sexta-feira, 25 de setembro de 2015

O Lobinho herói de Santa Genoveva.


Lendas Escoteiras.
O Lobinho herói de Santa Genoveva.

                              A história de Jovelino correu mundo. Sei que ninguém nunca esqueceu. Foi um exemplo de vida e marcou seu nome na cidade para sempre. A história aconteceu há mais de quinze anos. Se foi um Super Herói não sei. Bem não vamos saltar a pedra de uma vez. Vamos escalar ponto por ponto para que cada um conheça melhor quem foi o Lobinho Jovelino Troca Letras. Ele nasceu em Santa Genoveva lá pelos idos de 1950. Sua mãe trabalhava no correio e seu pai estava internado em um Manicômio Judiciário de Terra das Vertentes. Diziam que nunca se recuperaria. Na cidade a família de Jovelino era tida como “malucos”. Até os quatro anos ninguém viu nada de anormal em Jovelino. Quando fez quatro anos sua mãe observou que ele só ria. Diziam ser um riso de idiota que pouco falava.

                            No início ninguém ligou muito, mas na escola começaram a rir dele, fazer “chacotas”, chamá-lo de biruta, pirado, lunático, tantan e muito mais. Passaram então a chamá-lo de gaguinho, fanhoso e outros termos que não vale a pena publicar aqui. Jovelino nunca retrucou. Sempre com um sorriso nos lábios. Aos seis anos descobriu os escoteiros. Passava a tarde assistindo as reuniões na sede. Vibrava com os jogos e em seu cantinho pulava e tentava emitir sons que dificilmente saia. Por vários sábados ele ficou lá assistindo. Os lobinhos e os escoteiros já o conheciam do colégio e nas ruas da cidade. A Akelá Márcia um dia perguntou a ele se queria ser lobinho. Seus olhos disseram tudo. Ele balançou a cabeça com a dizer que sim. Marcia ficou intrigada. Será que era mudo? Martinha veio ao seu socorro. Akelá, é o Jovelino Troca letras, na escola todos dão boas risadas com ele é fanhoso e não fala.

                      Marcia pensou como ajudar. Pensou em conhecer a família de Jovelino. Falou com ele devagar – Jovelino! Peça a sua mãe para vir aqui. Certo? – Se ele entendeu ninguém soube, mas a mãe de Jovelino nunca apareceu. Marcia sabia que não podia admiti-lo sem a presença dos pais. Neste interim Jovelino continuava lá, no seu cantinho, vibrando e gruindo, pois assim eram os sons que emitia. Jovelino tinha boa aparência. Cabelos louros e ondulados. Suas roupas eram humildes, mas limpas. Calçava uma sandália de dedo e parece que escovava sempre os dentes, pois estavam brancos e brilhantes. Magro, não era alto pela sua idade. Enquanto pequeno passou por todos os médicos do INSS. Pobre ninguém resolveu sua doença.

                       Uma tarde a mãe dele apareceu. Conversaram muito. Marcia mesmo sem entender e sem experiência no assunto pensou que não custava tentar ajudar Jovelino Troca Letras foi aceito na Alcatéia e colocado na matilha azul. No inicio os resultados foram desastrosos. Os lobinhos e as lobinhas sempre rindo dele. Difícil mudar isto. Oito meses depois o próprio Jovelino estava desistindo. Dizia para a Akelá Márcia: - Ão adianta ontinuar. Ou sair. Olo muito. Os chefes da Alcatéia se reuniam, discutiam e chegavam à conclusão que ele não estava ajudando. Ele não aprende nada. Seu sonho era vestir o uniforme e não deixaram. Um sábado Jovelino não apareceu. Alguns chefes acharam melhor assim. Marcia ficou preocupada. Afinal se sentia culpada. Resolveu ir a sua casa. Com sua filha que era Escoteira foi com ela até a Rua do Ouvidor. Não foi difícil achar sua casa. Na porta a mãe a recebeu com um sorriso triste. Estranharam. A mãe de Jovelino serviu um cafezinho e uns bolinhos.

