terça-feira, 11 de agosto de 2015

Apenas uma patrulha escoteira e um pouco de escotismo.


Lendas Escoteiras.
Apenas uma patrulha escoteira e um pouco de escotismo.

                          - Bonifácio Luz era o monitor. Tomé Lindolfo o sub. José Nonato o intendente. Flávio Rosado o Cozinheiro. Tomás Lívio o Bombeiro e lenhador. Nas horas vagas socorrista. Eu Wantuil Leal o Escrevente e Construtor. A patrulha era a Touro com mais de doze anos de Tropa. Patrulha antiga com muitas histórias para contar. Muitas delas anotada no Livro da Tropa e no livro da patrulha. Espécie de Livro de Atas. Tinha um lema: - O que é de um é de todos! Nosso grito era comum, nada de especial, mas que muitos que passaram pela patrulha nunca mais esqueceram – Qui, que, code, com o Touro ninguém pode! Éramos seis e tínhamos a vida de uma equipe unida e fraterna que nunca se separava. As mães que o digam. Sabiam onde morávamos e quem éramos. Se um de nós aparecia tinha que ficar para o almoço ou o jantar. Ninguem era rico, Flávio Rosado o cozinheiro era o mais bem aquinhoado. Seu pai Escrevente do cartório ganhava razoavelmente bem. Tomé Lindolfo o sub o mais pobre. Negro, morava na Favela do Chico Bento. Ali era seu lar e o nosso também.

                           As reuniões formais eram aos sábados. Chefe Lontra com seu sorriso sempre a perguntar: - E aí turma, como foi à semana? Sempre a mesma coisa entra sábado sai sábado fora quando íamos acampar. Chefe gente fina, nosso herói. Podíamos procurá-lo a qualquer hora do dia ou da noite e ele sempre com aquele sorriso de amigo e irmão mais velho. Era Ferroviário. Fazia manutenção em máquinas e tinha muita amizade com seu Pascoal o Chefe da Estação. Através dele podíamos viajar em qualquer trem, menos os chamados expressos do aço. Centenas de vagões cheios de minérios de ferro. Estávamos em reunião de patrulha quando ele se aproximou do nosso canto – Dá licença? – Claro Chefe, a casa é sua! – Tem um menino, quer ser Escoteiro, pensei em vocês! A turma se entreolhou. Seis era bom demais. Cada um fazia sua parte e a parte do outro. Daria certo mais um? Bonifácio comentou – Para jogos vai ser bom, as outras patrulhas tem sete ou oito. – Chefe Lontra sorriu. – Desculpem, mas ele não será uma peça de jogos se assim compreendi bem.

                     João Quaresma nos foi apresentado. Alto e forte. Disse que tinha doze anos, mas eu jurava que tinha quatorze. Sempre bonachão. Aspecto de sabe tudo. – Quem é o monitor? Perguntou. Sou eu disse Bonifácio luz. Ele olhou Bonifácio de cima em baixo. Tem eleição para ser monitor? – Não tem. O Chefe indica a patrulha opina. Foi seu primeiro dia. Cada um olhando o que ele fazia e como fazia. A desconfiança em primeiro lugar afinal era um novato e teria que provar que podia ser um Touro. Aos poucos nós fomos acostumando com João Quaresma. Não era fácil, a maioria da patrulha tinha mais de dois anos de atividade. Bonifácio, Tomé e José Nonato eram primeira classe. Os demais segunda classe. Não havia noviços. João Quaresma foi o primeiro noviço a chegar à patrulha.

                        Não sei, mas achei que ele queria se mostrar. Mostrar o que? Escotismo não dá para isto. Mas nos jogos ele dava a alma e a vida para ganhar. Era praxe que os jogos seriam feitos com toda a patrulha. Quem ganha não é um só e sim os patrulheiros. João Quaresma não. Ele se achava o bom, o tal e tinha de vencer mesmo que sozinho. Na Reunião de Patrulhas comentamos e ele não deu bola. Fizemos um Conselho de Patrulha e ele concordou em trabalhar como equipe. Um dia procurou o Chefe Lontra para dizer que estava pronto para ser um primeira classe. Chefe Lontra o levou até a sede. Sei que lá conversaram por muito tempo. Ele voltou mais amigo e pediu desculpas a todos. Não sabia que era um noviço e tinha de fazer a promessa primeiro para começar seu crescimento escoteiro.

