terça-feira, 6 de dezembro de 2011

O ESCOTEIRO JUQUINHA EM BUSCA DO VALE DOS SONHOS


O Escoteiro Juquinha em busca do Vale dos Sonhos
Não é preciso estar no pico da montanha para sentir o ar puro da manhã. Ele está presente na ponta da janela que se abre para um novo dia toda vez que o coração transpira pela ansiedade. Na sinfonia infinita da vida. Não é o mesmo que eu quero. Quero apenas sentir que a uma razão para viver quando se acorda a cada manhã. Ame a vida, pois na vida a alguém que ama você.

                     Acredito que vocês conhecem alguém como Juquinha. Ele é aquele que não para quieto nas formaturas, está sempre rindo, adora o escotismo, é o primeiro a chegar e o último a sair. Inconfundível. São nossas alegrias quando aos sábados encontramos aqueles jovens maravilhosos querendo ser cidadãos, valorosos, sonhadores, enfim, qualidades reconhecidamente de escoteiros espalhados por todo o mundo. Claro, tenho certeza que existe vários Juquinha em seu Grupo Escoteiro.

                     Juquinha era bem gordo para sua idade. Apenas doze anos. Na patrulha o chamavam de “meio quilo”. Porque não sei. Deveria ser “uma tonelada”. Não era tão rápido como os demais, se esforçava para não ser o último. No entanto sempre era o último. A patrulha não se incomodava com isto. Gostavam dele e acostumaram ao seu jeito de ser. O que mais preocupava a patrulha era quando saiam para alguma atividade externa, onde sem transporte móvel, só podiam usar o “ETVV” (Empresa de Transporte Viação Vulcabrás – antiga marca de sapato usado por escoteiros exploradores). Ou seja, a pé mesmo.

                     Sempre paravam para esperá-lo quando havia uma distância de mais de 50 metros. Aguardavam e Juquinha chegava suando, mas sorrindo. Era uma de suas qualidades. Por duas vezes, quando estavam indo em uma excursão a Serra do Curral, uma boa subida de uns dois quilômetros, esperaram por Juquinha em uma curva e após mais de meia hora, Lino, o Sub Monitor e Peri um escoteiro mais antigo voltaram para ver o que ouve.

                     Desceram mais de quinhentos metros e nada do Juquinha. Começaram a ficar preocupados e foi então que o avistaram. Estava deitando em cima do capim gordura e algumas samambaias, bem altas por sinal fazendo de sua mochila um travesseiro e roncava descaradamente. Não era sempre que isto acontecia. Além de comer demasiado, Juquinha na véspera de alguma atividade, ficava tão aceso que mal dormia só pensando no dia seguinte. Nesta última, foi dormir após as três da manhã, não sem antes contar mais de 8.000 carneiros pulando a cerca. (diziam ser bom para os que tem insônia)

                     Claro, todos sabiam de sua dificuldade em acompanhá-los, mas eles gostavam muito de Juquinha. Ele era parte da patrulha e quando por um motivo ou outro não estava presente, todos sentiam muita falta dele. Em acampamentos se tornou um excelente cozinheiro. Nas horas de folga, não dava folga a si mesmo, buscando aqui e ali, a lenha necessária para o seu adorável fogão de barro e guardava com boa proteção de chuva ou o orvalho da madrugada.

                    Um dia disse que ia fazer um bolo de chocolate em um acampamento. Vou fazer e depois farei um pudim com caldas de caramelo. Todos riram e duvidaram. Juquinha passou vários meses planejando. No sitio do Marinho, um amigo da patrulha treinou por várias vezes. Com sua mãe não deu sossego enquanto ela não fizesse com ele o bolo. Isso por mais de cinco vezes.

                    No acampamento de tropa não disse nada a ninguém. Levou tudo que precisava para fazer o Bolo de Chocolate. Seriam quatro dias, aproveitando um feriado prolongado. A tropa não perdia um. No primeiro dia, Juquinha explorou as redondezas, a procura de um local apropriado. Encontrou a 100 metros do campo da patrulha uma pequena elevação ideal para fazer o seu forno. Nas horas de folga corria ate seu forno e trabalhava nele sem parar. Sempre escondido. Pretendia fazer uma surpresa a todos.

