quinta-feira, 29 de junho de 2017

Eu queria contar uma historia.


Eu queria contar uma historia.

                - Eu queria contar uma historia. Uma historia de um escoteiro feliz. Que cantava para espantar a tristeza, e gostava demais acampar. Sonhava em ter uma barraca, fazer um fogão tropeiro, montar um toldo e um lenheiro e cozinhar um belo jantar. Ele imagina ouvir seus irmãos da Patrulha gritando sorrindo e batendo o garfo ou a colher no prato esmaltado na hora do jantar. Ele sonhava em estar lá no acampamento, em noites de céu estrelado, vendo cometas viajados soltando poeira coloridas no ar...

               - Eu queria contar uma história. História de um escoteiro feliz. A noitinha ele sorria fazendo um fogo amigo, pequeno, saltitante, soltando fagulhas coloridas que saiam em bando até desaparecerem na curva da Onça que ele nunca viu. Ele adorava cantar uma canção, amava interpretar seus heróis nos fogos de conselho que um dia participou, e nunca conseguiu esquecer. Ele fechava os olhos, deixava a mente correr pelo som da mata, dos pássaros noturnos viajantes, os pequenos insetos de luzes piscantes a voejar na campina escura esperando o dia clarear...

                - Eu queria contar uma história. História de um escoteiro feliz. Nunca esqueceu sua juventude onde nos seus sonhos de menino caçava aventuras para marcar seu tempo, seu momento esperando o futuro chegar. Quantas vezes ele avistou a coruja, com seus olhos grandes a olhar para ele como se fosse falar? Quantas vezes correu atrás da raposa, querendo dizer que não ia lhe fazer mal?

               - Eu queria contar uma historia. Historia de um escoteiro feliz. Ele amava o Riacho brilhante, piscava ao ver o quadrante do sol quente quando chegava para clarear suas límpidas águas que corriam para o mar. Nos seus sonhos de menino gostava de acenar para as montanhas, para os vales para as matas verdejantes onde deixou um pouco do seu cheiro, de sua voz de sua canção. Gostava de fazer amigos, de se sentir amado e nunca negou a ninguém um abraço e uma saudação...

                  - Eu queria contar uma historia. História de um escoteiro feliz. Ele gostava de rezar. Pedir a Deus nas alturas para lhe abençoar. Insistia para que Ele o ajudasse a não esquecer sua Lei e Promessa e que se tivesse alguma dificuldade que ele o ajudasse a saltar o obstáculo. Ele sabia que a vida passa que as histórias ficam que os tempos mudam de lugar. Ele sabia que não podia esquecer nem fugir das chamadas do coração, mas estava pronto se necessário para uma despedida que não fosse mais que um até logo para um novo recomeço...


                  - Eu queria contar uma história. História de um escoteiro feliz. Ele adorava fazer seu destino, fazer seu caminho sempre com ânimo e sem reclamar. Eu queria contar uma história, mas me perdi no tempo no meu sorriso, me perdi onde não sabia e nem cheguei aonde queria chegar...  Eu queria contar uma historia...

nota; - Eu queria contar uma história... História de um escoteiro feliz. Eu queria que tudo tivesse jeito de salvar belos momentos como se fosse abrir uma página do tempo para viver tudo aquilo novamente. É... Eu queria contar uma história, mas quantas histórias eu contei!

terça-feira, 27 de junho de 2017

Nas asas da imaginação. Mamãe! Eu vou acampar!


Crônicas de um Chefe Escoteiro.
Nas asas da imaginação.
Mamãe! Eu vou acampar!

É gostoso é bom demais, sentir o cheiro do mato,
Ouvir o som do regato, o cantar de um sabiá,
Um vagalume perdido, o uivo de um lobo guará,
Lá ao longe bem distante, nas montanhas verdejantes,
Onde ele uiva errante, onde é o seu habitat.

Gente que coisa boa, beber água da nascente,
Tão fresca e tão brilhante, de olhos fechados sorrindo,
Sentir o orvalho caindo, no rosto de uma manhã.
Do som da passarinhada ao anunciar nos gritantes,
Até o grilo falante, cantando ao alvorecer.

              Mamãe! Por favor, não chore! Eu disse que voltarei, eu não vou para a guerra, eu vou acampar, pois sou um bom escoteiro e já volto. Irei aprender a ser homem Mamãe! A senhora ouviu o Chefe falar, que aqui é uma escola de honra! Aqui se aprende à ética ter palavra, seguimos uma lei e nos orgulhamos de segui-la. Temos na mente nosso Herói Caio Martins. Não foi ele quem disse que todos nós devemos andar com nossas próprias pernas Mamãe? A senhora não quer me ver crescer e depois se orgulhar em saber que sou um homem de caráter? Eu vou acampar minha Mãe. Eu vou pisar nas terras puras do meu país, vou sentir a natureza em meu coração. Deixe que leve seu espírito comigo, me dá um beijo e um abraço e enxugue estas lágrimas. Elas estão fora de lugar.

             Minha querida Mamãe reze por mim e por meus amigos. Peça a Deus que ele nos proteja, pois ele nunca deixou de proteger os Escoteiros. E quando voltar Mamãe eu estarei sujo por fora, mas limpo por dentro e quem sabe apesar de que o Escoteiro está sempre limpo, mas se isto acontecer não se preocupe, estou aprendendo a ser homem. É Mamãe, agora sou um Escoteiro, e isto significa muito. Poderei olhar as águas do oceano de outra maneira. Vou entender porque as ondas do mar se arrebentam na praia, Irei entender as gaivotas que voam pelo céu azul. Irei aprender a beber na cuia onde fica a nascente, a pureza daquelas águas que nos dão a vida. E sabe Mamãe, vou dormir em uma barraca junto aos meus companheiros e me deliciar com os sons da floresta.

            Afinal Mamãe não diziam os poetas que sem sonhos, a vida é uma manhã sem orvalhos, um céu sem estrelas, um oceano sem ondas, uma vida sem aventura, uma existência sem sentido? Ah! Mamãe! Enxugue estas lágrimas, seu filho vai partir, mas vai voltar. São poucos dias e eu pensarei em você. Nunca vou esquecer a minha querida mãezinha. Você sabe que sempre estará em meu coração. Quando chegar na floresta eu vou ver as aves que moram lá, verei ver os peixes que pulam na lagoa encantada, vou andar nas trilhas da imaginação e ver as pegadas dos animais. Como deve ser belo Mamãe poder sentir a brisa da madrugada, olhar o nascer do sol, o cantar da passarada vai ser um doce amanhecer. Mamãe deixe eu lhe dar um beijo, neste teu semblante preocupado, nesta tua tez franzida, nos seus olhos molhados e pedir para sorrir.

             Sorria mamãezinha querida, seu filho já vai crescer. Ele vai aprender a cozinhar. Pode Mamãe? Será que vou gostar? Ah! Mamãe eu acho que vai ser o máximo em minha vida. Vou poder sentir o aroma da minha refeição, me lembrarei da senhora e seus quitutes imortais. Mas farei coisas difíceis de imaginar. Na montanha que escalarei vou avistar o mundo aos meus pés.  Poderei dizer às nuvens que agora sou uma delas. Quem sabe bem lá do alto irei ver o grande Gavião Negro passar? Mamãezinha meu amor, te amo demais, mas preciso enfrentar a vida. Um dia eu vou crescer e preciso aprender as maneiras de viver como um homem respeitado. Quero aprender com a natureza o que aprendi com a senhora. Sabe Mamãe, me contaram tantas coisas que eu quero viver também o que os outros viveram. Quero fechar os olhos e ouvir o som de uma bica de águas cristalinas, vou beber a água da fonte, sentir seu sabor, deixarei que ela molhe meu rosto tão cheio de felicidade.

