quinta-feira, 30 de junho de 2016

Alfredo. Um menino escoteiro


Alfredo.

Os trovões ribombavam no ar. Raios explodiam pela Serra caindo em qualquer lugar. A trilha da subida virou um rio. Subimos em uma saliência e ali enrolado na lona esperamos o dia clarear. A chuva não parava. As lonas não protegiam. – Olhei para Alfredo. – Menino imberbe, sem experiência. Chorou para vir. – Ele me olhava através da escuridão como a pedir socorro. – Chefe, o medo é demais! – Olhei para ele. Sabia o que ele passava. São aprendizados que nos tornarão mais fortes amanhã. O vento chegou forte e bravio. Lembrei que antes do escurecer a chuva caiu mansa, sem vento, parecendo que logo iria passar. Engano. Nem sempre tudo dá certo e nesta hora nas pequenas batalhas que nos tornamos mais fortes. Alfredo iria entender? – Eram onze escoteiros, duas patrulhas. Muitos mais experientes, mas Alfredo não. Um pata-tenra legítimo.

Queria ter o dom de mudar o tempo, de abrir o sol, de fechar a torneira da chuva. Eu sabia que não era um herói, mas eram onze meninos escoteiros que dependiam de mim. Forçava minha mente para descobrir a minha força interior. Eu sabia que é dela que viria a solução para superar meus medos e minhas dificuldades. Comecei a tremer. Meus dentes batiam e por mais que tentasse eles não paravam. O medo chegou e sem perceber vi que os onze meninos escoteiros também tremiam. Eu precisava ignorar o passado imperfeito, até mesmo o presente cheio de defeitos. Eu tinha de pensar e fazer um amanhã do meu jeito. Senti alguém segurando minha mão. Era Alfredo. – Chefe acredite que algum maravilhoso vai acontecer! – Assustei. Era eu quem devia dizer isto e não ele. – Ele sorriu. – Calma Chefe, não grite, não adianta usar a força para tudo. Seus gestos agora são importantes. Suas ações nos darão a calma para prosseguir.

Alfredo? O menino escoteiro medroso me ensinando a crescer? – Os demais escoteirinhos se levantaram e todos se abraçaram fazendo um grande circulo de amor. A chuva amainou. No céu apareceu algumas estrelas. Abri os olhos agradecendo a Deus por uma nova noite. Meu coração acalmou. Os meninos escoteiros sorriram. Aprendi naquele momento que teria de dominar meu próprio eu. Agora seria outra pessoa, mas forte, mais experiente seria um desperdício continuar aquele fraco que eu era. Tinha de enfrentar meus medos. Aqueles meninos me ensinaram muito mais que a vida me ensinou. Alfredo pegou na minha mão. – Vamos Chefe? Sorri para ele. Um pata-tenra que cresceu em pouco tempo. Um cozinheiro da Onça Parda cantou uma canção. Era hora de partir. Tínhamos um destino a chegar.

Eu sabia que não era original, único, eu sabia que não era uma fonte de criatividade e intuição, mas tinha de aprender vivendo e fazendo. Um menino Escoteiro me ensinava uma lição. Só você pode ver com seus olhos o que sente seu coração. Era hora de escutar e seguir com fé a jornada que seria nosso destino. Aprendi com meninos escoteiros que a idade não é a única com responsabilidade. Eu vi ali que não era o Chefe, era um irmão mais Velho aprendendo com os mais novos. Aprendi que onde estiver seu coração lá estará a sua verdade. E a minha verdade me fazia vibrar com aqueles meninos escoteiros. E onde tudo vibra a força chega e os sonhos acontecem. Aprendi que era um Chefe aprendiz amadurecendo. Que a gratidão é o sentimento mais doce que existe. Aprendi que sabia amar e que a maturidade não está na idade e sim na mente. Partimos para nosso acampamento. Um doce sentimento nos dizia que o segredo da vida não é ter tudo que queremos, mas amar tudo o que temos. Eu tinha onze meninos escoteiros para guiar e aprender!


- E a lua rechonchuda nos acompanhou por aqueles vales molhados, mostrando que o tempo tem uma forma maravilhosa de nos mostrar o que realmente importa. – Escoteiro? Sim Chefe, com muito orgulho e amor! 

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