quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

A doce vingança do Grilo Falante.


Lendas Escoteiras.
A doce vingança do Grilo Falante.

               Pertencia a uma família aristocrática. Netos de um Duque francês no reinado de Luiz XV. Faziam questão do título por isto Luis Alfredo de Albuquerque e Orsinni não podia ser apenas um menino igual aos outros. Sentia-se preso em casa e na escola. Não podia sair sem seguranças. Estudava no melhor colégio da cidade. Alfred o mordomo o vigiava constantemente. Fazia suas estripulias na cozinha com o Dandreia, um cozinheiro francês. Luiz gostava de falar. Falava muito e gesticulava demais. Detestava os professores sempre coloquial com ele. Por qualquer coisa lhe chamavam a atenção. Até Diogo seu motorista implicava o tempo todo – Ordens de seu pai e sua mãe Senhor Luis! Varias vezes foi levado a um Psicólogo Famoso que ria quando estava com ele – Apenas um menino Dom Joaquim Albuquerque e Orsinni. Resolveram levar em outro que aconselhou atividades em grupo que pudesse produzir nele disciplina e autenticidade, diferente da maneira como agia agora. Um amigo Inglês sugeriu o escotismo. Tinham ouvido falar, mas desconheciam por completo o que seria. Sua secretária pesquisou tudo sobre escotismo. Encontraram um grupo próximo a sua casa.

          Em um sábado junto à esposa foram pessoalmente até lá. Preocuparam-se como os acampamentos e excursões do filho sem a presença de um segurança. O responsável afirmou ser condição final. O Chefe mostrou aos pais as vantagens do programa escoteiro. Eles concordaram com reservas. Luiz  Alfredo de Albuquerque e Orsinni finalmente foi apresentado à Alcateia e entrou em uma matilha. Era verão brasileiro. Não dando o braço a torcer gostaram do que viram.  Assim começou a saga de Luis Alfredo de Albuquerque e Orsinni que de família nobre, tirou toda a inocência da disciplina rígida da alcateia nos dois primeiros meses.  Não parava de falar, de cantar, conversava ininterruptamente todo o tempo. Não ficava parado. Na matilha Cinza muitas vezes não sabiam onde estava.

              Não demorou para o apelidarem de Grilo Falante. Comum entre eles terem um apelido. Luiz Alfredo achou bonito. Fez uma pesquisa na internet e gostou do que leu. Mesmo irrequieto e arteiro em dois meses terminou seu adestramento para fazer a promessa. No dia os pais foram convidados. Ainda não sabiam do apelido. Fumacinha, uma lobinha da mesma idade,  tornou-se muito amiga de Grilo Falante. A zorra começou quando ligou para sua mansão e pediu para falar com o Grilo Falante. Desligaram. Insistiu. Desligaram. Resolveu bater em sua mansão. O mordomo disse que não. Levou uma “carraspatana” o que a deixou triste e foi para sua casa chorando. A mãe quis saber o que aconteceu e Fumacinha contou. Ela pegou a filha pela mão e foi até a casa do Grilo Falante. Falou poucas e boas com o mordomo. Nunca em sua vida agiu daquela maneira. Sempre foi educada, mas agora não. Sua filha tinha oito anos e não poderia ter sido atendida daquela maneira.

              Os pais de Grilo Falante não estavam em casa. Quando souberam do acontecido mandaram o mordomo pedir desculpas à vizinha. Afinal primavam pela educação. Pelo sim e pelo apelido só o deixariam participar do ultimo acantonamento. Não volta ele não iria mais ao grupo. Explicaram ao Chefe do Grupo que o filho não participaria mais. O Chefe argumentou, explicou, tentou ver uma saída e eles foram irredutíveis. Grilo Falante só ficou sabendo quando chegou a sua casa. Ficou perplexo. Seus pais não perguntaram a ele quando o matricularam e agora faziam a mesma coisa. Ele tinha um enorme amor pelos lobinhos e não ia aceitar. Amava a Alcateia, ali tinha a vida que sempre sonhou. Adorava Fumacinha e os demais de sua matilha. Argumentou, chorou, implorou, mas tudo inútil. Foram irredutíveis. Foi malcriado com seus pais.  – Enquanto for nosso filho vais obedecer, disseram.