              Pois é mamãe, pense no seu filho feliz, junto aos seus companheiros, eles são bons Escoteiros e brincam de aprender a crescer. Eu quero também contar estrelas, pois eu nunca contei. Vou descobrir onde fica a constelação de Aquarius, quem sabe verei a Gemine o Caranguejo, do Escorpião e nunca terei medo, nossa Mamãe são tantas. Mas já conheço o Cruzeiro do Sul no hemisfério celestial sul. São tantas coisas no céu que penso que ele é imenso demais Mamãe.

         E o tal fogo de conselho que eles falam muito? Acho que amarei demais. Ver o fogo esvoaçante, querendo subir aos céus, as labaredas brilhantes a fazerem escarcéus. E as palmas minha Mãe? Dizem que elas são lindas, e os esquetes nunca esquecidos as risadas coloridas, alguém a gritar! – Sou o próximo! Disseram-me que farei parte em uma. Vai ser a primeira vez. E os aplausos Mamãe eu sei que serão demais. Pois eu vou me preparar com alegria e quem sabe serei um ator por um dia? É Mamãe dizem que no final do fogo todos choram, mas é de alegria, eles dão as mãos entrelaçadas e cantam uma canção tão linda que tenho de decorar! - “Não é mais que um até logo, não é mais que um breve adeus”!  

           O último beijo de hoje Mamãe. O Chefe está chamando, a patrulha me esperando e tenho que partir. Irei acampar nos montes, nos altos dos horizontes para aprender ser alguém. Voltarei de novo a nossa casa e serei um homem digno, a senhora pode acreditar. Sabe Mamãe uma estrofe de um poema que não esqueço? – “Mamãe, um dia fiz a promessa, a todos eu prometi, que seria homem honrado, e do escotismo uma apaixonado, subindo lá nas alturas, em busca de aventuras, que só podemos encontrar no meu escotismo amado”.

          Adeus Mamãe preciso partir, a senhora que fica não chore com minha brusca partida, e se um amigo me procurar diga a ele onde estou. Que ele coloque a mochila aprume sua bandeira e cante uma bela canção, com um belo sorriso no rosto vai correndo me encontrar.

Adeus Mamãe, adeus não até logo, pois logo eu voltarei!

segunda-feira, 26 de junho de 2017

“Maria Vitória”


“Maria Vitória”

                 Você minha querida neta me pediu que não saísse sozinha. Mas eu tinha de ir. Todo sábado você sabe que eu vou lá faça chuva ou faça sol. Sei que se preocupa que toma conta de mim que deixou seu lar para morar comigo dizendo que iria fazer o possível e o impossível para me fazer feliz. Foi uma alegria incrível ter você ao meu lado, e vendo você sempre contente ao chegar do trabalho e me abraçar. Você me dizia que eu não era mais criança. Afinal cheguei aos oitenta e cinco anos tempo demais para viver.

                 Olhe deixei o celular na mesa. Seu recado estava lá. Mas eu tinha de ir. Fique tranquila, pois logo estou de volta. Como dizia minha mãe? Um pé lá e outro cá. Caminhei sem pressa, pois eles nunca chegavam antes do horário. Caminhava pensando no meu passado no que fui e agora já idosa vivo somente de lembranças e nada mais. Meu destino era a Praça das Recordações. Gostava de ficar lá. Sombreada, uma grama verde e muitas flores me encantavam enquanto eles não chegavam.

                Sentada naquele banco azul onde sempre fiquei eu esperava sem pressa a hora deles chegarem. Sinceramente? Nunca me apresentei a eles como escoteira. Porque não sempre pensei. Não tinha vergonha do que fui e nada fiz de errado que proibisse dizer o amor que tinha pelo escotismo. Foi um belo tempo, mas meu sonho acabou. Ainda amo e faço dele minha filosofia de vida. Ali na praça me encantava com todos eles os lobos de Seeonee saltitantes a sorrirem e gritarem alto Melhor Possível Akelá.

                 Olhe, eu nunca me sentia sozinha ali na praça. Os lobos me faziam rejuvenescer. Não esqueço aquele dia, que um deles com um sorriso encantador chegou perto de mim, olhou, piscou seus olhinhos sorriu e saiu correndo a contar para a matilha que viu uma velha no banco da praça com um lenço escoteiro no colo. Eu sorria e chorava. Meu coração sangrava ao lembrar. Foi importante aquele dia. As lembranças batiam forte em mim. Gostava de lembrar, mas o que aconteceu me machucava muito. Tinha fama, respeitada, tacos pendurados, todos fazendo saudação. Diziam-me que breve teria o Tapir, e eu sorria de emoção.

               Foram tantas comendas que orgulhosamente usava na minha farda querida. Não o culpo quem sabe a culpada foi eu. Achei que o amava e ele também. Eu solteira e ele casado. Vivíamos apaixonados escondidos por aí até que um dia alguém nos viu, a cidade comentou o escotismo não me perdoou. Disseram que eu o seduzi que era prepotente, imaginosa, metida a bondosa, mas com coração de pedra. Lembranças que machucam lembranças que não quero lembrar, mas não desaparecem da minha mente.

                  O som das seis badaladas da matriz diziam que era hora de voltar. Eu sabia que se você chegasse e não me encontrasse ficaria triste e até mesmo me chamaria à atenção. Eu gostava de ver você entrar me dar um abraço e dizer: Olá Vovó! Era sempre assim. Meu coração sangrava das lembranças dele que nunca mais me olhou e nunca mais me abraçou. Eu sabia que era página virada no tempo e devia esquecer. Chorava baixinho, precisava de um abraço, meu Deus que vontade de abraçar alguém!

                Preciso enxugar as lágrimas, não quero que você me veja assim. Quando for dormir então irei chorar todas as lagrimas doidas que não saem de mim. Eu sei que fui culpada, que mereci a exoneração. Mas Deus, quantas saudades, que vontade de voltar no tempo e tudo poder mudar. Eu sei que em um instante tudo muda. O passado nos leva ao desconhecido. Não existe mais futuro. Não se pode recusar e voltar aos velhos hábitos. Mas eu me contentava em dizer para mim, que não devia me prender ao passado, pois assim o futuro poderia nunca vir.


               Ainda bem minha neta que tenho você, a única coisa boa que sobrou de uma vida feliz. É triste viver de recordações, mas é na velhice que as lembranças são vivas e nunca deixamos elas irem embora. É escotismo, meu sonho minha vida. Tempos felizes que sei que nunca mais irão voltar!

nota; - A saudade é lembrar-se de um passado que nunca passou... É viver um presente que nos entristece e é querer enxergar um futuro que jamais poderá existir. Muitas vezes lembrar o passado é sofrer duas vezes.

sábado, 24 de junho de 2017

“Emmanuel”.


“Emmanuel”.

                 Timóteo foi o primeiro. Sempre fora assim desde que ele entrou para os escoteiros. Era uma alegria vê-lo chegar. Ficar sozinho na sede todos os dias era para ele uma alegria. Mesmo acostumado ele sentia falta dos seus amigos escoteiros. Ele se juntava a todas as patrulhas. Não tinha nenhuma especial. Sabia o nome de cada um: - Lobo de Mozart. Pantera do Luiz. Águia do Totonho, e na Antílope estavam Antônio, Pedro, Zacarias... Sabia do acampamento no próximo mês. Sonhava. Afinal ficaria dias e noites junto a eles era uma alegria infinita.

