Crônicas de um Velho Escoteiro
Melinda, eu ontem pensei em você...
Pensei comigo mesmo, eu nunca esqueci você. Acredite em mim esteja onde
estiver. Não duvides, pois você sabe da minha palavra meu caráter e minha honra
e como Escoteiro ninguém nunca me viu mentir. Eu sempre penso em você. Você
sabe como eu sou e quando estávamos juntos quantas coisas eu disse e sabia que
você me entendia, apesar de ficar calada e nada dizer. Afinal lembranças são
lembranças e elas ficam presas no coração da gente e fazemos tudo para ela não
partir. Muitas vezes voltamos no tempo, através de um pensamento, e tudo volta
como se o tempo não tivesse passado. Eu nunca me esqueci de você. Se quiseres
saber a verdade já tentei muitas vezes te esquecer e não consegui. Quando
fiquei longe não queria que me visse chorar... Por você! Mas hoje meu amor eu
já desisti de tentar. Pensei até em fugir e seguir por aí. Quem sabe te
encontro? Se em um deslumbre, um pensamento nobre, uma lembrança perdida e se
por acaso eu te esquecia isto me machucava. Saudades doidas, pois não se
esquece fácil de quem se ama.
Desculpe. Perdoe-me, mas
até pensei em sumir, desaparecer, despistar, fugir. Só para não me lembrar de
você. Tudo bem eu sei que sou culpado e você sabe sem nossas lembranças e
esperanças somos mortos vivos pensando que ainda vivemos. Temos que andar prá
frente, você mesma me disse naquele dia tão longe naquela subida que pensei em
maldizer você. Mas logo me refiz e dai em diante enquanto estivemos juntos
valeu por toda uma vida. Você se lembra? Eu tentei fazer uma poesia para você,
linhas bem feitas, palavras bonitas. Não consegui. Hoje quando estava
anoitecendo e a chuva começou a cair lá vinha você em todo seu esplendor como a
dizer que não posso te esquecer. Tem hora que me recordo, não esqueço o que
fizemos nas jornadas infinitas, nos morros íngremes que você pedia para parar. Quantas
noites enluaradas vendo seu olhar espantado como se estive apaixonada por mim.
Eu não tinha ciúmes de
você. Eu sabia que era apaixonada também pelos demais. Não podia ter. Você
nunca foi só minha eu sabia disto. Você era de todos. Eu sei que o tempo
passou, mas qual tempo que não passa? O tempo você sabe não pede passagem, ele
não nos dá a chance de dizer não. Eu sei que amanhã é seu aniversário. Fiquei
matutando que presente te dar. Mas cadê você? Eu poderia te dar o céu, mas ele
é tão grande que não ia caber em você. Quem sabe abraçar um punhado de estrelas
e presentar você? Liguei para os outros e poucos ainda se lembram dos belos
tempos de outrora que juntos corremos pelas trilhas das montanhas a cantar o
Rataplã. Eu, eles e você. Nesta última noite não dormi. Virava na cama prá lá e
prá cá. Deveras impaciente. Até me sentei no escuro e pensei: - Não é a posição
que ficava quando ao seu lado eu dormia só pensando em você.
Não há saudades que sustente, não há lembranças que aumente todo o amor
que eu tive por você. Aceitava que todos estivessem apaixonados, afinal os
direitos são iguais. Sei que você nunca decidiu a quem dar seu coração. Eu
sabia que era de todos e nunca foste só minha. Que saudades quando no silêncio
da madrugada, eu via você quieta, sem falar, quem sabe esperando o alvorecer
era bom demais. Muitas vezes sentava na grama ao seu lado, com meu olhar
apaixonado e cantava músicas românticas, me lembrava de momentos inesquecíveis,
das peripécias marcadas, de uma vida que Deus nos reservou. Que coisa boa era
acordar, o lusco fusco do sol saudando belos momentos, a gente sem argumentos
tentar fazer você acordar. Sorria como sorri na ponte do adeus que atravessamos,
e eu ainda a vejo a sorrir alma linda sorridente, momentos inesquecíveis que
ficaram marcados para sempre.
Quando penso, fico em silêncio tão profundo
que machuca meu coração. Eu e os outros sabíamos que você era nosso sentido da
vida. Você foi nosso amor ontem, hoje amanhã e sempre. Nunca esqueci aquele dia
lindo quando você nasceu e te chamamos de Melinda, Deus que coisa linda era
chamar você. – Em frente, Melindaaa! - Nos acompanhou por toda a vida, sempre
nos deu guarida por onde pusemos nossos pés. Hoje aqui sozinho, sem ter os
outros amigos, vivendo só para o momento que sempre nos reservou. Ah! Minha linda
carrocinha, amiga de todas as horas não só eu e todos nós da Patrulha Leopardo.
Você sempre nos deu alento, viajando com ou sem o vento, subindo serras sem
fins. Melinda, você nunca nos decepcionou. Por onde fomos quantos caminhos
cruzados e foi você, sim, foi você mesmo quem sempre nos ajudou. E quando no
campo armado, você sempre ao nosso lado, com sua capa faceira, duas rodas na
algibeira, mostrando ser boa Escoteira, a gente sempre pensava, que naqueles
belos momentos, momentos sem ser finitos, era você nossa guia, nosso amor de
carrocinha.
E o tempo passou e nem
sei onde você está. Ainda viva? Ainda rangendo bonito no morro do papagaio nas
mãos de uma patrulha qualquer? Sei que ninguém me entende, pois amar uma
carrocinha são coisas de escoteiros, alegres e bons faceiros que dão a vida por
uma que os leve por aí. Os tempos se foram, eram seis jovens meninos
Escoteiros, que um dia fizeram você e se apaixonaram pela sua criação. Carrocinha
verde e amarela a rodar por longas estradas sem medo sem aflição. Dizem que escoteiro
não desiste de quem ama. Ele sabe o amor que tem, pois ser Escoteiro não exige
perfeição. Você minha amiga Melinda, nossa linda carrocinha da patrulha
Leopardo, nos trouxe a paz e o amor. Mas hoje com minha idade, eu sinto uma
enorme saudade... De você!
Melinda! Onde está você?
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