sábado, 25 de maio de 2013

Mefistófeles, um Demônio trapalhão.

Mefistófeles, um Demônio trapalhão.
(uma deliciosa sátira de ficção, onde os apreciadores do além túmulo podem gostar).

Eu não tenho medo de lobisomens ou hotéis assombrados, eu só tenho medo do que seres humanos reais fazem com outros seres humanos reais.

Walter Jon Williams.


                      Não gosto muito de histórias de terror. Se a vida já é
difícil para que complicar com o além do mal? Mas não era assim que pensava Lascanio dos Anjos. Quando eu o conheci jurei a mim mesmo que era uma figura parecida com aqueles donos de funerárias, com um terninho feito sobre medida, gravata borboleta e um chapéu coco. Bem ele me disse que não. Magro, alto, branco como leite se vangloriava sempre em ter amigos no inferno. Deus meu! Que cara eim? Ele mesmo me disse que seu irmão Funério tinha uma fábrica de esquifes no interior. A cada dia ficava mais rico. - Sabe Chefe qual foi o único negócio que não foi afetado pela crise? Fabrica de caixões. Meu irmão tem uma, é o dono e presidente da Associação dos Bem Felizes Desencarnados. Fatura quase três milhões de dólares por ano. Engraçado que ele me disse um dia em uma reunião de distrito nunca ter conversado com os mortos, mas eu o peguei um dia no maior papo com Mefistófeles a quem ele chamava de demônio trapalhão.

                     Eu tentava ao máximo me desvencilhar dele, mas o danado parecia ter um pacto com o demônio e me descobria sempre quando ia tomar meu chopinho e comer minha empada de camarão com azeitonas pretas. Era eu sentar e ele com aquela cara de cadáver ressuscitado brotava do nada e ficava ali a minha frente sempre dizendo: – Sempre Alerta Chefe! Sentava e sem pedir nada para comer ou beber, lá vinha ele com suas histórias tenebrosas, aterradoras que mexia comigo e muito. Afinal do ponto de ônibus até minha casa eram mais de quinhentos metros sem luz e residências numa trilha dentro de um matagal. Bem eu não era medroso, mas cá pra nós, mexer com o diabo ou cutucar com vara curta a gente sempre se da mal. Isto minha Avó sempre dizia.

                    Naquele dia ele veio com uma conversa enviesada que eu precisava conhecer Mefistófeles um demônio trapalhão e quem sabe dar a ele alguns conselhos sobre o que ele pretendia fazer. Logo eu? Conversar com um capeta da vida? Maldita hora que o deixei há muitos anos atrás a ir conosco em uma jornada a pé de oitenta quilômetros até Ribeirão Vermelho. Doze dias, doze dias sofrido com Lascanio dos Anjos a rir de suas próprias piadas aterradoras. O moço era Sênior e dizia falar com os mortos. A princípio achamos graça, mas depois quando estávamos atravessando um povoado chamado Cruzes dos Mortos Vivos não paramos de correr antes de deixar a cidade para trás.

                  O pior, Lascanio dos Santos ficou lá, conversando com cada alma penada que ali fizera sua morada. Achamos melhor deixá-lo lá onde Judas perdeu as botas e nós não queríamos perder nossa alma. E não que o danado, oito quilômetros mais a frente, nos esperava sentado ao lado de uma cruz de madeira na curva do Rio Menino? Como ele passou na nossa frente eu juro que não sei, mas daí em diante tomei um medo danado dele. Agora insistia que eu fosse ver o tal Mefistófeles. Disse que ele estava sendo perseguido por Baphomet, filho de Caramulhão e sobrinho de Lúcifer. Nem morto meu amigo, nem morto! – Chefe é melhor vir comigo. Se não falar com ele não posso lhe garantir nada. Será perseguido pelo resto da vida! O capeta é vingativo. Putz grila! – Bem, façamos o seguinte, você me pega depois da reunião de sábado, lá pelas sete. Mas lembre-se não posso ficar muito tempo. Tenho compromisso às dez da noite!

