terça-feira, 24 de novembro de 2015

Os anjos também sabem cantar.


Lendas Escoteiras.
Os anjos também sabem cantar.

               Teobaldo Sacramento passeava no pátio do colégio onde era diretor. Poucas vezes ele esteve ali. Não sabia como fora parar naquela área que pela primeira vez ele via com olhar diferente. Uma tristeza enorme o invadia e ele olhava melhor as árvores, as áreas ajardinadas e o pequeno riacho que lá no fundo trinava sons repicantes e intermitentes das pequenas corredeiras. Ele sabia que aos sábados era terreno dos escoteiros. Não tinha a menor ideia porque não sentia nenhuma simpatia por eles. Nunca os cumprimentou, os abraçou e nunca em sua vida ele fora Escoteiro. Quem sabe foi quando foi nomeado diretor na recepção que os professores e pais fizeram a ele não havia nenhum Escoteiro. Tinha uma visão estereotipada de que eles se consideravam superiores e isto trazia para ele uma hostilidade desagradável, quem sabe até mesmo repulsiva que nada dizia das demais organizações que conhecia. Quatro meses haviam se passado e nunca em tempo algum recebeu deles uma visita. Consideravam-se donos e achavam que não deviam satisfações a ninguém.

                       Nunca pensou em lhes dar um bilhete azul, afinal nunca foi vingativo. Nos colégios que tinha dado sua colaboração nunca cruzou com eles. Esta era a primeira vez. Como era cedo ele sabia que só mais tarde eles começavam a chegar com aquele zumbido tétrico de um bando de abelhas entrando em uma colmeia. Ele os viu somente uma vez. Correndo pelo pátio, cantando a pleno pulmões, os chefes apitando feitos loucos e até achou interessante quando hastearam a bandeira Nacional. Teobaldo Sacramento tinha 42 anos. Sabia que seu casamento estava indo pelo ralo. Amava demais Marilda, mas ela depois que sofrera um aborto involuntário parecia acreditar que ele era o culpado. Ele estava dando uma aula de História que tanto gostava, falando de Pedro Alvares Cabral quando recebeu a notícia. Largou tudo e partiu célere para sua casa, mas era tarde demais. Ela sempre o culpou por não estar junto dela. Resolveram mudar de rumo indo para outra cidade, quem sabe novos ares, novos amigos poderiam mudar a vida daquele casal que em tempos áureos foram felizes.

                   Viu uma aroeira enorme e embaixo um banco feito artesanalmente, mas convidativo para sentar. Não se fez de rogado. Seus pensamentos não eram claros e azulados como nuvens ao amanhecer. Para ele com o coração partido procurava dar um novo rumo em sua vida e mesmo com a nova cidade, o novo colégio nada dizia que foi acertado a transmutação, ou melhor, a modificação que fizera em sua vida e de Marilda. Tinha hora que a vontade de chorar era grande. Como Diretor do Colégio Dom Bosco ele sabia que tinha que oferecer um certo respeito, uma certa dignidade e chorar não fazia parte de uma autoridade como ele. Sem perceber viu seus olhos encherem-se de lágrimas. Sabia que estava só e as deixou rolar pela face ate cair ao chão. Ele precisava de um desabafo, de um colo amigo, de um ouvinte sincero. Como era novo na cidade deixou as lágrimas correrem como cascatas brancas caindo nas pedras do caminho das águas. Fechou os olhos e deixou seu pensamento viajar por longas paragens que ele sempre imaginava nos seus sonhos do passado. Grandes gramados, vales enormes, rios caudalosos, flores incríveis espalhadas pelas campinas verdejantes.

                  - Oi! – Alguém disse para ele. Ainda de olhos fechados ele pensou quem era. Quem estava desnudando seus segredos assim sem pedir para entrar em seus pensamentos? Abriu os olhos suavemente. Era uma menininha vestida de azul, com um lenço verde e amarelo no pescoço, um bonezinho tipo jóquei e um sorriso incrível! – Ela não parava de sorrir. Não o sorriso debochado, escrachado de quem quer ver o seu próximo no fundo do poço. Era um sorriso infantil, daqueles que ninguém deixa de admirar. Victor Hugo dizia que nunca ninguém conseguirá ir ao fundo de um sorriso de uma criança. Era verdade. Ele se levantou olhou para ela e disse: Oi! Não quer sentar aqui? – Posso mesmo? Ela disse.  Claro, afinal estamos só eu e você e porque não nos conhecermos melhor? – A menininha Lobinha riu. – Olhe aceito seu convite, mas primeiro preciso ver seu sorriso! – Teobaldo Sacramento não sabia o que dizer. Como uma menina de menos de oito anos brincava com ele desta forma? – Melhor sorrir, pensou. E sorriu. Não foi aquele sorriso estonteante, mas que ajudou a manter o diálogo com a Lobinha.

                      - Porque você está tão triste? Ela perguntou. – Qual resposta poderia dar? O que ele entende da vida de um adulto? Pensou. Ele não disse nada. Melhor calar do que falar o que não devo. – Akelá Lucy nos ensina que sorrir faz bem, ajuda a esquecer das tristezas! – Ele não disse nada. – Eu sempre faço o que ele me diz. Um dia me contou que as dificuldades existem para todos e para ficar livre delas devemos pensar primeiro nos outros e não em nós! Ele prestou atenção as suas palavras. Uma menininha de nada querendo dar lição de moral a ele? Um diretor? Um homem feito? -- Como é seu nome? Ela perguntou. – Teobaldo Sacramento, sou o diretor deste colégio. – Humm! Prazer eu também sou importante, sou segunda prima da matilha Vermelha! Chamam-me de Lis, mas me chamo Lisandra. Já ouviu falar na Lei do Lobinho? Teobaldo quis rir, mas sabia que devia respeitar aquela menina tão cheia de doçura e simplicidade.

                     - Veja, ela continuou – Não somos senhores do tempo, não podemos decidir nossas vidas no futuro. É Deus quem define o que somos e o que seremos por isto devemos sempre ouvir os Velhos Lobos, não existe idade entre o céu e a terra para entender o que dizem. E porque não pensar sempre primeiro nos outros? O senhor faz assim? – Teobaldo não respondeu. Temos que abrir os olhos e os ouvidos para ver no fundo do coração e na alma daqueles que estão ao nosso redor, não é mais fácil assim para respeitar e convivermos mutuamente? Estar sempre limpo não é só nosso o corpo, é nosso pensamento, é a maneira com que vemos as dificuldades, e saber entender que não somos perfeitos! E porque não dizer sempre a verdade? – Ela se levantou. – Diretor! O senhor abraçou alguém que ama hoje? Não? Um abraço abre nossos sonhos para o real, perdoar, entender, amar e sacrificar deve ser nossa meta em qualquer momento das nossas vidas!


                  Ela saiu devagar, olhando para trás e sorrindo. Cantava baixinho uma linda musica escoteira. Deu um adeusinho e sumiu atrás de um bosque de árvores floridas. Teobaldo Sacramento levantou de onde estava. Agora entendia sua vida, sabia para onde devia caminhar. Os escoteiros para ele tinha outra razão de ser. Descobriu que sua vida era oca, sem motivo, somente a se culpar sem dar em troca seu amor a quem precisava nas horas difíceis da vida. Ah! Pensou Teobaldo, ele agora sabia que os Anjos também sabem cantar e... Aconselhar!

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Era uma vez... Em uma montanha bem perto do céu...

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