sexta-feira, 29 de julho de 2016

A lenda da Fada Azul muito além de Avalon. (uma historia para os lobos da Jângal)


Vale a pena ler de novo.
A lenda da Fada Azul muito além de Avalon.
(uma historia para os lobos da Jângal)

(A terra das Fadas ou o mundo das Fadas é o lugar onde as Fadas e outros seres mágicos habitam. Este lugar fica em outro plano de existência. O lugar também é conhecido como vários outros nomes devido às diversas lendas existentes, como Elfiand, Avalon, Pais das Fadas e muitos outros).

                     Julia morava no final da Rua Esperança. Não era uma rua feia e nem bonita. Não tinha calçamento e nos tempos de sol muita poeira, nas chuvas lamaçal em toda sua extensão. Mas Julia gostava de morar ali.  Sua mãe um dia disse que iria atrás de seu pai que foi embora. Ela também nunca mais voltou. Ela morava com a Vovó Francisca. Era pobre, muito pobre. A sua Vovó vivia da pensão do seu avô, não mais que um salário mínimo. Nunca tiveram uma TV e ela sonhava em ter uma mesmo que fosse preta e branca.  Julia tinha dois amores, porque não três? Sua Avó, sua matilha e seu sonho em ser uma fada. Ela tinha lido muito sobre elas. Tantas histórias ela leu, aprendeu seus costumes, suas cidades e seu castelo. Ela sabia que as fadas são seres fascinantes e sempre desejou conhecer melhor seus segredos, seus costumes e seus mistérios. Ela sabia que muitos procuravam as fadas atrás do Tesouro da Mãe D’água. Ela não. Queria sim ser uma fada para ter poderes de fazer as pessoas felizes.

                  Julia tinha oito anos e era uma menina esperta, alegre e nunca reclamou de nada em sua vida. Afinal sua Vovó não deixava faltar nada para ela. Por causa do mundo das fadas que ela tinha lido, sua avó comprou uma flauta e ela devagar aprendeu a tocar deliciosos acordes e melodias. Ela queria dançar como elas, seguir o ritmo da natureza e quem sabe aproveitar os sons da água e do vento para realizara grandes bailes na floresta encantada. Julia fazia de tudo para um dia encontrar com uma fada. Meditava, no lugar do cristal de quartzo leitoso ela usava um pequeno broche que sua mãe lhe deu. Mesmo fazendo todas as magias que aprendeu no livro das fadas da biblioteca da escola ela nunca conseguiu encontrar uma. A Akelá Nancy sorria sempre quando a via sonhar no seu mundo encantado das fadas. Todos sabiam do que ela gostava e muitos ficavam juntos a ela só para ouvir historias que nunca ouviram em suas vidas.

                   Uma vez o Chefe Tomé, um barbudo que vivia amedrontando seus escoteiros, disse para ela que os duendes são fadas e aparecem para as meninas como um homem Velho, duendes dizem adoram colecionar ouro e depois colocam numa panela e escondem em uma ponta do arco-íris. Ele vivia dizendo para ela: - Cuidado com a fada, pode ser um duende e levar você para seu castelo onde nunca mais você vai voltar. Ela saia correndo e chorando dizia a Akelá que o Chefe Tomé era um homem mau. A Akelá Nancy sorria e dizia para ela não se preocupar. Mas em toda reunião o Chefe Tomé aprontava. Um dia a Alcateia foi acantonar em uma fazenda de um antigo Escoteiro do Grupo. Quando desceram do ônibus ela viu que a casa sede era igual a um desenho onde morava a Fada Azul. Seus olhos brilharam.  Agora sabia que iria finalmente conhecer uma fada.

                   Seriam três dias acantonados. Mas no segundo dia Julia desapareceu. A procura foi intensa. Veio os bombeiros, a policia, escoteiros de todo lado ajudar. Nada. Nem uma pista em lugar nenhum. Ao mesmo tempo o Chefe Tomé também sumiu. Será ele o culpado? A esposa do Chefe Tomé não parava de chorar. Ele tinha três filhos todos escoteiros e uma escoteira. Impossível pensar algum de ruim. Uma semana depois o Guarda Polônio a encontrou dormindo na praça da estação. O povo todo veio ver e ela estava vestida de fada. Um lindo vestido de seda azul. Ela sorria de olhos fechados. Levada ao hospital ficou lá dois meses em coma profundo. Em Pedra Bonita uma cidade vizinha a policia encontrou o Chefe Tomé dormindo na praça da estação. Quem era? De onde veio? Ele sorria, mas de olhos fechados. Ficou três meses em coma. Em Esperança ninguém mais acreditava que ia voltar.

                   Ele acordou do coma e gritou chamando sua esposa e seus filhos. Avisados foram buscá-lo. Uma semana depois ele soube do acontecido com Julia. Foi até a casa dela e pediu sua Avó para entrar. Foi bem recebido. Julia sorriu para ele. – Vamos manter segredo? Ele disse. – Ela balançou a cabeça concordando. Ninguém iria acreditar. Ambos foram transportados para a cidade de Avalon. Lá foram recebidos por centenas de fadas. Chefe Tomé foi levado por um duende verde e ficou lá na cidade deles por muito tempo. Julia entrou a escola das fadas. Aprendeu a fazer o bem, a ajudar a todos sem distinção. Aprendeu a voar, a fazer magias, aprendeu tudo e a Fada Madrinha disse a ela que quando crescesse poderia morar ali com elas. Chefe Tomé sofreu na mão dos duendes. Afinal ele sentia prazer em fazer medos aos escoteiros e os lobos. Mas no último dia da sua estada o Duende Verde lhe disse: Se fizer novamente vai morar aqui para sempre e será aquele a puxar a carroça do Duende Azul.

                  O tempo passou Todos se esqueceram de Julia e o Chefe Tomé. No grupo Escoteiro todos notaram sua transformação. Uma educação enorme no trato com os escoteiros e lobos. E Julia quase não comentava mais sobre as fadas. Ela sabia que não iriam acreditar que foi aceita pela sociedade delas. Agora era mais uma. A noite quando todos dormiam e quando a lua se escondia, ela colocava suas asas e seu mantra mágico e saia voando pelo céu a brincar com suas amigas que moravam em Avalon.

- É contado nas lendas, que uma vez houve um tempo quando o mundo humano era um só com o mundo das fadas. Mas por causa de alguma mudança dramática, fadas tiveram que recuar e manterem-se distantes do nosso mundo. No entanto, as mesmas lendas dizem que ainda existem alguns portões entre o mundo das fadas e o nosso. Aqueles que têm o dom ou estão em posse do mantra mágico pode entrar no Mundo das Fadas quando bem quiserem.


"Não há dúvida de que as fadas existem. Temos duas casas de fadas bem perto de nós e temos registros de conversas entre fadas e as pessoas da Alcateia dos lobos de Seone.". Quem me contou foi um Duende que mora próximo a Rio da Felicidade.

quinta-feira, 28 de julho de 2016

Moralto.


Moralto.

                - Eu só o vi uma única vez na vida. Na verdade aquele foi um dia especial, não me perguntem por quê. Notei sua figura surgindo na estrada do Alencar, a pé, com um cajado simples, mas com passadas belas sem se mostrar cansado. Ele não me disse quem era e nem eu perguntei. Quando se aproximou de mim senti um brilho em sua figura e inexplicavelmente ele se transformou. Juro que ao longe estava com uma bata branca e ali na minha frente estava agora com um lindo uniforme Escoteiro. Como ele podia fazer aquilo? Era mágico? Se fosse o truque era perfeito. Não usava o chapéu e eu sei que aquela áurea brilhante o chapéu tiraria toda sua pose badeniana. Quem seria? Ele sorria para mim, um sorriso gostoso, dentes alvos olhos negros, cabelos castanhos compridos.

