimonial de Bandeira.  Nunca um lobinho havia dirigido.

               Arlete chamou o primo de sua matilha e pediu para ele apresentar o novo lobinho que iria fazer a promessa. Foi demais. Muitos choraram. Uma palma escoteira explodiu na ferradura. Leo Marcondes sorrindo disse: – Grato e grato e muito gratíssimo. Contaram-me que foi o início da virada de Leo Marcondes. Sua mudança foi da água para o vinho. Agora só falava em ser Cruzeiro do Sul. Seis meses e já possuía a segunda estrela. Mirtes a Kaa o preparou dia após dia. Finalmente Leo Marcondes iria receber seu Cruzeiro do Sul. Uma cerimônia que de novo marcou e emocionou muita gente já que não eram tantos Escoteiros da Pátria e Liz de ouro.

              Até mesmo o Comissário do Distrito estava presente. A mãe de Leo juntou um dinheirinho, fez muitas guloseimas e os escoteiros se divertiram na Festa de Leo Marcondes. Uma surpresa aconteceu. O distrital entregou a Insígnia de Madeira a Arlete. Leo Marcondes a abraçou chorando. Vi o crescimento de Leo Marcondes na tropa. Não conseguiu o Liz de Ouro. Dependia de outros que não entenderam seu esforço. Mas não vale a pena criticá-los.


              Quando fez vinte anos se candidatou a vereador e foi eleito com boa margem de votos. Sempre lutou por todos que tinham a Síndrome de Dow como ele. Soube que organizou um grupo só com crianças excepcionais. Teve a ajuda do Rotary Club e o Lions Club. Ele comprou uma boa casinha para sua mãe. Ainda estava solteiro, mas namorava. Dona Etelvina não precisava trabalhar mais. Nada faltava para ela. Leo Marcondes agora era o chefe da família. Uma história com final feliz. Ter o coração aberto aceitar sem colocar imposições faz parte de qualquer grupo escoteiro. Para Leo eu desejo muito sucesso em sua vida.

Nota de rodapé: -  Dizia o poeta que o vencedor não é só aquele que vence a batalha e sim aquele que se levanta a cada derrota para lutar novamente. Meu Bravôo a Arlete, Lilian e Rosaldo e principalmente a Leo Marcondes. Sem eles, nada disso teria acontecido e nem essa história poderia ser contada. Melhor Possível!

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Era uma vez... Em uma montanha bem perto do céu...

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