sexta-feira, 29 de abril de 2016

Pigmor, o castor manco do lago Grande Urso.


Lendas escoteiras.
Pigmor, o castor manco do lago Grande Urso.

                 Lisabel estava cansada. Quinze lobinhos a correrem naquele sitio só ela como responsável dava dor de cabeça para qualquer um. Seus assistentes só viriam à noite. Pensou em cancelar o acantonamento depois desistiu. Os lobos aguardavam há meses e ela não podia decepcioná-los. Eram quinze, mas pareciam cem! Fez um bom programa e boas histórias para contar. Próximo a casa sede arvorou a Bandeira Nacional. Seu estoque de jogos, brincadeiras, canções faziam a lobada sorrir e brincar. Dona Mercês mãe do Gustavo ajudava na cozinha. Após o almoço Lisabel reuniu os lobos e foram até ao lago sentando em círculo na sombra de um cajueiro. Viu ondas se espalhando nas águas do lago. Lisabel assustou. Era um castor e logo mergulhou. Impossível! Castores no Brasil? Se dão bem nas águas geladas de países frios.

                 Cantava com os lobos a “A Promessa de Mowgly” e viu que a tarde se aproximava. Quando Noel e Flavia chegassem iria tirar uma soneca. Precisava. Começou a contar uma história e parou. No lago alguém emergia vagarosamente. Era um Velho com um chapéu e uma indumentária típica dos Caçadores de Peles do passado. Ela conhecia suas historias. Leu muito sobre os Mountain Men, um homem da montanha! Ele sorria, deu um olá simpático, chamando a atenção dos lobos. Começou a falar: - Sabem! Disse ele. Faz tempo que não vejo um Cub Scout. Quantas saudades! – O que é um CubScout perguntou Nininha. – Meninos lobinhos como vocês. – Lisabel impressionada estava assustada. Uma figura imponente. Um cajado lindo. – Posso sentar com vocês? – Claro que sim ela respondeu.

                        – Por acaso viram um castorzinho deslizando há poucos instantes sobre o lago? Estou à procura dele. É Pigmor, o castor manco do lago Grande Urso. Todos tinham visto e responderam sim simultaneamente. – Querem que eu conte a história dele? Palmas e gritos. A lobada gostava de uma boa historia. – Bem vou contar, mas é uma historia triste, muito triste. Faz tempo, muito tempo quando conheci o John, ou melhor, o John Colter. Um pioneiro e um dos primeiros caçadores de pele a ser chamado de “homem da montanha”. Ficamos amigos em St. Louis uma cidade americana, lá pelos idos de 1807. Com ele fiz uma serie de expedições até o rio Missouri para caçar castores e tirar suas peles. Os lobinhos assustaram-se. – Calma isto foi há muito tempo. Nós vivíamos disto. Era nosso ganha pão.

                 - Eu e o velho John rodamos meio mundo. Das Montanhas Rochosas até os grandes lagos de Michigan, Huron, Erie e Ontário. Diziam que eu e o John só caçávamos peles dos castores, mas nas horas vagas procurávamos ouro. Nunca esqueci quando conheci Pigmor, o castor manco. Eu e o John chegamos às margens do Lago Grande Urso numa tarde de novembro. O frio intenso nevava a mais de seis dias. Montamos uma pequena cabana e quando ascendi o fogo vi um castorzinho se aproximando e mancando. Assustei, sabia que eram ariscos com os homens. Devia morar por ali com seus companheiros em uma colônia no fundo do lago.

              - Olhei para o John e disse rindo: Ele não parece o Pigmor aquele velho caçador de ouro que morreu em Blue River Valley? Coitado. Morreu sozinho nas Montanhas Rochosas abraçado a um grande urso que encontrou na caverna do Mandor. Pigmor chegou próximo ao fogo. Eu e o John calados. Não valia a pena dar um tiro ou mesmo matá-lo com um facão. Era raquítico, pequeno e descarnado. Seus olhos pareciam vermelhos e vimos que chorava. Ficou horas aproveitando o calor do fogo. Pigmor de cabeça baixa soluçava sem parar. Contava uma historia estranha. Isto mesmo, Pigmor estava falando. Castor falante? Bem foi a primeira vez que vimos um falar.

