quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

O lendário bandido Casca Grossa e sua prisão por escoteiros.


Lendas Escoteiras.
O lendário bandido Casca Grossa e sua prisão por escoteiros.

                     Ele sentiu uma pancada na nuca. Foi uma pancada leve sem muita força que nada significava se não fosse o saco de linhagem que enfiaram em sua cabeça. Tropeçou e caiu. Outra pancada e desta vez ficou zonzo a ponto de perder as forças. Amarraram suas mãos por traz e os dois pés. Amarra quadrada e forte. Feita por quem sabia fazer. Sentiu várias mãos arrastando-o até uma caixa ou outra coisa qualquer. Depois viu que era uma carrocinha puxada por alguém. Ele não era gordo, mas chegava pela sua altura a uns 90 quilos. Calculou que o arrastaram na carrocinha por uns três ou cinco quilômetros. Pararam e ele ouviu cochichos a distancia. Tentou falar e não conseguiu. Alguém havia colocado um enorme esparadrapo na sua boca. As vozes eram irreconhecíveis, mas ele se assustou. Eram vozes de crianças.

                    Jogaram-no ao chão e ele sentiu uma dor no ombro direito. Alguém pediu desculpas. Uma voz de uma menina. Raptado por meninos e meninas? Ele não acreditava, nunca pensou que seria assim um dia. Alguém passou uma corda embaixo de suas axilas. Sentiu-se arrastado morro acima. Não era fácil para eles, pois não deviam ser muitos. Por mais de uma hora o puxavam e paravam para descansar. Agora suas costas ralavam em pedras e viu que entravam em uma gruta ou caverna. Parece que chegaram ao ponto desejado. Eles o ajudaram a sentar. Alguém tirou o saco de aniagem de sua cabeça. Olhou assustado. Cinco meninos e duas meninas. Viu que estavam de uniformes e sorriu por dentro em saber que eram escoteiros. O que eles pensavam? Que era um grande jogo? Que ele estava ali para brincar? Ele lembrou que foi um deles por alguns anos, mas sua vida mudou muito. Agora nem mais acreditava naquela causa do General Inglês que um dia amou.  

                     Uma menina dos seus doze anos se aproximou. – Pediu desculpas pelo acontecido, mas ele tinha de ficar preso. Um menino da mesma idade completou: - Já passamos um telegrama para a Policia Federal na capital. Em breve virão buscá-lo Outro menino se adiantou e disse: O Delegado Gastão viajou e o cabo Ursolino estava bêbado, assim não o levamos para a delegacia. Eles sentaram-se juntos nas pedras da gruta. O olhavam espantados, mas não estavam com medo. Ele queria falar, mas o esparadrapo na boca não deixava. Estava com sede. Tentou fazer um sinal, mas eles não entendiam. Alguém chegou espavorido. Trazia uma mochila e dentro lanches e um cantil. – O mais Velho dos seus treze anos se apresentou: - Sou o Monitor me chamam de Morcego. Não queremos seu mal, mas não podemos deixa-lo solto. Sabemos que é um bandido perigoso e cruel. Vou tirar o esparadrapo de sua boca e você só pode responder o que perguntarmos. Se falar outra coisa colocaremos de novo.

                    Sentiu uma sensação de ar puro quando tiraram. Era até bom, pois se lembrou de quando quase morreu nas mãos do Delegado Corsino. Ele o deixou preso a uma raiz de uma árvore sem comida e agua e com a boca seca. Quase morreu. Pediu água. A menina levou o cantil até sua boca. Bebeu com sofreguidão. Um menino um frangote de seus onze anos lhe deu um pedaço de linguiça frita. Comeu e repetiu várias vezes. A menina pediu desculpas. Vamos embora. Voltamos amanhã e se a policia federal não chegar trazermos mais comida e água. Partiram não sem antes colocar o maldito esparadrapo em sua boca. Ele estava acostumado com a forma que o prendiam. Não se apertou. Encostado e amarrado a uma pedra ele dormiu. Não sonhou. Não era de sonhar. Sabia que sua vida agora era outra. Não era ladrão nem assassino, era sim um caçador de recompensas e perseguido por bandidos e policias de todos os estados. De novo de caçador virou caça.

                           Acordou com os escoteiros chegando. Ainda de uniforme. Turminha Caxias. Ele riu para si próprio. No fundo gostava deles. Lembrou-se de sua promessa de seus acampamentos, do seu Chefe e dos patrulheiros da sua patrulha. Como ela se chamava mesmo? – Patrulha do Condor. Não falaram nada. Devem ter lido sobre como conversar com bandidos prisioneiros. A lábia dele é grande e se soltar morrem todos! Bebeu agua, comeu um pão com manteiga. Chegaram a ponto de levar outro cantil com café. Gostoso demais. Sentia falta de um café quente. Tiraram o esparadrapo. – O monitor gentilmente disse que desistiram de tudo. Queriam soltá-lo, mas tinham medo. A menina escoteira com os olhos cheios de lágrimas disse que um jornal comentou que ele era bom, nunca matou ninguém. Foi condenado porque entregou um filho de deputado a um polícia, que queria a todo custo acabar com a vida dele. Quase o mataram, mas se defendeu e jogou o filho do deputado em um barranco.

                           Outro menino Escoteiro pediu desculpas e disse que queria apertar sua mão, pois soubera que ele fora Escoteiro. – o monitor disse: - Como soltar você? E se nos matar? Ele sorriu. Bem que aquela turminha merecia. Ele fora aquela cidade para prender um fazendeiro que policia nenhuma queria prender. O dinheiro comprava tudo. Se ele prendesse o fazendeiro e o levasse até o estado do sul ganharia um bom dinheiro. Lá era procurado e com a cabeça a prêmio. Ele continuou calado apesar de estar sem o esparadrapo na boca. A menina pegou a faca escoteira. Ele se assustou. - Agora esta? Pensou. Ela cortou as cordas e ele ficou livre. Todos correram para o canto da gruta. Enroscaram-se de medo. Muitos tremiam como varas verdes soltas ao vento. Ele sabia que não ia fazer nada. Foi até eles. Deu a mão esquerda para cada um. Não esqueceu o sempre alerta. Sumiu na descida do morro onde ficou preso por dois dias.


                               O Doutor Lucrécio da Policia Federal queria saber quem foi que enviou o telegrama. Nele dizia que a Patrulha Condor (a mesma do bandido) prendeu Zeca Casca Grossa procurado por todo Brasil. A patrulha Condor no canto de patrulha sorria. Colocaram no telegrama Condor, mas eles eram os Gaviões Negros. Não havia patrulha Condor. O Chefe conversou com o Doutor Lucrécio por muito tempo. Ele partiu sem saber quem passou o telegrama. A patrulha foi para casa unida. Moravam na mesma rua. Na esquina da Rua do Convento com a Santo Antônio viu alguém acenar e sorrir. Uma voz forte falou sem gritar: - Obrigado. A alegria de fazer o bem é a única felicidade verdadeira. Vocês mostraram que são realmente escoteiros. Prometo mudar de vida e podem acreditar, o Escoteiro tem uma só palavra e sua honra vale mais que sua própria vida! Ele sumiu e ninguém nunca mais ouviu falar dele. Um dia Anita ao entrar em um banco foi recebida por um senhor de barba e muito educado: - Seja bem vinda escoteira ao nosso banco, afinal na Gruta me deste água e eu nunca mais esqueci! – Nossa! Era ele?

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Era uma vez... Em uma montanha bem perto do céu...

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