sexta-feira, 14 de setembro de 2012

O saudoso bastão totem da Patrulha Maçarico.


Em algum lugar do passado. Lá em Brownsea:
“Os jovens foram divididos em quatro patrulhas: Corvos, Lobos, Maçaricos e Touros (assim estes foram os primeiros nomes usados por patrulhas escoteiras). As patrulhas acampavam por sua conta, sob a direção de seus próprios monitores, com total responsabilidade pela sua honra de levar adiante os desejos do Chefe e com grande eficiência”.

O saudoso bastão totem da Patrulha Maçarico.


                 Eu estava escrevendo um bilhete simples para uma Chefe de lobinhos que não tinha ido à reunião e por um acaso não podemos nos encontrar. Minha visita foi exclusivamente a ela, pois fizemos um curso juntos e queria matar as saudades. O Chefe do grupo me deixou a vontade na sede enquanto as sessões estavam em atividade no pátio. Era um sábado um lindo dia. Bom mesmo para atividades escoteiras. Estava ali, pois era Chefe de tropa e as quatro patrulhas da tropa que colaborava tinham ido acampar. Não foi o primeiro acampamento sem chefia. Ouve outros. Estavam bem adestrados e o local oferecia segurança e eu confiava nos monitores. Claro iria lá à noite e no domingo também. Ficaria pouco tempo. Só ver se tudo estava bem.

             Já ia sair quando ouvi uma voz meiga, triste dizendo – Oi Chefe! Dá-me um abraço? – Olhei e não vi ninguém. Quem seria? Esconder ali era difícil. Local pequeno. Achei que tinha me enganado. Virei para a porta e de novo ouvi a mesma voz – Não vá Chefe, estou sempre sozinho. Dá-me um abraço! Caramba! Prestei mais atenção e só vi um bastão com um totem da Patrulha Maçarico. Como? Totem não fala. Não chora e nem diz que está sozinho. – Sou eu mesmo Chefe, o Maçarico. Sinto muita falta dos meninos. Hoje ninguém liga para mim. Estou sozinho aqui a muitos e muitos anos. Se tiver tempo lhe conto minha história. Estava deveras surpreso. Claro, muitos me chamaram de louco. Diziam que só eu escuto vozes assim. Escondi muita coisa que vi e ouvi. Não iriam acreditar. Primeiro foi o chapéu de três bicos que falava, depois veio O totem da Patrulha Pantera. E o Lampião Vermelho? Não faltou o lenço verde amarelo que também falou comigo.

             Fui até lá e peguei o bastão com o totem que estava todo empoeirado. O coitado precisava de uma limpeza. Devia estar ali jogado há muitos anos. Peguei um pano e fiz uma boa limpeza. Ele ria e agradecia. – Chefe, tem tempo que não me limpam. Não estava mais aguentando a poeira. Dei uma melhorada na amarração do totem com o bastão. Ficou firme. Levantei-o no ar. Ele gostou. Riu de novo. Oh Chefe! Que bom. Saudades dos velhos tempos! Precisava ficar ali. Precisava entender porque ele estava tão empoeirado e sozinho num canto. Vi que era só ele, não tinha outros totens. No mínimo estava com as patrulhas em atividade.

            Encostei-o na mesa e ele me olhou com aqueles olhos tristes (totem não tem olhos podem me dizer, mas aquele tinha, e olhe lagrimas caíram quando me contou sua história). – Sabe Chefe, foi há muito tempo. Acredito que tem mais de vinte anos. Foi quando começou o Grupo Escoteiro. Um Chefe preparou oito meninos como futuros monitores e submonitores. Havia dezenas de meninos querendo entrar. Formaram quatro patrulhas. Juninho meu Monitor conversou com todos. Disse que sua sugestão seria de escolher uma das patrulhas que foram montadas durante o primeiro acampamento Escoteiro na história. Realizado na ilha de browsea por Baden Powell (BP). Corvo, Touro, Lobos e Maçaricos. Ele deu a ideia de chamar a Patrulha de Maçarico. Contou que o Maçarico-pintado é da família “Scolopacidae”. Também são conhecidos como Baturinha, Maçariquinho, Maçariquinho-pintado e rapazinho (no Rio Grande do Sul). Contou que ele habita locais com água, tanto na costa como nas águas interiores. Manguezais, margens de rios e lagos. Vivem sempre em bandos.