                 Havia parado ali para descansar um pouco da minha jornada e fazer um café. Precisava. A Árvore da Colina já era minha velha conhecida. Pequena, mas com uma folhagem que em todo seu redor fazia uma sombra invejável. Não havia nascente, não havia rios e nem tampouco regatos por perto. Somente a árvore para nos dar o descanso devido. Pensava em chegar ao acampamento da patrulha ao entardecer. Uma obrigação com meu pai me obrigou a ir depois deles. O destino não era longe. Após a curva do Falcão já se podia avistar a mata pequena, a cascata e o bambuzal. Tirei a mochila, pendurei meu chapéu em um galho e duas achas facilitarem o Tropeiro que iria fazer. Na mochila tinha café e pó. Meu canecão militar serviria para esquentar a água.

                  Levantei e disse bem vindo! Ele sorria. Não era bonito, mas tinha alguma coisa especial que encantava a todos em seu redor. Em vez de sapatos usava sandálias. Calado se assentou a sombra junto ao tronco. Fechou os olhos e parecia rezar. Passei o café e ofereci uma caneca a ele. Olhou meu cantil, estava cheio pela metade. Passei para suas mãos e ele bebeu devagar, parecia sorver o líquido com carinho de quem tem sede. Tomou o café me olhando nos olhos. Minha caneca de esmalte parecia brilhar em suas mãos. Fechou os olhos e dormiu por alguns segundos. Acordou sorrindo e levantou. Colocou a mão em minha cabeça e disse – “Que a paz esteja convosco”. Partiu sorrindo acenando com a mão e ao longe vi que estava de novo com a bata branca e seu cajado.

                   Fiquei só naquela sombra da Árvore da Colina meditando. Quem seria? De onde veio e para onde iria? O sol já ia se por na Montanha do Cavalo. Era hora de partir. Ainda havia mais duas horas de jornada. Conhecia o caminho. Limpei o fogo, joguei uma pitada de água do meu cantil nas brasas, mochila nas costas e parti. Não olhei para trás. A Árvore da Colina tinha o dom de não deixar ninguém partir. A noite chegou mansa e calma. Meu caminho estranhamente era claro, uma estrela no céu jorrava raios brilhantes na estrada. Nunca tinha visto nada igual. Do alto da Colina avistei a curva do Falcão. Estava perto. Meus pensamentos giravam entre chegar e lembrar-se daquela figura tão simples, com um sorriso inesquecível e com uma áurea brilhante que me encantou para sempre.


                     Nunca soube quem era. Não perguntei. Acho que ele sabia que um dia eu iria lembrar-se dele e saber que ele veio do céu. Porque eu não sei. Eu era apenas um Escoteiro a ir para seu acampamento. Meu café ele tomou sorrindo sinal que não era ruim. Nunca contei esta história para ninguém. Eu sabia que a partir deste dia o meu mundo se transformaria pra sempre. Sabia que agora a paz morava em mim. A harmonia e o amor reinavam. A paz de um sorriso predominava. Agora eu sabia que naquele dia, naquela Árvore da Colina, Jesus me deixou entrar em seu coração!   

quarta-feira, 27 de julho de 2016

Sara.


Sara.

                          Eu sei Sara que você reclama, quer o poder na patrulha, acha que os demais são desiguais. Eu sei Sara que todas as pessoas são capazes de suportar as adversidades, mas você deve lembrar quando lhe disse que se quiser por a prova o caráter de alguém dê-lhe poder! –Ela me olhou assustada. Pensei em parar. Estava sendo muito direto e cruel com ela. Insisti e continuei: - Quem nunca caiu Sara não tem bem a noção do esforço que é preciso para se manter de pé! O que vocês todos da patrulha fizeram com Germano o antigo monitor não foi assim? Já ouviu as palavras de São Tomás? – Três coisas são necessárias para a salvação de alguém. Saber crer, saber o que deve desejar e saber o que fazer. Sara chorava. Eu sabia que muitos eram capaz de dominar uma dor, exceto quem a sente.

                        - Lembrei-me de um General que na Ditadura escreveu: - Ponha-se na presidência qualquer medíocre, louco ou semianalfabeto, e vinte e quatro horas depois a horda de aduladores estará à sua volta, brandindo o elogio como arma, convencendo-o de que é um gênio político e um grande homem, e de que tudo o que faz está certo. Em pouco tempo transforma-se um ignorante em um sábio, um louco em um gênio equilibrado, um primário em um estadista. Nunca me esqueci deste comentário quando olhava certos chefes escoteiros que ambicionavam ser mais que os outros. Sara sonhou com o poder e não mediu esforços para conseguir. Sua ambição assustava a todos na patrulha. Eram servil e subserviente com ela. Afinal tudo que é bom dura o tempo necessário para ser inesquecível e depois acaba. Pensei em parar por ali. A coisa mais constante da vida é a mudança, faça dessa mudança uma grande possibilidade de crescimento para você Sara.


                         - Queria ser um aconselhador, um amigo mais que um Chefe que ela considerava que eu era. Um sábio comentou que dê a quem você ama asas para voar, raízes para voltar e motivos para ficar e você há terá para sempre. Não foi um grande ativista quem escreveu um poema dizendo que ainda não aprendemos a voar como os pássaros, a nadar como os peixes, mas não aprendemos a sensível arte de vivermos como irmãos? Sempre dizem que ninguém entra em nossas vidas por acaso. Todas as pessoas ao nosso redor interagindo com a gente têm sempre algo para nos fazer aprender e avançar em cada situação. Como Chefe eu nunca perdi a fé na humanidade, eu sabia que ela é como um oceano. Só porque existem algumas gotas de água suja não quer dizer que ele esteja sujo por completo. Sara tinha de aprender e a vida só pode ser compreendida olhando-se para trás. Mas só pode ser vivida olhando-se para a frente. Eu sabia que ninguém é mais importante que ninguém. - Sara minha amiga escoteira, quem não planta jardim por dentro, não planta jardins por fora e nem passeia por eles. Se ela aprendeu não sei. Calei-me, não havia mais o que falar...

terça-feira, 26 de julho de 2016

Nico Fulgêncio e os Anjos Escoteiros.


Vale a pena ler de novo.
Nico Fulgêncio e os Anjos Escoteiros.

                         - Olha Senhor Nico Fulgêncio, vou ser sincero, o senhor já passou dos sessenta anos e isto que o Senhor tem em nossa cidade não podemos fazer nada. Um tumor tomou conta do seu cérebro e se não tratar em uma cidade grande o Senhor não terá mais que um ano de vida! – Nico Fulgêncio olhou para o doutor, franziu a testa e não disse nada. Ele se lembrava quando descansava na Praça Santo Estevão sentiu uma tontura e nada mais lembrava. Deve ter caído e o levaram ao hospital próximo. Sorriu para o Doutor e foi embora. Há tempos ele sentia esta tontura. Agora piorou ele caia onde andava. Maria Mercês sua vizinha o olhou com pena. A Ambulância o trouxera até o barraco na Rua B sem número. Ele sorriu para ela e entrou em sua morada.

               Nico Fulgêncio era negro, magro, não sabia ler nem escrever. Trabalhou muitos anos de vigia na Fábrica de Doces até que o mandaram embora. Oito anos desempregado. Não tinha muitos amigos e através deles ainda sobreviveu com a ajuda que lhe davam. Nico pensou em acabar com sua vida, mas porque faria isto? Só porque o médico foi honesto? Nico Fulgêncio tomou uma resolução. Uma sacola e a mochila que Juventino lhe deu colocou lá as roupas que lhe restavam, uma fronha, um cobertor Velho e uma capa azul escura que ganhou quando vigia na empresa. Na despensa quase nada, mas ainda achou um pouco de arroz, feijão, tinha uma carne seca e quatro pães velhos. Embrulhou tudo e colocou na mochila. Andava sempre com chinelo de dedo e tinha uma “alpercata” das antigas. Nem fechou a casa. – Donde vai seu Nico Fulgêncio? – Embora para a cidade grande Dona Maria Mercês. Olhe, o barraco é seu tudo que encontrar lá também. Nunca mais vou voltar!

