quarta-feira, 1 de abril de 2015

A saga do Chefe Antonio Lazedo.



Lendas Escoteiras.
A saga do Chefe Antonio Lazedo.

                     Não sei se poderia dizer que foi uma saga. Mas como sofreu o meu amigo Antonio Lazedo. Desde pequeno que fazia tudo para ser feliz e sua felicidade só era alcançada se fizesse os outros felizes. Nunca negou um pedido de ajuda. Dava o que não tinha para os que precisavam dele. Um dia na alcatéia ele tirou o uniforme, ficou só de short e presenteou o Théo que começa na Alcateia. Mãe humilde, lavadeira, disse ao Chefe que não podia pagar mensalidade e nem comprar uniforme. Antonio Lazedo soube. Na ferradura tomou a decisão de ajudar a quem precisa. Chamou o Théo num canto da sede e o presenteou. Foi bom, pois assim a Alcateia se cotizaram para comprar um novo uniforme ao Théo. Pensando bem não sei como ele era assim. Seu pai era dono da Padaria Bom Pastor, um português mão de vaca e sua mãe era professora na Escola do Tobias. Nunca deu um dez aos seus alunos.

                    Quantas vezes o colocaram de castigo? Quantas vezes levou chineladas nas pernas só porque queria fazer o bem? Mas Antonio Lazedo nunca mudou seu modo de pensar. Quando tinha cinco anos pegou o radio a pilha da cozinha e deu para o Tião Panturrilha seu amigo que morava em um casebre proximo a casa dele. Foi um Deus nos acuda. Seus pais chamaram o Tião de Ladrão. Veio o cabo Onofre e não quis prender o Tião. – Mas seu Joaquim, o menino tem cinco anos! Como posso prendê-lo e sua mãe é lavadeira! Antonio Lazedo um dia resolveu ser lobinho. Pediu para entrar e disseram não. – Mãe! Pai! Prometo mudar se me deixarem entrar! Não adianto. Para ele parar de chorar foi um Deus nos acuda. Em principio eles até pensaram em não recusar, mas conhecendo como o conheciam sabia que iria aprontar. Antonio Lazedo tanto chorou tanto implorou que venceu seus pais pelo cansaço. Aprendeu uma canção com um lobinho amigo e dia e noite ele cantava. No almoço, no jantar, na escola no recreio em todos os lugares. - ¶ Minha mãe vou lhe pedir, e não quero aborrecer, para ser um homem forte um Escoteiro quero ser! – Demais, ouvir aquilo todo o tempo e castigá-lo não adiantavam mais.

                    Entrou para a Alcateia e acalmou sua sede de presentear todo mundo. No primeiro acantonamento pegou boa parte da intendência, na maioria carnes e linguiças, colocou em uma sacola e escondido saiu do sítio onde estava e levou até um casebre proximo. Dona Naná sorriu de contente. A Akelá Norminha não sabia o que fazer. Naquela tarde comeram arroz com farinha e olhe que a lobada adorou. Houve outras, muitas, mas enfim ele foi para o Escoteiro. A Patrulha Búfalo ficou cismada. No primeiro acampamento Antonio Lazedo sumiu. Todos em polvorosa. Onde foi? Ninguém sabia. Quantos apitos, quantos sinais de fumaça encheu os seus onde acampavam, nas montanhas tinha postos de semáforas e Morse. Lá pelas tantas da tarde ele chegou. Sujo roupas em pandarecos. O que houve? Perguntou o Chefe Nonato. – Estava ajudando seu Naor a construir seu barraco que a chuva destruiu. E assim foi. Sempre aprontando com suas boas ações. Boas? Não sei não. Ele fazia tudo para ajudar, tirava sua roupa e presenteava um mendigo na rua, almoçava pouco e as sobras do dia ele corria para distribuir aos meninos pedintes nos semáforos.

                     Bem sua patrulha não podia reclamar de suas boas ações. O Chefe até o colocou como "hors concours" nas competições que fazia. Tinha-se uma coisa que Antonio Lazedo fazia questão era do seu estudo. Ele um dia disse para si próprio que seria um médico. Iria ajudar todo mundo sem cobrar. O tempo foi passando. Nos seniores ele achou que estava apaixonado pela Danielle. Ela ria dele sempre. – Antonio aqui somos amigos, eu amo o Jovi e vou me casar com ele. Antonio sofreu muito e resolveu abandonar os seniores. Ficar ao lado dela sem ser correspondido ele sabia que não iria aguentar. Esta paixão não correspondida até que valeu a pena. Ele pensava na sua tristeza e esqueceu a tristeza dos outros.

                     Aos vinte e quatro anos Antonio Lazedo se formou em medicina como Clinico Geral. Diziam que ele foi o primeiro da turma e logo correu para montar seu consultório. Vivia cheio. Sua paga era galinhas, patos, porquinhos e até cabritos eram amarrados na porta da morada dele. Claro ele não cobrava um tostão. Amigos Escoteiros o procuraram – Como vai viver Antonio? – Ele ria. – Querem saber como estou vivendo? Uns me dão um franguinho, já ganhei um saco de feijão e um de farinha. Quero mais para que? Começou a ficar famoso. Repórteres acorreram para entrevista. Foi filmado por redes de TV e ele se chateou com isto. Não era homem de salamaleque. Fazia questão de ajudar sem se mostrar. Um dia sumiu da cidade. Seu consultório estava vazio. Morreu? Pensaram. A policia abriu, pois ele morava sozinho e seus pais já tinham falecido. Encontraram um recorte de jornal que contava a história dos Médicos sem Fronteira.

                    Um dia seus amigos levaram o maior susto. Viram na TV Rádio e jornais que ele tinha sido indicado ao prémio Nobel. Dentre muitos médicos famosos ele foi escolhido. Mas logo em seguida apareceu outra notícia desta vez cruel. Ele aparecia sorrindo de joelhos com um terrorista encapuzado, com uma faca dizendo que ele seria decapitado. Eram terroristas do Estado Islâmico já conhecidos da população mundial. Ele sorria, não parecia estar preocupado com seu futuro. Foi decapitado. Sua história foi contada por Zaila uma médica australiana que trabalhou com ele. Escreveu um livro. Sua bondade correu mundo. Zaila em uma entrevista chorava. Ela dizia que ele foi o amor de sua vida, mas que seu verdadeiro amor era aqueles que precisavam dele. Foi um médico sem fronteiras que não dormia e pouco comia, pois o que ele queria era fazer o bem.


                    Aqui no Brasil não houve louvores. Os Escoteiros que o conheciam choraram por ele e o aplaudiram. Não houve medalhas. Ele não estava na ativa. Era apenas um ex-Escoteiro sênior. Eu e muitos dos seus amigos sempre nos encontrávamos para rir e chorar sua saga nesta vida na terra. Suas histórias de bom samaritano eram lembradas desde o tempo de lobinho. Todas pranteadas por aqueles que foram merecidos. Nós que o tínhamos no coração nunca o esquecemos. Eu sabia que morrer fazia parte da vida e se ele morreu continuaria vivendo em nossos pensamentos. Como dizia Immanuel Kant, “Se vale a pena viver e se a morte faz parte da vida, então morrer também vale a pena...”.

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Era uma vez... Em uma montanha bem perto do céu...

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