           - Continuou o Totem Maçarico – Todos os patrulheiros ficaram entusiasmados.  O próprio Juninho ficou responsável para me fazer. Sua mãe colaborou. Recortou um feltro e ali bordou o que ela achava ser um maçarico. Pode olhar, ela me bordou. Não é uma perfeição, mas se aproxima muito. Juninho o nosso Monitor, ficou cinco dias escolhendo em vários pés de goiaba quem seria o escolhido para ser o meu bastão. Ele sabia como fazer e o fez com perfeição. Quando fui apresentado à patrulha e eles deram o grito e meu amigo, fui às lágrimas de alegria. A Patrulha se orgulhou de mim. Sentir as mãos deles me segurando sempre quando davam o grito, olhar o Monitor me erguer à frente olha Chefe, era um orgulho para mim.

            - Eu lembro-me de um acampamento Distrital de Patrulhas que no terceiro dia os Maçaricos conseguiram a Bandeirola de Eficiência Geral. Quando o Chefe a colocou um palmo abaixo de mim, olhei para ela e sorri. Seja bem vinda eu disse. A Bandeirola também sorriu. Devia ter pensado que agora estaria em boa companhia. Mas não foi o último. A Patrulha Maçarico era valente. Era forte. Não tinha medo, amigos para sempre. Como eu amava aquela Patrulha. Duas ou três vezes por semana lá estavam eles na sede. Seja em reunião de Patrulha, ou mesmo para um trabalho extra eu me sentia em casa. Ninguém se esquecia de mim.

             - Estivemos juntos tantos e tantos acampamentos que até perdi a conta. Juninho nunca se descuidava. Sempre passando um saboroso óleo que disseram a ele que seria bom para conservar a madeira. Dava gosto de me ver. Sempre limpo. Sempre impecável. Lembro e nunca esqueci quando ele a frente da Patrulha nos levou até a uma elevação bem alta, próximo a nossa cidade, e ali no escuro, noite alta, antes da lua nascer pediu que fizéssemos um juramento. Não deixar nunca que os maçaricos esqueçam um dos outros. Manter a Patrulha a todo custo e que sempre o totem Maçarico ficasse em posição de destaque. Mas o tempo Chefe, o tempo é cruel. As coisas nem sempre são como nós queremos.

               - Juninho foi com sua família para outra cidade. Ricardinho assumiu a patrulha. Não era mau sujeito não. Mas nada igual ao Juninho. Esquecia muito de mim. Deixava-me na chuva, à noite na intempérie sem proteção. Eu via que minha madeira do bastão já não era a mesma. A continuar assim em breve iria deteriorar e precisaria de um novo. Mas Ricardinho também se foi. Todos se foram. Os novos não sabiam de nosso juramento. Não ligavam a mínima para mim. Tornei-me um pária, um Maçarico abandonado. Sempre jogado em um canto e outro.

               - Mas o pior mesmo aconteceu. Eram todos novos. Não os culpo. Agora diziam que tudo estava mudando e o nome da Patrulha devia ser mudado. Maçarico era coisa do passado. Escolheram um nome bonito vistoso. Tiger Man. Não sei se era homem tigre. Meu Deus! Não tinha nada a ver. Mas era moda. Nomes pomposos, nomes em idiomas inglês, francês, italiano enfim, me esqueceram mesmo. Fiquei ali onde o senhor me encontrou. Tem mais de dez anos que estou sozinho e abandonado. Ninguém mais quer saber dos nomes tradicionais. Onde foram parar os Touros? Os Maçaricos? Os Corvos e tantos outros?

                - De um passado de glórias e ainda bem que as tive, hoje sem nada. Abandonado. Sem valores e esquecido em um canto qualquer da sede. Espero que não me tirem meu passado me destruindo. – Não disse nada. Dizer o que? O Diretor Técnico chegou. Não entendeu o porquê eu olhava fixo para o totem do Maçarico. Sem comentários. Ele não ia entender mesmo. Coloquei o totem no canto onde o encontrei. Falei baixinho para ele. Volto sábado que vem. Você vai ter o destaque que merece. Perguntei ao chefe se ele autorizava eu colocar o Totem na sala principal, em lugar de destaque, pois afinal era uma das primeiras patrulhas surgidas quando o escotismo começou. Ele não se fez de rogado. – As ordens meu amigo. Fique a vontade.

