sexta-feira, 2 de maio de 2014

Takala, o vira latas que só sabia amar.



Lendas escoteiras.
Takala, o vira latas que só sabia amar.

“Recolha um cão de rua, dê-lhe de comer e ele não morderá: eis a diferença fundamental entre o cão e o Homem”.

            Ele tentava entender o porquê, mas era um cão, um mísero cão vira lata que achou que tinha um lar para morar. Cão não fala e dizem que não pensam. Ele nem mesmo raciocinava quando ela o jogou pela porta do carro no meio da rua naquela tarde fria e com uma chuvinha intermitente. Pensou que era uma brincadeira apesar de que ela nunca brincou com ele. Batia sim, chutava seu corpo e um dia lhe deu varias varadas porque ele queria fazer xixi e a porta estava fechada. Tentou correr atrás do carro de sua dona, mas já era Velho demais para isto. Logo ela sumiu em uma esquina e ele perdeu o carro de vista. Ficou parado no meio da rua e vários carros desviando e por pouco não foi atropelado. Alguém lhe deu um chute e ganindo correu para o passeio debaixo de uma marquise. Ele ficou ali por pouco tempo todos que passavam lhe davam um ponta pé ou gritavam com ele. Molhado ele gania de frio. Não sabia o que fazer. Nunca passou por isto, nunca.

           Takala não sabia quando era feliz ou quando estava triste. Era um cão um vira lata com mais de doze anos. Sempre vivera perdido em um sitio pobre e quando o menino da cidade começou a brincar com ele sua vida rejuvenesceu. Ele nem entendeu porque sua mãe o deixou levar para sua casa. Durante meses foi feliz enquanto ele estava junto. Brincavam corriam e Takala se sentia outro. Um dia o menino sumiu. Sua mãe chorando pelos cantos. Ele não sabia o que houve, pois era um cão vira lata e cão vira lata não pensa. Quando ela o pegou pelo rabinho e o jogou no carro ele não entendeu nada muito menos quando ela o jogou porta afora. O que fazer? A chuva apertava cada vez mais. Correu pela calçada até encontrar um viaduto. Ali escondeu em um buraco pequeno, mas que ninguém poderia bater nele. A fome chegou. Comia pouco, pois sua dona não lhe dava quase nada só o menino que sumiu. O dia clareou e a chuva passou. Precisava encontrar comida e água. Ainda havia algumas poças que ele saboreou.

        Começou a passear pelas arvores e flores que havia em baixo do viaduto. Viu do outro lado da rua um menino assoviando para ele. Sorriu. Será que terei um novo dono? O menino o chamou. Estava vestido de azul com um lenço no pescoço. Para Takala a roupa pouco importava ele queria era um dono amigo, que gostasse dele. Correu atrás do menino e eles ficaram brincando de pega, pega e o menino de azul sorria a mais não poder. Chegaram a um portão. Takala sabia que não o deixariam entrar. Sempre foi assim, cão vira lata ninguém gosta e ele nunca teve pedigree. O menino de azul entrou e o portão fechou. Takala ficou ali, pois pensava que alguém poderia lhe dar alguma coisa para comer. Algum tempo depois o portão se abriu e apareceu o menino de azul sorrindo o chamando para entrar. O rabinho de Takala nunca balançou tanto. Ao entrar viu muitos meninos de azul, de chapéu todos gritando e sorrindo. O menino de azul o levou até uma cobertura. Fez sinal para ele ficar ali.

       Outros meninos e muitas meninas de azul se aproximaram de Takala. Ele sorria nunca pensou em ter tantos amigos. Latiu, um latido fraco quase mudo. Vários meninos correram e trouxeram comida para ele. Era muita comida ele nunca viu tantas assim. Comeu e quando comia levantava a cabeça com medo de um chute de um tapa, pois sua dona sempre fazia isto. Já escurecia e os meninos estavam indo embora. O menino de azul veio com uma moça e Takala viu que conversavam muito. O levaram até um galpão coberto e aberto na laterais. O menino de azul mostrou para ele um pequeno capacho, uma vasilha d’água e muita comida encostada a parede. O pegou no colo e o beijou. Takala viu que seu coração batia. Nunca ninguém o beijara. Ele ficou ali naquele galpão, pois agora era seu novo lar. Sempre a esperar que o menino de azul chegasse.

