domingo, 22 de novembro de 2015

As travessuras da Matilha Marrom


Lendas Escoteiras
As travessuras da Matilha Marrom

                      A chefia da Alcatéia estava descontente com a Matilha Marrom. Não foi a primeira vez. Alguma providencia precisava ser tomada. Afinal deviam ter pleno conhecimento da Lei do Lobinho e a matilha não era formada por lobos novos. A Alcatéia era mista e na Marrom havia três meninas e três meninos. Quase todos com mais de um ano no Grupo Escoteiro. O que fizeram, ora, ora! De novo aprontando. Na uma esquina avenida movimentada esperam o sinal ficar verde, escolhiam pessoas idosas para irem por traz e buzinar com grande algazarra uma Guguzela, bem perto do ouvido. Porque fizeram isto? Perguntaram. Ora Balu o sinal podia abrir e os carros passariam por cima deles. Só ajudarmos! Bela ajuda. Existiram outras. Entraram em um jardim de uma residência, e ali colheram todas as flores. Como nada entendiam do corte e como fazer, destruíram boa parte do jardim. O proprietário vendo aquilo os pôs para correr e foi até ao Grupo Escoteiro reclamar. De novo? – Bagheera perguntou: - Bagheera, hoje é o dia da mulher e íamos distribuir rosas e outras flores para todas as senhoras que encontrássemos!

                          Um dia amarraram não se sabe como uma matula de mais de 15 cães de rua. O que aprontaram em frente a um posto médico não estava escrito. Ora! Que boa ação foi esta? Perguntou o Balu. - Era para facilitar os donos encontrarem quando procurassem seu cão perdido! A Akelá sabia de tudo. Relutava em dar uma suspensão. Mas uma atitude firme precisa ser tomada. Não adiantou a conversa em particular com cada um e nem falar com os pais. Diretor Técnico alma boa dava grandes gargalhadas quando lhe contavam as façanhas dos marrons. Até no Conselho de Chefes o assunto foi levado. Mas os demais chefes do grupo só diziam: - São crianças, nada mais que crianças!
                        
                           Tudo havia começou há pouco tempo. Quem sabe com a entrada de Lili. Calada, simples e calma seria impossível ela exercer tal liderança. Pensando bem, eles não eram maus. Seus objetivos tinham finalidade e poderia se feito de outra forma com melhores resultados. A Akelá tinha um grande amor pela alcatéia, e a sua maneira achava que cumpriam a Lei do Lobinho. Mesmo com aquela idade não distinguia malicia nos seus atos. Claro que a vizinhança não pensava assim e tinham certas reservas. Isto podia prejudicar a imagem dos escoteiros. A Akelá pensou e pensou. Se nada até agora adiantou precisava bolar um plano para dar uma lição em todos eles. Quando a Bagheera perguntou o que ia fazer ela disse para não se preocupar. Tinha um plano e se desse certo eles iriam mudar para sempre seus arroubos mirabolantes.  Não falou com ninguém sobre seu plano.

                     Lili havia feito oito anos. Pequena parecia não ter aquela idade. Seu raciocínio e desenvoltura corriam paralelos de um adulto. Seus pais já observavam isto. Quem sabe foi o motivo para a colocarem no Grupo Escoteiro. Ouviram da psicóloga sobre matriculá-la em uma organização, onde houvesse uma disciplina mais rígida, sem tolher sua liberdade e criatividade. Adorava seus amigos lobinhos. No inicio teve dúvidas. Com alguns meses já liderava a matilha Marrom. Não era a prima e nem segunda. Isto não importava. Todos ali gostavam dela e suas idéias eram acatadas sem discussão. Poucos fora da matilha sabiam, mas fora ela quem planejara todas as traquinagens da matilha. Juraram manter segredo. – Ela disse: Ou todos assumem ou não assume ninguém. Quintinho não entendeu bem, mas balançou a cabeça concordando. 