               Durante a semana procurei seu Almeida, um bom marceneiro. Expliquei a ele o que queria. Uma armação para colocar um bastão de um metro e meio em uma parede e que chamasse atenção. Na sexta fui buscar. Meu amigo ficou linda. Ele deu umas pinceladas na madeira com diversas flor de lis e como dizem os jovens, ficou mesmo joia. Mandei fazer um quadro. Eu mesmo escrevi lá. Palavras que saíram do coração. Cheguei lá cedo. Comecei o trabalho. A armação ficou linda na parede. Convidei todas as patrulhas para homenagear o Totem do Maçarico. Um Monitor o colocou lá. Eu mesmo coloquei em cima o quadro.

               Nele tinha escrito. Maçarico, Baden Powell te viu nascer. Aquela Patrulha do passado vive hoje em você. Você merece nosso aplauso! As patrulhas deram uma palma Escoteira. Não entendiam bem de tudo. Não podiam entender. Receberam outra formação. Todos voltaram à reunião. Fiquei só com o Totem Maçarico. Ele sorria um sorrisos dos mais lindos que já tinha visto. Seus olhos vermelhos com lagrimas caindo. – Obrigado Chefe. Obrigado mesmo. Você não sabe como me fez feliz. Uma homenagem que nunca esperava receber. Sabe Chefe, precisamos dar valor ao passado. Ele pode voltar e novamente encantar a todos. Mas isto só poderá ser possível se tiver alguém para mostrar que isto faz parte de uma bela tradição.

                Fui embora prometendo voltar pelo menos uma vez por mês. Nunca deixei o Totem Maçarico sem um abraço, sem uma saudação. Sempre tirava um dia para uma visita. Onde ele está vejo que sorri sempre. Ele aprendeu com os escoteiros e eu aprendi com BP. A verdadeira felicidade é fazer a felicidade alguém!

Em algum lugar do passado. Lá em Brownsea:
“Mas as memórias mais vividas de todas eram os fogos de conselho, antes das orações e do apagar das luzes. Ao redor do fogo à noite o Chefe nos contava algumas histórias assustadores, conduzia ele mesmo o canto Eengonyama e com seu jeito inimitável atraia a atenção de todos”.
“Eu ainda posso vê-lo como ele ficava diante da luz, alerta, cheio de alegria e de vida, um momento grave, outro alegre, respondendo todas as questões, imitando o chamado dos pássaros, mostrando como tocaiar um animal selvagem, contando uma história curta, dançando e cantando ao redor do fogo, mostrando uma moral, não apenas em palavras, mas usando histórias e convencendo a todos os presentes, rapazes e adultos, que estavam prontos para segui-lo em qualquer direção”.




quarta-feira, 5 de setembro de 2012

O Lobinho Naldinho e a terrível Casa do Espanto.


A coragem se expressa no olhar daqueles que usam o terror para acalentar a própria alma, não transferindo sofrimento algum para as pessoas.

O Lobinho Naldinho e a terrível Casa do Espanto.

                Naldinho estava na janela olhando de soslaio para que ninguém o visse da casa em frente a sua. Já havia seis dias que ele fazia isto. Sua mãe e seu pai achavam que ele estava dormindo. Dormia cedo. As nove já subia para o seu quarto. Mas desde o dia que foi fechar a janela por causa de um vento súbito ele viu três formas pessoas em forma de fumaça descer pela chaminé da casa vizinha. Naldinho tinha nove anos. Era lobinho da matilha verde. Já tinha dois anos de lobinho. Todos gostavam dele. Há um ano era o primo da matilha. Conseguira a Primeira Estrela e pensava que até o fim do ano receberia a segunda estrela. Sabia que pelas onze ou onze e meia às assombrações iriam aparecer. Todos os dias era assim.
             
Naldinho lembrava quando ao chegar da escola não viu a placa na casa que fora de Dona Matilde. Seu Geraldo morrera e ela resolveu ir embora morar com a filha. Colocou a casa a venda. Naldinho ao beijar a mãe perguntou quem era os novos vizinhos. Sua mãe disse que não viu ninguém. Não houve mudança. Durante muitos dias a casa ficou fechada até que na noite fatídica Naldinho viu as aparições entrarem pela chaminé. Logo notou que havia barulho e janelas fechavam e batiam. Luzes da cor violeta e roxa toda hora piscavam na casa. Isto acontecia até altas madrugas. Naldinho não sabia quando terminavam. O sono chegava e ele ia dormir. No primeiro dia comentou com sua mãe. Ela como sempre disse que ele estava vendo muito filme de terror. Engano. Naldinho nunca viu nenhum.
           