                 Lembrava pouco do seu passado. Sabia que tudo terminou para ele com oito anos de idade. Nos últimos trinta anos fez tudo para esquecer. Um pai cruel, uma mãe que não ligava para ele, uma morte horrível em uma curva onde eles embriagados saíram da estrada. Todos eles partiram para o outro lado da vida. Sombras tenebrosas levaram seu pai e sua mãe e ele ficou. Sentiu que alguém o queria levar, mas não aceitou. Perambulou pelas ruas, ficou na sua casa, mas a briga dos tios pelo espólio o enojava. Descobriu os Escoteiros. Ali fez sua morada.

                Conheceu centenas deles. Afinal trinta anos com eles produziu muitos homens feitos. Assustou quando Braguinha disse que o via, mas não escutava. Sorriu para ele e se tornaram amigos até que um dia ele partiu para morar em alguma parte do universo. Quantos chefes? Dezenas. Nunca esqueceu o Chefe André Luiz. Dizia belas palavras: - O bem que praticas em qualquer lugar será teu advogado em toda parte. Nunca esqueceu quando a noite no Pico das Agulhas Negras ele disse; - Assim como a semente traça a forma e o destino da árvore, os teus próprios desejos é que te configuram a vida.

                Aos poucos foi vestindo peça por peça do uniforme. Ele queria ficar no acampamento uniformizado. Lembrou-se de um anjo que lhe disse: Você é somente espírito e o espírito não tem corpo. Muitas vezes tentaram levá-lo, mas ele insistia em ficar. Gostava dali, seu pai nunca o deixou ser um. – Filho isto é coisa de “boiola”, você é meu filho macho, e tem de demonstrar desde cedo que sabe mandar e matar se preciso. Naquele dia chorou. Lembrou mais uma vez do Chefe André Luiz: - A grandeza do amor repousa invariavelmente na conjugação do verbo servir.

                 Uma noite viu um clarão azul como se fosse uma lua cheia diferente. – Filho, chegou a hora de partir! – Era um Velho de roupas brancas e alvas, envolto em luzes brilhantes. – Porque Senhor? – Ninguém se esqueceu de você. Estavam esperando a hora certa para te levar. Seu pai e sua mãe ainda estão acertando suas dívidas com Deus. – Braguinha foi quem nos disse onde estava. – Braguinha? Onde ele está? – venha comigo, e vais encontrá-lo bem no centro do universo.


                 Ele pensou e pensou. Senhor! – Posso pelo menos ir ao meu último acampamento? – O Velho sorriu. Ele sabia que as verdadeiras afeições são eternas. Não começam e não terminam em uma existência. "À proporção que se liberta, a alma encontra-se numa situação comparável àquele que desperta de profundo sono. Bem diverso é, contudo, esse despertar".

nota - - “A humildade não está na pobreza, não está na indigência, na penúria, na necessidade, na nudez e nem na fome. A humildade está na pessoa que tendo o direito de reclamar, julgar, reprovar e tomar qualquer atitude compreensível no brio pessoal, apenas abençoa”. – Este é um conto de ficção baseado na doutrina espírita.

sexta-feira, 23 de junho de 2017

E Galiostro finalmente dormiu na barraca dos seus sonhos.


Lendas Escoteiras.
E Galiostro finalmente dormiu na barraca dos seus sonhos.

          - Não sei Eva, ele está assim há vários dias. – Você perguntou? Perguntei mas ele me olhou sorriu e não disse nada. Nívia a mãe de Galiostro ficou calada. Ela sabia que ele estava a sonhar com o acampamento. Desde que pedira para ser um Escoteiro que ele mudou e muito. Parecia viver em outro mundo e a família não sabia se era bom ou ruim. Eva sua Avó estava preocupada. Nunca o viu assim. Espevitado, lépido, gostava de gritar, de cantar e diferente de todos os meninos quando levantava, chegava à janela e chamava em alto e bom som os pardais que acordados já tinha partido. – Ele tinha as melhores notas, e sempre fora de uma educação que orgulhava sua família. Um dia disse que queria ser escoteiro. Não explicou por que. Passou a sorrir mais, andava com uma cordinha pequena nos bolsos fazendo nós. Ela o escutou na varanda falando baixinho: - Escota, balso pelo seio, Arnês, Pescador, aselha, direito, Laís de guia, fiel e fiel duplo. Que seria tudo isto?

            Chegou o dia do acampamento. Ela viu que ele não tinha mais olhos para ela. Dormia e levantava pensando no acampamento. Quando arrumou seu quarto naquele dia viu um pequeno livreto. Folheou e sorriu. Estava escrito com desenhos - Como fazer uma pioneiria, o que são fossas de líquido e detrito. A barraca suspensa. A mesa de campo, o toldo e finalmente uma barraca armada. Ele sublinhou cada ponto e escreveu em baixo: - Custou, mas vou dormir na barraca dos meus sonhos! Que escotismo era este? – pensou. Já tinha ouvido falar deles, mas tudo era diferente, havia uma lei. Lei? Sim, uma lei que eles obedeciam. – Prometo pela minha honra! – Bonito isto disse Eva. Quando jovem soube que havia Escoteiras, mas nunca tinha sido.

                    Galiostro tinha os olhos negros, grandes como seu pai, deixou o cabelo crescer até os ombros e mesmo seus amigos o chamando de “maricas” não ligou. Os cabelos loiros davam a ele uma conotação diferente. Tinha um porte de atleta e gostava quando olhavam para ele admirados. Quando foi apresentado à patrulha ninguém perguntou, ninguém se preocupou e só Nonato o sub foi quem lhe deu a mão e as boas vindas. Ele sabia como os meninos eram. Mesmo sendo Escoteiros havia um longo caminho para se enturmar. Foi Lobato quem comentou do acampamento. Ele prestou. Viu que dormiam em três em cada barraca. Foi para casa pensando. Três em uma barraca? Como seria? Ele ainda não conhecia a barraca da patrulha. Eram duas uma azul e uma amarela. Não eram grandes e não dava para ficar em pé.

                     Foi uma semana longa. Galiostro só pensava como seria dormir em uma barraca. Nunca se preocupou e agora dormir em uma barraca não saia de seu pensamento. Soube que a maioria não tinha saco de dormir e improvisavam com folhas e capim seco colocados em dois sacos costurados fazendo um colchão. Ele teria que arrumar dois sacos para isto. Afinal ele iria dormir em uma barraca. Será que não iria ter medo? – Galiostro! Ele ouviu a voz de Dona Neném a professora dele. Piscou os olhos e pediu desculpa. – Você não prestou atenção em nada na aula de hoje! – Era verdade. Ele não tirava a barraca de sua mente. E se chovesse? Não iria entrar água? E se fizesse frio? E se ventasse? E se viesse um vendaval? Sabia que ia levar a manta do seu Avô.

                      Preparou devagar a mochila que seu Tio Malta lhe dera. Francesa! Ele disse. Achou pequena. Tio malta ensinou: – Galiostro, leve o necessário, nem mais nem menos! O que seria o mais e o que seria o menos? Viu a lista que o Monitor lhe dera. Cabia tudo. Só isto? Ficou pensando. – À noite seu pai chegou com um embrulho. – É para você! Galiostro sorriu. Era um cantil com capa verde. Um cantil! Nunca pensou que teria um. Cinco da manhã. Galiostro estava sentado na cama. Sua mochila preparada. Seu cantil cheio com água. Vestiu seu uniforme devagar. Peça por peça. Olhava no espelho, mas seu pensamento era só a barraca. Deus meu! Eu vou dormir em uma barraca? Não tirava isto do seu pensamento. Sete horas, sua mãe bateu na porta – Está na hora filho. Tomou café e calmamente beijou sua mãe e sua avó. Seu pai já havia ido trabalhar. Partiu a pé sorrindo. A sede era perto. O sol já cobria o horizonte. Sentiu uma lufada de vento no rosto. Era hora de partir para o acampamento.