                     – Chefe, eu fui obrigada a internar o Jovelino em uma casa de repouso disseram-me que poderiam ajudar. Ele passou a gritar, chorar, e dizia na sua maneira inteligível que queria morrer. Pessoas humildes, sem posse e conhecimento Marcia se preocupou. Que casa seria esta? Nunca ouviu falar. Pediu o endereço e foi lá. Coitado do Jovelino. No meio de homens e mulheres que estavam em processo de loucura totalmente insana e degradante. A maioria sem familiares para ajudar. Espalhados pelo pátio faziam suas necessidades na grama, uns gritavam outros davam gargalhadas. Enfermeiros agiam com brutalidade. Viu Jovelino em um canto, e caramba! Sorrindo! Estava com um buquê de flores e veio correndo entregar a Chefe Marcia. Ela não aguentou. Chorando deu nele um abraço não de Chefe, mas de mãe.

                  Na secretaria disseram que ele não podia sair. Nem a mãe poderia tirá-lo. Enquanto não melhorasse. Melhorar? Ali? Marcia foi direto ao juiz da cidade. Conhecia-o. Era pai de um Escoteiro. Jovelino saiu no outro dia. E agora o que fazer? Como reintegrá-lo na Alcatéia novamente? Falar com os lobinhos? Consultou os demais assistentes. Consultou o Diretor Técnico. Fizeram um Conselho de Chefes do Grupo. Claro, todos se apiedaram de Jovelino e foram unânimes em votar a favor de sua volta. Perguntaram-se como ele iria agir e interagir com os demais? A bomba era da Marcia e seus assistentes. Marcia para animá-lo deu a ele um uniforme. Ele sorria de orelha a orelha. Naquele sábado a reunião foi na Praça Central da cidade. Era uma maneira de fazer marketing para o grupo.

                    Na praça um homem grande, barbudo, com um revolver na mão chegou gritando para saírem dali. Pegou pelos cabelos a lobinha Martinha. Ela com os olhos arregalados começou a gritar e pedir socorro. O homem apontava a arma e dizia que a mataria se alguém se aproximasse. A policia chegou e fez o cerco. Ele tentou um roubo no banco e não conseguiu. Matou a tiros o gerente. Uma calamidade. Um silêncio sepulcral no Parque. Os lobinhos e as lobinhas soluçavam e choravam. Marcia e os assistentes indefesos. Uma dezena de policiais gritando para ele soltar a menina. Ele começou a dar gargalhadas. – dizia – Vou matar! Vou matar! Nunca tive uma filha e vou levar esta junto comigo para o Inferno. Martinha gritava e ele dizia a ela para calar lhe batendo na cabeça com as mãos. Incrível, ninguém acreditou no que via. Jovelino estava sorrindo e falando normalmente. Cantando alto e bom som dizia a Martinha – Calma minha irmã! Calma. Tudo vai dar certo e foi chegando para perto dos dois. O bandido gritou para ele parar, pois o primeiro tiro seria dele. A polícia gritou para Jovelino sair dali.


                     Com grande agilidade Jovelino deu um salto e abraçou o bandido pelo pescoço. Ele sentindo o peso do menino soltou Martinha que saiu correndo. Com um safanão o bandido jogou Jovelino no chão e atirou. A policia nesta hora crivou o corpo do bandido de balas. Ele caiu ao chão ao lado de Jovelino que sangrava. Levaram Jovelino para o hospital. Ele quase não respirava. Internado na UTI ficou lá dois meses. Na porta do hospital uma multidão de lobinhos e escoteiros e seus familiares faziam vigília. Quatro meses depois ele recebeu alta. Um milagre aconteceu. Ele agora falava sem gaguejar. Deram a ele uma medalha da cidade. O povo veio ver e aplaudiu. Os escoteiros em uma estrondosa palma Escoteira saudaram Jovelino. O lobinho herói de Santa Genoveva. Sei que Jovelino quando cresceu foi escoteiro Lis de Ouro e Escoteiro da Pátria.  Dizem também que ele se formou em direito e é um grande advogado na capital. Dizem também que ele faz questão de participar de um Grupo Escoteiro lá. Só sei que em Santa Genoveva ninguém nunca mais esqueceu.   

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