  Na reunião de sábado comentou com Princesa, a sua segunda (o nome dela era Paty) sobre o acontecido. Ela acreditou. Sapinho o terceiro da matilha também (Norberto). Eram os três que ficavam mais juntos, pois alem de serem da mesma matilha estavam na mesma classe na escola. Naldinho queria levá-los a ver a descida dos fantasmas noturnos, mas era impossível naquela hora. Nenhuma mãe deixaria eles ir lá. Uma semana tentou ver se as mães deixavam os dois dormir lá de uma sexta para um sábado. Deram uma desculpa de um trabalho para a matilha. Uma das mães perguntou a Mirtes, a Akelá e ela não se lembrava de nenhum trabalho. Deu em nada.
            
No sábado após a reunião, Naldinho propôs aos dois irem até a casa e tentar entrar. Sapinho tremeu e disse que tinha medo. Princesa apesar de ter duvida topou na hora. Nem bem a reunião terminou saíram correndo, pois se atrasassem na chegada em casa ia ser um Deus nos acuda! Procuram alguma janela aberta e com surpresa viram que todas estavam abertas e as portas também. Entraram. Sala vazia. Sem móveis. Cozinha nada. Subiram ao andar superior. Um cheiro de queimado. Um quarto. Nada, vazio. Segundo quarto uma surpresa. Cordas, velas, uma machadinha, um facão, potes cheios de uma coisa vermelha (seria sangue?) e muitos gravetos num canto. Assustaram-se.
             
No segundo quarto outra surpresa. Uma cama sem estrado. Um emaranhado de arame farpado fazia às vezes de colchão. O que era aquilo? O que significava? Sapinho começou a tremer e chorar baixinho. Pedia insistentemente para ir embora. Naldinho resolveu descer e ao chegar embaixo um barulhão. As janelas se fecharam automaticamente. As portas estavam trancadas. Tentaram abrir e nada. Meu Deus! E agora? Sentaram em um cantinho debaixo da escada e ficaram ali tremendo de medo. Viram as sombras aparecerem pela saída da chaminé. Sapinho chorava baixinho. Princesa de olhos arregalados. Naldinho achou que era o Chefe. Levantou-se e disse – Eu não tenho medo! Sou lobinho! O lobinho é forte! – As sombras riram. Pegaram os três e os levaram ao andar de cima onde em um quarto foram amarrados. Umas das sombras tomou vida. Um enorme tigre dentuço. – Você é o Shere Khan?
            
Não tinha jeito. As sombras iam fritá-los na fogueira. Pedir socorro não adiantava. Gritar também não. Mas Naldinho não desistiu. Fechou os olhos e pediu a Deus, a Jângal, aos seus irmãos lobos que não os deixassem morrer. Um clarão enorme aconteceu! Quase cegou os olhos dos três lobos. Quando abriram viram um enorme Urso, uma enorme Pantera a gritar para Shere Khan: - Você não desiste mesmo não é seu Tigre Manco! Vamos lhe dar uma lição. Shere Khan deu enormes gargalhadas e sumiu na fumaça. Bagheera a Pantera Negra os soltou. Baloo o urso grandalhão e amigo os aconselhou – Nunca façam o que sabem ser errado. Voces conhecem a Lei do Lobinho – “O Lobinho ouve sempre os velhos lobos”. E os dois também desapareceram.
          
Voltaram para suas casas. Ainda tremendo deram o “Melhor Possível” um para o outro se se foram. Naldinho aprendeu a lição. Nunca mais tomou iniciativa sem antes aconselhar com seus pais, sua professora, e seus chefes. Uma semana depois nova placa anunciava a venda da Casa do Espanto. Desta vez Naldinho não quis nem saber quem iria comprar, quem iria morar e dormia cedo. Muito cedo. As máximas da Jângal nunca mais seria esquecida. Naldinho agora andava de olhos e ouvidos bem abertos, nunca deixou de pensar primeiro nos outros, andar sempre limpo, dizer sempre a verdade, e claro, dar boas risadas de tudo pois o lobinho é como Akelá levando sua Alcatéia com alegria e sempre procurando o caminho para o sucesso de todos! 


Quando sorris transformas o mundo de terror, num mundo cheio de cor, por isso nunca deixes de sorrir para detonar todos os monstros que te invejam.

              
            






Era uma vez... Em uma montanha bem perto do céu...

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