segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Minha inesquecível Chefe Rosinha.


Lendas Escoteiras.
Minha inesquecível Chefe Rosinha.

                         Muitos escoteiros e escoteiros não entendiam a Chefe Rosinha. Tinha no rosto a bondade, o sorriso e a amizade estampada em toda sua aparência. Não vou dizer que era a mais bem uniformizada da Tropa feminina, mas ela fazia na sua apresentação algum que sentíamos ser uma forma de elegância e simplicidade. Eu mesma no principio achei aquilo démodé, careta, fora de moda e inadequado para uma Tropa escoteira. Hoje já casada e com dois filhos sou gratíssima a ela. Deu-me nova visão da vida, principalmente quando comecei no meu primeiro emprego. Ainda me lembro do sorriso enigmático dos meus diretores quando conversavam comigo. Um deles até me perguntou se eu era de família tradicional e ascendência europeia. Eu ria por dentro sem demonstrar presunção ou esnobismo.

                        Nunca esqueci meu primeiro dia na Tropa. Já com meus onze anos, menina sapeca, sorria mesmo sem saber por que sorria. Não tinha modos para assentar nem andar. Parecia um espantalho que adquiriu vida e agora saia pelo mundo pensando que ele era meu. Adorei aquele dia. Ela me recebeu com um abraço sem afetação, me disse baixinho que eu era bem vinda e que contava comigo para ajudá-la. Aquilo me marcou. Ela queria minha ajuda? Porque não? A patrulha Coruja era minha segunda família. Todas as Escoteiras pareciam anjos caídos do céu para fazerem um escotismo que até hoje considero uma dos melhores momentos da minha vida. No principio estranhei a forma como a Chefe Rosinha tirava dez ou quinze minutos para falar em etiqueta, apresentação e educação me deixou inquieta. Pensava que o escotismo me daria muitas descobertas, aventuras, acampamentos e tantas outras coisas que sempre sonhei ter.

                        - Felícia, aqui você vai ter tudo isto e até mais. Mas espero que não me critique, pois ninguém nasce sabendo a maneira ideal de comportar-se em cada momento. Se fosse assim o mundo seria chatíssimo. Ela dizia isto e sorria. Um sorriso que conquistava a todos nós. – A elegância e a educação é um dom pessoal, como o talento, é a única forma de beleza permitida a todos nós. Eu sei que ninguém nasce assim e, portanto acredito que o escotismo pode complementar esta parte que está faltando em muito na nossa juventude. Feche os olhos e imagine comigo: - Se você tentar possuir uma flor verá sua beleza murchando. Mas se você apenas olhar uma flor num campo, permanecerá para sempre com ela. Eu franzia a testa e não entendia muito bem. Mas o tempo ajuda a transformar nossa maneira de ser e pensar se tivermos auxilio de alguém. Minha mãe era exigente e meu pai também. Mas a Chefe Rosinha era totalmente diferente. Com ela era muito fácil aprender.

                       Nossos acampamentos eram demais. Tínhamos liberdade para conversar agir atuar e construir. Nosso campo de patrulha não deixava nada a desejar. Eu adorava fazer uma pioneiria, bem feita ou não e ao terminar olhar com olhos de lince o que tinha feito. Dizem que a mais nobre paixão humana é aquela que ama a imagem da beleza em vez da realidade material. O maior prazer está na contemplação. E como eu gostava de contemplar minhas obras primas. As horas deliciosas do tempo livre, do almoço jantar ou mesmo nas conversas ao pé do fogo eram repletas de alegrias, sorrisos mil, éramos como se estivéssemos vivendo uma nova vida que o escotismo estava ali para nos oferecer. A Chefe Rosinha dizia sempre: - Seja você quem for, seja qual for à posição social que você tenha na vida, a mais alta ou a mais baixa, tenha sempre como meta muita força, muita determinação e sempre faça tudo com muito amor e com muita fé em Deus, que um dia você chega lá. De alguma maneira você chega lá.

                        Eu fazia tudo na patrulha com amor. Uma vez acampamos com outras patrulhas e achei que eles e elas não prezavam a boa civilidade. Muitos palavrões falta de apresentação pessoal ou mesmo até nas horas mais sublimes os seus sorrisos destoavam de tudo aquilo que aprendemos com a Chefe Rosinha. - Escoteiras! Ela dizia sempre: Uma pessoa é considerada chique quando se veste com apuro e bom gosto e se destaca pela elegância respeito e ausência de afetação. De novo, uma questão de atitude e não de indumentária. Lembrem-se se não houver frutos, valeu a beleza das flores; se não houver flores, valeu a sombra das folhas, se não houver folhas, valeu a intenção da semente. Isto minhas amigas eu chamo de caráter de um homem ou uma mulher em sua maneira habitual de ir à caça da felicidade. Primeiro fazemos nossos hábitos, depois nossos hábitos nos fazem.

                        Quando recebi meu Lis de Ouro foi como se o mundo se reverenciasse aos meus pés. Quando minha mãe me abraçou eu chorei de felicidade. Eu olhava a Chefe Rosinha que na sua expressão de bondade me fazia sentir como a escoteira mais feliz do universo. Sempre me lembrando de suas palavras: Se você for educada e simpática, as pessoas ficam dóceis e obedientes. Assim, a polidez faz com a natureza humana o mesmo que o calor faz com a cera. Tentei sorrir quando fui para Guia. Não conseguia segurar minhas lágrimas. Afinal era outra escola, outra maneira de viver e aprender. Se vives de acordo com as leis da natureza, nunca serás pobre; se vives de acordo com as opiniões alheias, nunca serás rico e eu nos seniores me sentia pobre. Eu não ia deixar apagar o que aprendi com a Chefe Rosinha. Eu sei que existem pessoas que se acostumam com seus próprios erros, e em pouco tempo confundem seus defeitos com virtudes. Isto nunca iria acontecer comigo.

                   Foi custoso para viver com outros que não tiveram a oportunidade de aprender a ser educados, gentís, entre outras necessidades de um ser humano que acredita na forma de viver mais voltada para os outros. Eu podia ter dito nas Reuniões ou Conselhos de Tropa o que diferia a Tropa escoteira dos Seniores ou das Guias. Poupar as pessoas de situações involuntariamente vexaminosas é prova de muita educação e civilidade. Palavras que não me esquecia da minha Chefe amada. Aos poucos sem forçar a própria Tropa aprendeu a me respeitar e um dia sem querer disse a um monitor que era muito comum em chegar atrasado: - Monitor, fazer alguém esperar sem uma desculpa séria, sem um motivo importante e, principalmente sem um telefonema no meio do caminho para justificar o atraso, é uma prova de arrogância e falta de civilidade. Ele me olhou espantando e quis retrucar, mas daí em diante nunca mais chegou atrasado.


                 O tempo passou. Fiquei mais alguns anos como Chefe. Cresci me formei e hoje não me arrependo de tudo que aprendi com a Chefe Rosinha. Ela me deu uma nova vida, uma nova maneira de pensar e se não fosse ela eu não seria a mulher que sou hoje. Com a Chefe Rosinha eu aprendi que deveríamos ser gratos a Deus por não nos dar tudo que lhe pedimos, mas nos ter dado o que precisamos para ter uma vida feliz.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Era uma vez... Em uma montanha bem perto do céu...

Bem vindo ao Blog As mais lindas historias escoteiras. Centenas delas, histórias, contos lendas que você ainda não conhecia....