quinta-feira, 20 de julho de 2017

O casamento do Chefe Bento.


Lendas Escoteiras.
O casamento do Chefe Bento.

                 Era uma cidade feliz. Todos se conheciam e aos sábados e domingos após as reuniões se reuniam na praça central contando “causos” e lembranças de suas vidas. O escotismo em primeiro lugar. Chefe Bento era o mais procurado. Em sua volta se fazia uma roda de Escoteiros, Todos sabiam de seu trabalho na comunidade e o admiravam pela sua bondade e amizade. Ele trabalhava no Posto de Saúde da cidade há mais de vinte anos. Era muito conhecido e amigo de muitos que foram seus escoteiros no passado.

                 Diziam que a bondade do Chefe Bento era tanta que se fosse Padre seria logo um bispo ou um Cardeal. Sua tropa Escoteira o adorava. Nunca faltou a uma reunião. O Padre Albertinho não fazia nada sem o consultar. Foi convidado para se candidatar a prefeito e recusou. O Prefeito Belarmino e as demais autoridades tinham por ele o maior respeito. Morava em uma casa simples bem próximo da sede Escoteira que vivia cheia de escoteiros. Sua mãe Dona Lindalva tinha uma paciência enorme. Sentia-se bem com a escoteirada.

                 Chefe Bento estava noivo de Cidinha, uma jovem humilde que trabalhava como servente no Grupo Escolar Flores da Cunha. Magrinha, loira olhos negros anda sempre de cabeça baixa. Cidinha era um amor de pessoa. Os alunos gostavam mais dela do que das professoras. Não entrou para o Grupo Escoteiro porque achava que não tinha “estudo” suficiente. Fez o quarto ano primário e parou de estudar para trabalhar. Sua família dependia dela. Chefe Bento e Cidinha namoravam desde crianças. Pareciam ter sido feitos um para o outro. Não diziam “eu te amo” “estou apaixonado”, mas eram eternos apaixonados.

             A cidade aguardava ansiosa o casamento. Seria uma festa de arromba. O Padre Albertinho fazia questão de celebrar sem nenhum ônus. Uma lista de presentes corria de mãos em mãos. Vários fazendeiros prometeram bois, porcos, galinhas e o clube de mães da igreja comprometeu-se a fazer a festa. Tudo caminhava a mil maravilhas. Em 12 de junho a tropa foi acampar na Serra da Caiobaça. Sempre acampavam lá. Ficava nas terras do Coronel Adauto, um fazendeiro amigo e conhecido de todos. Sempre presente nos campos de Patrulha o Coronel Adauto era um entusiasta escoteiro. Adorava ver a escoteirada cantar o hino Nacional. Para surpresa ele visitou o acampamento com uma bela morena de olhos verdes, saia curtinha, cabelos negros longos, corpo escultural. Linda de morrer! – Minha sobrinha Francisca ele disse. Veio morar comigo.

            As patrulhas ficaram cismadas. Chefe Bento passou boa parte do acampamento ao lado dela e sempre contando causos e sorrindo. A cidade ficou sabendo da sobrinha do Coronel. Um dia Pedrinho monitor da Touro os viu beijando junto ao moinho do Ventor. Um susto. A tropa ficou alarmada. Segredos? Em Lagoa Vermelha não havia. Todos sabiam de tudo. – Coitada da Cidinha diziam. Ela calada, humilde fingia não saber de nada. Chefe Bento continuou indo a sua casa como se nada tivesse acontecido. Um dia procurou o Padre Albertinho. - Padre, disse – Preciso de um conselho. Não sei o que fazer. Não quero ficar sem a Cidinha. Ela é meu sonho para vivermos juntos para sempre. No entanto padre estou apaixonado pela Francisca. O que faço Padre?

                 As matriarcas e lavadeiras de Lagoa Formosa “cochichavam” entre si. O disse me disse corria solto. Quem é essa Francisca? De onde veio? Tomar o Chefe Bento da Cidinha? Vai ver que é uma “pistoleira” da cidade grande. Onde o Coronel Adauto arrumou esta bruxa? Durante um mês o buchicho não parou. Chefe Bento não sabia o que fazer. Não tinha coragem de olhar nos olhos de ninguém. Sempre de cabeça baixa. O Coronel Adauto um dia pediu para ele ir até a fazenda. E agora pensou Chefe Bento? Ele vai me imprensar na parede. Não sei o que fazer. Nem sua mamãe soube aconselhar.

               Naquela sexta logo ao amanhecer todos viram um carro preto atravessar a cidade de ponta a ponta rumo à fazenda do Coronel Adauto. O povo querendo saber e Zé das Flores, um vaqueiro da fazenda no Boteco do Martinho contou as novidades. O marido da Francisca veio buscá-la. Ela não queria ir. O Coronel Adauto ficou calado. Eram casados e ela devia obrigação a ele. Não concordou com a farsa dela se apaixonar pelo Chefe Bento. O chamou a fazenda para contar a verdade. Bento, ela é casada com um mafioso da capital. Sujeito perigoso. Ela fugiu dele e mesmo aconselhando ela não queria voltar para seu marido.

                 O povo viu o carro preto pegando a estrada da capital com a Francisca dentro chorando. Quando Chefe Bento soube também chorou. Dois meses depois o casamento com a Cidinha foi realizado. Vieram escoteiros de várias cidades. Fizeram uma bonita passagem de bastões para ele e Cidinha passar quando saíram da igreja. Padre Albertinho sorria também. Quem sabe ele toma jeito? A nova casa estava preparada, mas eles pouco ficaram ali. Pegaram o ônibus de Lagoa Formosa naquela tarde e foram em lua de mel merecida. 


                Acompanhei tudo. Sei que o Chefe Bento nunca mais foi o mesmo. Seu sorriso espontâneo desapareceu. Cidinha sempre com os olhos vermelhos. Dois anos depois nasceu Tomé, um ano mais Marcela veio ao mundo. Pararam por aí. Sei que depois dos dois rebentos o sorriso voltou ao rosto do Chefe Bento. Sei também que eles viveram felizes para sempre. Ele ainda é Chefe escoteiro e quanto a Francisca ninguém mais ouviu falar.

Nota: - Uma história de um Chefe muito querido que ia casar com Cidinha, mas que amava Francisca, que era esposa de um mafioso da capital. Chefe Bento um inocente? Um farsante? Que amor ele jurava para Cidinha e para Francisca? Melhor ler a história para entender. Abraços a todos.

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