                  Sete em ponto, sai da sede pé ante pé tentando fugir do Lascanio e cacilda, lá estava ele me esperando em um carro fúnebre, negro usado para transporte de defuntos. Sempre Alerta Chefe, pé na estrada que Mefistófeles nos espera! Ele não gosta de atrasados. Era o jeito. Fugir não dava. Entrei e atrás um caixão enorme. – Tem defunto? Perguntei. – Tem é o Dagomar Peixoto. Morreu ontem. Alguém o matou cortaram seu pescoço com um machado e tiraram seus dois olhos colocando no lugar limões verdes. Não sei por quê. Prometi levá-lo até Mefistófeles antes que Lúcifer encontra-se sua alma. Ele tinha um carinho enorme pelo Dagomar. Foram amigos de infância.

             – Onde fui me meter? Um escoteiro bem vivido como eu e agora ali no meio da capetada? Chegamos ao Cemitério Flores do Mal que se encontrava escuro feito breu. O grande portão de ferro abriu para nós rangendo como se fossem correntes sendo arrastadas por mil almas do outro mundo. Mefistófeles estava soberbo na porta daquele enorme mausoléu. Um manto vermelho enorme que saia chispa de fogo, calçava enormes botas vermelhas e como sempre o "Velho" e gostoso tridente que todo capeta gosta de carregar. Um moço ainda tinha um belo chapéu vermelho estilo espanhol com uma pena de Abutre do deserto da Morte. Será que o usam no inferno para os que estão lá queimando feitas brasas de Fogo de Conselho?

                 Sem delongas ele me mandou entrar. Dentro pouca iluminação. Duas tochas acesas somente. Um cheiro de enxofre no ar. – Apontou-me um caixão fechado. Sente-se Chefão! Tenho
acompanhado o senhor nas redes sociais. Tenho enorme admiração! – Deus do céu! Quem poderia pensar que os demônios também estão lá no Facebook? – Ele não foi de delongas, entrou logo no assunto – Chefe eu quero organizar um Grupo Escoteiro aqui. Quem quiser participar eu o tirarei do inferno em chamas e nunca mais vai voltar. Ficará aqui em local privilegiado, mas enterrado a sete palmos. Só sai nos dias de reunião. Garanto que muitos vão querer. Quem gosta de fogo no rabo? – O Belzebu era maldoso e falador de palavrões. Precisava tomar cuidado. – Ele continuou – Preciso da sua ajuda nos primeiros três meses enquanto o senhor treina Baphomet, Caramulhão e Belzebu para chefes. Eu ficarei com Diretor Técnico. Se possível quero que os inscreva nos cursos de Formação do Escotismo e claro, iremos fazer o registro e pagar todas as taxas. Não queremos nada de graça! A coisa estava pegando fogo, ou melhor, já queimava há muito tempo. Não tinha saída a não ser dizer sim. Faria minha parte que os membros da direção nacional fizessem a deles. Eles bem que mereciam uma vista desta turma de Belzebus do inferno. Que se danassem!

                 Durante três meses fui lá ao Cemitério Flores do Mal. Fiz o que pude. Os três capetas foram bem treinados. Claro que davam risadas quando falava para eles que na promessa eles tinham de prometer a Deus e a pátria. Eles diziam sim com os dedos cruzados. Nunca vi tanto defunto na fila no dia da inscrição. Cada um fedia mais que o outro e davam risadas enormes de satisfação. E depois dizem que o Escoteiro é limpo de corpo e alma. Será que eles vão cumprir este artigo? Pensei comigo eles chegando a uma atividade distrital regional ou nacional. Será que iriam despertar surpresas nos demais participantes? Consegui a custos com o Comissário Distrital Malevides uma autorização provisória. Ele riu de mim quando falei o que seria, mas ao receber a visita de Mefistófeles ele nem pestanejou. Sugeri a Mefistófeles que levasse o registro pessoalmente em uma reunião da direção regional. Ninguém ia dizer não. Soube depois que ele levou dois diamantes enormes para eles e logo recebeu de uma só vez a Insígnia de Madeira, os quatro tacos para DCIM e o Tapir de Prata. Nada como um bom capeta endinheirado para entrar de cara na turma. (brincadeirinha – risos).

