terça-feira, 25 de agosto de 2015

Nico Fulgêncio e os anjos escoteiros!


Lendas Escoteiras.
Nico Fulgêncio e os anjos escoteiros!

                         - Olha Senhor Nico Fulgêncio, vou ser sincero, afinal o senhor já passou dos sessenta anos e isto que o Senhor tem aqui em nossa cidade não podemos fazer nada. Um tumor tomou conta do seu cérebro e se não tratar em uma cidade grande o Senhor não terá mais que um ano de vida! – Nico Fulgêncio olhou para o doutor, franziu a testa e não disse nada. Ele se lembrava de estar sentado na Praça Santo Estevão sentiu uma tontura e nada mais lembrava. Deve ter caído e o levaram ao hospital proximo. Sorriu para o Doutor e foi embora. Há tempos ele sentia esta tontura, ela chegava e ele tinha de sentar. Agora piorou ele caia onde andava. Maria Mercês sua vizinha o olhou e perguntou o que ouve. A Ambulância o trouxera até seu barraco na Rua B sem número. Ele sorriu e disse ser apenas uma tontura, nada demais.

               Nico Fulgêncio era negro, magro, não sabia ler nem escrever. Trabalhou muitos anos de vigia na Fábrica de Doces e um dia o mandaram embora. Havia oito anos que estava desempregado. Não tinha muitos amigos e através deles ainda sobreviveu com a ajuda que lhe davam. Nico pensou em acabar com sua vida, mas porque faria isto? Só porque o médico disse? Nico Fulgêncio tomou uma resolução. Numa mala velha ele encontrou uma mochila que Juventino lhe deu. Velha mas que serviria para seu intento. Colocou lá as roupas que lhe restavam, uma fronha, um cobertor Velho e uma capa azul escura que ganhou quando vigia na empresa. Na despensa quase nada, mas ainda achou um pouco de arroz, feijão, tinha uma carne seca e quatro pães velhos. Embrulhou tudo e colocou na mochila. Andava sempre com chinelo de dedo e tinha uma “alpercata” das antigas. Nem fechou a casa. – Donde vai seu Nico Fulgêncio? – Embora para a cidade grande Dona Maria Mercês. Olhe, o barraco é seu tudo que encontrar lá também. Nunca mais vou voltar!

                  Nico Fulgêncio colocou um boné Velho, e saiu sem se despedir de ninguém. Sem saber ele agora seria um daqueles andarilhos de beira de estrada que sempre encontramos por ai. Ninguém na cidade perguntou aonde ia. A cidade o considerava um eterno desconhecido. Quando partiu era meio dia. Pegou a Estrada para Maceió. Asfaltada. Andou a tarde toda e já noitinha parou embaixo de um pé de Pequi enorme. A barriga doía de fome. Viu que tinha arroz e feijão, mas esqueceu da panela. Comeu um bom pedaço da carne seca e um pão velho e dormiu sob as estrelas. Acordou com o sol nascendo e partiu. Donato um dia lhe disse que fora de ônibus a São Paulo e demorou quatro dias para chegar. E a pé? Ele riu, não era importante. Ele tinha tempo, pois não precisava de pressa pra morrer. Eram quatro da tarde quando avistou uns meninos Escoteiros brincando em volta de umas barracas. Parou e ficou olhando. Gostava do que via. Ele gostava da alegria de um sorriso e as crianças são mestres. Um carro da policia parou ao seu lado. Meteram-no lá dentro e o levaram preso. O acusaram de molestador de menores.

                  Nico Fulgêncio ficou preso oito dias. O delegado com muito custo foi conversar com os Escoteiros da cidade e eles disseram ter visto o andarilho, mas ele não fez mal a ninguém. O soltaram. Pelo menos ele teve duas refeições na cela. Nico Fulgêncio partiu como tinha traçado seu destino. Na saída da cidade novos Escoteiros o procuraram. Deram-lhe um saco de comida. Ele riu. – Preciso de uma pequena panela disse. Um deles pegou sua bicicleta e partiu em alta velocidade. Pouco tempo depois ele chegou com a panela. Partiram dizendo a ele Sempre Alerta! Lá foi ele estrada a fora. Andou até escurecer. Achou melhor ficar por ali. Não se sabe como surgiu uns Escoteiros maiores. Eram rapazes cantando estrada a fora. Pararam ao lado dele para descansar e lanchar. Foi convidado. A vida estava sendo boa com Nico Fulgêncio. Eles partiram e ele dormiu com a barriga cheia.

