sexta-feira, 24 de abril de 2015

Era uma vez... Uma cidade chamada Esperança.



Lendas Escoteiras.
Era uma vez... Uma cidade chamada Esperança.

A Esperança não murcha, ela não cansa,
Também como ela não sucumbe a Crença,
Vão-se sonhos nas asas da Descrença,
Voltam sonhos nas asas da Esperança.

              Contam que ela surgiu pela passagem de uma Bandeira. Alguns afirmam que foi a de Borba Gato. Ele um bandeirante paulista aprendeu com o sogro Fernão Dias Pais. Faleceu em 1718, portanto a Cidade de Esperança é bem antiga. No Museu Histórico situado na Praça Santo Antonio, na porta tem uma placa que diz: - Não há nada impossível, pois os sonhos de ontem são as esperanças de hoje e podem se converter em realidade amanhã! Esperança não tinha nada especial. Era uma cidade grande como muitas existentes neste enorme Brasil. Trens, ônibus, carros cruzavam suas ruas todas as horas do dia e da noite. Se algum dia for visitar Esperança, tente o ônibus “Vale do Sorriso” e no final você vai estar na mais bela favela que existe em todo o mundo. Bem bela favela é um modo de dizer. Ela está cercada por bairros nobres, O governador tem uma residência de verão próximo a Vila do Amor. O Prefeito mora em uma mansão no Bairro Jardim de Versalhes.

                Do alto da favela ainda se avistava a Vila Paris, o Parque dos Príncipes e o Lago dos Sonhos. Se você um dia for até lá, tente encontrar uma entrada na favela onde tem uma placa escrita: “Onde estiver, seja lá como for, tenha fé porque até no lixão nasce uma flor”. Siga em frente por cem metros e tem uma viela pequena, onde cabem apenas duas pessoas. Siga por ela até o final. Observe bem e verás um barraco pequeno, folhas de taipa, sem pintura e uma porta pequena onde um homem alto tem de abaixar para passar. Ali é a morada de Monteiro Lobato. Jardel e Neném seus pais queriam um nome pomposo. Queria mostrar a todos na favela que seu filho seria alguém. Nada de extraordinário. Todos os pais sonham pelo futuro dos filhos. Aos dois anos Monteiro Lobato tentou andar e não conseguia. O Doutor Paulo Antonio do pequeno ambulatório da favela diagnosticou uma “Sinovite Vilonodular” – Seu filho precisa amputar a perna direita! – ele disse. Dona Neném não aceitou. Ela tinha fé, era devota de Santo Agostinho. - Ele iria curar seu filho eu tenho certeza, falou para Jardel que não era assim tão crente como ela.

                  Nunca mais voltaram ao postinho de saúde. Um ano, quatro, oito doze e Monteiro Lobato se arrastava pelas vielas até encontrar a escola Dom Pastor. Uma dor incrível na perna, mas ele não demonstrava a ninguém. Até mesmo sua mãe e seu pai não sabiam do seu sofrimento. Ele dizia para si mesmo que a esperança não era sua cidade somente, a esperança era o sonho de se manter acordado e acreditar. Naquele sábado ele foi até sua escola, pois iriam fazer um campeonato de diversas modalidades de esportes e ele gostava de ver. Era a hora que sua dor diminuía. Sentou na arquibancada pequena de pedra, e alguns minutos depois sentou um menino Escoteiro todo sorridente em seu uniforme. Ele já os conhecia quando andavam pela rua e sabia que seu habitat era no Colégio Francisco Delgado. Um colégio só para ricos. Ser Escoteiro lá só sendo matriculado na escola. Ele sabia que nunca teria vez. Não era rico, nunca seria e seus sonhos de Escoteiro menino nunca ia se realizar. Muitas vezes Monteiro Lobato pensou em ser um, mas dos três grupos próximos nenhum o aceitaria. Afinal era pobre e nunca poderia pagar nada. Nem fazer seu uniforme – Disto ele sabia.

                    Dizem que o pessimista se queixa do vento, o otimista espera que ele mude e o realista ajusta as velas. Assim era Monteiro Lobato, sempre com suas velas ajustadas. O menino Escoteiro sentado ao seu lado gritava e vibrava com seu amigo que devia ser Escoteiro e estava participando de uma corrida de revezamento. Monteiro Lobato olhava para ele e sorria também. Sorrisos são assim, contagiantes e ele sabia que poucos sorriam perto ou para ele. Acabou a corrida e o Menino Escoteiro desceu correndo as escadas para abraçar seu companheiro. Escorregou em um degrau e bateu com sua cabeça em uma saliência. Muito sangue, muita correria, ambulância chegando e partindo. Os ânimos calmos e um menino apontou para ele: -  Eu vi, disse – O favelado deu nele uma rasteira, por isto caiu! Monteiro Lobato se assustou. Um homem alto o pegou pela camisa e o jogou longe. Caiu em cima de sua perna. Que dor terrível sentiu. Gritou e implorou para que o ajudassem. Ninguém se aproximou.

                    Todos partiram e deixaram Monteiro Lobato desmaiado sem nenhum socorro. Já escurecendo seus pais chegaram e de novo o levaram ao Postinho de Saúde. – Desta vez não tem jeito dona Neném. Vou levá-lo a um hospital e ver se alguém pode amputar sua perna. Os olhos de Monteiro lobato se encheram de lágrimas. Ele pensou que a esperança dos seus dias de solidão, a angústia dos seus instantes de dúvida, a certeza nos momentos de fé, era melhor deixara a tristeza e trazer a esperança em seu lugar. Quando a ambulância estava saído, o menino Escoteiro Chegou. Sei pai não queria, mas ele tanto insistiu que foram procurá-lo. Dizem que a esperança tem duas filhas lindas, a indignação e a coragem; a indignação nos ensina a não aceitar as coisas como estão; a coragem, a mudá-las. O levaram para o melhor hospital da cidade. Foi operado e não perdeu a perna. Três meses depois voltou ao seu barraco. Lá o esperava o menino Escoteiro e seus amigos de patrulha.


                  Monteiro Lobato nunca deixou a favela. Mas jovens meninos Escoteiros o ajudaram por toda sua vida. Nunca sonhou em ser Escoteiro e foi. Nunca sonhou em formar e se formou. A vida passa e nós acompanhamos seus passos. Não seria melhor dizem que o tempo passa tão depressa, e quando nos assustamos vemos que o tempo já passou? Diga o que você pensa com esperança. Pense no que você faz com fé. Faça o que você deve fazer com amor e tudo vai dar certo! – Ele nunca esqueceu as palavras de seu pai um simples faxineiro que disse para ele – “Quando tudo nos parece dar errado acontecem coisas boas que não teriam acontecido se tudo tivesse dado certo”. Monteiro Lobato nunca se achou diferente, até hoje ainda manca ao andar. Não é empecilho para ele. Voltou para o Postinho de Saúde e ali ajuda a todo mundo com seus conhecimentos médicos. Já não é mais um Escoteiro andante, mas se considera um Escoteiro de coração. Escotismo é assim, acreditar no que faz esquecer as dificuldades, estar sempre alerta o tempo todo, ajudar e sentir a alegria de ter o amor Escoteiro no coração!

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