                     Iriam de ônibus até a estação. No trem para Jambreiro e mais quatro quilômetros chegariam a Fazenda Trindade. Tudo foi dividido. Galiostro responsável por um facão e um lampião a querosene. Amarrou na mochila. Onze e meia chegaram. Galiostro não cantou na jornada. Olhava o céu azul de brigadeiro. Bom isto pensou. Assim vou dormir mais tranquilo na barraca. O campo ficou pronto em duas horas. Ele havia aprendido na jornada do domingo que fizeram. Uma mesa com toldo, bancos toscos, um fogão de barro esquisito e as barracas. Ajudou Zé Antônio a armar. Olhou por dentro. Pequena. Eram três a dormir ali. Ele aguardava a noite. Era a noite esperada. Comeu um lanche e na janta adorou a sopa do Vandeco o cozinheiro. Seus olhos não saiam da barraca mesmo no lusco fusco da noite. Olhou para cima. Estrelas brilhavam formando uma estrada de luzes no céu.

                       Nem prestou atenção ao Jogo do Fantasma. Nem medo teve do fantasma que apareceu no alto da montanha. Seu pensamento era um só. A Barraca! Fizeram um pequeno fogo em frente à barraca, ele se sentiu bem com o calor. Sua mochila estava na porta. Combinaram de preparar tudo na hora de dormir. Cantaram o Cuco e a Canção da Lua. Gostava de cantar. Esperava a ordem do Monitor para prepararem as barracas. Jamiel Lourenço e ele prepararam o interior da Barraca. Chegou a hora finalmente. Deitaram. Ele no meio. A mochila serviu de travesseiro. Olhava a lona da barraca. Ouvia os grilos cantantes na noite do seu primeiro acampamento. Finalmente ele estava na barraca, mas não dormiu. Um trovão, um relâmpago. Galiostro sorriu. Precisava da chuva. Nos seus sonhos ela estaria lá na sua primeira noite de acampamento.


                         Os primeiros pingos, o som pedante da cascata na barraca. Um vento cortante querendo entrar pela porta. A barraca balançava, mas estava firme. Galiostro com as mãos entre a nuca sorria. Agora sim, ele era um acampador. A barraca para ele não teria mais segredos. Seus olhos se fecharam e ele se viu transportado em sonhos nunca antes imaginados. Finalmente Galiostro dormiu em uma barraca.

nota:  Lembro-me de uma barraca perdida em meus sonhos,
Na terra que me viu nascer
Lembro-me de um menino que andava pensando
sonhava vir um dia a ser,
Dormir sonhar, quem sabe amando...
Na barraca sorrindo esperando o amanhecer!

quinta-feira, 22 de junho de 2017

Dakota, um Chefe de coração de ouro.


Lendas Escoteiras.
Dakota, um Chefe de coração de ouro.

                           - Calma Mariza, no final tudo vai dar certo! - Certo? Falou Mariza. – Desde quando você paga taxa de acampamento para treze meninos e gasta quase toda nossa economia para o mês e ainda vem dizer que vai dar tudo certo? – Chefe Dakota pôs as barbas de molho apesar de não ter barba. Ele sabia que não seria fácil conseguir o que gastou para as compras do mês. Mas o fazer? Sua tropa tinha trinta Escoteiros e somente dezessete pagaram a taxa. Ele sempre dizia – Ou vão todos ou não vai ninguém. Era o acampamento do ano, mais de trinta patrulhas presente, não podiam faltar. – Pois é Dakota, não é a primeira vez. Antes era um ou dois agora são treze meu amor. Como vamos viver? Naquele dia saiu mais cedo de casa para o trabalho, ele queria pensar uma solução para os dois lados. Mariza tinha razão, mas e os Escoteiros que não iriam? Ele teria condição de dizer a eles que não conseguiu?

                             Seguia a pé pela Rua dos Aimorés pensativo. Pensativo iria atender ao Chamado do Senhor Nacano. Pai de Pirilampo escoteiro da patrulha Quati e gerente do banco do Comércio da cidade. Recebeu um recado para passar no banco sem demora. Sabia que ele iria oferecer um emprego, mas duvida cruel, pois nunca pensou em ser favorecido pelo escotismo. Ele não era rico, trabalhava com o Chefe Mosquete e nem sempre tinha trabalho. Faziam bicos, limpeza de fossas, limpeza de telhados, pintura simples nas casas e assim ia vivendo. Queria um emprego melhor, mas ali em Pedra Azul ele nunca iria conseguir.

                           Deveria ir ao banco? Pensou em ir morar na capital, mas deixar a cidade que amava? Ir para um lugar que ele não conhecia para fazer o que? Ouviu alguém gritar Sempre Alerta e viu Jonildo Escoteiro da Pantera indo para casa após as aulas. Chefe Dakota sorriu e respondeu. Amava aquela Tropa e os meninos dela. Amava também Marilda. Casaram-se há poucos anos. Ela com dezesseis e ele com vinte e um. Sabia que apesar de tudo ele podia contar com ela. Ela preferiu ficar fora do Escotismo mas gostava dos meninos que sempre visitavam Dakota.

                           Na esquina com a Rua Floriano Peixoto ele viu a patrulha Águia uniformizada seguindo para sua boa ação da semana. Todos o cumprimentaram e seguiram em frente. Chefe Dakota sorriu. Como posso deixar esta turma? É minha vida, minha razão de ser. Ele amava o escotismo de uma maneira tão intensa que muitos diziam que ele não ia num bom caminho. – Tem que dosar um pouco Chefe Dakota. Manfredo, o Presidente do grupo sempre aconselhando. – Cuide bem de sua família isto é o mais importante! Dakota o respeitava mas esperava mais dele nas atividades onde precisavam gastar. Chefe Dakota não foi Escoteiro. O primeiro grupo começou a cinco anos. Sempre sonhou em ser escoteiro e pediu para entrar. Com dezesseis anos não dava. Não tinham tropa sênior. Todos os sábados ele ia para a sede ver a correria das patrulhas. Amava aquilo e dormia pensando em vestir seu uniforme, por seu lenço e seu chapéu, uma bandeira e correr para as montanhas.

                          Quando fez dezoito anos foi aceito como assistente. Chefe Jacob mesmo em dúvida o aceitou. Ele sabia que Dakota fez só o segundo grau e não tinha emprego fixo. Dakota esperou a semana como se fosse sua última no mundo. Subiu as nuvens quando Chefe Jacob o apresentou a tropa. Dakota agora era Chefe. Prometeu a si mesmo mudar de vida, encontrar um emprego, estudar e mostrar aos Escoteiros que ele podia ser alguém e dele orgulhar. Mas não foi bem isto que aconteceu. Não arrumava emprego e nem estudou. A cidade não tinha escola profissional e filho de gente humilde ganhando pouco não podiam pagar. Um dia Chefe Mosquete o chamou para ser seu ajudante na sua oficina e ele aceitou. No mês que tirou dois mil reais achou que podia casar e casou. Todos foram contra – Chefe Dakota! 21 anos e a Mariza 16, porque não esperar? Dakota disse não. Amava Mariza e achou que casado os pais dos escoteiros o olhariam com mais respeito.

