quarta-feira, 18 de junho de 2014

Lago do Enforcado – Onde moram os Pioneiros Fantasmas.


Em uma montanha bem perto do céu,
Existe uma lagoa azul...
Que só a conhecem aqueles que têm,
A dita de estar em meu Clã!

Lendas pioneiras.
Lago do Enforcado – Onde moram os Pioneiros Fantasmas.

                Estava bivacando em volta do Lago do Enforcado há dois dias. Eu e mais cinco pioneiros. Normal naquela época. Com as bicicletas nas costas subíamos uma trilha até o outro lado, pois nos disseram que precisaríamos seis dias para dar a volta em todo o lago e tentar achar o local certo. Nunca tinha ouvido falar neste lago, foi Zé Tostão quem comentou. Zé Tostão era padeiro e dos bons, seus pães vendia-se que nem amor de moça bonita. Não era pioneiro e nunca foi Escoteiro, mas o danado sabia de coisas que nem podíamos imaginar. Foi ele que nos contou da Caverna do Cachorro Louco, da Curva da Cascavel que dizem matou mais de oitenta homens da Bandeira de Fernão dias Pais. – Zé porque não participa conosco? - Eu sempre dizia – Não posso Vado Escoteiro. Um dia você vai conhecer meu pai. Está louco varrido – Vive gritando e sabe, tem hora que dá vontade de interná-lo. Não o fiz porque sei que vai morrer em uma semana se for para Barbacena (no passado ficou célebre pelo seu manicômio).

                Foi meu pai quem me contou sobre o Lago do Enforcado. Ele diz que fala com os mortos e eu acredito. Disse para mim rindo e gritando que lá tem um Clã Pioneiro do Além. Ele nem sabia o que era Clã por isto acreditei. Ele contou-me de Max e Virginia, dois pioneiros de Cidade do Sol Nascente que eram namorados desde criança. Ao saírem da reunião do Clã seu fusquinha foi atropelado por uma jamanta. Morreram os dois na hora. Isto foi há muitos anos, poucas pessoas ficaram sabendo. Meu pai disse que eles amavam o pioneirismo e resolveram montar um Clã Pioneiro para ajudar as almas desencarnadas que um dia foram Escoteiros e/ou Pioneiros. Porque lá no Lago dos Enforcados eu não sei. Era uma história e como toda história precisava de averiguação. A equipe que estava comigo era experiente e todos tinham “larga moita de tempo” no escotismo. O medo ali era pouco e a vontade de conhecer e desvendar a “querelança” era maior que tudo.

                Encontramos um belo lugar para pernoitar. Seriam seis noites e uma em cada lugar. Achávamos que só assim poderíamos ter a visita dos dois pioneiros Fantasmas e porque não trocar uma ideia com eles? Aprender a fazer fazendo se aplica também a nós pioneiros. As primeiras quatro noites nada aconteceram. Esqueci-me de dizer que fora uma enorme sucuri de vinte metros que passou pelo campo sem a gente notar, não vimos mais nada de anormal. Lembrei-me do Chefe Montanha que na maior cara de pau contou que acampou com monitores a beira do Lago do Lagarto e a noite, viram um enorme tronco proximo à barraca deles. Resolveram aproveitar para servir de banco, e fizeram uma ótima Conversa ao Pé do Fogo e só pararam quando notaram que o tronco se mexia e escorrega para frente. Assustados e com seus lampiões a querosene “lumiando” à frente, deram de cara com uma enorme Sucuri. Garantiu-me que tinha mais de trinta metros. A gente acredita fazer o que?