                   Foram quatro meses para chegar próximo a Maceió. Aprendeu a ganhar comida nas casas que encontrava a beira da estrada. Aprendeu e sofreu com o vento e a chuva e teve um dia que achou que sua hora tinha chegado. Desmaiou e acordou em um pequeno hospital. Em volta dele duas meninas e quatro meninos Escoteiros. De novo? Eles sorriram e perguntaram como estava. A enfermeira disse que foram eles que o trouxeram. Dez dias e teve alta. Os meninos Escoteiros o acompanharam até o final da cidade. De Maceió chegou a Recife. Bela cidade. Em uma rua viu a meninada escoteira correndo para sua sede. Ele agora se achava um deles e entrou no pátio, deu Sempre Alerta e todos responderam. Os Chefes ficaram de olho. Ele contou em uma roda cheia de meninos e meninas de onde veio e para onde ia. Contou também dos meninos Escoteiros que encontrou. Não deu outra. Lá vinha uma enorme mochila e dois bornais cheia de víveres que eles o presentearam.

                     Nico Fulgêncio um ano depois chegou a Belo Horizonte. Ele sabia agora que aqueles meninos foram sua salvação até ali. Ele parecia atrair os Escoteiros, pois onde passava e andava sempre encontrava um deles. Parou próximo a Rodoviária e viu muitos deles ali esperando a hora do seu transporte. Claro que ele se apresentou e sempre era motivo de abraços e saudações. Nunca fora Escoteiro, mas admirava aqueles meninos que sempre estavam dispostos a ajudar. Pé na estrada e lá foi ele para São Paulo. Oito meses o andarilho gastou na Fernão Dias. Quando chegava a Guarulhos ele ficou estarrecido. Estava escurecendo e ele viu um homem enorme atacando uma Escoteira. Ele sabia o que ele ia fazer. Soltou sua mochila e saiu correndo em cima de malfeitor. Levou um tiro nas costas e outro no ombro. Policiais chegaram e não sabia o que estava acontecendo a não ser a Escoteira que pedia socorro.

                      Nico Fulgêncio foi levado ao Hospital de Guarulhos. Assustou quando viu um enorme contingente de meninos e meninas Escoteiras. Todos querendo abraçá-lo, pois sabiam do acontecido. O tiro entrou pelas costas e saiu pela frente. Nico Fulgêncio não correu risco de vida. O médico gentil que se apresentou como Chefe Escoteiro disse para ele que mais doze dias poderia ir embora – Parabéns Senhor Nico Fulgêncio, o senhor está com uma saúde de ferro! Mas Doutor! E o tumor em meu cérebro? – Que tumor senhor Nico, o senhor não tem nada. Lagrimas correram pelos olhos de Nico Fulgêncio. Quando saiu o Chefe Wantuil lhe ofereceu um emprego de vigia no Grupo Escolar onde funcionava a sede. Os meninos e as meninas Escoteiras bateram palmas e se Nico nunca teve um amigo agora ele tinha e muitos. Jovens alegres que lhe deram tudo na sua longa jornada. A vida de Nico Fulgêncio se transformou e ele sempre quando ia para a sede nas reuniões onde ajudava em tudo que eles pediam ele se lembrou de uma canção do Padre Marcelo que dizia:


“Tem anjos voando neste lugar. No meio do povo e em cima do altar. Subindo e descendo em todas as direções, Não sei se a igreja subiu ou se o céu desceu Só sei que está cheio de anjos de Deus. Porque o próprio Deus está aqui”. Afinal Nico Fulgêncio um Velho que não morreu e viveu por muitos e muitos anos, um caminheiro de muitos mil quilômetros de estrada percorrida, teve a felicidade de ver meninos Escoteiros que sabem ajudar sem olhar a quem. E então Nico Fulgêncio na sua simplicidade sorriu, e pensou – Os anjos também são Escoteiros!

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