                   Esperou o farol abrir para atravessar a Rua Santo Ângelo. Resolveu ir ao banco. Seria indelicado não ir. Ele gostava de Pirilampo. Um Escoteiro avoado, sorridente e que topava qualquer parada. Lembrou a jornada ao Vale da Tartaruga. Pirilampo quando quase morreu. As patrulhas andavam a vontade na estrada sem movimento e deixava que todos pudessem conversar observar a natureza, ouvir o cantar dos pássaros e descobrir pegadas. A turma adorava estas jornadas. Na curva do Cavalo Doido foi que a tragédia quase aconteceu. Dois Touros Guzerá cismaram com a escoteirada. Um deles partiu direto em cima de Pirilampo. Ele viu que se não interferisse uma tragédia ia acontecer. Tomou o bastão de Gentil e correu em cima do Touro. Enfiou a ponteira de aço no meio dos olhos do touro. Foi no ponto certo. O Touro caiu morto. O Senhor Nacano fez questão de pagar pelo Touro ao Fazendeiro Totonho. Ficou agradecido ao Chefe Dakota e agora o havia chamado. Ele sabia que era por causa do acidente. Ele sabia que fez o que qualquer Escoteiro faria.

                   Entrou no Banco ressabiado. Estava cheio e pediu a moça para falar com o Senhor Nacano. Ele veio sorridente a abraçar o Chefe Dakota – Dakota meu amigo, você vai trabalhar aqui. Tenho uma vaga para você com excelente salário. Dakota não se fez de rogado. Precisava e aceitou. Iria mostrar que era capaz não só por gratidão por ter salvado da morte o filho do Senhor Nacano. – “Todo mundo no chão”! - Alguém gritou. Um tiro para o ar e todos deitaram. Um assalto pensou Dakota. – Um bandido chegou à escopeta na testa do Senhor Nacano. – Tem cinco segundos para abrir o cofre – um, dois, três... Chefe Dakota no alto dos seus vinte e um anos, casado, sem filhos, mas que adorava o escotismo levantou de um salto, tomou a escopeta do bandido e com ela bateu em sua cabeça. O Bandido caiu e outro estampido se ouviu. Uma mancha vermelha em cima da blusa de Dakota apareceu. Um tiro fatal.


                    A cidade em peso foi na cerimonia fúnebre. Uma cerimonia do Adeus. Não houve o toque do silencio e até esqueceram-se de cantar a canção da despedida. Centenas de pessoas se acotovelaram em volta da Campa simples. Marisa em pé chorava baixinho. O Senhor Nacano engasgado não sabia o que dizer. Padre Tomaz rezou o que tinha de rezar. A escoteirada chorando sem parar. A vida é assim, do nada se vive e do nada se morre. Adeus Dakota, a cidade em pouco tempo vai se esquecer de você. Você não era nada e mesmo virando um herói de nada valeu. Valeu ou não cinquenta anos depois Marisa ainda rezava todos os dias e depositava flores na última morada de Dakota. Ao levantar ela não deixava de ler o que escreveram para ele em uma placa de bronze – Escoteiro eu fui, Escoteiro eu serei até morrer! 

nota: Não há mal que perdure quando o bem mora dentro da gente. Cada pessoa que amamos é um achado. Cada momento juntos é um tesouro. Cada dia de vida que temos é um presente. Divirtam com a história de Dakota que hoje vive em uma estrela no céu.
     

quarta-feira, 21 de junho de 2017

Vítima de uma paixão.


Lendas escoteiras.
Vítima de uma paixão.

                     Pois é Chefe, eu a conheci. A verdade é que nem sei se a conheci internamente. Posso até contradizer muito do que vou lhe contar e olhe Chefe me mantive calado por muitos anos. É uma história triste que tentei esquecer e não consegui. Lembro quando ela ainda com seus sete anos adentrou no pátio, me pareceu que uma luz chegou do céu para deixar o dia mais bonito e formoso. Eu era dois anos mais velho, mas senti que nos conhecíamos de algum lugar. Ela me aceitou como amigo e nas horas vagas eu ia conversar com ela na porta de sua casa e na Matriz do Cedro. Na tropa escoteira esperei dois anos sua passagem. Foi então que notei que ela se esqueceu de mim. Meus olhos sempre fixavam sua figura imponente que aos onze anos resplandecia em meu coração.

                     O tempo implacável enviou para o passado a juventude dela e a minha. Pioneiro logo fui para Chefe. Sempre pensando em pedir sua mão em casamento. Mas como? Lisbela me considerava um amigo e mais nada. Olhe Chefe, ela podia ter sido tudo na vida, seus pais tinham condições financeiras para pagar uma boa faculdade, mas ela mesma obediente e disciplinada não fez jus aos sonhos deles. O tempo foi passando e ela se mostrava ter um grande Espírito Escoteiro. Eu Chefe não nunca tive uma namorada. Eu a amava. Era mais que um amor era uma paixão e isto impedia que eu olhasse para outra jovem. No fundo Chefe eu sabia que nunca há teria. Sabe Chefe precisava ver quando ela adentrava a sede, dava aquele belo sorriso, jogava os cabelos compridos loiros para trás e gritava Sempre Alerta. Meu coração batia chefe.

                     Para dizer a verdade eu nem sei como aquilo aconteceu. Eu já tinha visto Lisbela e Nair juntas. Mas acreditei em amizade e nada mais. Nair não era e do movimento escoteiro. Mas a surpresa veio em seguida. Ambas resolveram assumir o romance e foi então que tudo aconteceu. Monte Verde com seus 45.000 habitantes ainda era uma cidade provinciana. Isto Chefe aconteceu há mais de 30 anos. Lisbela foi levada ao Conselho de chefes e mesmo eu intercedendo não adiantou. Ela foi excluída do grupo e o pior, exigiram que ela devolvesse o Lis de Ouro, o Escoteiro da Pátria e a Insígnia de B.P. Absurdo Chefe, tanto que pedi para sair. Se não fosse o Chefe Leôncio eu não teria mais voltado para o grupo.

                     Elas assumiram seu romance e foram morar juntas. Lisbela ainda não tinha emprego, mas Nair era enfermeira no Hospital Santo Ângelo. Os pais de Lisbela a abandonaram e mudaram de cidade, eles nunca aceitaram o “casamento” ou a união de ambas. Lisbela ficou sem nada, tentou arrumar um emprego e não conseguiu. O destino é engraçado, quando tudo vai bem, beijos, abraços, cumprimentos e depois todos viram as costas sem sequer entender a razão de cada um. Eu pensava que pelo menos a maioria dos chefes fossem perdoar se fosse possível o perdão já que a escolha de dois adultos deve ser respeitada sem interferência de ninguém. A vida é assim e poucos têm piedade quando duas pessoas do mesmo sexo se amam e resolvem assumir seu amor.

                      Acho Chefe que ambas estavam aqui na terra para pagar algum que fizeram em outras vidas. Só pode ser. Cinco meses depois Nair foi demitida do Hospital. Não conseguiu emprego e ela e Lisbela resolveram mudar para outra cidade mais distante. Quando ela se foi meu mundo que já não tinha chão me jogou como um boneco espatifado no asfalto. Nem sei como não morri. Passei a beber e olhe Chefe eu era um escoteiro de mão cheia. Nunca pensei que chegaria neste estado por uma mulher. Quatro anos depois por muita insistência voltei ao grupo. Muitos ainda se mantinham ressentidos. Resolvi mudar e sempre dava em cada meu aperto de mão e um abraço. Recebiam desconfiados pensando que eu também tinha mudado meu estilo de homem macho.