               Naquela penúltima noite eu perdi o sono. Os outros foram dormir. Eram duas barracas de duas lonas e era apertado dormir três em cada uma. O ar estava agradável. Um vento sul soprava calmamente vindo da mata a sudoeste do lago. As aguas mansas e calmas estavam paradas. Ao longe vi uma bruma cinzenta se aproximando, o engraçado é que a bruma tinha formato de uma enorme barraca. Ela parou bem proximo a mim. Do meio dela surgiram dois pioneiros. Uma pioneira e Um pioneiro. Pensei com meus botões devem ser Max e Virginia. Ambos eram altos, muitos simpáticos para não dizer que Virginia era linda. Seus Cabelos negros esvoaçantes com o vento que soprava lhe davam um aspecto de uma bela mulher. Ambos bem uniformizados. Até no além eu vi que havia garbo e boa ordem. Sorriram para mim e educadamente fizeram a saudação escoteira me dando um Servir vibrante. Graças a Deus que não disseram SAPS! Seria o fim do mundo! – Podemos sentar? Disseram. – Claro disse eu. – Posso chamar meus amigos pioneiros que estão dormindo? Todos vieram aqui para conhecê-los.

                Eles sorriram e acharam melhor não. Que eu não me preocupasse. Todos estavam sonhando com aquele momento e o Mestre Pioneiro deles o Chefe Arcanjo os estava a levar onde está nossa sede. Ele vai mostrar como é e como funcionamos, Fiquei calado. Eu sonhava? Max riu e disse que não. - Pode beliscar para ver! Acreditei. Pioneiro não mente nem brincando. - Vado Escoteiro, venha conosco disseram. Todos os outros irão dormindo, mas queremos você acordado. Queremos se você aceitar ser o nosso porta voz, e contar a todos os Clãs do mundo que existimos, e como ajudamos a eles em todas as atividades. Se você assim o fizer seremos eternamente gratos. Recusar? Never! Fui com eles. Em cima do lago parecia que eu estava levitando por cima das águas como uma flor levada pelo vento. Um enorme Arco Iris apareceu. À noite? Isto mesmo, à noite. Iluminava uma linda estrada que nos levou até perto do céu. Milhares de pioneiros iam e vinham como formigas a buscar algo a fazer.

                 - Tudo aqui é bem organizado Vado Escoteiro. Disse Virginia. Moça que quando falava encantava. Uma voz linda e um olhar doce de alguém que sabia amar seu semelhante como se ama Nosso ser Supremo.  São mais de duzentos clãs divididos em 20 pioneiros cada. O trabalho de ajuda ao próximo é incessante. Damos preferencia aos que pertenceram ao Movimento Escoteiro. Quando eles sobem aos céus precisam de ajuda. Muitos têm parentes e amigos que estão ali tentando fazer o mesmo. Quando dizemos Servir, ou Sempre Alerta eles sempre dão um sorriso. Se quiserem morar com os familiares tem livre arbítrio se não temos barracas para eles na sede espiritual. Já tivemos muito trabalho para ajudar aqueles que não querem ser ajudados. Eles não sabem que não estão mais na terra e não querem perder o vínculo.

                    Fiquei maravilhado com o trabalho. Levaram-me a dezenas de reuniões de Clãs. Todas elas voltadas para a ajuda ao próximo. Ali o lema Servir tinha grande significação. Participei de varias cerimônias de bandeira. Eles têm um sistema único. Cada um vê sua própria bandeira e canta seu próprio hino. Levaram-me a vários saraus e fiquei maravilhado. Um deles fez questão de cantar para mim a Canção do Clã. Chorei. Belo demais. Voltamos e pensei ter ficado lá muitos dias, na verdade foram menos de quinze minutos. Coisas do além. Eles se despediram e me disseram que seriam meu guia para sempre. Estariam sempre junto a mim. – Vado um Escoteiro, todos do movimento tem um guia. São os anjos da guarda. Conte para todos o que viu. Não irão acreditar é claro, mas ficará na dúvida. E esta dúvida é que a abertura da verdade, do viver pioneiro e como ele poderá prosseguir.

                     Isto aconteceu há muitos anos. Ao meu modo contei para todos que me conheceram. Não sei os resultados, pois nunca mais falei com Max e Virgínia apesar de que me disseram que eram meus guias, meus gurus, meus anjos da guarda!


A sede de riscos que nunca se acaba,
As rochas que hei de escalar,
O rio tranquilo que canta e que chora

Jamais poderei olvidar...

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Era uma vez... Em uma montanha bem perto do céu...

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