                 No sábado seguinte ao chegar à janela viu na rua vários lobinhos e lobinhas com faixas e cartazes dizendo: - Volta! Volta! Nós queremos você! Viva o Grilo Falante! Viva o Luis Alfredo de Albuquerque e Orsinni! Seus pais não gostaram. Chamaram a policia. Na vida do Grilo Falante tudo mudou. Mudou na escola e sempre seus pais eram chamados. Disseram que ele ficou indisciplinado e não participava mais de trabalho em grupo. Não adiantou a reprimenda dos pais. Todos os castigos não resolveram. Tiraram dele o computador, a TV e os seus brinquedos. O tempo não ajudou. Luiz Alfredo de Albuquerque e Orsinni vivia triste, escondido em algum canto da mansão. Uma noite, seus pais fizeram uma recepção de gala em sua residência. Presentes nobres italianos e famosos embaixadores da corte europeia. Autoridades brasileiras e políticos também estavam presentes. Em volta da mansão centenas de limusines e helicópteros.

               A recepção estava no auge. Uma orquestra tocava sem parar. Casais dançavam. Todos se divertiam e a champanhe da melhor qualidade assim como o uísque rolavam a solta. Lá pela meia noite, a luz piscou algumas vezes e os presentes sobressaltados viram cair do teto centenas de grilos que voavam em torno, saltitantes e não deixava ninguém em paz. Assustados, as pessoas corriam para fora da mansão e os grilos atrás. Ninguém sabia o que fazer. Um clarão aconteceu e no alto da escadaria de mármore nada mais nada menos que Luis Alfredo de Albuquerque e Orsinni fantasiado de Grito Falante, com uma Guguzela na boca, tocando alto e dizendo: Sou o Grilo Falante! Meus pais não querem meu apelido, mas eu gosto. Eu sou o Grilo Falante e quero ser lobinho!  Abismados com aquilo, os presentes começaram a se retirar da recepção. Outros se entusiasmaram e bateram palmas gritando: Grilo Falante! Grilo Falante! Nada mais havia a dizer.

               Os pais o levaram para o quarto. Preocupados e furiosos com o acontecido. Todos se foram. A casa ficou vazia. Naquela noite nada disseram. No outro dia, a imprensa achou o fato um “prato feito” para as manchetes. Luis Alfredo de Albuquerque e Orsinni ficou preso em seu quarto. Nem na escola foi. O tema tomou conta da cidade. Todos os Grupos Escoteiros ficaram sabendo da saída e o porquê foi o motivo. Milhares de telegramas não paravam de chegar. Na internet era o fato do dia. Claro que nada dura para sempre. Passado dois meses. Em um sábado frio, sem sol, lá estava Luis Alfredo de Albuquerque e Orsinni chegando à sede do Grupo Escoteiro. Os pais pediram desculpas ao Chefe do Grupo. Uma alegria geral. Grilo Falante voltou diziam todos.


Luis Alfredo de Albuquerque e Orsinni voltou à vida de Lobinho. Agora era um Grilo Falante com muito orgulho. Mudou muito sua maneira de ser. Mais responsável e sem abandonar aquela característica que lhe era tão peculiar. Falar, falar e até algumas pequenas traquinagens. Seus pais receberam uma carta da Direção Regional agradecendo por trazê-lo de volta. Grilo Falante ficou por muitos anos na saga escoteira. Formou-se, e hoje dirige a empresa do pai. Casou-se e hoje tem dois filhos. Eles agora são lobinhos. Um se chama Murilo Vinicius de Albuquerque e Orsinni e a outra Lívia Valquíria de Albuquerque e Orsinni. Na alcateia são mais conhecidos como Risadinha e Cigarra Altaneira. A vida é assim, uns gostam outros não. O respeito é tudo na vida, mas cada um deve escolher seu próprio destino. Disto não tenho nenhuma dúvida!

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Era uma vez... Em uma montanha bem perto do céu...

Bem vindo ao Blog As mais lindas historias escoteiras. Centenas delas, histórias, contos lendas que você ainda não conhecia....