segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Melinda, eu ontem pensei em você...


Crônicas de um Velho Escoteiro
Melinda, eu ontem pensei em você...

                   Pensei comigo mesmo, eu nunca esqueci você. Acredite em mim esteja onde estiver. Não duvides, pois você sabe da minha palavra meu caráter e minha honra e como Escoteiro ninguém nunca me viu mentir. Eu sempre penso em você. Você sabe como eu sou e quando estávamos juntos quantas coisas eu disse e sabia que você me entendia, apesar de ficar calada e nada dizer. Afinal lembranças são lembranças e elas ficam presas no coração da gente e fazemos tudo para ela não partir. Muitas vezes voltamos no tempo, através de um pensamento, e tudo volta como se o tempo não tivesse passado. Eu nunca me esqueci de você. Se quiseres saber a verdade já tentei muitas vezes te esquecer e não consegui. Quando fiquei longe não queria que me visse chorar... Por você! Mas hoje meu amor eu já desisti de tentar. Pensei até em fugir e seguir por aí. Quem sabe te encontro? Se em um deslumbre, um pensamento nobre, uma lembrança perdida e se por acaso eu te esquecia isto me machucava. Saudades doidas, pois não se esquece fácil de quem se ama.

                      Desculpe. Perdoe-me, mas até pensei em sumir, desaparecer, despistar, fugir. Só para não me lembrar de você. Tudo bem eu sei que sou culpado e você sabe sem nossas lembranças e esperanças somos mortos vivos pensando que ainda vivemos. Temos que andar prá frente, você mesma me disse naquele dia tão longe naquela subida que pensei em maldizer você. Mas logo me refiz e dai em diante enquanto estivemos juntos valeu por toda uma vida. Você se lembra? Eu tentei fazer uma poesia para você, linhas bem feitas, palavras bonitas. Não consegui. Hoje quando estava anoitecendo e a chuva começou a cair lá vinha você em todo seu esplendor como a dizer que não posso te esquecer. Tem hora que me recordo, não esqueço o que fizemos nas jornadas infinitas, nos morros íngremes que você pedia para parar. Quantas noites enluaradas vendo seu olhar espantado como se estive apaixonada por mim.

                      Eu não tinha ciúmes de você. Eu sabia que era apaixonada também pelos demais. Não podia ter. Você nunca foi só minha eu sabia disto. Você era de todos. Eu sei que o tempo passou, mas qual tempo que não passa? O tempo você sabe não pede passagem, ele não nos dá a chance de dizer não. Eu sei que amanhã é seu aniversário. Fiquei matutando que presente te dar. Mas cadê você? Eu poderia te dar o céu, mas ele é tão grande que não ia caber em você. Quem sabe abraçar um punhado de estrelas e presentar você? Liguei para os outros e poucos ainda se lembram dos belos tempos de outrora que juntos corremos pelas trilhas das montanhas a cantar o Rataplã. Eu, eles e você. Nesta última noite não dormi. Virava na cama prá lá e prá cá. Deveras impaciente. Até me sentei no escuro e pensei: - Não é a posição que ficava quando ao seu lado eu dormia só pensando em você.

                  Não há saudades que sustente, não há lembranças que aumente todo o amor que eu tive por você. Aceitava que todos estivessem apaixonados, afinal os direitos são iguais. Sei que você nunca decidiu a quem dar seu coração. Eu sabia que era de todos e nunca foste só minha. Que saudades quando no silêncio da madrugada, eu via você quieta, sem falar, quem sabe esperando o alvorecer era bom demais. Muitas vezes sentava na grama ao seu lado, com meu olhar apaixonado e cantava músicas românticas, me lembrava de momentos inesquecíveis, das peripécias marcadas, de uma vida que Deus nos reservou. Que coisa boa era acordar, o lusco fusco do sol saudando belos momentos, a gente sem argumentos tentar fazer você acordar. Sorria como sorri na ponte do adeus que atravessamos, e eu ainda a vejo a sorrir alma linda sorridente, momentos inesquecíveis que ficaram marcados para sempre.

                        Quando penso, fico em silêncio tão profundo que machuca meu coração. Eu e os outros sabíamos que você era nosso sentido da vida. Você foi nosso amor ontem, hoje amanhã e sempre. Nunca esqueci aquele dia lindo quando você nasceu e te chamamos de Melinda, Deus que coisa linda era chamar você. – Em frente, Melindaaa! - Nos acompanhou por toda a vida, sempre nos deu guarida por onde pusemos nossos pés. Hoje aqui sozinho, sem ter os outros amigos, vivendo só para o momento que sempre nos reservou. Ah! Minha linda carrocinha, amiga de todas as horas não só eu e todos nós da Patrulha Leopardo. Você sempre nos deu alento, viajando com ou sem o vento, subindo serras sem fins. Melinda, você nunca nos decepcionou. Por onde fomos quantos caminhos cruzados e foi você, sim, foi você mesmo quem sempre nos ajudou. E quando no campo armado, você sempre ao nosso lado, com sua capa faceira, duas rodas na algibeira, mostrando ser boa Escoteira, a gente sempre pensava, que naqueles belos momentos, momentos sem ser finitos, era você nossa guia, nosso amor de carrocinha.

                        E o tempo passou e nem sei onde você está. Ainda viva? Ainda rangendo bonito no morro do papagaio nas mãos de uma patrulha qualquer? Sei que ninguém me entende, pois amar uma carrocinha são coisas de escoteiros, alegres e bons faceiros que dão a vida por uma que os leve por aí. Os tempos se foram, eram seis jovens meninos Escoteiros, que um dia fizeram você e se apaixonaram pela sua criação. Carrocinha verde e amarela a rodar por longas estradas sem medo sem aflição. Dizem que escoteiro não desiste de quem ama. Ele sabe o amor que tem, pois ser Escoteiro não exige perfeição. Você minha amiga Melinda, nossa linda carrocinha da patrulha Leopardo, nos trouxe a paz e o amor. Mas hoje com minha idade, eu sinto uma enorme saudade... De você!

Melinda! Onde está você?

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