                        Qual não foi minha surpresa quando fui fazer um curso na capital me dei de cara com Lisbela. Era outra. Cabelos brancos, despenteados, sorria mostrando a falta de dentes e outros cariados. Não era a figura da Lisbela que guardava na memória. Ela me cumprimentou. Convidei-a para almoçar comigo e aceitou com reservas. Perguntei por Nair e ela me respondeu chorando. - Morreu Augusto. Quando chegamos aqui uma pneumonia e um câncer a matou em quatro meses. Foi meu fim também. Pensei em me matar, mas meu passado escoteiro não deixou. Ainda tenho na mente as leis e a decima primeira de B.P nunca esqueci. – Me lembrei: - O escoteiro é puro nos seus pensamentos nas suas palavras e nas suas ações.

                       Ficamos depois em um banco da praça próximo a rodoviaria e ela me disse que trabalhava como faxineira, morava em uma favela e nunca mais viveu com ninguém. – Moro sozinha Augusto. Nair foi para mim o sol da minha vida. Sem ela vivo sem pensar no futuro a não ser quando me for encontrar com ela no paraíso. Se for merecedora, claro. – Ela mesmo ainda tinha dúvidas do seu gesto. Chefe, o senhor me conheceu quando menino escoteiro. Conheceu-me nos cursos que fiz com o senhor, sabe como penso e foi sempre um amigo em que podia contar. Mas eu quero perdoar Lisbela por não me ter escolhido e não consigo. A mágoa ainda persiste e achei que ela não podia ter fechado seu coração para mim.

                        Não sabia o que dizer ao Augusto. Ainda era um belo homem e continuava no escotismo ajudando quem precisava ser ajudado. Os jovens. Olhei para ele e falei baixinho: - Augusto perdoar é mais importante do que receber o perdão. Remoer mágoas e ressentimentos envenena a alma. Viver esse envenenamento destrói o ser. – Ele me olhou com os olhos rasos d’água. Não me disse nada. Saiu devagar sem olhar para trás. 


                          Fui para casa pensando nas palavras de um poeta: - “Quero voltar a viver ao seu lado, nos magoamos eu sei. Mas perdoar não é esquecer. É apenas lutar por mim e por você”! Verdade? Se for assim o amor venceu!

nota: - O mundo está mudando e diversas situações que eram tabus no passado agora são mais factíveis e aceitas. Mesmo assim costumamos virar as costas quando tudo acontece entre nós. Certo ou errado todos tem direito a escolher seu destino e com quem viver. A história de Lisbela e Nair é uma ficção, mas tem muito de real por muitos que tentam viver feliz.

terça-feira, 20 de junho de 2017

Lendas da Jângal. O Lobinho João e o pé de feijão.


Lendas da Jângal.
O Lobinho João e o pé de feijão.
(Baseado em uma fábula dos irmãos Grimm).

                  A Akelá Anita quase não aguentava mais ficar acordada. Foi um dia cansativo e ela sozinha com dezoito lobinhos e lobinhas em um acantonamento só queria dormir. O relógio marcava oito da noite. Ela sabia que eles não iriam dormir tão cedo. No programa havia um jogo noturno e depois cama. Será? Estava sozinha. Norma e José seus assistentes na última hora não puderam comparecer. Eram casados e na última hora ficaram sabendo que a mãe de Norma passava muito mal e iria para o hospital. Cancelar o Acantonamento? Ele sabia que não. A preparação foi grande. Tinha a ajuda de Dona Ana na cozinha e só.

                 Sentaram-se na varanda e serelepes os lobos brincavam nas mais diversas invenções que só as crianças pequenas sabem fazer. Ela queria dormir, daria tudo por uma cama. – Akelá! Akelá, acorde! Ela sonolenta viu que era Tati da Matilha Marrom. – Que foi? Perguntou. – Conte uma história! – Ela sorriu. Contar histórias não era seu forte, mas viu muitos lobinhos se aproximando e gritando: - Conta, Conta! – Não tinha jeito. Não havia nenhuma história preparada para contar. Ela não tinha o dom de tirar do baú uma história e fazer dela uma bela forma de aprendizado para os lobos da alcateia. – Fechou os olhos e parecia que alguém ajudava a desenvolver a historia e ela começou:

- Era uma vez, numa pequena cidade bem longe daqui, tinha um Lobinho chamado João. Ele vivia com sua mãe, pobre viúva em um casebre bem longe da cidade. – Ela viu que os lobos sentaram em volta dela prestando muita atenção e ela continuou: - Um dia sua mãe disse a ele: - Joãozinho acabou a comida e o dinheiro. Vá até a cidade leve a Mimosa nossa vaquinha o único bem que nos resta, venda pelo melhor preço e compre alguma coisa para a gente comer. João ficou muito triste. Ele amava a Mimosa e pensou que ficar sem ela seria muito ruim para ele. Ele sabia que não tinha nada para fazer o almoço e chorando baixinho pegou a vaquinha e foi para a cidade para vender e comprar comida.

- No caminho encontrou um homem que ele não conhecia, mas bom de conversa e o convenceu a trocar a vaquinha por sementes de feijão. O homem educadamente disse para ele: - Leve estas sementes. São mágicas. Com elas vocês nunca mais passarão fome! – João Acreditou e com as sementes de feijão voltou para casa. Quando sua mãe soube ficou furiosa. Mesmo assim jogou tudo pela janela. João triste foi para seu quintal ouvir o canto dos pardais que ele gostava muito. Foi então que notou uma enorme árvore que ia até o céu. Não chamou sua mãe e decidiu subir pelo pé de feijão até chegar nas nuvens.

- João era um lobinho esperto e pensou que poderia encontrar lá em cima um pote de ouro que os arco íris possuem. No topo João ficou maravilhado ao encontrar um castelo nas nuvens e foi vê-lo de perto. Não viu uma enorme mulher surgir de dentro do castelo e agarrá-lo. – O que faz aqui menino? Será o meu escavo. Olhe cuidado não deixe o gigante saber se não ele vai comê-lo. Vou esconder você. – O gigante chegou fazendo muito barulho. A mulher o escondeu em um armário. – O gigante rugiu: - Sinto cheiro de criança! E farejou todos os cantos do castelo tentando achar. A mulher falou para ele: Gigante, este é o cheiro da comida que irei servir. Sente-se a mesa meu senhor!

- O gigante comeu o saboroso alimento. Depois ordenou a uma galinha prisioneira que pusesse um ovo de ouro e disse a uma harpa que tocasse uma melodia. O gigante adormeceu logo. João se sentindo protegido com o sono do gigante saiu de onde estava rapidamente pegou a galinha que cacarejou e a harpa fez um som estridente. O Gigante despertou. João correu com a galinha embaixo do braça e a harpa na outra mão.  O gigante correu atrás dele. João chegou primeiro ao tronco do pé de feijão e deslizou pelos ramos. Quando estava chegando ao chão gritou para sua mãe que o esperava: Mamãe vá buscar o machado, tem um gigante atrás de mim! João cortou o tronco que caiu com um estrondo. Foi o fim do Gigante.

- Todas as manhãs a galinha põe ovos de ouro e a harpa toca para João e sua mãe, que viveram felizes para sempre e nunca mais sentiram fome.