              Lisabel não acreditava no que via. Um velho curtido, capa estranha, botas de pele de urso, um lenço azul amarrado ao pescoço e um boné de peles de castores, de cócoras no meio do circulo, contava aquela história de uma maneira tão original que se emocionava com as palavras daquele velho caçador de peles. Os lobinhos não tiravam os olhos dele. Sua dor de cabeça desapareceu. – O Velho caçador continuou – Pigmor contou sua triste história. Uma semana atrás. Ainda não nevava, ele e sua família da Colônia terminavam o dique onde iriam passar o inverno e aconteceu uma matança. Dois homens chegaram atirando. Pigmor correu para uns arbustos, mas levou um tiro na perna direita. Seu pai e sua mãe morreram na hora. Somente Nakim, Molevo, Pariá e Jasmiel tinham se salvaram mergulhando nas águas geladas do lago. Os dois homens jogaram uma banana de dinamite e quase destruíram o dique. Os quatro castores escondidos ficaram presos.

                  - Pigmor levantou a cabeça com os olhos rasos d’água. Olhou para John e continuou – Mergulhei até lá, estavam presos em uma toca sem poder sair. Tentei tudo. Jasmiel a Castora que seria minha esposa estava quase morta. Não sabia o que fazer. Melhor morrer com eles. Subi a tona e vi vocês. Acreditei que iam atirar em mim. Podem atirar. Eles irão morrer e eu quero morrer com eles. Iremos nos encontrar nas Grandes Tocas do Navarra onde se encontram os nossos ancestrais. – Pigmor se calou. Soluçava sem parar. John e eu emocionados. Eu não sabia que John gostava tanto de animais. Para minha surpresa, naquela nevasca, escuro feito breu, frio de rachar ele tirou a roupa e mergulhou nas águas profundas do lago. Minutos depois nada do John vir à tona. “Diabos” pensei o que deu nele? A água estava um gelo! – Eis que os primeiros castores apareceram e logo em seguida o John com uma Castora no colo. Era Jasmiel, a namorada de Pigmor.

                       Todos eles correram para a beira do fogo. Eu juro pelas barbas do Coyote mais arisco de Yellowstone, pelas corcundas de um Bufallo das pradarias próximas a Little Bighorn em Montana que é verdade. Ficaram dois dias conosco. Finalmente após consertar sua toca Pigmor disse adeus e os seus irmãos mergulhavam de vez nas águas geladas do Lago Grande Urso. Nunca mais voltei lá. Disse ao John que minha vida de caçador de peles e de castores tinha encerrado ali. Juntamos nossas tralhas e partimos. Fomos para o Território do Dakota na grande corrida do ouro de 1815. Em Montana, Arizona, Nevada e Colorado só se falava nisso.  Um dia John se desentendeu com um fora da lei. Morreu em um duelo em Virginia City. Resolvi fazer uma cabana nas montanhas e passar lá o resto de minha vida. Tropecei em um lago ao sul de Sonora. Vi um castor manco. Seria Pigmor? O levei comigo. Estamos juntos até hoje.


                           Silencio total. O velho caçador se levantou, deu um leve sorriso e disse adeus. Foi em direção ao lago. Sobre as águas notaram cinco castores nadando ao seu lado. Em segundos despareceram no fundo daquele pequeno lago do Sitio Mimoso. Um barulho de carro. Seus assistentes estavam chegando. Uma festa. A lobada gritando e contando a história de Pigmor. Lisabel ficou ali. Olhando para as águas do lago que naquela hora da noite uma bruma cinza se espalhava por sobre as águas. – Seria um sonho? Lisabel nunca esqueceu mais a história daquele Velho caçador. Homem das montanhas geladas, das terras altas, picos altos e longínquos, grandes lagos... Lisabel ao dormir pensou: – Bem que eu gostaria de ter conhecido Pigmor o castor manco do lago Grande Urso. Mas...

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Era uma vez... Em uma montanha bem perto do céu...

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