quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

O ESCOTEIRO JUQUINHA E SUA MARAVILHOSA NOITE DE NATAL


O escoteiro Juquinha e sua maravilhosa noite de Natal

Melhor do que todos os presentes por baixo da árvore de natal é a presença de uma família feliz.

                     Não conhecia a vida de Juquinha. Contaram-me de sua maneira de ser, e como ficou conhecido por todos os escoteiros de sua região. Claro todos vocês conhecem alguém como ele em suas tropas. Ele era aquele que não para quieto nas formaturas, estava sempre rindo, adorava o escotismo, é o primeiro a chegar e o último a sair. Inconfundível.

                     Alguns chefes que procurei me disseram que tais escoteiros eram suas alegrias quando aos sábados encontramos aqueles jovens maravilhosos querendo ser cidadãos, valorosos, sonhadores, enfim, qualidades reconhecidamente de escoteiros espalhados por todo o mundo. Claro, tenho certeza que existem vários Juquinha em seu Grupo Escoteiro.

                     Juquinha, disseram, naquela época era bem gordo para sua idade. Se aproximando dos catorze anos. Na patrulha o chamavam de “meio quilo”. Porque ninguém sabia. Risos. Deveria ser “uma tonelada”. O tempo não ajudou Juquinha a emagrecer. Claro seu corpo se transformou, mas continuava a ser o último da patrulha nas suas andanças com a tropa em atividades aventureiras. A patrulha não se incomodava com isto. Sempre gostavam dele e acostumaram ao seu jeito de ser.

                        O que mais preocupava a patrulha era quando saiam para alguma atividade externa, onde sem transporte móvel, só podiam usar o “ETVV” (Empresa de Transporte Viação Vulcabrás – antiga marca de sapato usado por escoteiros exploradores - risos). Ou seja, a pé mesmo. Mas Juquinha estava aprendendo. Já estava caminhando para a primeira classe. Tecnicamente falando Juquinha era um “craque’. Sabia tudo de tudo. Até seu chefe quando tinha dúvida perguntava a ele.

                      Juquinha era assim. Persistente, muito obstinado. Resolvia-se fazer uma coisa fazia. Logo após entrar para os escoteiros, me contaram que ele resolveu fazer um forno de acampamento. Ficou na historia. Sem ninguém saber fez um bolo de chocolate e que toda a tropa se deliciou. Era escoteiro nato. Tinha um defeito. Era um sonhador. Ri quando me contaram. Ele acreditava mesmo nos seus sonhos. A história das Escarpas Pantaneira quando ele sumiu ficou gravado na mente de todos que lá estiveram. O que ele contou deixou a todos boquiaberto. Mas isto é outra historia claro a primeira historia de Juquinha em busca do vale dos sonhos.

                      Aquele fora um sábado alegre para todos menos para Juquinha. Ultimo dia em que a tropa se reunia, pois nas férias escolares ela também entrava em recesso. Ninguém tinha a menor dúvida que os chefes precisavam de um descanso para si e suas famílias. Todos entendiam, mas Juquinha não. Para ele o escotismo não podia parar. Como todos os anos ele já tinha planejado o que fazer com mais quatro amigos da patrulha e dois de outra. Nada que oferecesse perigo, e de pleno conhecimento de seus pais.

                      Juquinha tinha passado na padaria do bairro, pois sua mãe tinha encomendado uma sacola de pães e outros tipos doces, pois como era sábado ela iria fazer um lanche. Conhecia todos lá. Quando chegava de uniforme o olhavam e o saudavam com o Sempre Alerta. Juquinha era bem quisto. Sorriu com a sacola do lado para todos e saiu da padaria cantando o “Acampei lá na montanha” Era a preferida dele. Nem reparou no garotinho magro, raquítico, com as roupas em frangalhos e com um canivete enorme em suas mãos o ameaçando.

                      Foi um susto. Ele pediu a sacola de pão ou matava Juquinha. Sumiu na esquina com a sacola. Correr não adiantava, ele sabia que não era rápido. Gritar achou que não era bom. O ladrão podia voltar e o ferir com o canivete. Deixou que ele levasse os Paes. Voltou à padaria e comprou outra fornada. Riram quando ele contou o que aconteceu. Disseram a ele que não era a primeira vez que o ladrão de pão tinha atacado.

                     Em casa contou para sua mãe que o tranqüilizou. Ela sabia o filho que tinha. Juquinha ficou pensativo. Começou a andar pelos arredores até que uma tarde o viu próximo a mesma padaria. Viu quando ele ameaçou uma senhora e tomando da sacola de pão saiu em disparada. Juquinha tinha se colocado na esquina do outro lado e viu que ele parou de correr e andar normalmente. Era seu truque. Não ser confundido com um ladrão correndo. Juquinha a uns cem metros atrás o seguiu. Ele entrou em uma viela. Parou olhando os dois lados da rua e entrou num casebre.