                      A Akela olhou para os lobos, agora desperta e disse: - Lobinhos como moral da história devemos acreditar que sempre nossos sonhos podem resolver nossos problemas se tivermos vontade de fazê-los realizar. João acreditou e mesmo fazendo tudo ao contrário hoje eles tem renda e não passam mais fome. Mas cuidado toda história são histórias. Não vão vocês subir em pé de feijão que aparecer na frente, podem se dar mal!
- A Alcateia caiu na gargalhada e todos foram dormir para alívio da Akela!

nota - ... E foi então que livre do perigo João abraçou sua mãe alegremente. E, depois daqueles dias os dois passaram a viver tranquilos. Tempos depois, quando João se tornou um homem forte e bonito, se casou com uma princesa com quem viveu feliz por muitos e muitos anos. Quanto ao pé de feijão, depois de cortado, secou completamente e, como não havia mais sementes nunca mais nasceu outro igual. Divirta-se com esta fábula muito conhecida.


segunda-feira, 19 de junho de 2017

Açu Pintassilgo, o Jacaré chorão do Lago Ness.


Açu Pintassilgo, o Jacaré chorão do Lago Ness.

(um conto para lobinhos)

       Ele não era um jacaré comum. Nunca foi. Não se enturmava. Morava na beira do Lago Ness. Não saia dali para nada a não ser um mergulho ou outro. Achou próximo aos coqueiros uma enorme pedra. Seu local preferido. Metade da pedra afundava na água escura e ele ali ficava o dia inteiro.  Metade fora d’água e a outra dentro d’água. Seus pais disseram que ele era um legítimo Jacaré-Açu, uma linhagem de muitos e muitos anos. Açu Pintassilgo nunca se importou com isto. Um dia um Escoteiro sentou ao seu lado e conversa vai conversa vem ele disse – Açu Pintassilgo, você sabe o que significa Jacaré para os homens? Dizem que seu nome deriva dos tupis-guaranis, Iakaré ou Yacaré, aquele do olho torto, encurvado e que vê pelos lados. Açu Pintassilgo não achou graça. Olhou para o Escoteiro e disse: E daí? Eu tenho orgulho da minha linhagem. Tanto orgulho que aprendi a ser amigo de todos. Você me conhece bem, sempre fui um cavalheiro com todos os Escoteiros e escoteiras.

        O Escoteiro não disse mais nada. Poderia ter dito que ele era o maior chorão do Lago Ness. Poderia ter dito que ele era motivo de piada para todos na patrulha. Poderia ter dito que nos fogos de conselhos era falar nele e todos morriam de rir. Mas o Escoteiro era leal. Não ia desfazer do Açu Pintassilgo. Isto não. Só que nenhum Escoteiro sabia que lágrimas de jacarés são falsas. Conta uma lenda que seus bisavós os crocodilos quando iam comer uma presa, eles engoliam sem mastigar. Assis para abrir a mandíbula ele precisava comprimir a glândula lacrimal e elas abertas começavam a lacrimejar. As lagrimas lubrificam o olho. Mas Açu Pintassilgo gostava de ver os outros dizer que ele era um Jacaré Chorão.

        Não tenho certeza, mas acredito que foi no verão passado que apareceu nadando uma linda Jacaré. Açu Pintassilgo apaixonou só de olhar. Amor à primeira vista. Naná Verdes Mares olhou Açu Pintassilgo e nem prestou atenção. Foi nadando e ao passar por ele deu um sorrisinho maroto. Açu Pintassilgo pulou na água e quando a procurou viu que ela sumiu. Agora Açu chorava mesmo. Perdeu seu amor e não sabia como fazer. O Escoteiro a tarde apareceu e ouviu sua história. Deixe comigo Açu, você sabe, vou espalhar aos quatros ventos do Lago Ness. Vamos encontrar sua amada custe e o que custar. Dizem que quem tem boca vai a Roma. Sei não. Meu fogão tem quatro bocas e nunca saiu da cozinha. Risos. Durante cinco dias os Escoteiros rodaram céus e terra atrás da amada de Açu Pintassilgo. Até duas patrulhas de Escoteiros do Mar vieram ajudar com seus botes.

          Foi uma luta, mas como os Escoteiros não desistem facilmente eles encontraram Nana Verdes Mares tomando sol na Praia do Paco-Paco. Orelhudo era um Escoteiro calmo. Sabia conversar e nunca perdia a “fleuma”. Chegou devagar onde estava Nana Verdes Mares. Ela com seu olhar sonhador fixou Orelhudo e pensou – Que diabos este Escoteiro quer de mim? – Orelhudo não se fez de rogado. Contou tudo devagar, elogiando Açu Pintassilgo, dizendo que era um ótimo partido e ela seria feliz com ele para sempre. Nana Verdes Mares riu. – Olhe Orelhudo, eu já tenho namorado. Ele passa luas e luas sem me procurar e assim fica difícil para começar tudo de novo com outro. Você sabe que as femeas jacarés são as mais fieis que existem entre os repteis. Se vocês acham que podem ajudar procurem Dente Grande o meu amado e digam para ele o que pretendem. – Orelhudo pensou e pensou. Agora a barra pesou. Se o cara-jacaré tem dente grande o melhor é saltar de banda.

           Orelhudo contou para a tropa o que aconteceu. Infelizmente Açu Pintassilgo ficaria solteiro por muito tempo. Neneco Risadinha deu uma opinião. Somos vinte e oito e o tal de Dente Grande é só um. Quem sabe poderemos chamá-lo e fazer um acordo? Assim era Neneco Risadinha e logo contou mais uma de suas piadas – Amigos! Porque o Jacaré tirou o jacarezinho da escola? E rindo respondeu – Porque ele “réptil” de ano. E riu a valer. A tropa de Escoteiros percorreu todos os cantos do Lago Ness e deixou um aviso para Dente Grande. – Cinco Jacarés vindo do Japão estavam à procura dele. Souberam que ele era valentão e precisavam de um Jacaré durão para uma luta de Sumô de vida ou morte. Quando Dente Grande soube disto atravessou dois continentes até o Japão. Lutar era com ele. Mas um navio pesqueiro japonês o viu e o confundiu com uma orca negra. Dito e feito. Dente Grande foi pescado e dizem que hoje é o prato mais delicioso nos restaurantes japoneses. Eles acharam o Sushi de jacaré o melhor do mundo.

            Agora Nana Verdes Mares estava livre. Açu Pintassilgo deitou a correr sobre as águas do lago Ness até onde ela estava. Fez à corte, ela aceitou. Casaram-se e no dia do casamento Toda a Tropa Escoteira presente. Milhares e milhares de peixes, jacarés, crocodilos e centenas de peixes enormes. Palmas, foguetes e a festa durou uma semana. Até o Monstro do Lago Ness esteve presente. Bonachão ria a valer das piadas de Neneco Risadinha. A que ele mais gostou foi a do peixe que estava nadando no mar e de repente veio uma onda tão forte que ele morreu afogado! E o monstro do Lago Ness riu a valer e riu mais quando Risadinha contou que conheceu uma loira e ela estava brava, muito brava com um peixe. De repente ela berrou para o peixe – Seu peixe desgraçado! Você vai ver! Vou afogar você!


            Bem apenas uma lenda e não dizem que lenda é lenda? Mas me contaram que enquanto durou o casamento de Açu Pintassilgo com Nana Verdes Mares, o lago Ness ficou infestado de jacarezinhos. E por muitos e muitos anos os dois viveram felizes para sempre!

domingo, 18 de junho de 2017

Um acampamento inesquecível. (baseado em fatos reais).


Um acampamento inesquecível.
(baseado em fatos reais).

