Lendas
Escoteiras.
A barraca dos
sonhos de Tião Muriel.
No aniversário dos quatro
anos Tião Muriel chorou o tempo todo. Sua mãe dona Quiçá fez tudo para
acalmá-lo e não conseguiu. Seu Pai Antonio dos Prazeres quando chegou à noite
viu o berreiro do filho e ficou incomodado. Não acreditou na esposa o motivo de
seu choro – Ele quer uma barraca de presente Antonio! – Barraca? Onde ele
arrumou esta ideia? Ninguém entendeu nada. Seu Antonio já tinha comprado para
ele um Jipe, enorme, verde que dava para ele brincar a vontade. Afinal foi seu
pedido de aniversário. Mas não ele agora queria uma barraca. De onde tirou
esta? – Papai, ele disse com sua vozinha meiga, Periquito tem uma! Seu Antonio
se lembrou de Periquito. Ele tinha seis anos e meio e era lobinho. Tião Muriel
ainda não tinha idade e não podia participar. – Olhe Tião, prometo que quando
você for Escoteiro compro uma para você. Ajudou? – Não ajudou. Tião Muriel não
chorou mais, mas todos sabiam de sua tristeza. Pouco sorria, pouco falava.
- Melhor comprar esta barraca disse sua mãe
Dona Quiçá. Eu sei mulher, mas onde vou arrumar o dinheiro? Já passei nas lojas
Bacamarte e a mais barata para duas pessoas custa duzentos e oitenta reais! Não
se sabe como Maísa ficou sabendo. Maísa era Akelá do Grupo Escoteiro Três
Irmãos. – Olhe seu Antonio, vamos resolver assim, Tião Muriel terá sua barraca.
Infelizmente não posso doar, mas eu tenho uma que sempre levo quando vou
acantonar com os lobinhos. Posso emprestar e quando formos o senhor me devolve!
– Quando Tião Muriel soube ficou pensativo – Mas tenho de devolver papai? Claro
filho, quando eles retornarem a barraca volta para você! – Assim não quero.
Quero uma minha! – E agora? Eu tenho a solução! Falou Tomé, Monitor da Patrulha
Touro que era vizinho de Tião Muriel. Ele vai conosco no próximo acampamento! –
Mas como? Disse o pai. Ele só tem quatro anos. – Deixa comigo, vou tomar conta
dele. Claro que não vai ter uniforme nem nada. O senhor prepara uma mochila
para ele com a lista que irei fornecer. A patrulha já sabe e quer fazer uma boa
ação! O Chefe Mostarda na Corte de Honra concordou.
Duas semanas depois Tião
Muriel com a mochila nas costas, dando risadas foi no seu primeiro acampamento
Escoteiro. Não saiu uma única vez distante de Tomé o Monitor. Ajudou em tudo
que podia. Até água no córrego foi buscar. Chefe Mostarda de longe sempre
olhando – Falou para Tomé ficar de olho. Era uma responsabilidade muito grande.
A noite chegou, Tião Muriel queria ir para a barraca – Ainda não Tião, ainda
teremos o jantar e o Fogo de Conselho. - O que é isto? Perguntou. Tomé explicou
e Tião adorou, até esqueceu um pouco da barraca. Quando ele finalmente foi para
sua barraca à coisa degringolou! – Não vou dormir com ninguém na barraca! Ele
disse. Quero dormir sozinho! – E agora?
O melhor é pedir a Tininho, Sacopemba e Marreco, Escoteiros da patrulha para se
apertar em outras barracas de outras patrulhas. Tomé estava de cara fechada. O
berreiro de Tião não estava no gibi. O Chefe Mostarda veio ver o que era e se
arrependeu em ter deixado Tião vir.
Finalmente o silêncio
aconteceu. Tião Muriel podia dormir sozinho em sua barraca. Entrou, sorriu e
deitou com as mãos em sua nuca. Olhava o teto da barraca e sorria mansamente. Fechou
os olhos e quando abriu viu que estava em um local verde, muita grama gostosa
para dar cambalhotas e um menino de olhos azuis, cabelos vermelhos o pegou pela
mão e saíram voando pelo céu. – Eu sei que você queria dormir na barraca para
se encontrar comigo - Ele disse. Fui eu quem lhe colocou na cabeça ter a sua
barraca. Eu precisava falar com você. Seu destino está feito, você vai partir
para a Estrela do amor dentro em breve. Eu moro lá e estarei esperando por
você. Um dia nós dois fomos irmãos, você sempre me protegeu mesmo quando a
barraca do circo pegou fogo. Lembro que você tentou de tudo para me ajudar e
não conseguiu. Lembro que você ficou por anos se sentindo culpado.
- Agora finalmente iremos
ficar juntos outra vez. Esqueça por alguns anos seu pedido de barraca, seja bom
com seus amigos Escoteiros, lembre-se que seus pais o amam e eles estarão
conosco breve, todos vocês vão partir depois de um terrível acidente. Mas isto
tem de acontecer, foi programado e foi você e seus pais quem escolheram. O
menino o abraçou e o beijou na face. Não disse seu nome. Tião Muriel sabia quem
era. Acordou em pleno dia com a alvorada dos escoteiros. Levantou e procurou
Tomé pedindo desculpas. Foi um belo acampamento. Marcou muito a vida de Tião.
Quatro anos depois Tião já era um lobinho. Um bom lobinho cumpridor dos seus
deveres com a lei do lobinho. A Alcateia e os chefes o amavam. O dia fatídico
chegou. Seu pai com muito custo comprou um carrinho, resolveram ficar uns dias
na praia. Na descida da serra faltaram freios e o carro caiu em uma ribanceira.
Todos morreram e o Grupo Escoteiro ficou consternado com aquela partida por
muitos anos.
Tião acordou junto com
seus pais e viram um clarão azul que quase os cegava se aproximando deles. No
clarão avistaram Antonio Pedro. Ele estava de branco com uma linda bata,
acompanhado de uma senhora vistosa também de branco. Era a mãe de sua mãe, a
sua avó Amélia. Deram as mãos, se abraçaram e partiram para a estrela do amor
onde seria a sua nova morada. Hoje eles moram em uma casinha branca, com um
jardim de muitas flores, onde os pássaros cantam canções lindas, onde perto tem
uma nascente de águas cristalinas e bem em frente a sua casa tem uma linda
barraca verde brilhante, onde Tião sempre dorme. Dizem que lá no céu eles vivem felizes para
todo o sempre! – Amém.
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