                  Nico Fulgêncio colocou um boné Velho, e saiu sem se despedir de ninguém. Agora seria um daqueles andarilhos de beira de estrada que sempre encontramos por ai. Ninguém na cidade perguntou aonde ia. A cidade o considerava um eterno desconhecido. Quando partiu era meio dia. Pegou a Estrada para Maceió. Asfaltada. Andou a tarde toda e já noitinha parou embaixo de um pé de Pequi enorme. A barriga doía de fome. Viu que tinha arroz e feijão, mas esqueceu da panela. Comeu um bom pedaço da carne seca e um pão velho e dormiu sob as estrelas. Acordou com o sol nascendo e partiu. Donato um dia lhe disse que de ônibus a São Paulo eram quatro dias. E a pé? Ele riu, não era importante. Tinha tempo muito tempo. Eram quatro da tarde quando avistou uns meninos Escoteiros brincando em volta de umas barracas. Parou e ficou olhando. Gostava do que via. Ele gostava da alegria do sorriso das crianças. Um carro da policia parou ao seu lado. Meteram ele lá dentro e o levaram preso. O acusaram de molestador de menores.

                  Nico Fulgêncio ficou preso oito dias. O delegado resolveu conversar com os Escoteiros da cidade e eles disseram ter visto o andarilho, mas ele não fez mal a ninguém. O soltaram. Pelo menos ele teve duas refeições na cela. Nico Fulgêncio partiu como tinha traçado seu destino. Na saída da cidade novos Escoteiros o procuraram. Deram-lhe um saco de comida. Ele riu. – Preciso de uma pequena panela disse. Um deles em sua bicicleta partiu em alta velocidade. Pouco tempo depois chegou com a panela. Partiram dizendo a ele Sempre Alerta! Lá foi ele estrada a fora. Andou até escurecer. Achou melhor ficar por ali. Nem bem escureceu e surgiu uns Escoteiros maiores. Eram rapazes cantando estrada a fora. Pararam ao lado dele para descansar e lanchar. Foi convidado. A vida estava sendo boa com Nico Fulgêncio. Eles partiram e ele dormiu com a barriga cheia.

                   Foram quatro meses para chegar a Maceió. Aprendeu a ganhar comida nas casas que encontrava a beira do caminho. Aprendeu a viver com o vento e a chuva e teve um dia que achou que sua hora tinha chegado. Desmaiou e acordou em um pequeno hospital. Em volta dele duas meninas e quatro meninos Escoteiros. De novo? Eles sorriram e perguntaram como estava. A enfermeira disse que foram eles que o trouxeram. Dez dias e teve alta. Os meninos Escoteiros o acompanharam até o final da cidade. De Maceió chegou a Recife. Bela cidade. Em uma rua viu a meninada escoteira correndo para sua sede. Ele agora se achava um deles e entrou no pátio, deu Sempre Alerta e todos responderam. Os Chefes ficaram de olho. Ele contou em uma roda cheia de meninos e meninas de onde veio e para onde ia. Contou também dos meninos Escoteiros que encontrou. De novo lhe deram uma mochila cheia de víveres.

                     Um ano depois Nico Fulgêncio chegou a Belo Horizonte. Ele sabia agora que aqueles escoteiros foram sua salvação. Por onde passava sempre encontrava um deles. Parou próximo a Rodoviária e viu muitos esperando a hora do seu ônibus. Se apresentou contou sua aventura e recebeu abraços e saudações. Nunca fora Escoteiro, mas admirava aqueles meninos que sempre estavam dispostos a ajudar. Pé na estrada e lá foi ele para São Paulo. Oito meses o andarilho gastou na Fernão Dias. Quando chegava a Guarulhos ficou estarrecido. Estava escurecendo e viu um homem enorme atacando uma Escoteira. Ele sabia o que ele ia fazer. Soltou sua mochila e saiu correndo em cima de malfeitor. Levou um tiro nas costas e outro no ombro. Policiais logo chegaram e o socorreram depois que a escoteira explicou tudo que aconteceu.

                      Nico Fulgêncio foi levado ao Hospital de Guarulhos. Assustou quando viu um enorme contingente de meninos e meninas Escoteiras. Todos querendo abraçá-lo, pois sabiam do acontecido. O tiro entrou pelas costas e saiu pela frente. Nico Fulgêncio não correu risco de vida. O médico gentil que se apresentou como Chefe Escoteiro disse para ele que mais doze dias poderia ir embora – Parabéns Senhor Nico Fulgêncio, o senhor está com uma saúde de ferro! Mas Doutor! E o tumor em meu cérebro? – Que tumor senhor Nico, o senhor não tem nada. Lagrimas correram pelos olhos de Nico Fulgêncio. Quando saiu o Chefe Wantuil lhe ofereceu um emprego de vigia no Grupo Escolar onde funcionava a sede. Os meninos e as meninas Escoteiras bateram palmas e agora ele sabia que tinha muitos amigos que eram anjos sem asas. Jovens alegres que lhe deram tudo na sua longa jornada.


A vida de Nico Fulgêncio se transformou para melhor. Ia sempre as reuniões e participava da bandeira. Lhe deram um uniforme usado e um belo dia fez a promessa. Todos que o conheciam sempre ouviam cantar uma canção do Padre Marcelo: Tem anjos voando neste lugar. No meio do povo e em cima do altar. Subindo e descendo em todas as direções, Não sei se a igreja subiu ou se o céu desceu Só sei que está cheio de anjos de Deus. Porque o próprio Deus está aqui. Nico Fulgêncio não morreu naquele ano e nem nos que vieram depois. Aquele caminheiro de muitos mil quilômetros de estrada percorrida, teve a felicidade de ver meninos Escoteiros que se tornaram seus filhos e seu salvador. Nico Fulgêncio na sua simplicidade sorriu, e pensou – Os anjos também são Escoteiros! Seja um anjo para alguém, dê asas à sua vida, mostre a ele quer é possível voar!

segunda-feira, 25 de julho de 2016

Elizabeth.


Elizabeth.

A semana não foi à esperada. Crise, colegas meus demitidos e sem poder consolar ninguém esperei a minha vez. A sexta se foi e o sábado chegou. Meu atraso não foi bem visto pela Tropa. Elizabeth educada como sempre me deu Sempre Alerta. Nivaldo só olhou. Até mesmo Beto o monitor da Pantera nem me saudou. Pedi a Gentil assistente para assumir, não era um bom dia. Fui para a sala da sede e lá fiquei a pensar do que seria meu destino. Elizabeth entrou na sala. Parece que sabia o que acontecia comigo. – Chefe! – Eu às vezes tenho vontade de dormir prá sempre, prá esquecer as pessoas e esquecer-se dos problemas. Esquecer que existe uma vida inteira me esperando. Dormir pra sempre,  pra esquecer-se de tudo. – Não disse nada, Escolhas são escolhas. Ela era apenas uma menina escoteira começando a florir e crescendo para enfrentar uma vida em seu futuro. – Ela continuou como a me dar uma lição de vida: - Quem sabe antes de adormecer recebe o carinho de alguém que te ama e que lhe deseje o melhor para colocar sua vida em seu lugar?

- Permaneci calado. Lá fora no pátio três apitos soaram. Ela sorriu para mim. – Não vai atender? Agora não Chefe. Não me julgues inútil perto de um adulto inteligente e crescido. Mamãe outro dia quando fui dormir disse que me adora me deu um beijo na face, sorriu me desejando paz recheada de alegria e muito amor. Sem graça sorri de leve. Uma menina escoteira me ensinando a viver. Quem sabe Elizabeth já tinha ouvido o canto da cotovia na janela ao amanhecer. Quem sabe alguém soprou em sua alma que podia estar em sonhos coloridos que o canto do pássaro era para esquecer as preocupações, as ansiedades e até mesmos os sonhos e as expectativas. Alguém chegou à porta e a chamou. Ela sorriu para mim, piscou um olho e se foi. Pensei em mamãe que está no céu. Ela viria me beijar nas noites que eu mais precisava? Pensei ouvir sua voz sussurrando em minha mente: - Não perca a esperança. Você nunca sabe o que o amanhã vai te trazer.


