terça-feira, 16 de junho de 2015

Libachy, o lobo Vermelho do Vale da Coruja.


Lendas escoteiras.
Libachy, o lobo Vermelho do Vale da Coruja.

Prefácio:
Uivando alto no topo de uma montanha, provocando arrepios na espinha, Uma sentinela Solitária Chamando a outros de sua espécie. O último de uma raça em extinção. Seu crime - a necessidade de comer. Seu companheiro tem uma esperança, Para o pai que vai levar um pouco de carne para casa; Os pecuaristas dizem que ele é uma ameaça. Para os pequenos de seu rebanho dizem que caçá-lo é a sua extinção É sem sentido e absurdo. A forma tem de ser encontrada para Criaturas de Deus coexistir para trazer harmonia e justiça Para Lobos, nas florestas e nas montanhas. Portanto, antes de condená-lo ou matá-lo - ainda pior. Lembre-se do lobo, como índios que habitavam esta terra em primeiro lugar. Charles W. Russell

                      Ele sentou sob suas duas patas, pois estava cansado demais. Suas orelhas levantaram. A respiração ofegante terminara e agora seu sentido de observação estava em ação. Libachy o Lobo Vermelho passou todo o dia correndo no vale da Coruja para encontrar alguma caça. Quase se afogou na Vertente do Rio Pucumé. Com muito custo conseguiu pegar sua presa. Um quati raquítico e magro e ele quase desistiu. Ele sabia que seu pai Inûnpiac precisava comer. Dois dias sem nada no estomago. Libachy sabia que dia menos dia ele iria partir para a Estrela dos ventos Amigos, onde diziam os lobos vivem felizes para sempre. Agora precisava tomar uma decisão. Nascera há muitos anos ali na Caverna do Morcego e toda a sua vida ele viveu no Vale da Coruja. Sua história poderia já ter terminado. Ele era o último da estirpe dos Lobos Vermelhos. Antes eram centenas deles. Lembrava ainda quando nasceu. Sua Alcateia era forte, respeitada entre os demais lobos do Vale da Coruja.

                 Libachy olhava espantado para sua trilha que estava toda tomada por jovenzinhos humanos, com chapéus esquisitos e montando barracas por onde ele iria  passar. Ele lembrava que a muitas luas outros haviam tentado atravessar o vale e desistiu. Pensou que nunca mais voltariam e ali estavam de volta. Nunca fez mal a eles. Libachy era um lobo amigo e não desejava mal a ninguém. Diferente de Sangue nos Olhos, a Onça Negra de mais de três metros e que também era a única a afugentar todos os bichos do Vale do Morcego. Ele sabia que ela era a única culpada por todos os seus infortúnios. A muitas luas todos viviam felizes e até mesmo Sangue nos Olhos não fazia mal a ninguém. Mas um dia resolveu ir para outras paragens e matou um bezerro recém-nascido. Foi à conta. Os fazendeiros em grupo foram à caça. Mataram quase todos de sua raça e de Sangue nos Olhos. Seu pai não conta, pois desde a lua nova dos tempos das chuvas mansas, que ficou aleijado não podendo mais andar. O Vale da Coruja não era mais o mesmo. Todos tinham medo de todos. O espirito andava sempre alerta para não ser morto por um tiro ou um animal mais forte e esfomeado.

                Libachy olhou de novo para a menininha que vinha em sua direção. Ele sabia que não ia lhe fazer nenhum mal, mas e ela? Iria gritar e ele tinha de fugir deixando sua caça para trás. – Viu “quando ela riu e disse – Olá lobinho, eu também já fui uma lobinha” – Libachy assustou. Ele entendia tudo que ela falava. Como? Nenhum humano jamais conversou com ele. Pensou em sair correndo, mas viu a paz nos olhos da menininha. – Eu preciso passar ele disse. Ela sorriu e replicou – Pode passar sim, ninguém vai proibir você. Como? Libachy criou coragem, pegou sua presa e correu como nunca. Chegou esbaforido na Caverna do Morcego onde estava seu pai. Pensou em não dizer nada para não assustar. Libachy aprendeu a dizer sempre a verdade – Seu pai o ouviu calado e no final disse – Um dia tudo vai terminar Libachy, enquanto os humanos não matarem Sangue nos Olhos e você, eles não ficaram felizes. Você está pagando por um crime que não cometeu.