     Um dia eles chegaram cedo. O sol mal tinha nascido. Takala sorriu, pois ele agora amava aqueles meninos e meninas de azuis. O seu amigo o pegou no colo e entrou com ele em um ônibus. Takala tremeu, de novo não! Pensou em latir, em morder e só o medo de ser jogado pela porta de novo o fez calar. Fechou os olhos embaixo da poltrona. Ele não sabia rezar, mas seu instinto o alertava para tudo. Durante horas ele ficou no ônibus tremendo de medo. Quando chegaram foi uma algazarra, todos correndo e Takala correndo atrás deles. Nunca Takala o vira latas foi tão mimado, tão cercado de amigos e a noite ele uivava para a lua como a dizer – Agora eu sou feliz, pois posso amar... No terceiro dia ele correu atrás do seu amigo de azul que se embrenhou em um bosque. Takala adorava aquela brincadeira. Sentia seu coração batendo, seu corpo tremendo, mas ele sabia que não podia parar. Correram tanto que uma hora ele deitou. Uma dor incrível no seu coração. Coração velho de vira latas que só sabem amar.

      Ao seu lado o menino de azul ria e rolava no capim verde chamando Takala. Ele não aguentava mais. A dor era muito forte. Viu uma serpente enorme se enroscar para dar o bote no menino de azul. Ele sabia o que era uma serpente, pois quando jovem seus donos corriam delas no sitio em que morou. Takala fez um esforço enorme. Levantou gemendo, pulou em cima da serpente latindo fraco, respiração ofegante. A serpente o mordeu na sua jugular. O menino de azul saiu correndo chamando a moça que tomava conta. Vieram vários. Não encontram a serpente e nem Takala. Os meninos e as meninas de azuis choravam. Ao voltar para a fazenda viram ao longe uma serpente e um cão lutando. Correram até lá. Tarde demais. Takala estava morto, mas conseguiu matar a serpente. Aquela noite nunca se viu tantos meninos e meninas de azul a chorarem. Custaram para dormir.

      De manhã uma surpresa. O sol brilhava nunca se viu tantos pássaros no céu. Uma revoada sempre acontecia em cima deles. A moça amiga do menino de azul fez um lindo esquife verde. Ela reconheceu que Takala foi um herói e precisava ser homenageado. Onde seria a cerimonia fúnebre fizeram um grande círculo. Para um simples vira lata Takala teve honras de estilo. Quando o cobriram cantaram uma linda canção. Para os Escoteiros era conhecida - A Canção da Despedida. Takala não sabia o que era esta canção, sentado perto dali estranhava que ninguém o via. Só o menino de azul que sorria para ele. Viu em uma nuvem branca uma grande Vira Latas branca, sorrindo para ele, focinhos com focinhos ela e ele deixavam as lágrimas de alegria cair. Ela deu um latido leve e correu pela nuvem, Takala correu atrás dela e sumiu no horizonte azul. O menino de azul também chorava e ao chamado da moça todos ficam firmes e fizeram uma saudação que Takala já conhecia. Era o Grande Uivo. Feito em homenagem a Takala, um vira latas que só sabia amar e foi para o céu.


- “A compaixão pelos animais está intimamente ligada à bondade de carácter, e pode ser seguramente afirmado que quem é cruel com os animais não pode ser um bom homem. A compaixão por todos os seres vivos é a prova mais firme e segura da conduta moral.”
- “O Homem tem feito na Terra um inferno para os animais”.

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Era uma vez... Em uma montanha bem perto do céu...

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