Fiquei ali pensativo imaginando que a vida é cheia de curvas e nunca vemos a estrada da vida em uma reta e onde queremos chegar. Parece que mamãe de novo me trouxe esperança, ela dizia: - Se você quiser que sua vida tenha um novo sentido, um novo sabor, bote fé, bote esperança e bote amor... Lá fora a Tropa cantava uma canção tão antiga que sempre chorava ao ouvir a letra que aprendi quando menino Escoteiro: - ♫Acampei lá na montanha, de manhã fiz meu café. Arrumei minha mochila e toquei pra frente a pé! - Sei que era uma simples canção Mas na porta de novo Elizabeth me sapecou educadamente mais uma motivação para enfrentar as dificuldades: - Chefe foque-se no seu descanso, na paz que existe e no silêncio da noite que faz bem. Se entregue de corpo e alma ao um sono pacífico e bom. Eu sabia que seria o suficiente e sei que ao acordar, quando o sol surgisse pela manhã poderia dizer: - Ontem foi um dia ruim que nunca mais irá se repetir. Afinal a partir de agora vou aproveitar e mudar o meu destino. Que o dia de hoje seja ótimo para viver! Sempre Alerta!

domingo, 24 de julho de 2016

Pirilampo, um Beija Flor no verde Vale de Nagoya.


Vale a pena ler de novo.
Pirilampo, um Beija Flor no verde Vale de Nagoya.

        Não faz muito tempo quem sabe uns trinta ou quarenta anos. Já não era mocinho e meus anos ultrapassavam as trinta primaveras. Éramos mais de doze e menos de quinze. A quantidade não me lembro bem. Foi até um acampamento gostoso, só de chefes. Tinhamos feitos outros e não pertencíamos ao mesmo grupo e isto nada significava para a fraternidade e irmandade que existia entre nós. Programa? Duas patrulhas, dois campos, trabalhando e se divertindo como se fossemos patrulheiros. Eu era um Guanambi, e quando me disseram o que era fiquei perplexo – Chefe, Guanambi é um beija-flor! Tudo bem, eu admirava os pequenos voadores a procura de seu néctar das flores. Eles entre os pássaros poderiam ser considerados príncipes ou quem sabe Reis? Sabia que tinham todas as cores e nunca parei para observar melhor. Onde estávamos acampados uma calma enorme se fazia acontecer no campo. Uma gostosa passarada a cantar seus cantos maravilhosos, o som intermitente de uma pequena cascata, grilos que anunciavam tempo bom e formigas indo e vindo sem pressa com suas cargas enormes.

           As noites eram belas, não havia pressa para nada, que o jantar ficasse pronto quando estivesse pronto. O banho da tarde no pequeno remanso refrescava o corpo de tanto sol que pegamos. Ficamos horas tentando se aproximar de um esquilo. Não dava para mexer e o suor corria naquele sol escaldante da tarde. Um jantar supimpa e aos poucos os chefes iam chegando na Pedra do Conselho, nome pomposo que dávamos a conversa ao pé do fogo. Um nome roubado dos lobos, mas que seria devolvido tão logo o acampamento terminasse. O nosso mágico, o cantor deram o ar da graça. Terra do Belo Olmeiro. Linda canção dos caçadores de pele dos lagos canadenses. – ¶Terra do belo olmeiro, lar do castor, lá onde o alce airoso é o senhor... Uma letra de tirar o folego. Alguém contou uma piada. Uma piada Escoteira. Ali a pureza nos pensamentos palavras e ações tinham primazia sobre palavras não condizentes com chefes escoteiros.

           O bule de café e outro de chá a beira do fogo aos poucos iam se esvaziando. Todos nós esperávamos que  Cabelos Vermelhos se levantasse para contar um história. Alto, forte nós sabíamos que ele sempre tinha uma bela história para contar. – Ficou em pé, olhou para o céu, sentou novamente e com uma voz clara começou mais uma bela história para nosso deleite. - Era uma vez... Há muito tempo, eu era menino de calças curtas e recém admitido na tropa. – Cada um de nós nos refestelamos no banco tosco e nenhum som mais se ouviu a não ser o crepitar do fogo e ver as pequenas fagulhas dengosas a subir aos céus. A voz de Cabelos Vermelhos era sonhadora, ele era um mestre contador de histórias. A principio sentado, mas a gente já sabia que ele ia ficar em pé, ia gesticular pular e cantar. Era seu dom. Sorrindo olhou para o céu e começou... - Naquela tempo, dizia Cabelos Vermelhos a nossa inocência, o nosso amor e a fraternidade nos dava oportunidade de conviver com os animais com os pássaros e até os repteis eram nossos amigos.

                  Nos preparamos para mais um acampamento de verão. Dizem que no verão as chuvas caem mais forte, mas nós não nos importávamos. Que importa que tudo passa, a chuva passa, tempestades passam. Até furacão passa difícil é saber aonde ele vai. Sabem meus amigos chefes, nos amávamos a chuva. Dizíamos para nós mesmos que não importa a chuva que cai... Queira ou não após as tempestades o sol ou a lua vão de novo aparecer. Nossos preparativos foram rapidamente realizados. Em uma bela manhã partimos rumo ao verde Vale de Nagoya. Era um dos vales mais lindos que conhecíamos. Era lá que o sol quando nascia nos cumprimentava com um sorriso e quando se ponha deixava escrito no céu dizendo: - Amanhã eu vou voltar! Que a lua e as estrelas cuidem de vocês como eu cuidei. Não choveu a não ser uma pequena garoa no terceiro dia. O nosso programa nos dava tempo para belas construções e explorações de grutas de tirar o fôlego.

                   Naquela tarde bolorenta, daquelas que dá vontade de cochilar e não acordar que vimos um Beija Flor em cima da mesa do refeitório. Semblante triste asa caída nos olhou choroso e disse – Olá Escoteiros, foi bom ver vocês. Estou partindo do Vale de Nagoya aqui nunca mais voltarei. – Olhamos espantados para o Beija Flor e ele continuou. Me chamam Pirilampo. No passado diziam que eu tinha luzes que piscavam que eu levava o sorriso aos meus irmãos. Hoje Escoteiro, hoje não sou nada aqui neste vale que um dia foi florido e hoje não é mais. Vou as escarpas, voo rasante pelas cascatas no vale, tento subir mais alto para descobrir flores que agora não existem mais. Como vocês amamos a natureza. Voamos para frente e atrás, podemos até permanecer imóveis no ar. Voamos a velocidade do som e que adianta tudo isto?

                   Olhamos o Pirilampo e não dissemos nada. A patrulha já tinha observado que o Vale de Nagoya já não era mais o mesmo. As flores desapareceram com as queimadas, O bosque e a nascente cristalina desapareceu. As árvores são vendidas pelo melhor preço para servirem de carvão nas usinas siderúrgicas que produzem ferro e o aço para as máquinas infernais. Vi nos olhos de Pirilampo pequenas gotas de lágrimas que caiam. – Pois é Escoteiros, muitos acreditam que nós somos anjos, que podemos voar em suas terras, que nosso néctar nunca ia se acabar. Eles mesmos inventaram o meio de nos dar água com açúcar como isto fosse substituir nosso néctar. Eles não sabem que quando o sol fermenta a água açucarada e ela tem nos feito tanto mal que alguns de nós morremos em poucos dias.

              Tenho de partir, meus irmãos já foram. Eu sou o último beija flor do Vale de Nagoya. Não sei se aqui voltarei, pois acredito que o Vale se foi para sempre. Não queria ir sem me despedir de vocês. A vida aqui no vale me ensinou a dizer adeus às pessoas que amo e vocês ficarão para sempre em meu coração. Adeus Escoteiros, que as gotas de chuva de hoje possam lavar os pensamentos ruins e alegrar os olhos de vocês para sonhar com um futuro, um Vale de Nagoya florido, cheio de Beijas  Flores no céu. Pirilampo levantou voo e se foi. Não deu uma revoada em cima do nosso campo de patrulha. Partiu como se quisesse esquecer aquele vale de agora e lembrar sempre como foi em um passado distante.


