domingo, 6 de agosto de 2017

Contos de Fogo de Conselho. Zezito Sansão... Você é um ladrão!


Contos de Fogo de Conselho.
Zezito Sansão... Você é um ladrão!

                      Fiquei bastante emocionado quando Lampião um Chefe visitante em nosso Fogo de conselho, sem muitas delegas contou a história de Zezito Sansão. Não só eu, mas a escoteirada em volta do fogo prestou enorme atenção a sua maneira simpática de contar historias. Em pé em frente à ferradura que fechava a fogueira, com um estilo próprio de matuto nortista ele começou:

                       - Zezito Sansão, você é um ladrão! Assim todos diziam na cidade. - O Delegado Paredes olhava-o com um olhar sem piedade e sem compaixão. Não sabia mais o que fazer. Não foi a primeira vez e ele sabia que nem seria a última que Zezito Sansão iria parar em sua delegacia. O que fazer com este menino? Ele pensou. Olhou novamente para Zezito Sansão. Doze anos, magro, pele morena curtida já que vivia sua meninice na rua a espera de alguém para roubar. Se pudesse o colocaria por uns dias atrás das grandes, Disse o Delgado, mas sabia que não podia fazer isto.

                     Ligou para Nonato Praxedes o responsável do Conselho Tutelar. – Delegado! – Porque o senhor não o envia para a capital? O senhor sabe que não tem outro jeito, disse. Não tinha mesmo. Sua mãe dona Nenê vivia em uma cadeira de rodas, enxergava mal e praticamente surda. Lavava com dificuldades sua roupa deles, passava e cozinhava isto quando Zezito Sansão levava algum alimento para casa.

                    O delegado Paredes o pegou pelo braço e disse: - É a última vez. Na próxima vou levar você para a capital. Lá você vai comer o pão que o diabo amassou. Sua mãe assustou quando ele disse isto. Ela sabia que nada podia fazer. Esperou o delegado sair e olhou com olhos rasos d’água fez um sinal para ele chegar mais perto. Ela o beijou no rosto. Ela sabia que se ele fosse para a capital ela iria morrer em poucos dias. Não tinha o que comer e nem como comprar. Sem ele não era ninguém.

                    Chefe Enzo chegou à casa cansado. Um dia difícil no trabalho e queria um banho, jantar e descansar. Priscilla sua esposa sorriu para ele. Ao tirar a roupa no quarto deu falta de sua carteira. Onde foi que deixei? No serviço não foi, pois pagou a passagem de ônibus. Refez o trajeto. Lembrou-se de esbarrar em Zezito Sansão. Só podia ter sido ele! Conhecido ladrãozinho por todo mundo. Contou para Priscilla. Vou a casa dele. Tem documentos que não posso perder. Era perto, três quarteirões.

                    Ao chegar viu a porta aberta. Entrou sem bater. Iria dar uma carraspatana no menino ladrão. Na cozinha viu Zezito Sansão dar comida a sua mãe. Ela quase não mexia os braços. Ele paciente colocava uma colher de sopa em sua boca sorrindo e ela também. Em cima da pequena mesa viu sua carteira. Zezito Sansão fechou a cara. Encolheu-se de medo. Muitos entraram ali e batiam nele a valer. Chefe Enzo se desarmou. A cena era demais para ele. Sabia que o menino era ladrão, mas fazer o que? Na carteira faltava dez reais. O resto estava intacto. Chefe Enzo viu o medo em seus olhares. Uma ideia surgiu e ele falou – Zezito Sansão quero você na reunião dos Escoteiros no sábado. As duas em ponto. Se não for vou falar para o delegado!

                    Priscilla entendeu o que ele ia fazer. Não existia outro caminho. - Você é um Chefe e sabe que tem de fazer o que é correto, disse. Seria mesmo? Afinal era um menino ladrão. Roubou meio mundo na cidade e até mesmo o Juiz Juvenal e o Padre Antônio não escapou. Se não ajudasse quem iria ajudar? – Sábado, às duas da tarde Chefe Enzo viu Zezito Sansão chegar à sede. Ninguém entendeu porque ele estava ali. Ronaldinho o Diretor Técnico perguntou: – O que vai fazer? Chefe Enzo sabia que toda a chefia não ia aceitar. Lembrou-se das palavras de São Francisco de Assis: - Comece fazendo o que é necessário, depois o que é possível, e de repente você estará fazendo o impossível. Ele iria ajudar Zezito Sansão o ladrão.