               Final da década de cinquenta. Tinha feito um CAB (Curso de adestramento básico) e liderava uma tropa escoteira no meu grupo de origem. Neste curso fiz muitos amigos, mas o Chefe Gafanhoto foi especial. Gente boa, educado, bom ouvinte quase não falava. Cantava bem, bom violeiro e um grande mateiro. Tinha um sonho de se alistar na Legião Estrangeira. Eu ria quando ele dizia isto e olhe até mesmo o invejava. Quem sabe eu também gostaria de viver estas aventuras? Foram cinco dias de curso maravilhosos e no final ele me deu seu endereço e levou o meu. Passado um ano e meio recebi uma carta dele: - Chefe! Que tal acamparmos juntos? Minha tropa e a sua. – Grande ideia Chefe Gafanhoto. Quando? - Vamos aproveitar janeiro do próximo ano.

            As correspondências foram frequentes naqueles seis meses que faltavam para nosso acampamento. A tropa esperava com ansiedade. Em fins de outubro recebi uma carta dele. – Chefe, o Senhor Molixto, pai de um Escoteiro tem uma fazenda próxima a Três Estrelas. Metade do caminho para mim e você. Acho que uns noventa quilômetros de sua cidade. Você passa Três Estrelas e marca mais cinco quilômetros. Vais ver uma bifurcação. Alí será o ponto de encontro. Até a fazenda são mais oito km. Teremos dois carros de bois para transporte do material do entroncamento até o local. O local é excelente, boa aguada, cachoeira, mata e muito bambu. Garantiu também que será por conta dele a carne de porco, arroz, feijão, batata verduras e frutas. Ele tem isto na fazenda!

                  Perfeito. Em outra carta confirmei o horário de encontro. A tropa vibrou quando contei sobre o acampamento. Consegui na prefeitura um caminhão lonado, Chefe João Soldado conseguiu o que precisávamos de alimentos no Armazém do seu Amadeus. Iriamos com quatro patrulhas. As patrulhas se reuniam preparando para a grande atividade. A Corte de Honra sempre discutindo o programa. Conforme combinado seria metade nossa e metade do Chefe Gafanhoto. Seriam seis dias acampados. Partimos em uma manhã chuvosa. O caminhão estava lonado. Rio Bahia, estrada de terra ainda sem asfalto. Noventa quilômetros. Chegamos às nove e meia da manhã. Corre daqui, corre dali, tralha nas costas, chuvinha intermitente e pegamos a bifurcação. Vimos à tropa do chefe Gafanhoto do outro lado de um pontilhão de madeira. O córrego cheio. Imenso. Passava por cima da ponte. Não dava para atravessar. Um barulhão tremendo das corredeiras.

                  A Patrulha Raposa montou um posto de transmissão de semáforas. Entendemo-nos. Armamos barraca debaixo de chuva e combinamos esperar a enchente diminuir. As patrulhas improvisaram um toldo e um fogão tropeiro. Saiu uma sopa com pão fresco. A Pica Pau insistiu que eu comesse com eles. À noite as patrulhas resolveram conversar por Morse. A turma do Chefe Gafanhoto era boa na sinalização. Dormimos cedo. De manhã sem chuva tempo cinzento e frio. A enchente diminuiu. Rogério Monitor me procurou. Chefe, as barracas estão cheias de escorpiões. Expliquei como fazer batendo os lençóis à banda da barraca e o vestuário individual para empacotamento em um tronco de arvore. Graças a Deus ninguém foi mordido. Resolvemos fazer a travessia em jangadas. Não dava ainda para atravessar na ponte. Cada Patrulha fez uma pequena jangada. Uma festa. A outra tropa gritando e ajudando. Às onze da manhã estávamos do outro lado.

                   Abraços, saudações, apertos de mão, gritos de patrulha. Partimos. Os carros de boi lotados. Sempre gostei deles. Emitem um som estridente que muitos chamam de carro Cantador. Dizem que são feitos assim para anunciar sua passagem. Chefe Gafanhoto brincando com todos, animando e cantando lindas canções escoteiras. Oito quilômetros tirados de letra. Chegamos à tarde ainda com sol. Seu Molixto gente boa. Comemos goiabas e bananas. Ele tinha uma carne de porco frita. Beliscamos mas iriamos fazer o jantar já com as patrulhas montadas em seu campo. Dei uma volta no local. Maravilhoso. A cascata era linda. Batizei-a como a Cascata da Fraternidade. Seis dias maravilhosos. Parecia que os sessenta jovens ali presentes se conheciam a longo tempo. Mais que irmãos. Seu Molixto um gentleman. Dois meninos filhos de um meeiro (morador da fazenda, planta e dá uma parte da colheita ao dono) se encantaram. Chefe Gafanhoto os colocou cada um em uma Patrulha.

                      Tiana filho do Seu Molixto uma bela morena dos seus quinze anos não tirava os olhos de mim. Fiquei triste quando partimos e ela chorou. Lagrimas e lagrimas em seus olhos. No acampamento teve de tudo. Bois que invadiram o campo à noite acordando todo mundo. Ricardinho pegou uma traíra de quatro quilos. Só vendo para acreditar. A luta da lança medieval no remanso da Cascata da Fraternidade valeu o acampamento. A jornada na Caverna do Vento outro. Começava em um lado da montanha e saia do outro lado sempre soprando um som estridente. Mais de dois quilômetros na escuridão. E os pistoleiros? Ficavam escorados no tronco da macaxeira a nos espiar. Seu Molixto dizia que eram de paz. Norbertinho em um jogo noturno caiu de uma arvore. Quebrou a perna. Levado a cidade voltou para o acampamento enfaixado. Ele mesmo fez uma muleta e não chorou. 

                      A falsa baiana em cima do remanso a mais de quinze metros de altura deu o que falar. A ponte pênsil que a Patrulha do Morcego fez durou dois dias com um belo tombo do Japirim. O ninho de águia da Patrulha Coruja dizem está lá até hoje.  Risos. A “desandeira” que deu em todos por comerem muita goiaba deu para rir a beça. Sempre um correndo para o WC que logo encheu! Final de acampamento. Meninos da fazenda chorando. Seu Molixto emocionado fez o juramento e recebeu os dois lenços um de cada grupo. Os dois pistoleiros vieram nos cumprimentar. Tiana me procurou dizendo que me amava e nunca mais ia me esquecer. Nunca mais a vi.  Retorno triste, Chefe Gafanhoto tentando animar. Partida chorosa, nosso caminhão lotado dando adeus. Edinho com sua bandeirola de semáfora transmitia até breve e adeus até o caminhão virar a curva da estrada. Meninos se acenando e chorando. Promessas de um novo reencontro. Amizades que se formaram e duraram por uma eternidade. Janeiro de mil novecentos e cinquenta e nove que entrou para a história.


                      Cinco anos depois recebi uma carta do Chefe Gafanhoto – Chefe Vado estou partindo para a França. Vou me alistar na Legião Estrangeira. Nunca mais o vi. Acho que seu sonho de ser um legionário foi realizado. Ainda deve estar escoteirando nas dunas montanhosas ao norte da Argélia. Sonhos são sonhos. Cada um faz o seu. Belo acampamento. Grande amigo o Chefe Gafanhoto. Nunca mais o vi e nunca mais o esqueci. Ficou marcado para sempre em meu coração.

nota: - Eu fiz centenas de acampamentos em minha vida. Cada um tem uma historia, mas este com a tropa do Chefe Gafanhoto ficou para sempre na memória de todos que estiveram lá. Coisas boas misturadas com fraternidade não dá para esquecer. Viagem comigo nesta bela aventura do passado, misto de sonhos, mas reais!   

Era uma vez... Em uma montanha bem perto do céu...

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