                 Cabelos Vermelhos se calou. Todos nós estávamos calados. Não havia o que dizer. Alguém com os olhos vermelhos perguntou – E aí Cabelos Vermelhos, como é hoje o Vale de Nagoya? – Aquele Chefe contador de histórias nos olhou, fechou os olhos e disse: - O homem destrói a natureza na justificativa de sobreviver, a natureza luta para sobreviver, para garantir a sobrevivência do homem! E onde ela está?

terça-feira, 19 de julho de 2016

Açu Pintassilgo, o Jacaré chorão do Lago Ness.


Lendas escoteiras
Açu Pintassilgo, o Jacaré chorão do Lago Ness.
(um conto para lobinhos)

       Ele não era um jacaré comum. Nunca foi. Não se enturmava. Morava na beira do Lago Ness. Não saia dali para nada a não ser um mergulho ou outro. Achou próximo aos coqueiros uma enorme pedra. Seu local preferido. Metade da pedra afundava na água escura e ele ali ficava o dia inteiro.  Metade fora d’água e a outra dentro d’água. Seus pais disseram que ele era um legítimo Jacaré-Açu, uma linhagem de muitos e muitos anos. Açu Pintasslgo nunca se importou com isto. Um dia um Escoteiro sentou ao seu lado e conversa vai conversa vem ele disse – Açu Pintassilgo, você sabe o que significa Jacaré para os homens? Dizem que seu nome deriva dos tupi-guaranis, Iakaré ou Yacaré, aquele do olho torto, encurvado e que vê pelos lados. Açu Pintassilgo não achou graça. Olhou para o Escoteiro e disse: E daí? Eu tenho orgulho da minha linhagem. Tanto orgulho que aprendi a ser amigo de todos. Você me conhece bem, sempre fui um cavalheiro com todos os Escoteiros e escoteiras.

        O Escoteiro não disse mais nada. Poderia ter dito que ele era o maior chorão do Lago Ness. Poderia ter dito que ele era motivo de piada para todos na patrulha. Poderia ter dito que nos fogos de conselhos era falar nele e todos morriam de rir. Mas o Escoteiro era leal. Não ia desfazer do Açu Pintassilgo. Isto não. Só que nenhum Escoteiro sabia que lágrimas de jacarés são falsas. Conta uma lenda que seus bisavós os crocodilos quando iam comer uma presa, eles engoliam sem mastigar. Assim para abrir a mandíbula ele precisava comprimir a glândula lacrimal e elas abertas começavam a lacrimejar. As lagrimas lubrificam o olho. Mas Açu Pintassilgo gostava de ver os outros dizer que ele era um Jacaré Chorão.

        Não tenho certeza, mas acredito que foi no verão passado que apareceu nadando uma linda Jacaré. Açu Pintassilgo apaixonou só de olhar. Amor à primeira vista. Naná Verdes Mares olhou Açu Pintassilgo e nem prestou atenção. Foi nadando e ao passar por ele deu um sorrisinho maroto. Açu Pintassilgo pulou na água e quando a procurou viu que ela sumiu. Agora Açu chorava mesmo. Perdeu seu amor e não sabia como fazer. O Escoteiro a tarde apareceu e ouviu sua história. Deixe comigo Açu, você sabe, vou espalhar aos quatros ventos do Lago Ness. Vamos encontrar sua amada custe e o que custar. Dizem que quem tem boca vai a Roma. Sei não. Meu fogão tem quatro bocas e nunca saiu da cozinha. Risos. Durante cinco dias os Escoteiros rodaram céus e terra atrás da amada de Açu Pintassilgo. Até duas patrulhas de Escoteiros do Mar vieram ajudar com seus botes.

          Foi uma luta, mas como os Escoteiros não desistem fácil eles encontraram Nana Verdes Mares tomando sol na Praia do Paco-Paco. Orelhudo era um Escoteiro calmo. Sabia conversar e nunca perdia a “fleuma”. Chegou devagar onde estava Nana Verdes Mares. Ela com seu olhar sonhador fixou Orelhudo e pensou – Que diabos este Escoteiro quer de mim? – Orelhudo não se fez de rogado. Contou tudo devagar, elogiando Açu Pintassilgo, dizendo que era um ótimo partido e ela seria feliz com ele para sempre. Nana Verdes Mares riu. – Olhe Orelhudo, eu já tenho namorado. Ele passa luas e luas sem me procurar e assim fica difícil para começar tudo de novo com outro. Você sabe que as femeas jacarés são as mais fieis que existem entre os repteis. Se vocês acham que podem ajudar procurem Dente Grande o meu amado e digam para ele o que pretendem. – Orelhudo pensou e pensou. Agora a barra pesou. Se o cara-jacaré tem dente grande o melhor é saltar de banda.

           Orelhudo contou para a tropa o que aconteceu. Infelizmente Açu Pintassilgo ficaria solteiro por muito tempo. Neneco Risadinha deu uma opinião. Somos vinte e oito e o tal de Dente Grande é só um. Quem sabe poderemos chamá-lo e fazer um acordo? Assim era Neneco Risadinha e logo contou mais uma de suas piadas – Amigos! Porque o Jacaré tirou o jacarezinho da escola? E rindo respondeu – Porque ele “réptil” de ano. E riu a valer. A tropa de Escoteiros percorreu todos os cantos do Lago Ness e deixou um aviso para Dente Grande. – Cinco Jacarés vindo do Japão estavam à procura dele. Souberam que ele era valentão e precisavam de um Jacaré durão para uma luta de Sumô de vida ou morte. Quando Dente Grande soube disto atravessou dois continentes até o Japão. Lutar era com ele. Mas um navio pesqueiro japonês o viu e o confundiu com uma orca negra. Dito e feito. Dente Grande foi pescado e dizem que hoje é o prato mais delicioso nos restaurantes japoneses. Eles acharam o Sushi de jacaré o melhor do mundo.


            Agora Nana Verdes Mares estava livre. Açu Pintassilgo deitou a correr sobre as águas do lago Ness até onde ela estava. Fez à corte, ela aceitou. Casaram-se e no dia do casamento Toda a Tropa Escoteira presente. Milhares e milhares de peixes, jacarés, crocodilos e centenas de pássaros cantantes. Palmas, foguetes e a festa durou uma semana. Até o Monstro do Lago Ness esteve presente. Bonachão ria a valer das piadas de Neneco Risadinha. A que ele mais gostou foi a do peixe que estava nadando no mar e de repente veio uma onda tão forte que ele morreu afogado! E o monstro do Lago Ness riu a valer e riu mais quando Risadinha contou que conheceu uma loira e ela estava brava, muito brava com um peixe. De repente ela berrou para o peixe – Seu peixe desgraçado! Você vai ver! Vou afogar você!

segunda-feira, 18 de julho de 2016

Luiza.


Luiza.

Chefe, eu quero chorar e não consigo. Lágrimas aparecem e correm pela minha face. Todos dizem que eu sou feliz e não disse a ninguém que aprendi a mostrar um sorriso, mas poucos sabem quando estou chorando por dentro. –Pobre Luiza. Diferente de mim. Quando eu dizia que não vou chorar é por que já estou chorando. Sempre fui sentimental demais. As Escoteiras sempre a procurarem abrigo nos meus braços. Eternos abraços que serviam para fazer esquecer as tristezas do coração. Minha mãe sempre me disse que chorar é humano, e quando chorei no nascimento de Claudinha minha mãe sorriu para mim ali no leito da vida onde outra vida estava chegando para me alegrar. Às vezes ficava tanto tempo sozinha, que a solidão deixava de ser ausência e passava a se tornar companhia.  Acho que foi por isto que resolvi ser Chefe Escoteira, mas era tão difícil...