                   Juquinha montou um contorno de um forno na elevação. Fez isso devagar, mas em menos de duas horas ficou pronto. Começou a abrir o miolo com calma, pequeno no inicio e crescendo até atingir o ponto ideal para colocar a forma. A massa não seria difícil de fazer. No primeiro dia, o forno ficou pronto. Juquinha até ficou surpreso. Achou que ira demorar mais. Atrás da elevação ele cavou uma pequena abertura e lá colocou um bambu verde, que dava comunicação com o forno.

                   No segundo dia, levantou cedo. Bem cedo, primeiro que todos. Foi até sua amada edificação, com gravetos e algumas achas já rachadas (era perito em corte de lenha) e colocou fogo no forno. Viu que saia fumaça da chaminé que fez e ficou preocupado que descobrissem. Como o vento soprava ao contrário do campo de patrulha, achou que não descobririam. Após o almoço, a limpeza do campo e do vasilhame, as patrulhas foram reunidas para um grande jogo, que seria realizado num perímetro de mais de dois quilômetros fora do acampamento. Juquinha fingiu uma dor de cabeça para ficar na barraca descansando.

                  Todos saíram e Juquinha correu até a cozinha da patrulha e em pouco tempo preparou a massa. Colocou-a na forma e saiu rápido rumo ao seu forno. Ele estava bem quente. Juquinha colocou mais algumas achas nas laterais e assentou a forma bem no meio. Já tinha preparado com cipós trançados e barro, um fechamento da abertura do forno.

                   Juquinha ficou ali por cinqüenta minutos. Abriu a tampa e viu seu bolo saindo pela borda, já dourado e com um pequeno e fino galho, viu que estava bem assado. Juquinha riu de prazer. Sabia que o bolo estava uma delícia. Com um pano de prato, retirou a forma e a levou até a cozinha de sua patrulha. Retirou todo o recheio da forma com cuidado, colocou em um prato largo que tinha levado. Deu três passos atrás e olhou com orgulho o seu feito. Uma grande palma escoteira foi ouvida. Toda a tropa estava ali escondida e esperando que Juquinha desse seu sorriso já conhecido. Tinham-no visto preparando tudo e resolveram fazer uma surpresa.

                    Todos correram a abraçá-lo e o chefe o parabenizou. Falou algumas palavras a Juquinha que ele nunca mais esqueceu. Disse que ele era um pioneiro a fazer um bolo em acampamento. Agora todos poderiam aprender com ele. Seria um feito comentado por muitos anos, até por grupos de todo o país. Juquinha não cabia em si de orgulho. Disse para si mesmo e para sua patrulha que a perseverança e a tenacidade, fazem parte de todos escoteiros. Comeram do bolo com apetite e vontade de quero mais.

                    Claro, Juquinha tinha se tornado um perito em fornos e sua fama se espalhou. Fazia bolos de diversos tipos e um delicioso pudim caramelado de dar água na boca. Mas não só de manjares e pitéus deram fama a Juquinha. Ficou conhecido pela sua enorme capacidade imaginativa. Em maio passado sumiu de um acampamento, logo pela manhã, após a inspeção diária. Desta vez, seu sumiço foi longo. Muito longo. A preocupação foi geral. Pararam tudo para as buscas.

                  O monitor disse que Juquinha comentara de um sonho seu a noite. Disse que na escarpa próxima ao acampamento, existia um vale dos sonhos e convidou a todos para conhecer. Riram. Mas Juquinha falava sério. Agora uma busca completa estava sendo realizada nas Escarpas Pantaneiras como eram conhecidas. As buscas foram até as quatro da tarde.  Estavam desistindo e o chefe pretendia pedir ajuda da equipe de salvamento dos bombeiros. Idéia que não agradava a ninguém. Nunca isto aconteceu antes.

                  Juquinha, logo após a saída de todos para um adestramento de base, onde seria colocado o conhecimento das patrulhas em orientação sem bússola, principalmente à noite com as estrelas conhecidas e reconhecer a posição de Beta e Épsilon onde se torna mais fácil seguir um rumo, Juquinha se escondeu e tomou o caminho das Escarpas Pantaneiras. Queria provar a todos da existência do Vale dos Sonhos. Quem sabe o que encontraria lá. Colocou seu cantil, sua faca escoteira e nem sua bússola Silva velha de guerra levou.