                   - Disse para Zezito Sansão que ele tinha três oportunidades. Se ele roubasse três vezes seria defenestrado do grupo. Ninguém dos Escoteiros o ajudaria. Nunca ninguém se entregou ao escotismo como Zezito Sansão. Começou a amar o que estava fazendo. Sonhou até em morar com eles, viver e respirar o mesmo ar que eles diziam ser sagrado em um acampamento. Mas e sua mãe? Como ela iria viver? Onde iria comer? Sem perceber roubou o relógio de Monserato o monitor. Vendeu barato e comprou mantimentos para sua casa.

                  No sábado seguinte Chefe Enzo o olhou. – Uma vez se foi Zezito. Dei um relógio para Monserato o Monitor. Você tem mais duas oportunidades. Só duas lembre-se bem. Zezito Sansão chorou muito aquele noite em sua casa. Pensou que seu amor aos Escoteiros nunca seria realizado. Mas não teve jeito. Roubou uma barraca da Patrulha Tigre e não achou ninguém que comprasse. Mesmo assim foi um roubo. Devolveu. Sabia que só teria uma só oportunidade. Chefe Enzo estava com os olhos cheios de lágrimas quando me contava esta história. – Turma! Ele nunca mais roubou. Ajoelhou aos pés do Chefe Enzo e disse que nunca mais faria isto, mas sabia que sua mãe iria morrer. Ela não tinha o que comer!

                   Gentil Monitor da Jaguar perguntou: – E o Chefe Enzo, o que fez? - Chamou a tropa, explicou sem humilhar Zezito Sansão. Cada um tinha obrigação de ajudar. Por muitos anos as patrulhas faziam uma campanha do quilo que ajudava Zezito Sansão e mais cinco famílias. Ele entrou para a escola. A diretora queria recusar, mas a insistência foi grande. Chefe Enzo se responsabilizou. Se ele roubar eu pago!

                    - Chefe Enzo sempre se lembrava de São Francisco. Escreveu que ninguém é suficientemente perfeito, que não possa aprender com o outro e, ninguém é totalmente destituído de valores que não possa ensinar algo ao seu irmão. Ele conseguiu com seu Chefe na oficina que ele ficasse como ajudante aprendiz na área de transporte. Doze anos Enzo? Não podemos. – Enzo se responsabilizou e se ofereceu para pagar seu salário. Não foi preciso. Ele surpreendeu a todos. Zezito Sansão nunca mais roubou. Não sei se foi o escotismo, se foi o dia que jurou a bandeira ser um homem de bem, que iria cumprir a lei, que seria um exemplo para todos e que nada é difícil quando se quer vencer.

                 Chefe Lampião olhou para todos e disse: O Chefe Enzo sempre disse que não se considerava um herói. Dizia que não era melhor que ninguém. Ajudar ao semelhante é obrigação de todos. Disse. - A vida nada mais é que, um grande livro de onde nos são apresentadas lições diárias. Agradeço por tê-las. Eu sei que onde há amor e sabedoria, não tem temor e nem ignorância e isto é um fato. “São Francisco dizia que fazia tudo o que podia, tentava fazer o possível e lá na frente quando olhar pra trás iria ver que fez o impossível”.


                  Chefe Lampião terminou dizendo que Zezito Sansão, cresceu se formou e hoje tem uma esposa, três lindos filhos que são a alegria de quem um dia nada teve e nunca pensou em ter. E aplausos e gritos encerrou aquele Fogo de Conselho que ficou na história da tropa.   

Nota de rodapé: -   Esta historia de Zezito Sansão, é considerada exemplo para que os jovens mais humildes possam ter o privilegio de serem escoteiros não importa o Grupo que vão pertencer. Dizem que ele se transformou em um grande escoteiro, um grande homem. - Senhor dai-me força para mudar o que pode ser mudado... Resignação para aceitar o que não pode ser mudado... E sabedoria para distinguir uma coisa da outra. São Francisco de Assis. Que todos se lembrem de que o escotismo não é para ricos... É para todos!

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