Os anos passaram e um dia me vi sozinha. Claudinha partiu, foi tentar outra vida longe de onde eu morava. Lomanto sumiu em uma esquina da vida. Luiza me olhou com os olhos cheios de lágrimas e disse: - Chefe sabe o que eu queria agora? Queria ir à praia, e sentar na maior pedra que estiver lá, e de lá de cima olhar o mar e chorar tudo que eu tenho para chorar. Pois é Chefe e depois disto tudo iria voltar para casa aliviada e poder sorrir um sorriso meu, um sorriso verdadeiro, sem choros escondidos, sem maquiagem, sorrir um sorriso puro. Será que eu consigo? – Olhei para ela espantada. Pensei comigo, cuidado com o que vai dizer, palavras machucam e quem ouve nunca esquece. Levantei do banquinho e abracei Luiza. Ela me deu um abraço forte que dizia tudo que sentia. Eu precisava conhecê-la melhor. Precisava sorrir para ela dar uma palavra de carinho. Mas logo eu? Quantas vezes me vi sorrindo querendo chorar? Quantas vezes eu chorei querendo sorrir? É a vida é mesmo estranha.

Afinal que Chefe era eu que não sabia dizer as palavras certas na hora certa? Acho que o problema sou eu, é que sinto demais, me importo demais, demonstro demais. E acabo esperando o mesmo das pessoas e não é bem assim. Olhei para Luiza. Agora quem chorava era eu. Pensei comigo que precisava ir embora da Tropa por uns tempos. Tirar férias dessa minha maneira intensa de sentir as coisas, dessa mania de querer carregar o mundo nas costas e sentir culpa pelo que não posso dar conta. Vou olhar tudo de sobrevoo, como quem, desmemoriada, está ausente dos próprios pensamentos. Ainda abraçada a Luiza vi que o sol estava se escondendo no horizonte. A reunião ia terminar. Precisava deixar meus problemas para trás. Uma noite de descanso seria o cenário ideal para recuperar as energias.


Não houve tempo para pensar, a Tropa toda veio me abraçar. Desta vez elas as meninas que eu amava eram as chefes e eu uma simples escoteira que sentiu no coração o amor que precisava encontrar. Sorri, sorri novamente. Afinal por que preocupar com que os outros pensam de mim se ao meu redor tem tanto para me fazer feliz?

domingo, 17 de julho de 2016

Juninho.


Juninho.

Era seu primeiro acampamento. Estava perdido em seus pensamentos e olhava o cozinheiro com olhos havidos. A fome apertava. Ele se lembrava das palavras do Monitor quando chegaram ao campo e ele sentindo-se completamente perdido não sabia o que fazer: - “Nunca decepcione alguém que seria capaz de fazer tudo por você”. Olhou para o céu, sentiu o sol queimando seu corpo. Deu uma vontade enorme de chorar. Não ouviu sua mãe dizer ao seu pai que quando ele fosse acampar, não iriam proibir? - Deixe-o ir disse seu pai. É melhor uns meses de coração partido do que uma vida inteira de decepções diárias. Ah! Que saudades do Balu, da Akelá que quando chorava todos vinham correndo consolar. Todos tinham dito para ele a dureza de um acampamento. O Sub rindo lhe falou: - É coisa para homens! E ele não era? Ele sempre foi um Mowgly, desafiou Shery Khan na Selva e venceu seus medos com a flor vermelha mostrando ao tigre mau que ele era um lobo da Alcatéia de Seeonee.

Mas ali era diferente. Ali não tinha a Kaa para falar baixinho quando ele ia dormir: - Durma meu Mowgly, sorria para seus problemas e ignore suas decepções. Amanhã o sol irá voltar e a lua esconder para que as estrelas possam descansar. Ele ajudou nas barracas, tentou fazer uma fossa, mas suas mãos de jovem Escoteiro não conseguiu. Calos enormes, um cansaço tremendo, uma fome enorme. Olhou para o Cozinheiro que soprava feito um louco uns gravetos que teimavam em não acender. – Quando vou comer? Ele pensou. Na Alcatéia tinha hora marcada, mas tinha biscoito, tinha suco tinha o sorriso da Akelá que sempre dizia a ele: - Calma Juninho por maior que seja não há obstáculo que não possa ser superado. Lembre-se que às vezes o apoio e o conforto que você precisa vem de onde menos espera. Porque saiu do calor e do conforto da selva de Mowgly? Não disseram que a cidade dos homens era seu lugar?

Seus olhos encheram-se de lágrimas. Um nó na garganta não o deixava chorar. Seu corpo tremia. Mas não disseram para ele que ali era a morada dos fortes? Não disseram que ele era mais forte do que imaginava? Se pudesse gritava bem alto: - Mamãe! Mamãe! Queria correr pela mata, queria voltar na trilha que o trouxe ali de volta a cidade que tinha tudo na mão. Soluços brotaram. O Cozinheiro com os olhos vermelhos da fumaça sorriu para ele. – Venha chamou. Aqui existe um mundo mágico neste fogo e nesta fumaça que se você quiser pode ser sua zona de conforto. Ele tentou sorrir. Aproximou-se. – O cozinheiro completou: - Escoteiro aquele que não luta para ter futuro deve aceitar o futuro que vier. Enfiou a mão no bolso e lhe deu um pedaço de torta que devia ter trazido de casa. Mastigou devagar, saboreando cada dentada. Alguém lhe afagou os ombros. Era o monitor sorrindo.

O monitor o olhou dentro dos olhos. Seu sorriso era contagiante. – Já lhe contei meu primeiro acampamento? Juninho balançou a cabeça dizendo não. – Gritei de medo, corri feito um louco embrenhando-me na mata. O Chefe veio correndo e me abraçou. – Falou baixinho no meu ouvido: - Sorria, só ria. Acalma a alma. Se derrame, se der ame. Releve, se eleve. Respira e, por favor, não pira. Se o olhar vale mais que mil palavras as palavras do Chefe valia todo acampamento que ainda iria acontecer. – Olhe Juninho esqueça os piores momentos de sua vida e faça os melhores como este acampamento se tornarem inesquecíveis. Aproveite cada minuto, porque o tempo não volta. O que volta é a vontade de voltar no tempo e do seu primeiro nunca mais esquecerá! Palavras amáveis não custam nada, porém valem muito principalmente naquela hora. Juninho correu para ajudar o lenheiro que chegava com um feixe de lenha seca.

Solidariedade é o amor em movimento. Buscou água, cortou bambu, e quando deu de si o almoço estava pronto e a marmita em prontidão. Ele foi o primeiro da fila. Pensou consigo que o primeiro seria para sempre. Ele não iria desistir. Iria provar para si mesmo que podia ser como os outros. Outra vez lembrou-se do Balu: - Que os teus olhos possam enxergar sempre o belo que existe em tua jornada e em seu próximo. Na mesa da refeição olhou a cada patrulheiro. O cantar, o olhar, os causos, os olhos brilhando por aquele dia e nos demais eram uma dádiva para ser feliz. Não foi a Bagheera quem disse que felicidade era encontrar a saída e querer ficar para sempre? À noite quando entrou na barraca, ajoelhou e rezou. Deus obrigado. Não sabia mais o que dizer. Ouviu seu monitor falar baixinho: Caiu? Levanta. Terminou? Recomeça. E para as outras coisas... Sorria!



quinta-feira, 14 de julho de 2016

Um lugar chamado Felicidade.


Lendas Escoteiras.
Um lugar chamado Felicidade.

                  Era uma vez uma cidade chamada Felicidade. Uma cidade pequena quem sabe um arraial crescido com seus cinco mil habitantes. Ouve uma época que todos dariam tudo para mudar para lá, pois era o lugar onde existia o sorriso, a alegria, onde o sol tinha mais fulgor e a lua era incrivelmente linda nas noites de lua cheia. Não havia ricos e nem pobres, todas as casas eram iguais. Ninguém queria ser mais que o outro e onde a cadeia não tinha celas nem presos. Não havia carros buzinando, as pessoas não brigavam, as ruas eram limpas, pois cada cidadão fazia questão de limpar a área de sua morada. Dava gosto ver as crianças correndo pelas praças, indo para seu único colégio onde as professoras sempre tinham um sorriso em primeiro lugar. As casas não tinham grandes e as portas e janelas sempre abertas. À tardinha os casais namoram na mais completa felicidade de alguém que ama e sabe que é amado.