                      Verdade seja dita, Lili tinha uma grande admiração e amor pela Akelá. Quando a matilha fazia travessuras, Lili ficava com medo de ser descoberta e perder a amizade de sua Chefe. Passou a organizar suas “expedições” em locais mais distantes. Para isto chegavam sempre uma hora antes do início das reuniões. Ela sabia tudo, a lei, a promessa e as etapas. Leu para surpresa de seus pais todo o livro da Jângal. Sonhava com Mowgly e sempre pensou porque Kipling não tinham posto na história uma lobinha, companheira de Mowgly. Sentia falta de receber seus distintivos e especialidades. Não dava tempo para ela mostrar seus conhecimentos. Considerava os demais da matilha como seus irmãos. Talvez por ser filha única, ali se encontrou como se fossem da mesma família. No sábado seguinte, após a reunião fora chamada para uma conversa em particular com a Akelá. Lili estava preocupada. Ninguém sabia que as idéias e as traquinagens eram dela. Mas a Akelá parecia saber. Pensou que seria afastada do grupo. Seu coração batia forte só em pensar nisto. Não poderia sair, ninguém tinha o direito de expulsá-la pensava.

                  Foi de cabeça baixa. Seus olhos estavam vermelhos. A Akelá a abraçou e disse para não se preocupar. Lili era tudo de bom que a alcatéia possuía. Sem ela dizia a alegria não seria reinante nas reuniões. Não entrou em detalhes e nem comentou sua liderança sobre os demais. Somente a convidou para ir com ela ao Zoológico no domingo. E os outros ela perguntou? Só eu e você, respondeu a Akelá. Já falei com seus pais e eles deram autorização. Quem sabe lá teremos muito a aprender você e eu? Conversaram pouco durante a viagem. Mas se soltaram quando lá chegaram. A Akelá pediu para ela prestar bem atenção de como os animais, pássaros, repteis e peixes diversos se comportavam. – Veja Lili, cada um tem sua morada e um respeita a individualidade do outro. Veja, eles vivem juntos na floresta e só quando tem fome a lei da selva é considerada. Lili não entendeu bem, mas tentou ao seu modo pensar diferente.

                         Ao meio dia, pararam para um lanche em um quiosque. A Akelá começou a contar história da Jangal que ela não conhecia. Como Balu e Bagheera defendeu Mowgly dos outros animais. Como Káa foi uma amiga e sempre ao seu lado. Explicou como o Rei da Selva tratava os demais na floresta Falou sobre o respeito, as normas e como viviam melhor que os homens vivem. Tinham respeito entre si, ninguém desfazia de ninguém. Lili ficou pensando nas palavras da Akelá. Prometeu a si mesmo mudar. Em nenhum momento a Akelá deu exemplos do que fizeram, mas Lili sabia onde ela queria chegar. Prometeu a si mesmo que iria mudar. Afinal todos nós temos nossos direitos e nossos deveres. Devemos ver onde começa e onde termina cada um para não prejudicarmos ninguém.


                 Passaram-se dois meses. A paz voltou a reinar na Alcatéia. Não houve mais traquinagens. A matilha Marrom se transformou. Todas as matilhas notaram e a amizade aumentou. Lili fez mais amigos e amigas. Era querida de todos os lobinhos e lobinhas. Recebeu sua segunda estrela e chorou de felicidade. Sonhava em ser uma lobinha cruzeiro do sul. Eu sei a matilha Marrom continuou unida por muitos e muitos anos. Alguns passaram para a tropa, entraram outros, mas a amizade, a fraternidade e o respeito faziam parte da vida de cada um. Nas cerimônias do Grande Uivo, os marrons saltavam com alegria e vivacidade a dizer a plenos pulmões quem eram e o que seriam – “Melhor, melhor, melhor e melhor? – Sim, melhor, melhor, melhor e melhor”.

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Era uma vez... Em uma montanha bem perto do céu...

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