                  Partiu em busca dos seus sonhos. Tinha a certeza que era verdade. Não demorou mais que uma hora para chegar próximo, onde um regato de águas cristalinas, corredeiras pequenas, pequenos lambaris pulando, brincavam de esconde-esconde. Juquinha não sabia onde era a entrada para o vale. Procurou por mais de duas horas. Cansou-se e como sempre foi tirar seu cochilo em uma pedra grande, onde o sol não batia. Juquinha dormiu. Dormia fácil.
             
                  Tinha certeza que estava vendo um Veado-campeiro. Não havia dúvidas. Olhava para Juquinha com uma maneira peculiar. Não tinha medo. Levantava e abaixava a cabeça como a dizer – siga-me! – Juquinha não se fez de rogado, atravessou o riacho e seguiu o animal, que olhava para trás e para frente, dando pequenos saltos harmoniosos. Andaram pouco. Entraram um bosque bem espesso.  
                 
                  Juquinha viu a sua frente uma enorme gruta. Tinha trazido sua lanterna de bolso e entrou sem medo. A luz do sol já não entrava mais na parte que Juquinha estava. Não se intimidou e foi em frente. Em pouco tempo e uns trezentos metros percorridos viu um clarão mostrando outra saída. Deslumbrante! Juquinha jamais tinha visto um local como aquele. Um lindo e enorme vale colorido, com arvores anãs, cheias de frutas, e impossível! Na mesma árvore nasciam goiabas, mangas, laranjas, maçãs e peras.
   
                  Juquinha ficou embasbacado. Estranho, estranho mesmo. Não era fatível. A lógica não dava razão pelo que seus olhos viam. Pegou uma maçã e deu uma mordida. Meu Deus! Que maçã gostosa! Impossível! Nunca tinha comido uma assim. Juquinha sorriu e foi em frente. Parou estático quando a sua frente um enorme Leão apareceu. Estou perdido pensou. O Leão se aproximou e fez uma mesura para ele, e sorriu. Leão sorrindo! Se contar ninguém vai acreditar. O Leão abaixou e Juquinha entendeu que era para montar. Assim o fez. Cavalgaram por quase meia hora.

                  Juquinha avistou um grande vale colorido, onde arcos Iris brilhavam em todos os lugares, nas mais lindas cores nunca vista. Viu então várias e lindas fadas, com suas asinhas azuis a voejarem em sua volta. Maravilhoso pensou Juquinha. Elas o conduziram por um caminho florido, onde abelhas cor de mel e diversos beija-flores não paravam de voar. Viu pássaros nunca antes visto – Inhambus, pica-paus, macucos, azulona, mergulhão caçador, tesourão, saracura-do-mato, canários de todas as cores. Uma infinidade. Impossível descrever todos.

                Juquinha estava deslumbrado. Ficou mais ainda quando viu uma enorme cascata, com peixes em profusão e pode ver os abotoados, bicuda, curimbatá, jaú, pacu, piapara, traíra e tucunaré. Não dava para ver tudo, eram centenas a subir a cascata, saltitando como se fosse um lindo balé representando a mais sublime dança do amor. Ao lado, sentados e sorrindo, alguns cantando, Juquinha viu diversos escoteiros, como ele, gordos, mas muito bem uniformizados e batendo palmas com sua chegada. Palmas escoteiras, transtudo, cubanas, aviãozinho, marcha-ré, trenzinho, escocesas, estouro da boiada, um dedinho e um grande e enorme graaatô, Gratíssimo. Enfim tudo ali era maior que tudo que tinha conhecido.

               Dois escoteiros, com vários distintivos que ele não soube precisar, a não ser o Liz de Ouro, cordão verde amarelo, dourado e centenas de especialidades, o cumprimentaram e assim como eles, Juquinha não andava. Levitava acima do chão alguns centímetros. Um grande círculo foi feito, e o que parecia ser o monitor de todos eles, deram as boas vindas a Juquinha. Uma canção suave, parecida com a Arvore da Montanha, era tocada por violinos, e o coro dos papagaios azuis era entoado de maneira espetacular.

                Juquinha sorria, cantava junto a eles. Esqueceu de seus amigos, de sua patrulha, de sua tropa. Tinha esquecido até de sua família. Alguém o cutucava e ele se sentiu incomodado. Virou para quem o azucrinava e ia dar uma bronca quando reconheceu Romildo seu monitor. Espantou por vê-lo ali. Já ia perguntar quando toda a tropa apareceu. Viu que estava começando a escurecer e então, e então, só você mesmo Juquinha. Tinha dormido toda à tarde. Viu que tinha sonhado e sabendo da bronca que ia levar, pensou com seus botões que tinha valido a pena.