                Felicidade tinha algum muito importante que não sei se sim ou se não dava alma ao lugar. Não era o Cabo Damião que nunca prendeu ninguém e nem mesmo o Prefeito Nolasco que nunca deu golpe e nunca roubou nada que a prefeitura com seus parcos recursos recebiam. Não foi o Juiz Tião, que desistiu e foi embora do lugar por não ter ninguém para julgar. Dom Pedrito o vigário vinha sempre às quartas feiras rezar uma missa e a pequena capela quase não cabia seus fieis que ali nunca faltaram para dar graças a Deus. A população tinha alegria no coração, pois Toledo criou os escoteiros. Era belo vê-los passar. Com suas mochilas as costas, um chapelão escondendo a chumaça dos cabelos, um meião cortante até o joelho e a calça curta fazendo às vezes do sonho de seu criador do outro lado do oceano.

                   Era tudo perfeito. Escoteiros cantantes, sorridentes e a chumaça da patuleia sabia que seus jovens meninos tinham conquistado o que toda cidade sonhava: - A honra, a palavra, a ética e o respeito para ser respeitado. Quando pela primeira vez juraram a bandeira não faltou ninguém do lugar para assistir. Foi no Campo do Peroba Futebol Clube. Montaram um palanque e lá estava Dom Pedrito o vigário, o Cabo Damião, o Juiz Tião e o Prefeito Nolasco. Não faltou dona Cacilda a professora e claro Toledo o Chefe envergado no seu caqui descomunal como se fosse um exemplo para aquele povo feliz que tudo ia durar para sempre. Foi belo, foi lindo, meninos dando continência, levando a mão direita até o ombro de dizendo que iriam fazer um novo Brasil. Durante anos a cria escoteira cresceu. Mas tudo que é bom dura pouco. Uma doença mortal levou para a eternidade o Chefe Nolasco. Tristeza, choro, desânimo, melancolia e desalento por parte de todos.

                     Chefe Toledo cometeu um erro tremendo. Não preparou ninguém para um possivel afastamento seu. Era Chefe da Tropa, da Alcatéia e fazia às vezes da Diretoria. Poderia ter convidado, mas se sentiu possuído pela divindade e pensou que era um Deus Escoteiro. Morreu e ninguém para ficar no seu lugar. A cidade não sabia o que fazer. Reuniões aconteciam. O prefeito imperfeito nesta hora não tinha a menor ideia para que o grupo não acabasse no ostracismo. Seria fácil buscar ajuda, mas ninguém sabia que havia alguém em outra cidade que poderia ajudar. Ninguem entendia nada e sabiam que eles corriam para o campo, cantavam, brincavam de esconde, esconde onde sempre havia um pega de soldados contra índios. Alguns chegaram a ver patrulhas correndo nas matas, construindo pontes, casas, ninhos trinchados no alto das árvores.

                      Tudo escorregou entre os dedos. O último pingo do suor caiu e ninguém sabe onde, pois ninguém viu. Tudo acabou? Virou fumaça? A tristeza invadiu o lugar. Onde procurar ajuda? O tempo passou. A cidade triste acabrunhada. A meninada esqueceu seus folguedos na patrulha, esqueceu-se do sol da lua e das estrelas nas noites lindas de fogo de conselho onde eles cantavam e riam sem parar. Para-raios passou por Felicidade em uma noite de natal. Precisava descansar. Viajava há dias no seu Cavalo Trombone procurando uma fazenda para comprar. Ficou sabendo que dona Chiquitita pôs a venda sua casinha atrás do Armazém das flores. Lá tinha de tudo. Seu Pascoal alma sofrida ajudava no que podia a quem não podia pagar. Para-Raios ficou sócio de Seu Pascoal. Comprou um pequeno sitio na Nascente do Rio Florido. Pensou que agora tinha um lugar para morar e morrer. Seu passado se foi, importava só o presente.

                      Na porta do armazém via todos os sábados dois meninos escoteiros andando devagar, mochilas as costas, mas iam até a praça para sentar e chorar. – O que é isto meu Deus? – pensou. Foi até eles. Uma conversa amena, um sorriso breve, um aperto de mão e ele voltou para casa pensando em voltar. Ali precisam dele, e ele não podia faltar. Não seria como em São Domingos, onde a chefia do grupo não se entendia, onde só havia ódio em vez de amor. Tentou mudar, deu tudo que podia, mas nada conseguiu. Meninos iam e vinham nunca querendo ficar. Ele um antigo Escoteiro sabia que ali não era mais o seu lugar. Foi com os dois meninos escoteiros até a sede. Um abraço uma promessa. Os três hastearam a bandeira Nacional. Muitos curiosos aportaram para ver o acontecimento.

                       Ah! Ainda existe neste mundo um lugar chamado felicidade. A cidade voltou ao passado. Os sorrisos, os abraços e apertos de mão agora fazia parte da rotina do lugar. O Prefeito Nolasco sorria de orelha a orelha. Dom Pedrito rezou naquela tarde a missa mais linda que tinha rezado. O Cabo Damião suspirou e soltou Bate Boca o bêbado que prendeu na noite anterior. O Juiz Tião retornou e Dona Cacilda suspirou fundo, pois sabia que agora a meninada da escola tinha juízo, pois Escoteiro é assim, sabe obedecer, tem disciplina e sabe opinar. Ainda me lembro quando naquela final de sexta, Vinte e oito meninos escoteiros passaram marchando, envergando garbosamente seus uniformes com belos chapéus escoteiros rumo a Salamanca, um vale perto do Riacho das Flores onde iam acampar.


                  Era uma vez uma cidade chamada Felicidade. Um lugar lindo, desses que qualquer um de nós gostaria de morar. Não tinha rico remediado ou pobre. Não tinha mansão nem favela. Os burricos que pastavam na praça não faziam dela seu lugar especial. As pessoas não brigavam. Havia um sorriso em qualquer dos seus habitantes. As pequenas casas eram pintadas de branco, com portas e janelas azuis da cor do céu. Todas tinham lindas tulipas, rosas vermelhas, brancas, gardênias, Jasmim, Dama da Noite e tantas que até esqueço de contar. As janelas e portas estavam sempre abertas e o melhor de tudo, havia escoteiros que todas as tardes iam a praça para contar histórias e cantar. Duvida? Um dia levarei você até lá e vai admirar uma cidade chamada Felicidade!

terça-feira, 12 de julho de 2016

A última Estação de trem.


Conversa ao pé do fogo.
A última Estação de trem.

                   Tempos são passados. As lembranças não. Tempos bons que não voltam mais. Época de jornadas, acampamentos a “escoteira”, era bom, bom demais. Nunca esqueci nenhum. Andava por aí sozinho pelos campos acompanhado pelo Senhor. Era um apaixonado por ficar só. Quem sabe egoísta? Só eu sentindo o vento no rosto, descansar a sombra de uma pitangueira, nadar em um remanso frio de um riacho? Francamente não me achava um egoísta. Afinal quantas centenas de lindos acampamentos eu fiz com amigos de todas as idades? Quantas excursões? Quantas atividades aventureiras? Eu sabia que todas elas tinham um lugarzinho em minha memória. Eu sempre tive problemas e todos eles eu resolvia assim. Uma mochila, um bornal, uma forquilha, ração escoteira, uma rota e pé na estrada. Adorava. Muitas vezes sem barracas. Montar uma cabana, um banquinho, um fogo estrela, um local privilegiado onde a vista pudesse deslumbrar o inatingível. Quantas vezes? Muitas. Paradas longínquas, picos saudosos, vales queridos, uma jangada balançando nas águas caudalosas de um rio desconhecido.