                 Uma noite bebericava meu chopinho e me deliciava com três empadinhas de camarão com azeitonas pretas quando brotou do nada o meu amigo Lascanio dos Anjos. – Cacilda, o homem, ou melhor, o capeta não me deixava em paz. - Chefe, ele disse – Mefistófeles agradece sua colaboração. Disse que o Senhor pode contar com ele nesta vida e algum dia morrer será bem recebido nas “prefundas dos infernos”. Não precisa ir mais lá ao Cemitério Flores do Mal. Ele manda avisar ao Senhor quando todos forem fazer a promessa. Me garantiu que será uma festa do mal para ninguém botar defeito. Em cada ponto do universo onde houver um capeta ele será convidado. Ele me disse que estarão presentes vários políticos que se aliaram com ele aqui na terra. Senadores, deputados, ministros e até disse que teríamos uma surpresa. Um ex-presidente também viria. Mandou montar varias arquibancadas vermelhas com mais de cinco mil lugares, com grandes fogueiras acesas e queimando sem parar. Todos os grandes cantores que morreram e que estão lá no inferno irão participar. Será o maior show musical já realizado por Belzebu, o rei dos capetas.

                 E ele continuou - Virão vários dirigentes da região e da nacional. Já foram notificados. Quem não for se verá com ele no futuro. Será uma grande festa na inauguração do Grupo Escoteiro Satã de Satanás. Ele mesmo o Belzebu o rei dos capetas e sua corja estarão presentes. Ele vai presentear a cada dirigente presente com a Ordem dos Capetas do Mal. Cada um vai receber também um tridente vermelho com um dispositivo para sair chamas quando acionados. Poucos receberam até hoje. Eles são privilegiados. Ele acha que eles vão gostar! Disseram para ele que tem muitos dirigentes que adoram uma medalhazinha! Ele gostou muito do Senhor. Já mandou fazer uma medalha especial. O senhor vai ser o único a receber. A Ordem da Gran Cruz Capetícia. Disse que não precisa ter medo. Quando na vida se sentir no aperto é só gritar: - Capeta dos Infernos! E logo alguém aparece para socorrê-lo. E melhor, se ao desencarnar não o levarem para uma gostosa colônia dos altos espíritos do Senhor (ele não falava Deus e nem Jesus Cristo) que pode ficar tranquilo. Sempre haverá uma casinha para o Senhor e de graça nas “prefundas do inferno”!

                 Sabe meus amigos. A partir daquele dia passei a rezar de manhã, à tarde e a noite. Levantava de madrugada e rezava de novo. Olhe que conheço muito de escotismo. Já vi tantas coisas que não me surpreenderam. Agora escotismo em cemitérios e dirigidos pelo povo do mal não. Desta turma quero distância. Que Deus me proteja! E por favor, esqueçam-se de me falar um dia que fui para o tal Grande Acampamento! E se tudo isto foi um sonho, por favor, nunca mais quero sonhar com tal história. De moradores do inferno eu quero distância! Nem sei bem o que tem lá! Pai nosso, que estais no céu...

As ideias que arrastam os povos não passam, geralmente, de ilusórios fantasmas; todavia, quando estes fantasmas contendem, devastam o mundo e cavam abismos de ruínas e de desolação.



sexta-feira, 10 de maio de 2013

Lendas escoteiras. Judas... Da galileia.





"Diga-me com quem andas e dir-te-ei [que língua, a nossa!] quem és. Pois é: Judas andava com Cristo. Cristo andava com Judas"

Lendas escoteiras.
Judas... Da galileia.

                  Existem acasos e ocasos. Ocasos porque foi seguindo um belo por do sol e acaso porque sem querer fui parar em Galileia. Don Janvier de Waldívian me procurou um dia. Osvaldo eu estou precisando achar bons curtumes para me fornecer boas “vaquetas” você sabe, aqueles couros curtidos e preparados à mão. São para calçados finos de uma fábrica em Perúgia na Itália. Disseram-me que são calçados especiais e estão à procura de bons couros. Como sócios podemos ganhar algum. Ideia na cabeça pé no caminho e lá fui eu por informações encontrar o Curtume do Salgado em Tainhomim. Na época tinha uma vespa que mais quebrava que andava. Disseram-me que não era longe, uns duzentos e trinta quilômetros de estrada de chão batido. Isto se fosse pela serra da Bodoqueira. Quatro horas depois a pobre da vespa começou a pipocar. Vi uma estradinha pequena e uma placa – Galileia, seis quilômetros – A vespa aguentou firme até lá. Anoitecia. Cidadezinha deserta. Um guardinha me mostrou a pensão da Dona Inês. Melhor pernoitar. Amanhã consigo algum eletricista para ver o que tem a vespinha.