                     Viu uma menina de uns três anos e outro menino de dois. A mãe chegou à porta e chamou os dois. Juquinha tomado de coragem bateu a porta. Ela a mãe o olhou assustada. Juquinha contou o que tinha acontecido. Ela começou a chorar. Disse que era culpada. Era doente, não tinha marido, não conseguiram a bolsa família, e até a escola não aceitava mais seu filho. Diziam que ele era um ladrão. Juquinha estava com os olhos cheios de lágrimas. Sua garganta estava seca.

                      Prometeu à senhora que não iria contar para ninguém, mas ela precisa tomar uma atitude, um dia seu filho poderia ser morto tudo por causa de uns poucos pães. Foi para casa inconformado. Achava que a vida era boa para alguns e ruim para outros. Ele tinha tudo eles não tinham nada. Sua mãe contou-lhe um dia que o novo presidente do país disse que não iria descansar enquanto houvesse um brasileiro sem comida na mesa. Seria seu compromisso e pedia ajuda a todas as instituições, todos os partidos, universidade, imprensa e da juventude. Ele era da juventude escoteira e não tinha feito nada.

                      Resolveu fazer alguma coisa. Juquinha era assim. Agora não iria desistir jamais do seu intento. Não falou para sua mãe. Nem com seus amigos. Iria dar um natal aquela família que ela nunca tivera na vida. Planejou tudo. O que comprar como levar até eles na noite de natal. Mas o principal ele não tinha. Condições financeiras para abarcar a compra. Não desistiu. De manhã saiu à procura de uma solução.

                      Parou em frente a um grande Banco muito conhecido na cidade. Entrou e estava apinhado de gente. Procurou o guarda e disse que queria falar com o gerente. O guarda o olhou com aquele olhar arrogante, como se ele não fosse ninguém. Era apenas um menino. Disse que ele tinha mais o que fazer, nenhum gerente ia atender a um menino. Juquinha não gritou. Sabia e cumpria a lei escoteira. O escoteiro é Cortez, educado, sabe à hora certa de dizer desculpa meu amigo, muito obrigado, tudo bem. Eu entendo.

                      Foi para casa. Vestiu seu uniforme escoteiro. Colocou seu chapéu de abas largas, verificou se seu meião estava com a linhagem correta. Seu lenço bem preso com o anel de couro. Pegou seu bastão. Há tempos não o utilizava. Voltou ao banco. O guarda o olhou de novo e não queria deixá-lo entrar. Ele ficou ali na porta em posição de descansar com seu bastão aprumado. Todos que entravam ele dizia – Quero falar com o gerente. O guarda não deixa. Dizem que não atende meninos.

                      Um repórter viu aquilo e gostou. Perguntou o que ele queria com o gerente. Juquinha disse que era uma conversa particular. O repórter insistiu e Juquinha foi inflexível. O repórter ligou para sua emissora. Vieram dois camara-men. Começaram a filmar. Logo uma multidão se formou em frente ao banco. O Presidente da Instituição financeira viu tudo pela televisão. Ficou abismado. Ligou para o gerente do banco. Juquinha foi convidado a entrar.

                     O Diretor Técnico, o chefe da tropa, o Comissário Distrital e até o presidente regional viram tudo também e correram para o banco. Juquinha pediu ao gerente que não deixasse nenhum deles entrar. Era um assunto de homem para homem! O gerente começou a gostar daquele escoteiro gordo e sua obstinação. Quase riu quando ele disse o que queria. A quantia não era pouca e teria que ser exata. Juquinha disse que tinha quer ser tudo. Ele não tinha nada.

                      O gerente ligou para o Presidente do Banco. Este autorizou e queria fazer um grande marketing em cima do episódio. Juquinha disse que se fizessem propaganda ele não queria nada. Tinha de ser confidencial. O gerente ligou de novo para o presidente. Este tinha sido escoteiro. Sabia o que era um escoteiro. Tem uma só palavra, sua honra vale mais que a própria vida. Autorizou o pedido. Juquinha levou o dinheiro vivo. A porta do banco centenas de pessoas. Outros repórteres. Ele não disse nada. Seu pai veio correndo. Juquinha entrou no carro e partiram.

                      Interessante como se desenrolam os fatos quando são dedicados para o bem. Na noite de natal, Juquinha e todas as patrulhas de sua tropa marchavam pela rua em direção à casa do menino ladrão de pão. Em frente à casa, começaram a cantar a canção da promessa, depois cantaram noite feliz e a família assustada ficou da janela olhando desconfiada. Juquinha foi até lá. Convidou todos eles. Fizeram um circulo. Sentaram como se senta em um Fogo de Conselho sem fogo. Foi montado.

