terça-feira, 10 de janeiro de 2017

Rosana.


Rosana.

                 - Aceito a aposta. Espero que vocês cumpram a palavra empenhada e me paguem por cada mês que estiver lá! – Rosana era considerada uma jovem frívola, fútil, inconstante e mesmo tendo amigas no Colégio eram poucos que se aproximavam. Seu ar pedante afastava quem queria se aproximar. Não era rica, família classe média e seus pais gastavam o que não podiam para que ela chegasse pelo menos na faculdade. Tudo começou quando um Chefe Escoteiro autorizado pela Diretoria fez uma pequena palestra em sua sala de aula sobre o que é e o que pretende o escotismo. A maioria dos alunos acharam interessante, mas teve aqueles que acharam que era o maior blefe de todos os tempos.

                   Na hora do recreio Anita brincando fez o desafio. Aposto que você não fica um mês! Joelma e Toninha disseram o mesmo. – Quanto? Perguntou Rosana. 50 pratas por mês que você ficar lá. Se conseguirem cinco meninas para apostar eu topo. Estou sem dinheiro e meu pai disse que mesada só se melhorar minhas notas. Se eu perder o que irei pagar? – O mesmo Rosana, 50 pratas para cada uma. Mas lhe damos três meses para pagar. Aposta feita e lá foi Rosana e sua mãe no sábado para fazer a inscrição. No trigésimo segundo dia cobrou sua aposta. As colegas riram, mas pagaram os duzentos e cinquenta que deviam. – Cochicharam dizendo que ela não ia aguentar mais um mês.

                   Quatro meses depois pediram “arrego”. – Você está ficando rica com nosso dinheirinho. È melhor parar por aqui! Rosana riu. Sabem aonde vai o dinheiro? Para o Caixa da Patrulha Gavião. – Você não vai sair mais? – Nunca mais disse Rosana. – Mas o que te prende tanto assim nesta turma sem graça com um uniforme militar e fica em fila feito soldadinha de chumbo? Rosana olhou uma por uma. Querem mesmo saber? Quando entrei nem pensei que seria assim. Pensava que ia lucrar um ou dois meses e ganhar o dinheiro da aposta. Nunca pensei que estava enganada e que Baden-Powell iria mudar minha vida.

                   Baden-Powell? Ele mesmo, um general inglês que fez um movimento que hoje passa de trinta milhões. Que mais de setecentos milhões já passaram nas sendas Escoteiras. As colegas caladas. – Rosana continuou: - Sou reconhecida como alguém que aprendeu a ser fraterna. Respeitam-me na patrulha. Ninguem é uma só e somos todos unidos por uma lei e uma promessa que fiz e quase chorei. Brincamos com lealdade, respeitamos nossas individualidades, mas sempre tem alguém para nos ajudar a vencer as adversidades. As colegas espantadas ouviam tudo que Rosana dizia.

                    Lá tudo é belo, belo as idéias, belo a filosofia, belo minha patrulha, belo o meu novo crescimento individual. Belos os meus chefes que me tratam com
carinho não gritam e me respeitam. Vocês nem imaginam como são nossos acampamentos. Lindos demais. O ar do campo sempre agradável, a brisa da madrugada que aqui na cidade nunca tinha ouvido falar. Nem imaginam as tardes a passarada cantando procurando seus ninhos os seus hotéis cinco estrelas. Pensem em um céu estrelado tão lindo que a gente quer tocar, quer contar quantas são e chora de alegria só em ver.

                   - E dormir em uma barraca ouvindo através da lona, os pingos da chuva caindo? E na penumbra da noite com uma coruja tomando conta de você? O anoitecer é tão belo que eu fico embriagada do perfume que se espalham no ar. Beija flor se despedindo, a última abelha levando seu néctar para alimentar suas irmãs de colmeia. E os pirilampos? Os grilos falantes? Belo demais ouvir o cantar de uma cigarra. Tudo isto faz da boca da noite uma espetacular orquestra com o maestro invisível lá em cima no céu sorrindo e fazendo vibrar os ruídos da noite em nossos ouvidos humanos. A madrugada então é mais bela. O nascer do sol, a lua se escondendo os pássaros voando no ar para mais um dia de vida na selva que é o seu lar.


                    - Rosana se calou. Seus olhos humedecidos mostravam o seu novo amor conquistado. Ela agora tinha outra vida. Outra filosofia. Outro céu, uma barraca que não precisava armar nas noites enluaradas. As suas amigas olhando pensavam onde ela poderia ter tirado tanta beleza na vida aventureira, no seu contato com a natureza. Rosana sabia que agora seria escoteira para sempre. Gostava de ficar só nas tardes dos acampamentos pensando e olhando longe uma árvore copada que parecia estar de braços abertos para ela: Sou escoteira, vou continuar sendo e levarei o espírito de B-P para sempre em minha vida. Ah! Escotismo que conquista quem tem uma força sem igual. Rosana não convidou ninguém, ela sempre pensou que cada um tem sua hora, a dela aconteceu. Afinal se ela amou e ama o escotismo ela sabe que nem todos podem pensar como ela, mas um dia, qualquer dia irão descobrir e irão amar para sempre!

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Era uma vez... Em uma montanha bem perto do céu...

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