               Não vi a Dona Inês. Um garoto de uns quinze anos me atendeu. Um quartinho simples e disse-me que o jantar seria até às oito da noite. Banho no chuveiro do corredor, e lá fui eu para o restaurante. Pequeno, oito ou dez mesas. Apenas eu de hospede na hora. Sentei e logo trouxeram uns paizinhos deliciosos. Depois uma sopa de cebola estupenda. Ainda trouxeram um arroz solto, feijão preto e costelinhas de porco frita com torresmo. Deus do céu! Eram quase oito da noite e aquele manjar dos deuses iriam me fazer mal e muito mal. Mas dizem que escoteiros são gulosos e não medem as consequências. Comia gulosamente bebericando uma cervejinha e uma senhora escura, gorda, cabelos presos por um lenço azul e de uma simpatia tremenda sentou-se ao meu lado. – Olá, sou a Inês. Seja bem vindo a minha humilde pensão! Simpática. Muito. – Já conhecias Galileia? – Não eu disse. – Aqui já foi uma bela cidade. Chegamos a ter mais de trinta mil habitantes. Hoje? – Nem oito mil e a cada dia mais e mais moradores se mudando.

                 - Fiquei ali ouvindo sua história sobre a cidade. – Olhe, ela disse – A mais de quarenta anos Galileia crescia a olhos vistos. Tínhamos quatro olarias, um enorme curtume e o Prefeito pretendia montar uma indústria têxtil e uma malharia. Foi nesta época que Judas da Galileia nasceu. A Parteira saiu correndo ao ver a marca de corda em seu pescoço. Seus pais arregalaram os olhos. Logo o povo todo da cidade sabia. O tabelião Juventino benzeu o menino, mas aceitou registrá-lo como Judas da Galileia. O porquê sua mãe escolheu este nome ninguém sabia. Judas cresceu se escondendo nas sombras da cidade. A meninada quando o via saia correndo atrás gritando Judas! Judas! Traidor de Jesus! – Quando ele fez dezesseis anos um dia na Rua do Caroço ele parou – Virou para a molecada, botou a língua para fora, dizem alguns que mais de meio metro e deu um urro tão grande que todos correram como corre o diabo da cruz. Deste dia em diante ele andava no meio da rua e ninguém aparecia nem para olhá-lo. As janelas fechavam a sua passagem.

                   Quando ele fez vinte anos queria ir embora da cidade. Não conseguia emprego. Uma tarde uma turma de escoteiros chegou à cidade de bicicleta. Eram uns doze aparentando quinze a dezessete anos. Armaram barracas no campinho do Zé das Coisas e atraíram atenção de boa parte da meninada. Judas da Galileia também foi lá. Um dos escoteiros o chamou para jantar com eles. Não perguntaram da marca de seu pescoço, não perguntaram nada. O trataram muito bem. Foi à primeira vez em sua vida que Judas da Galileia foi bem tratado. Até seus pais não conversavam com ele. Judas da Galileia chorou muito quando eles foram embora. Foram dois dias os mais lindos que teve em sua vida. Deixaram com ele dois livros que disseram ser do fundador. Escotismo para Rapazes e o Guia do Chefe Escoteiro. Judas da Galileia ficou uma semana lendo os livros. Leu uma, duas, três e até quatro vezes.