                Afinal, Juquinha mesmo em sonhos, tinha encontrado o seu Vale dos Sonhos, ou agora Vale Encantado dos grandes escoteiros. Preferiu não contar nada do que viu. Não iam acreditar nele. Voltaram para o acampamento e tudo retornou ao normal. Agora Juquinha além de excelente cozinheiro, além é claro de grande escoteiro, era também como o “Apanhador de fantasias nos campos do Vale dos Sonhos”. Ele gostava quando o lembravam disto. Afinal Juquinha era um sonhador, aquele que faz do seu sonho a realidade por toda a vida.

                Juquinha cresceu. Tornou-se um Pioneiro. Seu corpo agora era admirado por todos. A gordura se transformou em músculos. Há tempos que não vejo Juquinha. Nos aqui do 882º Grupo Escoteiro Walt Disney sentimos saudades dele. Suas historias ficaram para a eternidade. Serão conhecidas por todo aquele que pertencer a Fraternidade Mundial dos Escoteiros.

               Como disse no inicio seu grupo também deve ter um Juquinha. Vocês sabem do valor de alguém como ele. Deixem-no viver sua vida e sonhar, isto vai fazer bem. Ouvirão sempre grandes histórias. Aqueles que são mais volumosos do que os demais, são mais sonhadores. Planejam seus sonhos nós ínfimos detalhes.

               Eu gostaria de ter sido como Juquinha. Fui de sua patrulha. O admirava. Seus feitos foram escritos por mim, nas anotações do livro da patrulha. Eu era o escriba e mais que nunca seu confidente. Nunca esqueci o Juquinha. Soube que ele se tornou um aventureiro, em busca de ouro e diamantes na floresta Amazônica. Não sei se vai achar alguma coisa, mas era seu sonho e sua aventura. Um dia quem sabe, ele retorna e vai me contar sobre A tribo das mulheres guerreiras que habitam o alto Rio Negro. Quem sabe vai dizer como é o por e o nascer do sol no pico da Neblina onde a garça branca tem seu ninho.

              Um dia visitei seus pais. Já velhos, mas com um brilho nos olhos quando falam de Juquinha. Disseram-me que no ano anterior, estava explorando a nascente do Rio Amazonas, aquele que corta todo o norte da América do Sul, e que tem o maior volume de água de todos os rios existentes. Estava em sua nascente, no rio Apurimac próximo a Cordilheira dos Andes.

                Muitos anos se passaram. Mas eu não esqueço Juquinha. Gostaria de um dia tornar a vê-lo. Quem sabe? O mundo dá tantas voltas que posso virar uma esquina e encontrá-lo. Que Deus me ajude que seja verdade. A saudade dele é muita. Olhe, não esqueça. Dê meu abraço e um grande aperto de mão ao Juquinha de sua patrulha. Tenho certeza, ele é o orgulho da Tropa de Escoteiros e que mantém viva a chama de aventura que todos somos possuídos. Isto é nosso. Temos este direito. Somos Escoteiros!

E quem quiser que conte outra...

Como é lindo, Senhor, poder enxergar com estes olhos que me destes, poder sentir a natureza entrando pelos meus poros, me envolvendo e dizer:
 “Deus existe, olhai e vede a lua cheia ou minguante, o sol forte ou fraco, as árvores, com suas folhas embaladas pelo vento, vento esse que nos refresca e embeleza ainda mais as coisas que movimenta. E as águas? Ah! as águas, tão frescas, tão poderosas e tão necessárias à vida.”
Vida, resumo da natureza!
Olhai e bendizei a natureza, pois ela, irmãos, é muito mais importante do que tudo que estais acostumados a admirar e comprar...

2 comentários:

  1. ADOREI LER A HISTORIA DO JUQUINHA
    ACHEI MUITO INTERRESANTE
    O MUNDO SERIA BEM DIFERENTE
    SE EXISTISEM OUTROS JUQUINHAS.

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  2. Muito bonita essa história. Gostei! =D

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Era uma vez... Em uma montanha bem perto do céu...

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