                      A patrulha de Juquinha representou o nascimento de Jesus. Outra patrulha os Três Reis Magos e outra imitou o sermão da montanha, onde Jesus se dirigiu a uma multidão falando de seu reino. O bairro inteiro estava em volta dos escoteiros. Todos aplaudiram. Juquinha trouxe um bolo de chocolate. Ele tinha feito. Repartiu um pedacinho com todos em volta. Não deu para todo mundo.

                      Terminou o Fogo de Conselho. Os automóveis dos pais dos escoteiros começaram a chegar abarrotados. Pães, doces, caramelos, bombons, balas de mel. Pedaços de ilusões perdidas, mas uma luz de esperança. Eles não sabiam, mas achavam que Juquinha era o Papai Noel. Aquelas guloseimas coloridas, eram retalhinhos de sonhos de uma vida. Eram visão dourada dos filhos da família pobre.

                       Mas não terminou aí. Vários brinquedos, muitas roupas, todas novas compradas e muitas doadas por generosos lojistas do bairro. Juquinha entregou um cheque para a mãe pobre de mais de trinta mil reais. Disse que era para começar uma nova vida em sua cidade do norte, pois ela havia contado que queria voltar para lá e viver em um pequeno sitio. Uma palma estrondosa da multidão. Olhe quem estivesse lá, nunca esqueceria. Tinha mais de setecentas pessoas. Todos rindo, cantando, uma festa para a família pobre.

                      Não havia mais o rosário de ilusão e a frustração daquela família ficou distante. As brumas embaçadas do tempo se foram como o vento em direção ao mar. O menino ladrão de pão chorava. Dizia que nunca mais, nunca mais faria aquilo novamente. Juquinha o abraçou. O menino arrependido lhe deu seu canivete que usava para assaltar de presente. Juquinha aceitou. Retribuiu dando a ele um uniforme completo de escoteiro que havia comprado na cantina escoteira.

                     A imprensa chegou. A festa acabou. Ninguém conversou com os repórteres e jornalistas. As noticias foram picotadas no jornal noturno. A lembrança daquela noite nunca ficou apagada. Não houve festa na tropa. Não era para ter. Faz parte do escotismo. Juquinha sorria. Chefe, ele disse. - Eu fiz minha boa ação! Nada mais que isto. Uma pequena boa ação! Um dia quem sabe vou fazer uma maior!

                    O menino arrependido cresceu. Misericórdiosas lembranças. O menino ladrão de pão nunca esqueceu aquela noite. Agradecia todo natal a Deus todo Poderoso, por haver transformado o menino ditoso neste homem feliz que hoje sou eu! Um dia voltei naquela cidade. Não encontrei Juquinha. Ninguém sabia onde poderia encontrá-lo. Eu o trago no meu coração. Ele me deu outra vida. Graças a Deus e a ele agora sou um doutor. Formei-me e todos os anos nunca deixo de fazer o meu natal de Fogo de Conselho para os pobres meninos da vida.

E quem quiser que conte outra...

Anônimo
“Oração de Natal de um órfão de guerra”

Papai Noel, você que não se atrasa
Na visita anual que faz a terra
Veja se faz voltar à minha casa,
O meu papai que foi lutar na guerra.

Vê se você que pode mais que a gente
E que tem uma força sem igual,
Traga-me agora este presente
Nesta noite milagrosa de Natal!

Ele partiu em uma noite estranha
Que da lembrança nunca mais me sai,
Disse que ia lutar na Alemanha
E desde então não vejo mais papai.

Ele escrevia sempre, Mamãe lia,
Suas cartas, baixinho... Devagar...
Eu voltarei em breve – ele dizia
Que esta guerra está preste a acabar.

Depois passaram dias, muitos meses
E notícia alguma de papai não veio
E mamãe, na maior das agonias,
Esperava a passagem do correio.

Nada vinha, o silêncio era completo
E até hoje, eu nem sei bem
Mamãe passou a se vestir de preto
E nunca mais sorriu para ninguém.

Até que um dia, com a última batalha
- E só de lembrar o coração me dói
O correio nos trouxe uma medalha
Com as cinco letras da palavra – “Herói”
 
Papai Noel, meu santo e bom paizinho
Porque isso na minha alma me corrói
Se os tais heróis não voltam para casa
Será que vale a pena ser herói?

E ele dormiu... Abraçado ao retrato
Sonhando sonhos de venturas mil,
Acordou e viu de manhã em seu sapato
UMA ENORME BANDEIRA DO BRASIL!

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Era uma vez... Em uma montanha bem perto do céu...

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