                   Foram tantos com tantas histórias e hoje me lembrei da menina a chorar na estação quando seu amado se foi. Um trem uma mochila e lá fui eu a “escoteira acampar”. Era bom demais rever a coruja de olhos verdes, o lobo da campina, dormir sob o manto das estrelas tendo o céu como barraca. Três dias de encantamento. Banho no lago, na queda do riacho formoso, uma fogueira para esquentar. Valeu enquanto durou. Hora de voltar. Uma pequena estação uma parada de trem em um pequeno arraial. Esperava o noturno das onze sentado no banco da estação. Cheguei cedo. Gostava de ver o andar prá lá e prá cá do Chefe da Estação. Homem educado – Boa noite! - E tirava o quepe fazendo uma mesura me saudando sem me conhecer. Ao lado uma mesa com a parafernália eletromagnética que Morse um dia inventou. As mensagens percorriam como correio eletrônico os milhares de quilômetros daquela ferrovia sem fim. Diziam que elas davam a volta no mundo. Sinais curtos e longos, um “tatatá” gostoso levando palavras de sonhos para o fim do mundo. Boas lembranças quando fui Sinaleiro. Ali sentado esperava o trem chegar. Não tinha pressa. Nunca tive.

                    O matraquear, os passageiros chegando, um trem de carga passando e o Chefe da estação dizendo adeus. A vista escura se perdia no som do rio caudaloso que corria no vale dos sonhos dourados. A plataforma uns gatos pingados. O trem que subia o rio chegou mansamente. Não era o meu. Eu iria descer o rio. O Chefe da Estação com seu arco deu instruções ao maquinista que treinado não teve duvidas para enlaçar. O barulho quieto da fornalha soltava fumaça quente no ar. Eu adorava aquilo. Ali sentado, me sentia hipnotizado com a beleza de um trem de ferro que em breve iria sumir engolido pela modernidade. Foi então que avistei um casal. Jovens. Parados em frente à entrada do vagão de primeira classe. Um olhando para o outro. Não diziam nada. Ela só tinha olhos para ele. Encharcados de lágrimas de amor. Ele tristonho não tirava os olhos dela. – “Eu volto para te buscar” falou tristonho. Ela chorava baixinho. – Nunca vou te esquecer meu amor. O último apito, um beijo simples, um roçar de lábios sedentos que não queriam se separar.

              O trem deslizando sobre os trilhos se despedia da estação sorrindo, pois sabia que amanhã iria voltar.  Um último adeus. Ele correu e subiu nos degraus de seu vagão. Ficou ali de mãos estendidas acenando como a dizer que seria um breve e longo adeus. Ela sabia disto. Sabia que ele não iria voltar. Em pé olhava com um tremor no corpo, as mãos tremendo querendo dizer: - Leve o meu sonho com você! Tristonha não tirava a vista do trem que partia apitando e sumindo da vista na curva do rio para quem sabe nunca mais voltar. Um silêncio tomou conta da plataforma. Eu só ouvia o tic tac do telegrafo e os soluços da bela moça que havia perdido seu amor. Eu nada dizia. Não tinha nada para dizer. Ela estática não saia do lugar. Perdida em uma estação de trem o mundo dela desmoronava. O meu chorava com ela. Ela se virou e me viu. Seus olhos estavam marejados de lágrimas. Eu de calças curtas com meu chapelão fiquei em pé. Queria me solidarizar. Não sabia o que dizer. Ela deu um pequeno sorriso levantando o braço dizendo baixinho “Sempre Alerta”. Respondi do mesmo modo em posição de sentido tirando o meu chapéu. Lentamente ela se foi para seu destino.

               De novo a estação vazia. Não havia mais sol e a lua rechonchuda se escondia no outro lado montanha. Não havia vento, nem uma leve brisa para trazer alguma notícia do meu trem. Sentei novamente e deixei minha mente vagar por este mundo de Deus. O Chefe do Trem se aproximou. – Um atraso de quatro horas. O Trem que subia desencarrilhou. Muitos feridos outros mortos. O Trem que iria descer não tinha como passar. Não disse nada. Não tinha pressa. Minha mente corria sobre os trilhos a procurar o trem perdido que se foi. - Será que ele sobreviveu? Sem resposta. E ela? Como avisar que seu amor poderia ter ido para uma morada qualquer nas estrelas? – Não tinha como dizer. Ela já tinha ido para seu lar sonhando com seu amor e sabendo que ele nunca mais iria voltar. Quem sabe seria melhor assim. Dormitei no banco da estação. A noite viajava procurando o dia. Na plataforma escura deu para ver trovões no céu. A chuva chegou de mansinho. Eu gosto do som da chuva. Ela me trás lembranças e uma paz que revigora. Ao longe um apito do trem. Era o meu que chegava. Como um pássaro gigante sobre trilhos adentrou na estação perdida de um trecho qualquer daquela saudosa estrada de ferro.


                   Um retorno sem consequências. Na minha morada meu amor dormia. Entrei de mansinho. Fui olhar meus filhos que adormecidos sonhavam com anjos do céu. Abracei minha amada de muitas vidas e deitei ao seu lado. Ela sorriu. Pensei no amor da outra que tinha ido e nunca mais ia voltar. Sina marcada. Destino escrito no livro da vida. Nada do que se tem a gente pode manter para sempre. Sonhos que não foram vividos. Estrelas piscantes que se mantém no universo através dos tempos. Esperanças que nunca se acabam. Ainda deitado ao lado da minha amada, com as mãos entrelaçadas no peito eu chorava baixinho. Mais um dia que se foi. A dor da saudade de alguém que achou que teria e nunca teve ninguém. 

domingo, 10 de julho de 2016

Lorenzo.


Lorenzo.

             Nada foi como planejado. A trilha com o negrume da noite deixou de existir. Sem saber como chegar à base fomos obrigados a voltar para tentar achar o caminho correto. Cansados sentamos a beira da estrada do pardal e ao meu lado o Sênior Lorenzo. Olhando-me nos olhos disse: Chefe, não tenho nada. Meu pai nada tem. – Olhei para ele e calmamente lhe disse: - Meu caro sênior, o dinheiro faz homens ricos, o conhecimento faz homens sábios e a humildade faz grandes homens. – Ele sorriu. Só isto Chefe? E como ser assim? – Olhei para ele e um silencio se interpôs entre nós – Olhe, para que o homem seja próspero, o dinheiro não basta. É preciso ser bom, sábio e consciente. Existem pessoas que tem dinheiro e pessoas que são ricas. – Como Chefe? Sorri para ele. – Olhe não importa a cor do céu. Quem faz o dia bonito é você. Siga sua vocação que o dinheiro vem. Mantenha seu foco no objetivo, centralize a força para lutar e utilize a fé para vencer.

             – Um gafanhoto pousou na aba do seu chapéu. Dizem que dá sorte. Sorri explicando para ele. Ele me olhou complacente e falou: - Sabe Chefe, lembro que um dia o senhor me disse: - Se for prá ser, será. Se tá demorando, é porque o melhor ainda está por vir! – Olhei para ele com ar de espanto. Toda a patrulha sentou ao meu redor. Lorenzo se calou. Pensativo indaguei ao meu coração se era aquela a resposta que ele esperava. Em resposta meu coração respondeu: - Se não deu certo, tenta de novo e de novo. E se não der certo novamente fica junto ao errado mesmo, quem sabe vai dar certo. Coração sabido o meu. Lorenzo parecia ter ouvido e sorriu. Olhei para ele e sussurrei baixinho: - Esqueça os piores momentos da sua vida e faça os melhores se tornarem inesquecíveis. Muitas coisas bonitas não podem ser vistas ou tocadas, elas são sentidas dentro do coração. A riqueza é uma delas. Agradeça a Deus pelo dia de hoje e aguarde melhores momentos.


                - Chefe! Era o monitor. – Que tal passarmos a noite aqui? Olhei para ele, para Lorenzo e para os patrulheiros. Eu era um Chefe abençoado. Meu coração intrometido rindo me disse: - Chefe aproveite cada minuto, porque o tempo não volta. O que volta é a vontade de voltar no tempo. Ah! Meu coração Escoteiro. Um fogo estrela apareceu, um café fumegante chegou como a dizer: Vamos lá escoteirada, se um dia os seus motivos para sorrirem acabarem, me avisem que eu te dou os meus. Eu era feliz e mais ainda quando vi Lorenzo sorrindo. Não havia mais nada a dizer... 

Era uma vez... Em uma montanha bem perto do céu...

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