                 Libachy não dormiu bem à noite. Um medo enorme dos caçadores. A menininha podia ter comentado com outros e eles não ficariam satisfeitos enquanto não exterminassem o último lobo vermelho e a última Onça Negra do Vale da Coruja. Mas ninguém veio. Pela manhã foi ver se já tinham ido embora. Eram muitos e divididos em turma. Em uma delas havia três menininhas e cinco menininhos. Educados, não gritavam, sorriam muito e cantavam canções que maravilhou Libachy. Seu medo agora era se Sangue nos Olhos não iria fazer mal a eles. Resolveu ficar ali e esperar. Se Sangue nos Olhos aparecesse ele os defenderia. Sabia que não podia enfrentar a Onça Negra, mas não iria deixar que ela fizesse mal aos meninos e meninas.

                   Sentiu que alguém acariciava sua pelagem ainda espessa.  Olhou e viu a menina de ontem. Olá meu amigo, ela disse. Sou Olhos Brilhantes, monitora da Patrulha Águia, e você tem nome? – Libachy falou de uma só vez. Vocês não devem ficar aqui. – Por quê? Se Sangue nos Olhos ficar com fome será um perigo para vocês! Ela ficou pensativa. – Olhe porque não vem à noite? Teremos fogo de Conselho e vou apresentar você à tropa. Assim poderá contar porque corremos perigo. Libachy aceitou o convite. Seu pai disse para ele tomar cuidado. Nunca confiou muito nos humanos. Ao descer a trilha da montanha avistou dois cavalos. Um perigo. Sempre eram caçadores. Pensou em voltar, mas seguiu em frente. Encontrou todos em volta de uma grande fogueira. Olhos Brilhantes a escoteirinha correu para ele dizendo - Bem vindo meu amigo! Fique ao meu lado, vou apresentar você. Foi bem recebido por uma palma escoteira.

                 Lá pelas tantas o convidaram para falar. Falou pouco. A menina Escoteira traduzia o que ele falava. Disse que era um dos últimos dos lobos vermelhos. Todos seus irmãos foram mortos por caçadores. Agora era difícil viver ali. Ele não podia ir muito longe à procura da caça, poderia levar um tiro. Contou sobre Sangue nos Olhos a Onça Negra da Caverna do Urso. Que ela era como ele, não tinha mais amigos, só vivia fugindo. Nisto ouviram um barulho – era Sangue nos Olhos, uma enorme onça negra. Entrou no circulo dos Escoteiros sem medo. Pediu a palavra – Os fazendeiros me condenaram. Um dia um bezerrinho fugiu da sua mãe e entrou na grota do quati, se perdeu e acabou morrendo lá no alto da cascata do Véu da Noiva. Eu estava com fome. Os abutres iriam comer o bezerro e porque não eu? Porque não podia aproveitar também? Mas me condenaram. Disseram que fui eu. Minha linhagem desapareceu. Todos que moravam junto comigo foram mortos por caçadores.

                Seu Normando um fazendeiro amigo dos Escoteiros que foi convidado para a cerimonia pediu a palavra. – Escoteiros e animais, ele disse – Não sabia disto. Achei que eram muitos. Eu mesmo matei muitos lobos e onças negras. Confesso que estou arrependido. O Vale da Coruja são terras minhas. A partir de hoje nenhum caçador vai entrar aqui. Todos os animais poderão viver em paz como sempre viveram. Uma estrondosa palma ecoou por todo o vale. Olhos Brilhantes a escoteirinha veio abraçar Libachy, abraçou também Sangue nos Olhos. A partir daquele instante ficaram irmãos de sangue. Como na história da Jângal fizeram um juramento que iria valer por toda a vida. Escoteiros, lobos e onças seriam felizes e irmãos para sempre.


                   Contaram-me que quatro anos depois já se avistava matilhas de lobos vermelhos a correr pelo vale. Muitas vezes acompanhados por grande quantidade de onças negras que vagam pelo vale e nunca mais ninguém soube de mortes ou mesmo de brigas entre eles. Dizem ainda que Sangue nos Olhos e Libachy sempre andam juntos e que se alguém atacar um tem de atacar os dois. O pai de Libachy senhor Inûnpiac morreu alguns anos depois. Morreu sorrindo, pois seu vale agora era só de paz e felicidade. 

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Era uma vez... Em uma montanha bem perto do céu...

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