                       Na quarta reunião chegou uniformizado. Bonifácio disse a ele que a norma era vestir o uniforme só na promessa. Ele não ligou. Na ferradura durante a inspeção quando ele ficou em posição de sentido e mostrou às mãos limpas e unhas cortadas o Chefe não disse nada. Ao dirigirmos ao canto de Patrulha Bonifácio disse que o Chefe queria falar com ele. – Foi embora naquela tarde revoltado. O Chefe o mandou de volta. Uniforme só na promessa! Você sabia disso e não obedeceu. No portão deu uma banana para todos e disse que nunca mais ia voltar. Mas voltou. No sábado seguinte de cabeça baixa pediu desculpas a todos os patrulheiros. João Quaresma virou outro. Obediente, disciplinado, cumpridor de ordens e claro era um líder e dava palpites em tudo. Afinal era seu direito.

                  No acampamento de verão na Foz do Rio Iguaçu ele nos surpreendeu. Não acontecia, mas acordamos depois da hora. Levantamos apressados, pois havia uma norma a ser cumprida. Primeiro quinze minutos de física e depois o café e preparar o campo para inspeção. Na noite anterior antes de dormir fizemos um Conselho de Patrulha. Decidimos o que cada um devia fazer, pois não estávamos bem na classificação de campo. João Quaresma disse ao Monitor: Olhe vão fazer a física eu faço depois. Faço o café e limpo o campo. Deixe comigo o vasilhame, vai ficar limpo que nem as unhas do Flavio Rosado. Ninguem duvidava da limpeza do Flávio. Como cozinheiro ele se esmerava. João Quaresma entedia do riscado. Um café em quinze minutos, o campo ele fez uma vassoura de piaçava do mato. O campo ficou nos trinques. Às oito e meia estávamos formando em linha quando o Chefe chegou. Bem na hora.

                  Não pegamos o primeiro lugar, mas ficamos em segundo. O tempo foi passando e João Quaresma firmava a cada dia de reunião seu lugar ao sol na patrulha. Sem perceber já era um dos nossos. Foi uma festa sua promessa. Alguns meses depois recebeu sua segunda classe. Fez jus as especialidades que conquistou. Interessante, ele não nos convidava para a casa dele. Quase um ano de Tropa e a gente não conhecia sua casa e sua família. Sabíamos que morava no Bairro dos Toledos, mas seu pai e sua mãe eram desconhecidos. – Ele um dia no Conselho de Patrulha se abriu conosco. – Quero que vocês almocem domingo comigo. Não reparem casa simples e singela. Lá chegando vimos que era um barraco de madeira. Na porta ele e sua Avó, sorrindo. Não tinha pai e nem mãe. Um almoço de primeira. Sua avó quase não podia andar e se aproveitava de uma bengala simples.


                Foi à abertura para uma grande amizade. O tempo passou, Crescemos e viramos homens sem perceber. Bonifácio Luz virou prefeito da cidade. José Nonato foi para o Acre atrás do ouro que o faria rico. Tomé Lindolfo abriu uma casa de material de construção. Flávio Rosado tinha o melhor restaurante da cidade. Tomas Lívio virou bombeiro e já era capitão. João Quaresma casou com uma dama rica e foi morar na capital. Anualmente nossa patrulha se encontra anualmente para um papo gostoso em algum lugar. E eu? Eu continuo o mesmo, Escoteiro, aprendiz de sonhador. É o tempo passou e nem mesmo sei nesse momento quem sou. Enfim, sei quem eu era, quando me levantei hoje de manhã, mas acho que já me transformei várias vezes desde então. 

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Era uma vez... Em uma montanha bem perto do céu...

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