                  Judas da Galileia queria ser Escoteiro. Sonhava ser Escoteiro. Na sua cidade seria difícil. Não tinha grupo e ninguém interessado em organizar um. Só havia uma solução. Ele mesmo fundar um. Mas como? – Dona Inês me cativava com sua narrativa. Era uma emérita contadora de histórias. Sabia como falar, como mostrar e seus gestos eram perfeitos. – Sabe Seu Osvaldo, eu nunca me aproximei de Judas da Galileia. Eu tinha medo. Achava que ele podia ser o próprio Judas reencarnado. O traidor de Jesus. Mas ele me procurou um dia. Olhou-me com uns olhos tão chorosos que não pude dizer não. – Pediu se meu filho o Florindo podia participar. Chamei florindo e ele de cabeça baixa concordou. Outros pais ficaram sabendo. Ele conseguiu oito meninos. Andava com eles para todo lado. Marchando, fazendo acampamentos, fazendo nós, sinais, tinham umas bandeirolas que se divertiam na praça e assustar as moçoilas com os recados que iam e viam dos quatro cantos da cidade.

                 - Lembro bem  que foi em um domingo a tarde que Anselmo Três Dedos chegou à cidade com mais de vinte bandidos. Cercaram tudo. Prenderam o delegado, o prefeito, o juiz e mais oito ordenanças na cadeia local. Vários bandidos deram ordens para ninguém sair de casa. Se uma janela se abrisse eles entravam e matavam todo mundo. Um medo geral. O gerente do Banco do Brasil foi obrigado a abrir a agencia e o cofre. Foi nesta hora que Judas da Galileia adentrou a cidade com seus oitos escoteiros vindo de um acampamento. Notou a movimentação dos bandidos. Mandou os escoteiros correrem para suas casas. Anselmo Três Dedos o viu parado em frente à fonte da praça. Gritou para ele correr. Ele não correu. Devagar com seu olhar mortífero se dirigiu até a onde estava Anselmo Três Dedos. Colocou a mão em sua testa. Anselmo gritou. Um grito horrível. Mesmo assim puxou o gatilho do seu quarenta e cinco. Seis tiros. Judas da Galileia continuou imóvel. Anselmo Três dedos caiu morto. Parecia que um raio o matou. Estava queimado feito carvão.

                        Coloquei os braços na mesa. Parei de comer. Olhava sem tirar os olhos de Dona Inês. – Ela continua séria, contando sua história infernal. – Os bandidos que assistiram aquilo saíram correndo da cidade. Não ficou ninguém. Judas da Galileia foi devagar até a praça e sentou ali, naquele banco amarelo. – Olhei pela janela e vi o banco – Todos os políticos vieram abraçar Judas da Galileia. Mas ele estava sentado, calado, de olhos abertos e morto. Não havia mancha de sangue nos buracos das balas. Só na marca da corda de seu pescoço escorria sangue. Ninguém mexeu no corpo. No dia seguinte o corpo desapareceu. Ninguém nunca mais soube de nada. – Parecia que uma praga caiu sobre a cidade. A cada mês, a cada ano famílias e famílias iam embora. Hoje a cidade morreu. Aqui não se vê alegria, ninguém brinca ninguém canta. Dizem e eu posso afirmar que a noite sempre está lá no banco da praça, o mesmo amarelo, Judas da Galileia. Fica lá hora sem se mexer. De vez em quando parece que se ouve um tal de Rataplã cantado com voz rouca.

                 Ela se calou. Olhei para a praça. No banco amarelo vi um vulto. De uniforme caqui e chapéu de três bicos. Assustei-me. Sai correndo em direção à praça. Precisava ver de perto. No banco não tinha ninguém. Voltei e ouvi baixinho alguém cantando o Rataplã! De novo não vi ninguém. Dormi pensando em tudo aquilo. No dia seguinte Joel Boca Torta arrumou minha vespa. Parti sem dar adeus a ninguém em Galileia. Nem a Dona Inês. Perguntei por ela ao menino porteiro. – Minha mãe morreu há muito tempo ele disse. Aqui só minha Vó e minha Tia. Falar mais o que? Ainda bem que fiz bons negócios em Tainhomim. Nunca mais voltei em Galileia. Outro dia procurei no mapa. Nada. Olhei no Google, nada. Mas acreditem, havia um Judas da Galileia. Lá constava que era Escoteiro no céu. Foi perdoado e agora faz parte da tropa do além. Deus me livre. Que ele seja feliz e não venha à noite cantar para mim o Rataplã!  
     
"Se no passado não crucificaram "Judas" porque hoje fazemos isso com nossos irmãos ?


Era uma vez... Em uma montanha bem perto do céu...

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